Se o ser humano voltar a descobrir a sua capacidade de voltar a ser longevo terá que resolver outros problemas igualmente graves, como seja o do pensamento, que constantemente o acusa e o culpabilíza.

Esta culpabilização, por aquilo que se fez e, às vezes, até por aquilo que os outros fizeram, é uma doença gravíssima que arrasa os nervos e mata as pessoas sem que elas se saibam defender. Esquecemos as coisas boas que fizemos, mas recordamos masoquisticamente os erros que cometemos.

VIVEMOS COM O REMORSO

Muito pior que o pecado é a recordação do pecado. Ora a vida é feita de factos inevitáveis a que todos estamos sujeitos e pelos quais nunca nos devemos agredir psicologicamente.

Infelizmente, o ser humano colecciona, com requintes de malvadez, todas as pequenas falhas que teve durante a vida e saboreia-lhes a amargura quase diária e doentiamente.

O remorso é uma doença que nos fica desde o momento em que cometemos uma falta, ou nos julgamos culpados por essa falta.

O grande remorso de toda a minha vida e aquele que me tem acompanhado ao longo dos anos proveio da sensação de culpa, por o meu maior amigo, e isto tinha eu cinco anos, ser o rapaz mais pobre da vila e aquele cuja casa era um tugúrio miserável.

Não compreendia como é que um miúdo, com a mesma idade que a minha, andava sempre descalço, vestia andrajosamente e nunca sorria.

Perante os meus pais pus um dilema terrível: ou ele vivia como eu, ou eu queria viver como ele.

O meu amigo começou a comer melhor e a andar calçado, mas nunca sorria. A vida em sua casa continuava miserável, tão miserável que a mãe enlouqueceu de vergonha, de dor, de aflição por não ser capaz de alimentar um outro filho e não conseguir estender a mão à caridade.

Mãe louca, as autoridades resolveram levar mãe e filhos para onde? Ainda hoje não sei. Sei sim, que foi um dos maiores desgostos da minha vida.

O meu amigo descalço, roto e esfomeado ensinou-me a amar aqueles que não sabem defender--se.

O ESTUDO É A PREVENÇÃO CONTRA A POBREZA, CONTRA A MISÉRIA,

CONTRA A FOME,

CONTRA A DOENÇA

Desde esse momento, o meu remorso por pertencer àqueles que tinham tudo, e às vezes nem viam os que nada tinham, alastrou como doença. Para a curar sublimei-a. Tentei ensinar aos outros, que mal sobreviviam, que o estudo é uma prevenção contra a pobreza, contra a miséria, contra a fome, contra a doença.

O remorso é isso.

A reprovação que tivemos na escola, o baile de que fomos expulsos, a namorada ou o namorado que correu connosco, a declaração infeliz, o negócio mal feito, a miséria que vive ao nosso lado e da qual também nos sentimos culpados.

Tudo isto pesa diariamente na consciência tirando-nos a alegria de viver, tirando-nos o discernimento necessário para criar, no futuro, acções mais risonhas e mais felizes.

Erradamente privilegiamos o passado e de preferência o passado da desgraça. Fazemo-lo com os outros e fazemo-lo também com nós próprios.

Continuamos a falar do passado, da infelicidade e das desgraças que nos aconteceram.

É a nossa doença, é o nosso desgaste, são as dores de cabeça das quais não sabemos a razão. É a vesícula a funcionar mal. São as palpitações. É o remorso a massacrar o corpo sem que nós nos apercebamos.

Malvado remorso que ainda ninguém catalogou como doença e que destruiu, durante milhares de anos, a saúde das pessoas.

É o remorso que nos faz sentir culpados pela morte de um pai, de uma mãe, de um filho, porque devíamos ter agido desta ou daquela maneira e não o fizemos.

É o remorso que nos faz mudar a nossa conduta e nos leva ao misticismo, à fuga do convívio com as outras pessoas, ao desespero por não sermos capazes de remediar o mal que pensámos ter cometido.

O remorso é a doença mais terrível que ataca o ser humano.

Não sabemos viver a vida. Não sabemos gozar o momento que passa e refugiamo-nos na inutilidade do passado ou na mentira de um futuro que vem longe.

Seria melhor, para todos, se soubéssemos deixar na porta do tempo o que já lá vai, e parássemos de chorar sobre o leite derramado.

A grande maioria das questões que nos atormentam e nos fazem adoecer, sem que nós saibamos o motivo, são autênticas ninharias que não têm o mínimo valor.

Somos de facto preconceituosos; o que equivale a dizer que damos importância àquilo que a não tem, ou que já a não tem, e desprezamos a vida em vez de a viver, sem alimentar a doença que nos corrói e corrói a paciência das pessoas, que vivem à nossa volta, as quais são vítimas de um remorso que não é deles.

A FORÇA DO PENSAMENTO, DOS OLHOS, DAS MÃOS

Está nas mãos de cada um curar o mal ou a dor que sentimos.

O pensamento, os olhos e as mãos são instrumentos que nos são familiares e que só utilizamos para o fim que pensamos eles estarem destinados.

O corpo tem de ser entendido como um livro aberto que nos conta uma história que nunca tínhamos lido e que é tanto mais maravilhosa e tanto mais apetecível quando nós descobrirmos que o nosso pensamento, os nossos olhos e as nossas mãos podem equilibrar o nosso corpo, torná-lo saudável e bem disposto.

Tanto a parte física como psíquica pode ser dominada por cada um.

Vamos fazer a experiência.

Independentemente da prática ser naturalmente um caso de aperfeiçoamento, tudo depende do íntimo de cada um, da sua génese física e mental, da sua raiz.

Você pode melhorar grandemente o seu estado físico e psíquico sem andar a correr de um lado para o outro à procura da sua salvação.

Já reparou que o seu pensamento não tem limites? Que ele vence a barreira do tempo e do espaço, que ele vai, instantaneamente, do lugar onde se encontra para o ponto mais longínquo do universo.

Ele é capaz de calcular como nenhum computador, de analisar e preparar o futuro para além de todas as técnicas, de todos os estudos e de todas as previsões. E deixo de lado os impossíveis que o pensamento consegue como sejam o de fazer mover ou dobrar objectos, ou de bisbilhotar na vida que todos havemos de "viver" morrendo.

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