A conquista do objecto desejado está consumada. Por isso, o mistério, o encanto, a surpresa desaparecem. Está tudo ali, naquela vida a dois, onde os interesses começam a ser, muitas vezes, bastante diferentes. A monotonia instala-se e o perigo aproxima-se. A vida do casal, preparada para a felicidade, para a luta em conjunto, por uma vida melhor, toma só quase este interesse. Quer sejam cultos ou incultos, pobres ou ricos, feios ou bonitos, dos pólos e dos trópicos, não há memória de um povo que se esquecesse de fazer amor. Ainda bem que as coisas se passam desta maneira. Se assim não fosse, o ser humano, perder-se-ia porque cada um de nós derrapava perigosamente para a auto destruição, acabando por degradar o conjunto de homens e mulheres que se chama humanidade. A felicidade do casal reflectir-se-á automáticamente na felicidade dos filhos. O filho, felicidade suprema, fruto de um acto de amor, só será feliz se os seus progenitores o forem. E é aqui que se desenha e se constrói a felicidade. Os casais, devem perguntar-se frequentemente, porque razão o acto de amor que os uniu, não continuou mais, ou enfraqueceu? Entrou o desinteresse, foi-se apagando o amor, e, embora os filhos nasçam, esse acto de amor não atinge o sublime; a dança dos corpos felizes. Nesses casais, meio desavindos ou, pelo menos, desconfiados um do outro, eles fazem um combate de amor, agredindo-se fisicamente. Fazem-no. Não o sentem. O fruto já vem contaminado, ou ele é muito forte, ou a sua felicidade será feita de soluços. De altos e baixos. Estes casais ou revêem rapidamente a sua situação, ou nunca mais atingirão a felicidade. No norte da Europa, há muito que os casais optaram pela união simples, sem bênção nem de sacerdote nem de notário. Une-os o compromisso de amor e isso lhes basta. Preservaram a liberdade como quem guarda um talismã que pode ser usado a qualquer momento. Os filhos nascem, o amor solidifica-se, e são raros os casais que têm problemas ao nível do comportamento. Os filhos, não se podem comprar. Eles não são mercadoria, eles são fruto de amor. Eles são parte da nossa felicidade. Aquilo que podemos dar aos nossos filhos é uma educação cuidada, uma preparação útil e atenta, uma cultura o mais diversificada e profunda que for possível. Infelizmente, muitos de nós não consegue realizar os nossos sonhos, muitas vezes, por erros cometidos impensadamente. A sociedade não perdoa. O homem nasce só e nu. Quer queira quer não, é com isso que tem de contar. Por muito que possa representar a família, por muito bons que sejam os amigos, a verdade é que nos momentos graves da vida, temos que contar fundamentalmente connosco, só connosco e exclusivamente connosco. A felicidade ou a infelicidade está nas nossas mãos. Isto é assim, porquê? O que acontece, é que em situações agradáveis, em momentos bons, também não costumamos ir buscar seja quem for para partilhar da abundância que nos caiu nas mãos. Visto isso, é natural, que nos momentos de maior perturbação, tenhamos a dignidade de contar só connosco, sem incomodar familiares ou amigos. É neste momento que começa a conversa do homem consigo próprio, com a sua força e capacidade pessoal. Cada um de nós precisa de se conhecer, de se observar, de se calcular a si próprio, correcta e rigorosamente. O homem pode contar só consigo, mas para isso, tem de conhecer as suas forças e as suas fraquezas. Caso as conheça, poderá resolver todos os problemas que a vida lhe apresente, mesmo os mais cruéis e os mais difíceis. Os problemas da vida, são como os problemas dos negócios ou os problemas do desporto. Todos eles precisam da entrega total do interessado, de fé, de resolução e daquela dose de sorte, que não estando directamente na nossa mão, depende quase sempre da convicção com que atacamos os problemas, e da força de ânimo com que os pretendemos resolver. Querer é a vitória, sem que isso signifique ser uma vitória de violência e de esforços desmedidos. Deve dizer-se até, que a tenacidade, a persistência e o querer devem assumir a maior das composturas e sempre que possível, um aspecto de tranquilidade e confiança. Para encontrar a felicidade, para a possuir e usufruir plenamente, nunca poderemos advogar a violência, mas sim a persistência. Se conseguirmos viver só, dependendo de nós e não depender dos outros, há nítida hipótese de alcançarmos na vida tudo quanto desejarmos, permitindo aos nossos amigos, incomodarem-se mais com eles do que propriamente connosco. É melhor compartilhar as alegrias que os problemas. Todo o homem que se preza, divide com os outros a felicidade e guarda para si os momentos de maior tormenta.
QUAL VAI SER O DESTINODO HOMEM?
Apesar de todo o progresso e evolução, ainda ninguém sabe o que é o ser humano, o que é a vida, nem qual a origem da vida, ignorando também qual vai ser o destino do homem. Talvez por isso, o ser humano seja um caso de contradição difícil de entender: imprevisível nas suas actuações, desinteressante ou agressivo no seu convívio. A contradição humana está bem patente quando a par de um Hitler, de um Estaline ou de um Jacques, o Estripador, aparecem outros como S. Francisco de Assis, Santo António, Santa Clara, São Vicente de Paulo. Confusos, perante atitudes tão diferentes de cada um destes seres, perguntamo-nos continuamente: que sabemos nós do bem e do mal? Muito do que era considerado mal, crime ou pecado há cem anos, é hoje considerado normal e natural. Será que os infelizes de antigamente, são os felizes de hoje? Tudo é muito estranho. Estamos ligados ao infinito. O poder do ser humano cada vez se aproxima mais do Ser perfeito, deixando contudo, atrás de si, muitos milhões de seres que vivem em estado de miséria e de degradação humana. Pensar num Deus que criou a vida, e deu ao homem a possibilidade de ser feliz, é agradável e repousante. O nosso pensamento agradece-Lhe reconhecido, dizendo: se foste Tu, Deus que a inventou e no-la deste, bendito sejas Tu, só por isso. Tu fizeste o Teu dever. Todas as condições nos foram proporcionadas para construir na terra o paraíso e tirar de cada momento vivido, o prazer dos deuses, e beber na felicidade o néctar divino. Não temos sido capazes. A culpa é nossa. A vida é a hipótese maravilhosa de ligarmos os nossos cinco sentidos às pessoas, às coisas e aos sentimentos. Tendo sempre de volta o prazer supremo de estar ali, participando, gozando, sofrendo, lutando, acariciando ou simplesmente ouvindo e vendo, mas antes de tudo, e principalmente, estando presente, estando vivo, participando com Deus na obra de Deus. Isto que nós vivemos é de facto o paraíso para quem sabe fazer da terra o paraíso e aí desenhar a sua felicidade vivendo segundo o relógio da natureza. |