HOJE, AS IGREJAS MODERNAS CHAMAM-SE BANCOS

O ser humano é um ser que usufrui pessoalmente o universo, e que o usufrui também colectivamente, graças à inteligência que lhe dá capacidade de memória, de raciocínio e de julgamento capaz de desfrutar da sua experiência pessoal, e de todas as experiências que Deus deitou ao mundo.

O ser humano sabe que a sua felicidade está na inteligência, na ponderação e no trabalho.

Antigamente, as sociedades privilegiavam o religioso, para se atingir a felicidade.

Hoje, a sociedade moderna, substitui tal prática pela entrega da cultura a todos ou quase todos, tendo sempre como meta atingir a felicidade.

Os medievais, iniciavam-se no milagre, na partilha pública da responsabilidade de curar e de operar prodígios, na caminhada para o mistério, para o secreto, para o além, para o desconhecido.

O mundo moderno, disciplina-nos como alunos, prepara professores, cria escolas, inventa exames e convence cada um a estudar as matérias necessárias para se tornar cidadão de primeira, útil à Pátria e à indústria.

Os antigos, os medievais, queriam produzir um santo, os modernos querem produzir uma unidade de produção; com alta rentabilidade, com forte capacidade de realização e aguentando sempre até à idade da reforma. Mas todos dirão que o fazem pelo bom nível de vida de cada um, da estabilidade emocional e em último para a felicidade, o que, embora não seja dito desta maneira, pressupõe pelo menos esta ideia.

Hoje, as igrejas modernas chamam-se bancos. E quanto mais contas nos bancos, mais felicidade.

O mal das nossas sociedades está em privilegiar as gordas contas, esquecendo que esse capital tem de girar, tem de produzir felicidade para todos e não só para alguns.

Antigamente as pessoas estavam mais motivadas para a salvação da alma, de Deus, da igreja, hoje as pessoas colocam-se ao serviço do capital, da banca, dos ricos e do dinheiro, mas sempre com a finalidade de serem felizes.

Afinal, a felicidade está dentro de nós, faz parte da nossa vida e do nosso pensamento.

Aquilo que todos querem saber, mas que poucos se sabem perguntar a eles próprios, é se a felicidade reside na salvação espiritual ou material?

Se é espiritual são felizes os místicos e espera--os, como prémio, um lugar privilegiado no reino dos céus.

Se é material, a felicidade será representada pela vitória dos tecnocratas.

Para alguns, quer antigamente, quer agora, ficaram sempre muitos de fora por falta de mérito espiritual ou material, porque Deus, caprichosamente, não quis fazer de nós seres iguais, capazes de obter, nas mesmas condições, as mesmas regalias ou o mesmo castigo, ou seja, ser feliz ou infeliz.

Mas a infelicidade não pode estar subjacente à ideia de Deus.

Com Ele, todo o ser humano é feliz. No entanto, embora todos queiram ser felizes, as opiniões divergem. Uns dizem que há Deus e há quem diga que não há Deus.

Sem desejarmos impor a nossa ideia verificamos, no entanto, que o ser humano e todo o seu envolvimento afectivo é uma obra genial em que nada foi deixado ao acaso e tudo está preparado para funcionar numa fabulosa harmonia.

Tudo foi colocado à disposição do ser humano para ser feliz.

O ser humano tem à sua disposição a saúde, o dinheiro e tudo o que existe na terra.

A felicidade está ao seu alcance e o Ser Superior colocou ao dispor de todo o ser humano, pobre ou rico, o poder de criar a arquitectura mais bela e mais esplendorosa; o poder de conceber um filho, que é sempre uma obra de arte inigualável.

Nada se compara ao acto de criação.

No mundo, por mais diferenças que separem o ser humano, no campo económico, a verdade é que somos todos iguais na maneira como nascemos e como morremos.

Reis, rainhas, príncipes, princesas, presidentes da república, sultões, ministros, milionários, multimilionários, cidadãos comuns ou o mais miserável dos miseráveis, todos são iguaizinhos quando despejam a tripa ou esvaziam a bexiga.

Perante todos aqueles que têm o rei na barriga, como seria divertido desmontá-los, quando estão de calças na mão e limpando muito prosaicamente o traseiro.

Todos estes actos são sempre acompanhados de prazer. Há uma certa felicidade em os realizar.

O acto de criação atinge sublimidade total. É comum a todos os seres e nele se infere que todos os homens e mulheres foram criados para serem felizes.

A felicidade que procuramos e nos teima em fugir, é fruto dos nossos erros. Mas eles podem sempre ser emendados.

A felicidade é um acto de amor, ou melhor, depende de um acto de amor.

OS LÍRIOS DO CAMPO

Sem facciosismo religioso, apetecia-me lembrar o exemplo de Jesus Cristo que pregou e defendeu a simplicidade, a qual podia muito bem estar na alegria de contemplar os lírios do campo.

É verdade que tal contemplação não traz proveito financeiro a ninguém, mas em contrapartida também não é preciso pagar coisa nenhuma.

Não há ninguém no mundo que esteja totalmente contente com aquilo que o rodeia, ou com a sorte que Deus lhe deu, mas todos aspiram e lutam para atingir o seu objectivo, que se chama felicidade.

A felicidade liga-se à eternidade para aqueles que ficam no mundo, através das suas obras ou dos seus escritos.

Cristo, que todos conhecem, nunca deixou uma folha escrita ou escreveu sequer uma palavra. Nunca pintou um quadro. Contudo é uma das figuras que temos mais presente, a que melhor conhecemos, ou julgamos conhecer.

Cristo, atingiu a eternidade pela força da sua mensagem.

A palavra e o exemplo impuseram-se.

Hoje em dia, pobre ou rico, velho ou novo, grande ou pequeno, o ser humano luta no seu dia a dia pela eternidade porque ela é sinónimo de felicidade, embora poucos disso tenham consciência.

A felicidade está no encontro entre um homem e uma mulher.

A felicidade está no amor que os pais dedicam aos filhos.

No emprego que se alcançou.

Na harmonia familiar.

Na conquista daquilo que nos apetece.

O que há de mais importante na condição humana é o amor, o respeito e o carinho que cada ser dedica a si mesmo.

Esse amor, esse respeito e esse carinho, é aquilo que todos sentimos quando nos auto-avaliamos, quando nos comparamos aos outros e chegamos sempre à conclusão que somos o máximo, somos os melhores.

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