O HORRIVEL DA FANTASIA

Se conseguisse dominar o pensamento

Quando em saltos loucos avança

Por matérias ou formas espirituais;

A terra seria minha e o céu, muito mais

Do que um mito que me atormenta.

Poder estacar a corrente tumultuosa

Que não pára, que não descansa,

Seria a bênção do céu, seria a bonança

Neste mar agitado que todo sou eu.

Mas quando desejo acreditar

Que a minha matéria não é só matéria,

Desejo diluir-me, ser outro.

Não sei bem qual, mas outro.

E assim nestes pensamentos loucos,

Onde abafo grandes lutas e paixões,

Passo horas e horas pensando em mim;

E muito mais horas pensando nas gentes,

Que do mundo só levam as ilusões.

Penamacor

PÁRIA

Estende o pedinte a mão

Para que o óbolo seja lançado.

Às vezes leva um tostão,

Outras um mau-olhado.

Apático o pobre continua

Mendigando, mendigando sempre,

O rebotalho da rua

Ou um olhar indiferente.

Ele, nada vê, nada e ninguém.

Não encontra no mundo prazeres,

Nada sabe das alegrias da Terra

Nem mesmo… o que é mesmo padecer.

Se o olham, faz que olha mas não vê.

Se o repreendem faz que ouve mas não ouve

Se o levam preso, isso sim, lamuria

E em doida desenfreada gritaria

Faz que o larguem que o soltem.

O pobre não compreende

Que quanto mais tempo o tiverem,

Menos pedincha, menos se humilha

Diante dum mundo corrupto.

Sintra

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