Socialistas e comunistas
não se entendem.
Na festa
do 1º de Maio de 1975, os comunistas impedem que Mário
Soares use da palavra. No dia seguinte, o PS convoca outra manifestação
e nenhum comunista foi também autorizado a falar. As esquerdas
tinham-se dividido.
Depois da ocupação, pelos comunistas,
do jornal "República", afecto ao PS, os ministros
socialistas abandonam o Governo.
Mário
Soares acusa o Governo de querer impor uma ditadura em Portugal
e pede a substituição do primeiro ministro, Vasco
Gonçalves.
O MFA
constitui um directório político militar formado
por Costa Gomes (Presidente da República); Vasco Gonçalves
(Primeiro ministro) e Otelo Saraiva de Carvalho (comandante do
COPCON)
A
violência verbal e a ignorância espalham-se por todo o país. A insegurança
é geral.
O Partido
Socialista pede para formar Governo, mas o Presidente da República
nomeia, mais uma vez, Vasco Gonçalves para o 5º Governo
Provisório. O Presidente da República começa
a ser conotado com o Partido Comunista e uma grande parte
do país perde-lhe o respeito. Esta ideia não era
correcta. Eu próprio pensei o mesmo. Compreendi, mais
tarde, que me enganei. Costa Gomes mostrou uma inteligência
invulgar. Sacrificou o nome para não sacrificar o País.
Sabia que o Partido Socialista não teria sucesso e iria
agudizar os conflitos. Preferiu pactuar com as forças mais
activas e com aquelas que tinham as armas para as dominar por
dentro.
Em breve
aparecem divisões no seio do Conselho da Revolução.
Melo Antunes prepara o Documento dos Nove onde censura o extremismo
de Vasco Gonçalves e propõe uma plataforma de entendimento.
Obtido
o apoio de Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Gonçalves é
obrigado a demitir-se.
O Presidente
da República, com a bênção do COPCON,
forma um Governo moderado tendo como Primeiro Ministro, do 6º
Governo Provisório, o almirante Pinheiro de Azevedo, com
elementos do PS integrados no Governo.
A maioria
das rádios e jornais está nas mãos das forças
de esquerda. No jornal "O Século" é colocado
como Director um tipógrafo, Francisco Lopes Cardoso, com
quarenta anos de casa. Não está em causa nem a pessoa,
nem o cargo. Está a competência. Saber trabalhar com as mãos nem sempre quer dizer que se saiba gerir com a cabeça. Os trabalhadores,
na sua ingenuidade, puseram em perigo os postos de trabalho e
o jornal, um dos mais antigos e conceituados do País, acabou
por fechar e lançar largas dezenas de trabalhadores para
o desemprego.
A Rádio
Renascença, que tinha sido ocupada por gente pouco qualificada
e irresponsável, continua a incitar as multidões
a desobedecer às ordens que eles considerassem fora da
linha revolucionária.
O depósito
de Material de guerra de Beirolas está à mercê
dos revolucionários.
Os desacatos
continuam. Ninguém acredita em ninguém, nem respeita
seja quem for. A 22 e 23 de Setembro de 1975 os deficientes
das Forças Armadas cercam o Parlamento; a 25, os SUV, (soldados
unidos vencerão) movimento composto por soldados e marinheiros
armados, fazem uma manifestação em Lisboa, que não
resultou num banho de sangue porque o Presidente da República
achou que ainda não era oportuno mandá-los enfrentar.
No dia 27, a Embaixada de Espanha é assaltada, saqueada
e incendiada.
Era
forçoso impedir o caos total. O Governo manda os paraquedistas
ocupar e destruir as instalações da Rádio
Renascença, que era a rádio mais potente e a mais
ouvida no país. No norte são rebentados, à
bomba, alguns retransmissores da RDP.
No "Diário
de Noticias" começa o ataque ao Ministro da Comunicação
Social, Dr. Almeida Santos, por este, não demitir o Secretário
do MCS, Ferreira da Cunha. A partir deste momento, a inteligência
vai concentrar todo o seu poder para dominar a força da demagogia, da
ignorância e a força das armas.
Em 12
e 13 de Novembro, trabalhadores da construção civil
cercam o Parlamento para exigirem a aprovação de
um contrato colectivo de trabalho. O Presidente da República
e o Governo decidem actuar e ordenam ao comandante do COPCON,
o general graduado, Otelo Saraiva de Carvalho, para repor a ordem,
fazendo sair as forças de intervenção. Este
recusa-se a obedecer.
Os deputados
reúnem no Porto. O Partido Socialista denuncia a incapacidade
das forças armadas em pôr cobro aos desacatos que, todos
os dias, depauperam o país.
O
Governo, a 20 de Novembro, declara-se incapaz de governar
e pede ao Presidente da República para criar condições
de estabilidade. As forças de esquerda rodeiam o palácio
presidencial e exigem a demissão do Governo. Costa Gomes tenta chamá-los à razão e aponta
o perigo de uma guerra civil de gravíssimas consequências
para todos os portugueses.
A
confusão total atinge o climax.
Os soldados
paraquedistas de Tancos amotinam-se contra o chefe do Estado Maior
da Força Aérea, ocupam as bases aéreas de
Monte Real e do Montijo. A Polícia Militar e o RALIS (Regimento
de Artilharia de Lisboa) dão-lhes apoio e contam ainda
com os militantes da FUP (Frente de Unidade Revolucionária)
composta pelo FSP, LUAR, MES e PRP. Só a base de Cortegaça
está ao lado das forças do Governo.
O Presidente
da República e o Governo conhecem a grave situação
do país, já a depender do exterior e sujeitos às
imposições do Fundo Monetário Internacional
(FMI). Falam com o Grupo dos Nove, recebem o apoio de um dos mais
temidos comandantes militares, o coronel Jaime Neves, que está
incondicionalmente ao lado do Presidente da República e
do Governo, recusando ficar às ordens do general graduado,
Otelo Saraiva de Carvalho.
Sabendo
que tudo seria mais complicado se os órgãos de Comunicação
Social continuassem a campanha destabilizadora, é decretado
o estado de sítio ficando restringidos os direitos de expressão,
liberdade de reunião e manifestação. Os jornais
de Lisboa não se publicam. O recolher obrigatório
ficou estabelecido entre as 0 e as 5 horas.
É
instalado um comando operacional no Regimento de Comandos da Amadora
dirigido pelo tenente coronel Ramalho Eanes, mais tarde, graduado
em general.
O coronel
Jaime Neves e os seus homens mostraram imediatamente que a loucura
tinha acabado e que eles estavam dispostos a dominar quem se lhes
opusesse.
A Polícia
Militar não acata a ordem para se render. O major Lobato
de Faria, com os seus comandos, submete os opositores, embora
tenha sofrido dois mortos. A partir deste momento e à voz
de "Vem aí o Jaime Neves," todas as unidades
se rendem.
No Ralis,
onde os soldados tinham feito um juramento revolucionário
de punho fechado, Dinis de Almeida e Carlos Fabião são
presos. Os revoltosos entregaram-se, imediatamente, ao capitão
Salgueiro Maia.
No norte
do país, o Brigadeiro Pires Veloso, Comandante da Região
Militar do Norte, domina toda a situação com relativa
facilidade.
A partir
do 25 de Novembro, os exaltados revolucionários acalmaram.
O País começou, pouco a pouco, a voltar à
normalidade. Mas ninguém podia tocar nos militares. Eram sagrados. Apesar de haver mais acalmia, os erros eram enormes. Resolvi chamar os bois pelos nomes e escrevi um artigo no jornal "O Templário". Tinha por título "Atrás dos militares". Para minha surpresa fui levado a tribunal e eram oito anos de cadeia. No tempo da "ditadura" escrevi o que me apeteceu. Cortaram-me oito artigos, mas nunca me levaram a tribunal. Eu perguntava-me e disse-o, mais tarde, na Assembleia da República: afinal onde está a liberdade? No antes ou no pós 25 de Abril?
As pessoas pensam mal quando estão excitadas. Nunca percas a calma. Pára e raciocina. Portugal merece-o. Acredita em mim, que viajei por todo o mundo. Este País vale a pena.
Continuemos a nossa história.
O Presidente
da República, Costa Gomes, antes de entregar o cargo, um
ano mais tarde, voltou a insistir: "As forças armadas
não podem ser partidárias."
Foi eleito
Ramalho Eanes Presidente da República. O 1º Governo
Constitucional tinha na presidência Mário Soares.
As primeiras
eleições legislativas realizaram-se a 25 de Abril
de 1976. A Assembleia ficou constituída pelo Partido Socialista
(PS), Partido Popular Democrático (PPD), Centro Democrático
Social (CDS), Partido Comunista Português (PCP), União
Democrática Popular (UDP).
O Tesouro
estava exausto, os quadros tinham saído do país,
as despesas públicas tinham aumentado para níveis
considerados inadmissíveis, o desemprego era preocupante,
a inflação fazia sentir os seus efeitos, os juros
atingiram os 35%. A debandada de África tinha colocado
no País mais de quinhentas mil pessoas desorientadas, tristes,
descontentes por uma situação que eles não
mereciam. Os filhos de muitos colonos tinham nascido naqueles
territórios e muitos dos descendentes eram de cor mostrando
que nenhum complexo de pele ou de mentalidade os dividia.
Mário Soares tenta fazer sair o País da
crise. Vendo que o PS, sozinho, não consegue resolver as
dificuldades, contra todas as expectativas, junta-se ao CDS de
Freitas do Amaral, para formar o 2º Governo Constitucional.
Inesperadamente, os Centristas romperam a coligação
apesar do Dr. Mário Soares oferecer quase tudo quanto pretendiam
para se
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