CAMILO (exaltado e tossindo)

Sabes que não é verdade! És ingrato e estás a ser perverso com o teu pai que está velho, cego e mal tem forças para se defender de tanta insânia e de tanta injúria!

NUNO

Não me comoves! Sempre foste cego para aquilo que não querias ver.

ANA

Desconheço-te, Nuno. Nunca falaste assim para teu pai.

NUNO

Alguma vez tinha de ser. Ele não pode fugir continuamente. Assim, se fugir, fica a saber os destroços que deixou pelo caminho. Não quero que morra enganado pensando que os outros lhe perdoaram a humilhação.

ANA

Tu martirizas o teu pai.

NUNO (gritando)

Ele não quer ser meu pai!

CAMILO

Eu morro (cai).

ANA

Por favor, Nuno, chama o médico. Traz água com açúcar.

NUNO

Não trago nada! Ele, se quiser morrer, que morra! Até é capaz de morrer só para levar a sua avante e não casar. É um egoísta sem escrúpulos!

JORGE (a chorar e agarrado a Camilo)

Levanta-te pai. Nós estávamos a brincar. Eu digo à Rosa para trazer água com açúcar. Digo, mãe?

ANA

Diz, meu querido.

(Jorge dá um beijo ao pai e sai correndo. Ana desaperta-lhe a camisa e levanta-o um pouco. Camilo limpa umas lágrimas. Jorge volta com a criada. Ana dá-lhe a água e sentam-no)

JORGE

Não chores pai. O Nuno estava a brincar. Tu gostas do Nuno, não gostas?

(A criada sai. Camilo não responde. Breve silêncio)

ANA

Gosta. Tu sabes que sim.

NUNO

Ele não gosta de ninguém!

ANA

Por favor, Nuno. Chega!

NUNO

Que mal fizeste, mãe? Muito graves devem ser as tuas faltas! Que triste destino te foi traçado?

ANA

Eu escolhi o meu destino.

NUNO

Escolheste o teu destino? E o nosso?

(silêncio. Ana olha-os tristemente e acaricia Camilo que está muito acabrunhado. Ajuda-o a levantar-se)

CAMILO (sentando-se)

Eu vou pensar.

NUNO

Ainda vais pensar? E dizes tu que estás a morrer.

ANA

Deixa o teu pai, Nuno. Cala-te!

NUNO

Ele continua a fazer chantagem. Quer só ganhar tempo.

ANA

(crescendo para Nuno e apontando-lhe a porta)

Não te permito nem mais uma palavra, sai!

NUNO (agarrando o irmão)

Vamos Jorge. Essa mulher não é nossa mãe, prefere o amante.

ANA

Tu estás a ofender-me.

NUNO

Não parece. Anda Jorge.

JORGE - (saindo dos braços do irmão)

Eu fico com a mãe e com o Camilo.

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