DEPRESSÕES E TEMPO DE MULHER
Diana sofreu depressões provocadas por falta de ternura.
Passados os primeiros anos de casamento, percebeu que submissão não
queria dizer humilhação.
As depressões tornam as pessoas muito frágeis.
Sabendo dos amores de Carlos, informou-o de que ela poderia fazer o mesmo.
Ele não deu importância ao facto. Continuou adulterino e declarou-o
perante as câmaras de televisão.
Diana achou que era o máximo vexame feito a uma mulher. Hesitou pelos
filhos mas, se o próprio pai se expunha, por que não ela? Era
a grande oportunidade de pugnar por direitos iguais e vergonhas iguais. Pelas
mulheres, achou por bem cortar toda a hipocrisia das sociedades. Fez mais
um aviso ao marido e, perante a indiferença deste, foi a público
dizer que cometeu adultério e até gostou. Aqui, mentiu; o homem
que ela amava era Carlos. O indivíduo, que ela disse que o substituiu,
não passou de um fogo fátuo e inconsequente. Era um palhaço
de botas.
Ela atribuiu-lhe importância para dizer a todos as mulheres que a mentira
dos casamentos e a violência sufocada tinham acabado.
O amor de Diana por Carlos manteve-se inalterado desde que o conheceu até
à sua morte. Isto poderá parecer descabido mas foi assim. O
seu relacionamento sofreu altos e baixos só por culpa de quem a rodeava.
Diana seria incapaz de pensar em outro homem. Isso não significava
não sentir a falta de estima e carinho.
Sucedeu-lhe o que sucede a milhões de mulheres. Entrou em depressão
e tentou superá-la fazendo crises de bulimia ou desmaios sucessivos,
semelhantes a actos suicidários, o que não era verdade. São
próprios dos momentos que passam.
Só os pensadores do nada criticam Diana por estas acções,
para que ninguém os critique a eles.
Se as mulheres têm deveres iguais aos dos homens, os direitos têm
de ser iguais.
A vigilância do homem sobre a mulher é constante, descarada e
infeliz.
A partir do momento em que se sentiu traída, Diana tornou-se uma lutadora
pela dignidade e igualdade da mulher em todas as sociedades.
A mulher não pode ser uma mercadoria em trânsito. Os homens necessitam
tanto do amor de uma mulher como do ar que respiram.
É tempo de as mulheres compreenderem que a sua excessiva protecção
torna o homem egoísta e egocentrista. Enquanto elas não deixarem
de os desculpar e amparar, os homens nunca mais crescerão.
A TRANSGRESSÃO EM DIANA
A ligação entre Carlos e Camilla foi uma força desestabilizadora
no equilíbrio da princesa. A sua destruição psicológica
estava a ser consumada pelo marido. Diana tentou resistir a todas as pressões
e quis sair da situação pedindo o divórcio, o qual ia
sendo sempre protelado.
Para Diana, a única maneira de não enlouquecer, era divulgar
uma ligação extra-conjugal, inconsequente, para fazer sentir
ao príncipe que ele não passava de um homem igual a milhões
de outros.
Por mais que falem dos amores de Diana é muito difícil verificar
esta afirmação, mesmo quando ela o declara.
Diana só amou Carlos e talvez nutrisse a esperança de vir a
amar Dodi Al Fayed. Com Dodi esperaria ganhar um pouco mais de sossego e dedicar-se
às causas humanitárias que a obcecavam. O pai de Dodi, o multimilionário
e proprietário dos armazéns Harrods e do Ritz de Paris,
Mohammed Al Fayed, tinha prometido doar sete milhões de contos a instituições
de crianças carenciadas. Isso impressionou Diana. Tocou no seu ponto
fraco.
Os outros amores de Diana, mesmo o divulgado por ela, não passaram
de fogachos para apressar o divórcio que, não o querendo, desejava.
Os amores de Camilla e Carlos tinham sido divulgados meses antes, e Diana
não lhe tolerava a insolência. A resposta, no mesmo tom, era
um compromisso para com todas as mulheres e todas as mães do mundo.
Diana analisa a condição de mulher e decide ser porta-voz das
mulheres insubmissas, aquela que lutou ao lado de todas as mulheres, sem distinções
da cor de pele, de credos ou condição social. Desde as mais
carenciadas, às mais fabulosamente ricas mas cheias de traumas motivados
pelo homem, Diana esteve ao lado de todas.
A transgressão em Diana é uma forma de atrair as atenções.
Ela chama sobre si o ónus do escândalo para poder denunciar e
propor os antídotos contra as infidelidades dos homens: os espancamentos,
as mutilações, as mortes, as violações, a pedofilia,
e a desfiguração das mulheres.
Diana, mãe extremosa e consciente, luta por direitos e deveres iguais
para os homens e para as mulheres.
A fabulosa intuição de Diana acorda todas as mulheres do mundo.
Em qualquer festa, a sua presença atraía todas as atenções;
ria com a naturalidade dos inocentes sem maldade e exuberantemente.
Gostava de anedotas e de dançar.
Aproveitava a vida sabendo distinguir os tempos e os momentos. O riso, o choro,
a tristeza e a alegria tinham o seu tempo.
Muitas vezes a festa, a conversa, os contactos com os amigos eram as fugas
da princesa solitária entre as multidões.
Gostava imenso de nadar e fazia-o com a graciosidade da sereia que se delicia
mergulhando na água como se o fizesse no útero materno e dele
tivesse necessidade constante.
Via-se ainda feto. A água era a placenta que a revitalizava.
A mãe era o seu ponto de referência, aquela que nunca lhe saía
do pensamento. A falta de apoio da mãe, por razões de Estado,
fizeram que ela entrasse em desequilíbrio na altura da maternidade.
Nenhum dos conselheiros ou dos psiquiatras consultados conseguiu substituir
a mãe e, como esta não seria bem vinda à casa real, Diana
sofreu e tentou expulsar esse sentimento, soltando o fel às escondidas
para não ter que o lançar sobre quem, ilogicamente, lhe fazia
mal.
A sua fragilidade era por demais visível, só não foi
entendida por quem se habituou a confundir deveres estatais com simples cuidados
familiares.
Diana teve a coragem de desmontar a mentira e de se apresentar tal como é:
com todas as grandezas e misérias.
A sua vida abriu-se, produziu fruto e, quando lhe disseram que devia murchar,
que era obrigada a murchar porque era mulher do futuro rei e não tinha
outros direitos senão ter filhos e considerar-se muito feliz e muito
honrada com o facto, ela não aceitou.
Diana provou que a mulher não é um vulgar passatempo, obrigada
continuamente a sofrer vexames e a ficar calada.
Diana mostrou que as mulheres não podem, nem devem ser as eternas sofredoras
e o vaso onde os maridos chocam os espermatozóides.
Não é só a libertação da mulher. É
o direito da mulher do qual ela não deve abdicar para que o mundo não
soçobre no caos e na mais deprimente das confusões.
Aqueles que acusaram Diana de fútil ou de tonta devem olhar para eles.
Os homens, depois de cometerem repetidamente o mesmo erro e, embora lhes custe,
compreendem que estão a errar. Só Carlos, reincidente, repetente
e contumaz não entendeu.
Diana declarou bem alto o que nenhuma mulher seria capaz de fazer: que a separação
com o príncipe estava consumada apesar de o divórcio não
estar decretado e, se ele podia ter uma amante e do domínio público,
a mulher, neste caso Diana, considerava-se livre e faria o que entendesse
para que todas as mulheres soubessem que os homens têm de respeitar
as mulheres se querem ser respeitados.
Não se calou. Teve muita coragem. Era tempo de as mulheres mostrarem
o seu desencanto, pela não paridade em todos os sectores da vida e
contra o enxovalho constante a que são submetidas.
Diana sabia que todas as suas atitudes em defesa das mulheres e de todos os
que não têm voz lhe poderia acarretar graves dissabores.
Carlos e Camilla Parker Bowles foram, inconscientemente, culpados de toda
a tragédia que veio a suceder.
Culpados por amor proibido, por desrespeito para com os súbditos de
sua majestade e por desrespeito para com a mãe do príncipe herdeiro
e do príncipe Harry.
O que levará um homem como o príncipe Carlos a trocar uma mulher
jovem, bela e carente, por uma mulher casada e bastante mais velha?
Os homens ainda não largaram do irracional a cegueira do absurdo. Carlos
não é uma excepção.
Diana, por causa dos filhos, calou até ao limite a dor e o ciúme
que a transtornava, porque tinha de os proteger.
Carlos continuou insensível, esqueceu que os reis dos nossos dias são
simples serventuários do povo que lhes paga para administrarem o exemplo.
São símbolos, e os símbolos abdicam do trono e do império,
como fez Eduardo VIII, para seguir a luxúria do desejo e o deslumbramento
do amor.
Sua alteza real preferiu casar com Wallis Simpson, uma mulher divorciada duas
vezes, a ser o senhor todo poderoso de um país que todo o mundo admira.
Eduardo VIII trocou o império por uma mulher divorciada. Podia trocá-lo
por uma virgem. Mas não. Escolheu uma divorciada como podia ter escolhido
uma mulher com vários amantes e a senhora Simpson também os
teve. Isso foi-lhe indiferente. A mulher não fica diminuída
pelo instinto do amor.
Eduardo VIII podia escolher quem quisesse. Preferiu quem lhe soube valorizar
o seu ponto de equilíbrio.
Eduardo VIII ficou na história por ser diferente. Não governou
mas mostrou a todo o mundo que o poder de um cabelinho na zona mais sensível
da mulher tem mais poder do que todo o corpo do homem e mais força
que o deslumbramento de governar um império.
Pelo contrário, Carlos não aceitou e não sei se terá
aprendido a respeitar o amor e a saber que os desejos também têm
regras.
DIANA NEM ERA MEDIOCRE,
NEM VULGAR
Diana representava a felicidade. Todas as mulheres e homens que a olhassem
gostavam dela. Era amor à primeira vista. Ou pelos olhos, ou pela silhueta,
ou pelos vestidos ou pelo sorriso. Ninguém ficava indiferente; só
os invejosos ou os abortos tentavam menosprezá-la porque são
invejosos e abortos. E está tudo explicado.
Serem sempre frustrados: ou no casamento, ou na beleza, ou inchados de pensamento
mas vazios de respeito por quem quer que seja.
Diana representava a moda, o amor, a liberdade, respirava um ar saudável,
limpo, não conspurcado e isso era demasiado para aqueles que gostariam
de aparecer nas revistas do coração mas que, para seu azar,
nem disso são capazes. Dão entrevistas a revistas normais, mas
não suficientemente apelativas para interessar multidões; por
isso continuarão sempre infelizes e dizendo mal de tudo e de todos.
Só nos países onde há falta de gente capaz se aproveita
o refugo para variar um pouco.
Diana deitava-se cedo e levantava-se cedo. Por volta das 21h, 22h deitava-se
e levantava-se às 7h. As excepções não lhe agradavam
e uma delas foi-lhe fatal às 0,26h do dia 31 de Agosto.
De manhã, sempre que não tinha outros compromissos, aproveitava
para aulas de ginástica no Chelsea Harbour Club. Depois da ginástica
regressava ao palácio de Kensington e tomava um banho revigorante onde
misturava todo o poder da aromaterapia. O cabeleireiro, Sam Mcknight penteava-a.
Mais tarde, com a ajuda da secretária, Anne Beackwith, revia a agenda
dos compromissos e procedia à leitura da correspondência. Almoçava
frugalmente. Evitava hidratos de carbono e proteínas na mesma refeição.
Da parte da tarde visitava hospitais, creches, centros de pessoas carenciadas,
jardins infantis e ajudava-os financeiramente.
Diana transportava para as crianças todo o seu amor. Profundamente
conhecedora dos desencantos e traumas infantis, mesmo daqueles que vivem em
palácios encantados, ela sabia que a força da humanidade está
toda concentrada no crescimento da criança e na maneira como a afectividade
é dada e recebida.
As crianças adoravam-na porque ela transmitia-lhes confiança,
segurança, alegria, calor. São o ponto alto da princesa. Com
elas toda a sua pureza, carinho, afectividade vem à flor da pele e
ela entrega-se, sem receios.
Encara as máquinas fotográficas de frente e transmite aos jovens
amor e confiança.
Ao observarmos fotografias tiradas na ilha de Barbuda, nas Caraíbas,
onde a protagonista eleita é Marion, uma menina com quem brinca e se
diverte, juntamente com os filhos, observamos a sua informalidade; pôs
de imediato a criança à vontade ao dizer-lhe para a tratar só
por Diana. E Diana com Marion, ou com os miúdos dos orfanatos ou com
os meninos de Angola ou com os seus filhos, era a simplicidade, o amor, a
esperança e a vontade de compreender a vida.
Andava descalça, descontraída, liberta. Olhava de frente as
crianças sabendo que elas são o olhar da vida. Bebia nesse olhar
o amor que havia de derramar sobre a terra.
Diana fazia felizes os mais pequenos levava-os a sonhar com tudo o que existe
de bom e de belo. Por isso não nos admiramos que tantos milhões
de adolescentes tenham chorado amarguradamente a sua morte, e jovens doentes,
como os do hospital londrino de Great Ormond Street, um dos muitos patrocinados
pela princesa Diana, teimem em depositar flores onde aconteceu o fatídico
acidente.
O SORRISO DA PRINCESA
A sua simpatia, desde muito jovem, era proverbial. Com qualquer roupa ela
era bonita e simpática. Ao casar com Carlos e obrigada às apresentações
oficiais, Diana encheu o seu guarda-roupa de fabulosos vestidos que destacavam
as suas formas e a tornavam uma das mulheres mais desejadas do mundo.
A beleza de Diana e o realce dado pelos seus vestidos tornavam-na deslumbrante,
mais própria de um conto de fadas do que de uma mulher verdadeira.
As exigências de protocolo obrigavam-na a quatro ou cinco mudanças
de roupa por dia. Para os homens isto é extremamente cansativo, para
as mulheres torna-se divertido. Diana nunca mostrou um ar cansado.
A editora de moda da revista Vogue, Anna Harvey, serviu-lhe de conselheira
e, pelos vistos, com sucesso. Os vestidos são autênticos monumentos
deslumbrantes.
Recorreu ainda a Catherine Walker.
Diana tinha imensas jóias; umas são património da coroa
e pertença da casa real. Outras foram-lhe oferecidas. Ela soube-as
usar com moderação.
Diana era uma mulher muito simples, nada pretensiosa e incapaz de ofender
pela ostentação.
Mais de ver do que mexer. Apetecia abraçar Diana como a uma filha,
uma irmã, uma namorada ternurenta, um totem em cujo toque ressaltam
graças.
Os olhos da princesa são de uma expressividade invulgar. Se o assunto
era ligeiro, eles sorriam, se era malicioso eles brilhavam de alegria e ria
feliz. Lembro-me, na visita a Portugal, como ela olhou e riu para o primeiro-ministro
Cavaco Silva. Os olhos expressavam a brincadeira, o desejo de rir para se
descontrair, para não sufocar ao peso dos desencantos da vida. As suas
piadas e inofensivas provocações deixavam felicíssimos
os visados. O sorriso de solidariedade para com Madre Teresa ou para com as
vítimas das minas, o sorriso de felicidade nos primeiros tempos de
casada.
O sorriso de compaixão e de tristeza infinita que pretende ser esperança
e sofrimento conjuntamente com uma criança de cor diferente da sua,
que tinha um tumor no cérebro. O sorriso de cumplicidade com o Papa
e que este retribuiu com uma expressão de felicidade imensa como se
estivesse a receber um choque de rejuvenescimento e saboroso e infinito prazer.
O seu sorriso escondia o olhar momentaneamente triste. Só com os filhos
e com os desprotegidos o riso era franco e totalmente feliz. Os fotógrafos
deliravam mais com as suas expressões do que com a sua fala. Em todos
os momentos Diana foi rainha. Ao encanto, ela juntava respeito, admiração,
veneração.
Basta rever as fotografias e imediatamente sentimos que aquela mulher era
diferente. Ela abraçou milhões em todos os continentes.
A popularidade de Diana aumentava à medida que os anos passavam e enquanto
os filhos cresciam.
Foi-lhe dito que os reis e as rainhas não choram mas, às vezes,
nos hospitais, Diana não resistia e as lágrimas teimavam em
inundar-lhe o bonito rosto. A princesa era um encanto. Ainda hoje apetece
abraçá-la como o bem mais precioso do mundo. Ninguém
a vê como santa, mas todos a vêem como alguém que nunca
se esquece. Só a lembrança dela conforta. Ela ficou como um
sonho que apetece beijar com ternura, carinho e muito respeito.
Eram as suas atitudes que pesavam nesta ligação entre a pessoa,
as pessoas, as multidões e Diana.
A solidariedade tinha em Diana o seu ponto alto. Dizia-se que herdara da avó,
a condessa de Spencer, a solidariedade e generosidade para com todos os sofredores
do mundo.
Desde os tempos da escola em West Heath que todos lhe notaram a inclinação
para o companheirismo com os colegas doentes ou aqueles que precisavam de
ajuda.
A solidariedade que demonstrou como alteza real ou só como princesa
não foi exploração mediática ou uma forma de chamar
as atenções sobre si mesma; foi para atrair as atenções
de todo o mundo para as injustiças sociais.
O Programa das Nações para o Desenvolvimento (PNUD) foi forçado
a multiplicar esforços para a erradicação da pobreza
no mundo. Foi criado também a AMCCP - Aliança Mundial de Cidades
Contra a Pobreza. Há provas que a princesa, desde jovem, se interessava
por esses problemas. Sabe-se que todas as semanas, muitos anos antes de casar
com o príncipe Carlos, Diana fazia trabalho social em Sevenoaks.
Diana cativava todos. As suas acções não eram fingidas.
Realizava-as por convicção.
Os hospitais eram conhecidos. Ela prestava ajuda no serviço de voluntariado
local para lidar, acarinhar e proteger os doentes e, em especial, os doentes
mentais.
Depois da separação de Carlos, as suas acções
multiplicaram-se como se tivesse pressa de cumprir uma missão que lhe
tinha sido destinada. |
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