CAMILO Ao casar tudo vai ser diferente. (passeia inquieto) FREITAS Diferente, porquê? CAMILO Sei lá! Sinto-o. Mas também sinto que sou uma besta! Sou homem, e está tudo dito. O ciúme, essa frioleira insensata, não me vai largar nunca mais. FREITAS Essa é que é a tua verdadeira doença. CAMILO Não me consegue sair da cabeça que ela... FREITAS Não digas mais. Foi-te de uma fidelidade total durante todos estes anos, aturou-te todas as doenças verdadeiras e imaginárias que inventaste e, lá porque ela teve um amigo ou dois antes de te conhecer, isso é assim tão importante? CAMILO Não consigo explicar quanto isso me é penoso. FREITAS A Ana enfrentou toda a sociedade por tua causa. CAMILO Por capricho. FREITAS A Ana acompanhou-te sempre. CAMILO Mulheres! Sabemos lá por que fazem isso?! FREITAS As mulheres não reagem como nós; por vaidade. Para elas, ou é, ou não é. Se é, e se amam verdadeiramente, são capazes de todos os sacríficios. CAMILO Tens a minha palavra. Amanhã caso e logo se vê. FREITAS A Ana está com 57, tu com 63, ainda há muito tempo para ela saborear, em pleno, o seu título de Viscondessa. (entra Ana Plácido) ANA (vem a fumar, traz uma bandeja de prata com bolos) Venham beber um calcinho de Porto e umas "barrigas de freira" que acabei de preparar. FREITAS Parabéns, o sr. Visconde pede que aceite casar com ele de papel passado. ANA (coloca a bandeja na secretária e abraça, efusivamente Camilo) Uma vida inteira à espera deste momento! CAMILO A mulher persistente não desiste enquanto não obtém o que pretende. ANA (puxando uma larga fumaça) Isso mesmo, meu querido. Vê-se, que conheces bem as mulheres. CAMILO Tens razão minha querida. Ceguei de vez.
Cai o pano |