(D. Ana entra, bastante inquieta)

ANA

Estás preocupado? Não os leves a sério. Temo as consequências. (faz menção de sair).

CAMILO

Não temas... estes, ainda continuam meninos de coro...

FERREIRA MOUTINHO

Oiça como ele nos trata.

ANA

Divirtam-se, mas tenham cuidado.

CAMILO

Fica descansada que eu não utilizo a bengala.

FREITAS

Não se preocupe, D. Ana.

(Ana, sai)

FERREIRA MOUTINHO

Mesmo com promessa de bordoada, gostaríamos de ouvir V. Excelência.

FREITAS

Depois de velho apostou no ensino ao nível dos neurónios que esticam.

CAMILO

É perda de tempo lavar o bestunto ao pensador que não ri.

FREITAS

Nem com provocação desistimos de conhecer essa tua ideia. (vira-se para o Dr.) Tu acreditas que a inteligência se aprende na escola e com a idade?

FERREIRA MOUTINHO

Duvido. Mas os génios adivinham os segredos escondidos do universo, oiçamo-lo.

FREITAS

Valerá a pena?

CAMILO

Não se nasce.

FREITAS

Eu não te disse que ele está a ficar pírulas?

CAMILO

Pírulas estás tu, meu brutinho. O homem desenvolve-se física e mentalmente à medida que cresce. Depois desenvolve a sua inteligência consoante o nascimento, o local onde vive, a escola,o ambiente familiar, o cargo ou o serviço que desempenha.

FREITAS

Isso é um absurdo!

CAMILO

Eu penso assim.

FREITAS

E aquilo que pensa o sr Visconde de Correia Botelho, é lei.

CAMILO

Infelizmente não é. Este mundo está apinhado de ignorantes como tu.

FREITAS

Que descaramento.

CAMILO

A inteligência tem um suporte e, esse, pode ser familiar. Quando o familiar não é suficiente, é a escola que deve abrir o sacrário e desfazer a confusão que lá existe.

FERREIRA MOUTINHO

Como?

CAMILO

Inculcando regras simples, mas essenciais. Infelizmente estamos num país de analfabetos onde a inteligência corre para as valetas. O oiro deste país perde-se no vazadouro público. É um país de teóricos e de arrogantes. Envergonham-se de aprender. Utilizam mais os braços do que a cabeça!

FERREIRA MOUTINHO

Ensina-nos antes do casamento.

CAMILO

Eu logo vi. Querem levar-me ao logro enganando-me com um jogo de ideias, como se as tivessem.

FREITAS

O casamento...

CAMILO

O casamento não é um acto inteligente. É uma imposição de nível social e económico!