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PELO AMOR

 

Havemos de concordar, que a luta travada  pelo homem, para sobreviver, é tremenda.

Todos nós gostaríamos de ser este ou aquele, mais afortunados, e todos lamentamos a dura vida que nos é imposta.

Nalgumas palavras: Pouquíssimos são os que vivem consoante o seu pensamento; os outros, são os revoltados.

A vós, entrego os meus sentimentos, as minhas reações, enfim, o meu eu, para que comparando-o com o vosso, nos possamos compreender.

Só assim, conhecendo-nos mutuamente, os bons e os maus bocados, do nosso interior, poderemos saber como corrigir os defeitos e aumentar as virtudes.

Procedendo assim, a luta pela sobrevivência será, talvez, mais atenuada, porque não teremos medo de nos olhar frente a frente e de nos respeitarmos como irmãos perdidos no  mundo.

C.S.

 

 

Eis o homem!

Animal indefinido

Sem princípios, sem fins.

Atira ao acaso

Acerta onde calha.

Rei sem saber,

Cega-o a projecção,

O orgulho, a vaidade.

Pobre animal!

Caprichoso; imbecil

Não raras vezes,

E muito irracional.

Eis o homem:

Rei dos animais

E animal dos reis.

 

Que imbecis! Que idiotas! Que cretinos

Este universo vai protegendo!

Não têm razão, não vivem amor,

Olham desconfiados para toda a gente.

 

Cem, duzentos milhões de ignorantes,

Habitam o planeta, cambaleantes.

Empurrados aqui, açoitados acolá.

Vivem como porcos, pior ainda!

Focilgam os restos dos abastados

Que humilhando-os se deliciam

Desta humildade dócil, compreensiva.

E, esta cáfila de suaves miseráveis,

Não é capaz de mentalmente discorrer

Que a ignorância os atasca de lama.

 

 

Neste cérebro malvado,

Forjo tantas ideias loucas

Que inúmeras têm sido as bocas

Que me apelidam de doido.

É o ar, é a experiência, é o clima,

Dizem mil vozes em coro.

E eu vivo amargurado

Com este falar

Sem saber, se sou eu, ou eles, os dementes

 

 

 

 

 

Caídos.

Sonhadores, sopesados por destinos,

Onde a voz é o terror e o medo.

Tristes sombras vagueando cambaleantes

Imaginando

Novas fortunas,

Novas velas,

Novos guerreiros, fortes e possantes.

Herdeiros de ruínas orgulhosos.

Párias universais.

Falsos profetas.

Renovadores de mitos.

Mas, herdeiros de ruínas.

Meia dúzia de títeres aperaltados

Dando-se ares de grandes senhores

Incham de enfatuados.

Os homens, desapareceram.

As ruas estão desertas.

O bom senso desandou

Meteu-se dentro de cafés

Respira ares intestinais.

E quando alguém pergunta:

Em que hora vos levantais?

Olham com ar carneiral,

E respondem nunca mais.

 

 

 

 Por um palmo de terra ingrata

Geram-se conflitos colossais.

Os homens, perdem a cabeça,

Transformam-se em reles animais.

Lutam por quimeras impossíveis

Esquecendo o tempo transitório

Que lhes foi dado para desfrutar

Um pouco de vida, uma nesga de ar.

E, quando se dão conta do erro

Que cometeram imbecilmente.

Prepara-lhes a alegre viúva

Um magnífico ou miserável enterro.

 

 

 

Em bichas sangrentas

Entram prisioneiros.

O campo está cheio.

Mais cheio ficou.

Roendo ossos

Escavando lodaçais

Estas caras boçais

De tanto sofrer

Tornam-se diferentes.

Ou irracionais.

Os verdugos, inchados,

Parecem texugos

Semelham nababos

De sorte indefinida

Engordando sempre

Esperam um só dia;

Que a sorte mude.

 

 

 

Chamam-me doido.

Atiram-me pedras ás escondidas,

Falam de mim como se fosse satam.

Mas, quando procuro amor

Nos olhos dos meus semelhantes.

Encontro o aço fino das espadas

Apontando sem rebuço, cruamente.

E à força de tanto me matarem,

Eu, vou morrendo, na minha solidão.

 

 

Chora a viúva o bem amado

Aquele que jamais será substituído.

Todos a consolam, todos a confortam.

Pobrezinha!

O tempo tudo apaga, sussurra-se.

Um ano passa sobre o acontecimento.

No mármore da sepultura, caído,

O retracto do chorado marido

Faz recordar o valor do esquecimento.

Em festas e chás volantes

Todos galanteiam, todos patenteiam

Sorrisos gentis, cheios de malícia à

Viuvinha.

Tempo de segundos, no tempo infinito.

Onde cada um, não vale um simples grito.

Eis o peso máximo do homem.

 

 

 

 

 

São jovens,

Os que compõem o cortejo.

Nem uma só ruga de velhice os tocou.

E teriam, talvez sido felizes, se...

A morte fabricada pelos homens

Os tivesse esquecido durante anos.

Continuam cantando tristezas

Sem se verem uns aos outros.

Temem reconhecer-se,

Fogem deles mesmos, sendo etéreos,

E só o amor, que deixaram, os menteia.

 

 

 

 

 

A

J.C. Neves

Perdi-te meu Irmão.

A morte amortalhou-te a vida

E a mim trouxe-me o luto.

O destino não me conforma

E das leis da terra, nenhuma forma,

Me Justifica o teu apartamento.

Clamaria aos céus, se os céus me ouvissem

Imploraria ao infinito a justificação

Deste absurdo: morte - vida.

Mas não tenho forças, nem crenças,

Nem paciência, nem nada; nada; Zé.

Tu compreendes, sempre compreendeste

Este meu viver-impertinência

Este meu querer ser e não querer.

Infelizmente, quem partiu não fui eu,

Foste tu, o bom, o justo, o recto:

E a escumalha pensante, fica indiferente,

Na lei do tempo e das circunstâncias.

Mas, não me posso conformar

Com a pulhice de que foste vitima,

A vítima inocente, imolada

Em louvor de um molho de latas!

 

 

Sabes que te odeio de morte?

Sabes que não me enojas e não te temo?

Que te apelido de suja e vingativa?

De traiçoeira e infame, sim, infame!

Sabes que me rio das tuas ameaças?

Que te desafio e te escarro e te insulto?

Nem mesmo assim te tentas?

Nem mesmo assim atacas, covarde?

Só as almas indefesas são as tuas presas.

Só os bons e os rectos levas cedo.

Tens receio de absorver veneno

E deixas-me.

Mil vezes desgraçada e outras tantas

Te esconjuro, vomitando o ódio

Que nunca antes compreendi.

 

 

 

 

Um rosto aberto

Sempre sorrindo

Caminha ligeiro e cumprimenta.

Cabelos loiros passo incerto

É D. Morte que entra.

Como está?

E a fugir, sorrindo sempre,

Ri, ri doce, angelicamente.

Se algo se lhe pergunta.

Pergunta: como?

Ah! Pois é.

E sorri.

Sorri como se não compreendesse

E as palavras não entendesse

Mais que as necessárias.

E correndo, correndo sempre, como fugindo

D’algo que a atormenta.

Responde a tudo prontamente.

Andando e sorrindo,

Sorrindo sempre.

 

 

 

 

 

O pulsar da terra faz-se sentir

Com catástrofes e explosões

De ódio e de sangue.

O caos e o fim aproximam-se,

Tocam-se, abraçam-se, reverenciam-se

O riso deixou de brilhar, de ter valor.

As desgraças sucedem-se em catadupas

E ninguém se penitencia, ninguém tem culpa

Do que sucede nestas convulsões.

 

 

 

Olho com os olhos pensativos

Os feitos complexos dos racionais.

E admiro-me, como tudo pode acontecer

Naturalmente, sem qualquer oposição.

Deixam-se à solta os canibais,

Dão-se foros de gente a autênticos animais

E todos acham bem.

Culpados onde vos encontrais?

Jogadores de destinos quem sois?

 

 

 

O tempo é de justiça

Proclamam as multidões.

Amor, paz, fraternidade

Dizem os concílios.

Paz, paz, só paz

Repetem os conferencistas.

Harmonia, amor, justiça

Todos desejam por minutos.

Mas a quem vender armamentos,

Perguntam-se magnatas?

E num rápido segundo.

Paz, justiça, ideais;

Desaparecem deste mundo,

Onde governam tigres

Onde se engordam canibais.

 

 

 

Crescem as carochas.

E depois de completa a evolução

Temos um ser pensante mentor do mundo:

O homem.

Traz carapaça e quatro patas

Divididas duas a duas, sobrepostas.

Convencem-no que é rei. E alguns são.

Aqueles que postos de barriga para o ar

Aí ficam

Vão ser sujeitos ao eugenismo universal:

(Não, não são judeus) são escravos

E o homem-rei e o homem-escravo vai viver.

A ganância, a prepotência, e lucro cegam-no.

Mas o rei, tem o “olho” da ocasião:

O olho mental.

A exploração começa,

E o homem-escravo, que julga ser homem

Vê, que existe somente, como carocha-árvore.

A árvore das patacas.

 

 

 

 

Senti-lhe a raiva, o ódio, a baba

Pegajosa, purorenta, empeçonhada

Quando me disse: tiveste sorte.

A sorte do homem faz-se do querer.

Da honestidade de se parecer ao infinito

Em tudo o que na terra fizer.

O homem, é um descrescente-crente,

Que ri a medo, do castigo-eterno

Ou da imagem do nobre criador

Todos se igualam um pouco a Judas

Agem segundo a ocasião, o lucro,

Tiveste sorte é um prémio, um castigo,

Da força de vontade, do querer vencer

Lutando com milhões de seres semelhantes.

É um caracter firme, seguro,

Que enfrenta tempestades

Opondo a todas, o peito frágil-duro.

O homem, são todas as contradições

Da natureza; bruta e cruel, mansa e doce

Assim como escolheu o modelo, assim ele é.

 

 

 

Choro entre paredes

Entre noites de solidão.

E quanto mais amargurado,

Mais triste,

Mais necessito de afeição.

Mas estas paredes!

Estas paredes vazias,

Estes tectos irreais

Onde oculto tantos desejos!

Dizem-me que os lugares são poucos

E muitos os pretendentes.

E muito triste, muito sozinho

Choro, choro entre dentes.

 

 

 

 

Às vezes, quando sonho.

Sim, também tenho sonhos.

Vou criando, no mundo, uma tela imensa,

Uma aurora sem fim, azul vida,

Azul carinho, azul sossego, azul amor,

Onde todas as aves encontram ninho

E onde cada abelha tem a sua flor.

E os meus sonhos doirados, felizes,

Esqueço o fogo

Que nas veias, em mim, no corpo todo,

Faz que minha irmã, a mente criadora,

Em lances de sonhadas felicidades, lance raízes.

 

 

 

 

À Mulher

 

Acessório indispensável ao homem

Nunca te prestaram o devido valor.

Rebaixam-te, humilham-te, criticam-te.

E tu, sempre doce, sempre carinhosa

Vais sofrendo a maldição eterna

Sem um queixume, sem uma dor.

Não sei que temores escondidos

Te fazem sufragar no vale dos caídos,

Erros que não descortinei.

 

 

 

 

Admiro as crianças do mundo

Nos pequenos seres, rotos e descalços

Que brincam descuidados dia a dia.

A dor que sinto e eles não vêm

Nestes doces momentos dos verdes anos

Em que tudo é cego, nublado de enganos,

Faz-me sentir a amargura.

E quem não se poderá revoltar

Vendo a riqueza supérflua?

E ouve os risos sem som, anárquicos

E pulhentos, dos empedernidos, dos mais ricos?

Quando vê duas mãozinhas sujas, magrizelas

Estenderem-se a medo, tremelicando...

 

 

 

 

 

Esta mão direita, que conheço e me conhece,

Tem trejeitos duros, felinos, que endoidece

Quem não saiba como a há-de conduzir:

Ora dá, ora retira, ora sacode

E ninguém sabe o que pode contar.

 

 

 

Todos nós trazemos um pouco de loucura

Nas vértebras dorsais.

Muitas vezes, estando em transe,

Entramos em delírio solitariamente.

E, eu sei, que tanto o pobre como o rico,

Tem as suas fúrias escondidas.

 

 

 

Quando era mais jovem,  vão longos anos.

Pensei fundar a congregação do amor.

Enfim, ideias de rapazes,

Enquanto pude, guardei segredo.

Mas, congregar é juntar e juntar é unir.

Falei no caso aos amigos.

Sabem o que aconteceu?

Riram-se.

Riram-se em cascalhadas álvares,

Desta visão pura, do amor puro.

E eu, que tinha construído o belo,

Só idealização, só amizade, só entendimento,

Fugi esbaforido, enojado do meu bando.

Desde então, penso somente:

Contradições.

 

 

Não é o silêncio da sepultura

Que este mutismo procura.

Olhando só, não dizendo nada,

Encontro a nudez da espada

Em cada palavra entendida.

O meu silêncio, procura campos

Onde lançar raízes,

Onde semear novos matizes

E obras de real valor.

Falar, só por falar, sem crenças,

Sem ideias definidas.

Para quê? Por quê?

Bendito o silêncio das idealizações,

Irreverente perante pedantismos,

Rindo-se de apregoadas obrigações.

 

 

 

 

 

Busco a paz e o sossego

Criando ilusões.

Vitima de mil pecados,

Censuram-me outros mil.

Cantei em vão

O apelo da sepultura.

Corri de braços abertos

Querendo alcançar a eternidade.

E, até essa perdi,

Ao tropeçar na ignorância,

Dos meus julgadores.

 

 

 

Passei pela terra,

Amargurado, infeliz.

Flor de inquietação

De murmúrios festivos

E de falsas desavenças.

Bebi em todas as crenças

E nada achei, nada encontrei.

Se infeliz na terra entrei

Infeliz do mundo saí.

 

 

 

Tarde ou cedo, de manhã ou à noite,

O símbolo da virtude aparecerá;

E tal como os anjos hebraicos

Reclama o castigo.

A fuga é inútil, as portas fechadas

Sem grandes serradas, que ireis fazer?

Sim que ireis fazer?

 

 

 

Fome de justiça e de amor

De glória e de fortuna

De verdade e de pureza

Fome, fome de honestidade

É tudo quanto peço!

 

 

As minhas dores são o brado irado

Dum corpo matéria quase imaterializado.

São a exclamação rouca

Contra as imperfeições terrenas

Nos corpos ou almas de cada um.

As minhas dores são o fel da vida.

São da consciência, as minhas culpas;

São tudo, tudo quanto tenho,

Tudo quanto existe para oferecer.

 

 

 

 

 

A vaidade.

Feminina, graciosa, muito bela,

Pintada com lápis de muitas cores

Vaidade, a deusa tão falada, aparece.

Vénias, cortesias, mil finuras

Todos os carinhos são pouco aduladores

Para quem espalha tantos prazeres.

Dão-lhe lugares, os melhores, na alta roda,

É apresentada como a filha mais prendada.

No entanto, aqui para nós, Sente-se infeliz.

A vaidade toda poderosa,

A quem reis e rainhas prestam culto.

Só ela sabe, quanto vale e quanto sofre

Ao recordar

Que sua mãe foi meretriz.

 

 

Mirradas, carcomidas,

Bochechudas,

Serenas, aviltantes;

Representam vidas.

Faces de criminosas,

De loucos sediciosos

Onde se lê: miséria, aflição,

Desejos, noites de inibição,

Ódio, amor, tantas paixões.

Lutas interiores recalcadas.

Herdeiros de taras presumíveis.

Em poucas há contentamento.

Em nenhumas admiração.

 

 

 

Justiça de libidinosos,

Clemência de dementes,

Reguladores de boas e más acções

Tiranos, verdadeiros ditadores

De justiça e de mentiras.

Velhacos universais!

Qual será o dia do vosso julgamento?

 

Escorraçado, vilipendiado, temido

Fizeram-me sonhador de vinganças.

Calado, fui inimigo

De todos os que acalentaram esperanças.

Tornei-me fera.

Rasguei ilusões.

Sozinho tentei a todo o custo libertar-me.

Sozinho ouvi alacres gargalhadas

Zombar do meu esforço de salvação.

Furioso, pela dor, pela incompreensão.

Ri também. Gargalhei dores e risos

Pus em cada cabeça, palmas de guízas

E perdi-me no mundo.

 

 

 

Que silêncio abismal me rodeia!

Que rostos odientos me escondem

Na escuridão de cada alma.

 

 

Poetas!

Condenados

A servir multidões

Deitai lucros efémeros a perder

Segui de alma cândida, as vossas ilusões.

 

 

 

Dum cérebro imperfeito

Tornado sublime

Apareceu o homem.

Mas quando se dá conta

Que existe.

Que tudo o que o rodeia é firme.

A sua expressão, cai, desiludida e triste,

O seu sorriso é forçado.

Chora então convulsamente

Por se ter julgado, sendo verme, omnipotente.

 

 

 

À

Guigui

Amigos

Como os procurei,

Que voltas eu dei

Para encontrar um!

Um verdadeiro, puro, honesto.

Mas onde o encontrar?

Onde o procurar no meio da multidão

Acéfala e má?

Passei anos

Nesta procura.

E, quando desiludido.

Sem mais ideais, sem mais horizontes,

Gritava ao mundo o desespero.

A luz da vida passou

E trouxe a meus braços a amizade

De outra maneira:

Na forma de uma. filha.

 

 

Fiz amizades?

Todas desfeitas, todas esquecidas.

A inveja nuns, a desconfiança noutros

Fez-mas perder.

 

 

Chamam-te louco

Em vez de poeta.

Atiram-te gracejos

Em vez de flores,

Escorraçam-te

Quando te deviam abraçar.

Amesquinham-te

Quando o amor seria mais justo.

Mas tu,

Poeta da loucura.

Continuas

Indiferente à multidão.

 

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