CRÓNICAS
CRÓNICAS DA PROVÍNCIA E INTERVENÇÕES PARLAMENTARES
NOTA PRÉVIA
Em virtude dos constantes pedidos do livro supracitado, e não o pensando reeditar,
aproveito a Internet para o colocar à disposição do público.
A RAZÃO
Os portugueses são por natureza desinteressados das suas coisas, o que equivale
a dizer que desprezam a sua verdadeira cultura para se regalarem com aquilo
que importam do estrangeiro e é, muitas vezes, de péssima qualidade.
Depois, temos da vida um sentido restrito que acaba por abafar o espírito
criativo, a inspiração e o gosto.
Quantos portugueses agiram sempre por iniciativa própria, sem conselhos nem ajudas de ninguém, guiados só pela sua sensibilidade,
sentido estético e amor à terra onde se nasceu e se ama extremosamente?
Foi pensando em você, que me lê e mal me conhece, que eu escrevi e aceitei
um dia ser Deputado. Das centenas de crónicas escritas, respiguei algumas,
e das intervenções parlamentares os momentos mais significativos.
Na consciência não me pesa a luta em favor daqueles que menos sabem se
defender. Pesa-me sim os erros que cometi e que tentarei até ao fim da vida
redimir.
Enquanto não o consigo, vou escrevendo sempre tudo quanto a vida me tem
ensinado.
Espero que a minha experiência lhe seja de alguma utilidade.
O ESCRITOR É UM IMITADOR DE DEUS
Uma forma feliz de utilizar a existência é sem dúvida a escrita. O mundo das
Letras, o sacerdócio da palavra colocada sempre mais ao serviço dos outros
do que ao serviço do autor.
O escritor é, normalmente, um sacrificado que trabalha para os homens da
sua geração e, muitas vezes, para os das gerações futuras ficando-lhe a fama
de que pessoalmente nada aproveita.
Reparem em Camões, hoje um poeta património da humanidade e que celebramos
no dia 10 de Junho como um símbolo desta Pátria querida que tanto amamos.
Camões morreu à fome.
Apesar de tudo exortamos a juventude a olhar a prática literária como uma
das mais interessantes manifestações da actividade humana e uma daquelas que dá
ao homem uma maior realização.
Salvo raras excepções nunca a profissão das Letras foi
próspera, mas a verdade é que dos homens fabulosamente ricos do tempo de
Camões, de Camilo ou de Fernando Pessoa ninguém se lembra. O escritor, esse,
viverá eternamente na sua obra e nos seus leitores.
O escritor cria um mundo que lhe agrada. Forja as pessoas que gostaria que
existissem. Faz vidas. É, de alguma maneira, um imitador de Deus.
AI DOS VENCIDOS
No jornal “O DIA” de 18 de Março, na primeira página vem um escrito de José
Sampaio contra Marcello Caetano.
Um combate desigual, nove assaltos contra um ausente, a esgrima do passado,
o não entender o presente, o não esperar pelo futuro.
Depois de 50 anos de vida política, de presença pesadíssima no Governo de
uma Nação, o professor Marcello Caetano é acusado e atacado como se tivesse
sido ministro em fim-de-semana, como se tivesse o poder
absoluto e o jogasse às urtigas, como se tivesse encarnado o próprio Deus
sem conseguir o milagre de transformar as pedras em pão e o País em paraíso.
De poucos lados esperávamos uma tão apressada análise a um Homem e a uma época,
como esta de José Sampaio e do jornal “O DIA”.
A história necessita de facto da frieza do tempo, da calma, do ânimo, da
ponderação dos que vierem depois. Intervindo politicamente, isto é fazer política,
parece ser a vocação do homem perante a sua própria época deixando a quem vier a
tarefa do julgamento e das conclusões.
O Sr. Sampaio é pequeno e parco para saber se os homens que rodearam Marcello
Caetano eram muito bons ou muito maus. Se Sr. Sampaio se quer mostrar aos olhos
da Revolução um revolucionário terá que agradecer a Marcello Caetano a própria revolução
sem o qual, segundo diz, o regime continuaria.
Impressiona a lágrima nos olhos do leão moribundo incapaz de se valer das
garras, outrora potentes, para afastar os rafeiros que lhe ladram de perto.
Marcello Caetano, com todos os pecados do ser humano, foi neste País da
estatura que os Sampaios nunca terão.
Sampaio, Sampaio, quem és tu?
NOTA: Este artigo motivou correspondência vária, com o Professor Marcello
Caetano, que no livro saiu com o fac-símile das duas cartas do Professor,
mas que aqui irão só em letra de imprensa.
Rio 30.III.78
Sr. Dr. Cunha Simões
Creio que é primeira vez, desde o 25 de Abril, que um jornal tem coragem de
tomar a minha defesa contra injúrias bolsadas sobre o meu nome ou a minha obra
por um foliculário qualquer.
Por esse motivo, quero dizer-lhe quanto estou grato e ao jornal “A Província”,
admirando a coragem, a independência e isenção de que dão provas. Oxalá o público reconheça o que existe
de valioso nesses atributos e corresponda com o seu apoio.
Com toda a consideração me subscrevo.
M.Att.de
Marcello Caetano
Rio II.XI.78
Sr. Dr. Cunha Simões
Recebi a sua carta de 24 de Outubro que não me surpreendeu porque há bastante
tempo, pela Imprensa e através da nossa comum amiga Maria José Folque, venho
apreciando a lucidez da sua inteligência e a sua excepcional coragem moral. É uma página admirável com um testemunho precioso que
muito agradeço. Nem sempre de acordo com os juízos nela formulados (embora
largamente aberto ao pensamento do meu tempo, poderei ser considerado um “estrangeirado”?),
os que me dizem respeito, porém, não me compete discuti-los, pois ninguém
é bom juiz em causa própria.
Só uma resposta quero dar à pergunta que, alturas
tantas, faz. Por que motivo aceitei em Setembro de 1968 o encargo
do Governo, depois de dizer aos amigos e ao próprio Chefe do Estado que “não
tinha comigo solução para nenhum dos prementes problemas nacionais”? A verdade
é que a partir da doença do Dr. Salazar as pressões de amigos e até de desconhecidos
que se apresentavam como patriotas inquietos foram muito grandes: “se for
convidado não diga que não...” E o próprio Presidente República ao formular-me
o convite me informou: ouvi mais de 40 pessoas, civis e militares, e 99% puseram
à cabeça o seu nome... Tive a sensação de que recusar naquela altura, ao fim
de tantos anos de vida pública, seria uma cobardia, a recusa a prestar um
serviço que a Pátria me exigia em momento crítico...E disse que sim, com a
morte na alma. Devendo dizer que não contava com o acolhimento popular que
tive. Também aos íntimos confidenciei a minha convicção de que ia percorrer
uma via-sacra, que passara o tempo das grandes manifestações de apoio ao Governo
e dos aplausos carinhosos a quem o exercia... e nos primeiros tempos os próprios
colaboradores mais próximos só traziam informações pessimistas e rumores desagradáveis
da opinião pública. Foi quando resolvi pô-los a todos de parte e lançar mão
da TV, inaugurando as “conversas em família” e criando através delas um vínculo
directo e pessoal com o povo. Nas minhas deslocações à província, logo a seguir,
senti o impacto dessa comunicação: a gente vinha à estrada para ver de perto
aquele de que conhecia a imagem (como se eu fosse um actor, e exclamava. “Olha,
é como na televisão!”) Foi isso que me permitiu aguentar cinco anos e meio
o regime e fazer um esforço para salvar o que fosse possível, no meio da cegueira
dos políticos, da recusa de colaboração dos adversários ou dos reticentes,
do egoísmo dos capitalistas, da estupidez da alta burguesia, das ilusões dos
intelectuais irresponsáveis, da manobra da Igreja preocupada em não perder
algum comboio vindouro e a braços com o problema ultramarino que no país a
direita se recusava a compreender da única forma possível e que a ONU não
deixava resolver pela única maneira que seria admissível para Portugal.
Escrever mais livros? Não me sinto com paciência
para o fazer. Bem basta o que ainda me forçam a dizer em minha defesa...
Sei que a sua mulher é filha do meu condiscípulo Fernando Corte Real:
peço-lhe que lhe transmita os meus respeitos.
Creia-me, muito grato e att.
Marcello Caetano
INGRATIDÃO
Se alguém quisesse destacar uma
classe importante na sociedade Portuguesa poderia com vantagem lançar mão da
figura do ingrato.
Bajulador, servil, pronto para tudo enquanto precisa, reconhece na figura
do que o protege o senhor supremo.
Como quem adivinha o futuro próximo exagera a sua actuação dando bem a entender
que os seus sentimentos não podem durar muito.
Passada que é a necessidade, e satisfeito desejo, o ingrato rejeita o seu
protector como algo incómodo e desnecessário.
Tudo se agrava se aquele que fez o favor passa por dificuldades ou precisa
de uma mão amiga.
O ingrato, como sub produto da humanidade, mostra-se incapaz de ajudar aquele
que o ajudou, demonstrando assim que não compreende este mundo de Cristo nem
o pode aceitar como coisa sua. Infelizmente, esta atitude é de agora e de
sempre.
Sem falar em Judas, que O traiu, invoquemos a figura de Pedro que negou três
vezes o seu mestre por cobardia.
São assim as relações entre os homens.
Pouco mais há a esperar de um mundo em que as relações humanas empobrecem
de dia para dia.
A HUMILDADE DE SERVIR O PRÓXIMO
Neste país à beira mar plantado, um jornal deveria reflectir as forças e as
fraquezas do Povo que serve e da região que defende, ora perante a centralização
política e a exploração desenfreada de toda a província portuguesa por parte
de Lisboa é necessário que os jornais de província se fortaleçam cada
vez mais.
Na verdade temos de nos lembrar que Lisboa consome 90 por cento dos impostos
recolhidos na província e em nome de um grupo político a que se convencionou
chamar Governo de Portugal, mas que nos mantém no mais profundo atraso das
regiões da Europa.
Só os jornais conseguirão motivar e consciencializar todos os portugueses
para a tarefa que todos temos de fazer em comum sem que para isso se tenham
de privilegiar umas regiões em desfavor de outras, mas para que isso aconteça
é necessário que os jornalistas saibam traduzir no seu jornal a realidade
que os cerca.
Fazer jornais em cima do joelho é contraproducente, por este motivo é
necessário que os jornais de província providenciem para que nestes órgãos de
informação se vão preparando pessoas que possam trabalhar a tempo inteiro de
modo a emprestar-lhes toda a força e coordenação.
Temos de colocar no pensamento que dirigir um jornal é uma arte que
necessita de alguém que alie à qualidade literária e cultural uma visão
sociológica do seu tempo, dedicando-se por inteiro, aos interesses fundamentais
dos seus conterrâneos e à humildade de servir o próximo.
A MÁ-LÍNGUA EM PORTUGAL
A má-língua em Portugal é a única instituição que funciona.
Nunca ninguém tentou fazer neste País fosse o que
fosse que não levantasse de imediato uma onda lamacenta de maledicência.
Por esse mundo de Cristo, deixa-se governar quem governa e trabalhar quem
trabalha. Em Portugal ainda não se conseguiu esse objectivo. Na verdade, quando
é preciso, mas só quando é preciso utiliza-se a crítica inteligente, séria
e frontal.
Em Portugal, seja qual for o serviço a prestar ou prestado, injuria-se, sabuja-se,
difama-se. É a resposta da incompetência num país em que muitos não querem
trabalhar e muitos outros não sabem trabalhar.
O Governo terá dois caminhos: o caminho do passado; via Salazar, obrigando
a safanão, a meter a viola no saco aos imbecis.
A outra solução é cerrar os ouvidos a quem não
merece atenção e ordem nenhuma.
Seja qual for a estratégia da maledicência há que continuar o caminho das
decisões, da reconstrução, do ressurgimento nacional indispensável ao tal
país aonde todos desejamos que dê gosto viver. Faz falta deixar que os outros
se sintam livres, senhores da sua iniciativa, da sua imaginação, da sua actividade
de trabalho, não inutilizando com os pequenos desgostos os homens que podem
e devem transformar Portugal.
Isto mesmo não quer dizer que não haja crítica ou que ela tenha que ser benévola
ou inoperante.
Isto mesmo não quer dizer que se afrouxe a guerra sem quartel aos traidores
da Pátria e aos que vendem o país todos os dias.
Isto mesmo não quer dizer que não se possa utilizar a máxima severidade para
os pseudo democratas e para os trapaceiros políticos que utilizam a liberdade
ingénua das democracias para as aniquilar sem dó nem piedade e para todo o
sempre.
NO PAÍS DO IMPROVISO
O improviso é para os portugueses fatal como destino.
O improviso português tem séculos e marca os grandes e os mais terríveis
momentos que nos foi dado viver como Nação.
Tanto na paz como na guerra nunca nos preparámos, preferimos sempre actuar
rapidamente e em força. E o defeito nem é sequer desta ou daquela facção de portugueses,
veio dos confins da monarquia, entrou pela República, aguentou-se no longo
período Salazarista, está de pedra e cal na democracia.
Cada ministro das Finanças improvisa um sistema, cada ministro do trabalho
tem uma estratégia, cada Secretário de Estado dos Desportos tem uma finalidade
muito própria e muito pessoal.
Nada foi pensado com tempo, consequentemente.
Acontece, por vezes que se ganha na secretaria o
campeonato que se perdeu no campo e todos estamos recordados que, antes de
principiar o campeonato do Mundo de Futebol, os dirigentes federativos abençoavam
a crise das Malvinas que eles pensavam afastar a Inglaterra do campeonato
do Mundo para nos dar lugar a nós, exemplarmente eliminados nos campos do
desporto, e o mais curioso, nisto tudo, é que nem nos admiraria muito que
se lá fôssemos acabássemos por vencer o campeonato do Mundo devido a essa
fúria incontrolada que tem talhado, nesta terra os santos e os heróis.
“Mísera sorte, estranha condição” como diria o poeta na expressão que melhor
caracteriza este povo, a quem alguém chamou por alguma razão especial “vândalos
da Europa”, que curiosamente vivem na terra do melhor vinho do mundo, têm
80% do sol do planeta e são na sua inconsciência e no seu improviso, felizes
como crianças
Embora pareça mentira é neste País, que uns chamam de subdesenvolvido e outros
de país do improviso, que vêm passar férias os tecnocratas de todo o mundo
para aprenderem a viver como homens e a desfrutar, em prazer e amizade, o
convívio de um povo que ainda sabe saborear a vida.
SOMOS POBRES PORQUE QUEREMOS
Um País com o clima que temos, situado na Europa, é pobre somente porque quer.
Bastaria organizar-se única e exclusivamente como país de Turismo e todos
viveríamos bem e a contento, sendo ainda extraordinariamente úteis para os
povos de todo mundo ao proporcionar-lhes o repouso a que todos têm direito.
Preferimos porém minar as potencialidades deste País com milhares de trabalhadores
que não trabalham ou trabalham mal e centenas de empresas públicas que mais
não fazem do que pagar salários retirados das contribuições de todos nós,
mesmo dos mais pobres.
Na verdade, somos pobres só por não ser capazes de reflectir minimamente para
tirar deste País tudo quanto Deus nos quis dar de mão beijada e nós teimamos
em não querer aproveitar.
Contra isto... não há que culpar só o Governo. Todos, mas todos, temos igual
culpa.
O CONTACTO PRIVILEGIADO COM A NATUREZA
O nosso País, pode representar para o Europeu o
oásis, o paraíso terreno, o contacto privilegiado com a natureza.
Na Verdade, talvez não seja a sociedade tecnológica, o grupo ideal para se
viver, talvez não seja a sociedade das grandes fábricas a melhor escolha para
passarmos os poucos anos que andamos pelo mundo. Por isto mesmo, é provável
que a Europa evoluída possa beneficiar do “atraso” de Portugal, até agora
defendido do assalto tecnológico e do desgaste industrial.
Por um milagre inexplicável conseguimos preservar a gastronomia, o
artesanato, o folclore e sobretudo salvaguardar a pureza deste povo acolhedor,
hospitaleiro e amigo.
É este o contributo que vamos dar à Europa.
Não concorremos com óperas, nem teatros, nem cinemas, mas aposto que vai fazer
sucesso o grupo dos Pauliteiros de Miranda, o Fandango do Ribatejo, a Tourada
à portuguesa, a caça à raposa, o cavalo lusitano, o nosso vinho, a nossa aguardente,
as alheiras de Mirandela e sobretudo o queijo da serra que é, nem mais, nem
menos, o melhor queijo do mundo.
Esta pequena lista é realmente a grande moeda de troca que mostrará à CEE
que fez o melhor negócio da sua vida ao acolher Portugal.
Temos a certeza que a Europa do progresso, da prosperidade e do trabalho duro
e organizado nunca se arrependerá de ter recebido este País maravilhoso onde
o tempo corre suavemente e tem o verdadeiro paladar da vida.
O paraíso está às portas da Europa e tem o nome mais querido: Portugal.
ORGANIZAR O PRAZER DOS OUTROS
Vêm aí os Estados Unidos da Europa e com maior ou menor vontade começa a ser
pouco possível conservar independências absolutas, isto é: ter a porta fechada
e a chave no bolso.
Sendo assim, provavelmente, os países distribuirão entre si tarefas a cumprir
aconselhando prioridades, neste ou naquele sector, e distribuindo regalias
conforme a execução destas tarefas.
Deste modo, quem tiver características para a Agricultura fará esta ou
aquela espécie de Agricultura. Quem tiver características para a indústria e
sobretudo quem tiver características industriais e tecnologia avançada
intensificará esse ramo em proveito de todos.
E nós?
Nós... agricolamante pobres, industrialmente
reduzidos quase a zero, será possível ficarmos reservados para os tempos livres
vendendo aos outros o tesouro do nosso sol, da nossa temperatura e a simpatia
da nossa gente?
Será possível que, o industrial do Turismo do nosso País, passe esta segunda
actividade nacional para primeira e daí a actividade exclusiva ou quase exclusiva?
E por que não?
Organizar trabalho, isto é, neste caso, organizar o repouso, é contribuir
para que a nossa actividade seja mais rentável e mais lucrativa.
Numa Europa de trabalho, não é vergonha, para ninguém, transformar Portugal
num autêntico paraíso, onde as estadias serão verdadeiras curas de corpo e de
alma.
Não quer isto dizer, que não se trabalhe e não se trabalhe a sério. O que
nós temos é de organizar bem o prazer dos outros, preparando Portugal como
um verdadeiro país de Turismo onde o ar puro, as águas cristalinas das nossas
fontes e riachos, a limpeza das nossas praias e ruas seja um facto suficientemente
forte para atrair milhões de outros europeus, em cujos países já é difícil
respirar o ar despoluído que ainda lhes é oferecido e que teremos de conservar
se desejarmos continuar independentes, ricos, prósperos e... saudáveis.
O DOTE COM QUE ENTRÁMOS NA CEE
Quando se fala de Portugal na CEE vem sempre à baila a questão económica
como se Europa unida não fosse mais que um casamento de convivência para ganhar
mais dinheiro.
Se uma das vantagens da união dos países da Europa é a vantagem económica,
em nosso ver não será a principal e muito menos a única.
Fundamentalmente os jovens destas doze nações têm
agora um espaço muito maior. A Europa não sendo uma pátria é um amplo campo de
amizade, cultura e vivência. E talvez resida aqui a grande conquista desta
comunidade fraterna que nos torna cada vez mais cidadãos do mundo.
É lógico pois que a jovem Comunidade sinta
dificuldades enormes na sua organização e no seu dia-a-dia porque ela é uma
novidade total em relação ao futuro e luta com forças do passado, velhas de
muitos séculos e de difícil remodelação.
Espero bem que a Comunidade Europeia não perca a coragem e seja um acto
irreversível em relação aos Estados Unidos Europeus, indispensáveis ao
equilíbrio das forças que actualmente dominam o mundo.
Mas se para Portugal a grande vantagem da adesão estará na sua evolução económica
também a Europa poderá tirar vantagem da experiência, da qualidade natural
e do engenho do novo mundo que a integra.
Em que consiste então o dote com que entrámos na CEE?
Fundamentalmente, consiste numa cultura quase milenária, profundamente
original e desconhecida dos europeus.
Como é evidente sofremos ao longo de todos estes séculos alguma influência da
Europa e, curiosamente, é esse aspecto que as nossas entidades oficiais desejam
mostrar sempre que somos visitados por estrangeiros.
Normalmente escondem, como acto menor de cultura, um espantoso artesanato,
uma gastronomia riquíssima e variada, um folclore variado e vistoso que
assinala a presença de gentes de todo mundo.
A juntar a isto um clima, uma paisagem e uma gente deslumbrante.
A Europa recebeu um parceiro não poluído, experiente nas andanças do mundo
e receptivo a inovações. As trocas serão de igual para igual, embora ingenuamente,
muitos pensem que os portugueses ficaram beneficiados.
Há quem pense o contrário e é por isso que o mundo soma e segue.
PORTUGAL PODE SER O PAÍS MAIS FORTE E APETECÍVEL
Em relação aos países europeus mais desenvolvidos estamos bastante atrasados,
o que não quer dizer que a nossa situação não seja, por via disso, mais cómoda
e mais capaz de projectar um futuro, provavelmente de melhor qualidade do
que aquele que terão os nossos parceiros da CEE.
Estes países sacrificaram ao progresso, aspectos muito importantes os quais
passam pelo ambiente, pelo stress, por agressões à natureza e ainda por graves
atentados contra a condição humana, o que já fez desencadear um processo
acelerado de suicídio, de consumo de drogas, de corrida aos psiquiatras.
Os nossos parceiros da CEE vivem melhor, mas cada vez com menos interesse e
alegria.
É certo que não podemos viver a aventura dos países
ricos, mas, se por um lado ficamos mais pobres em divisas, ficamos por outro
mais ricos de oportunidades ao poder preservar o ambiente onde a vida decorra
com harmonia, e onde seja possível fazer repousar outros homens de países
industrializados sujeitos a uma pressão insuportável pelo ritmo de trabalho,
pelo ambiente e pela envolvência.
Portugal, em vez do mais fraco dos países industrializados, pode ser o mais
forte dos países turísticos da Europa.
REFÚGIO E TERRA ABENÇOADA
Ao contrário da Europa da produção, das fábricas e dos detritos, Portugal
pode ser a Europa das férias, do prazer e do repouso.
Felizmente, longe do clima de guerras, fomos até agora, neste continente,
refúgio e terra abençoada de paz. E embora não seja possível viver sem poluir a
verdade é que acidentalmente e por via do nosso ancestral atraso deparamos hoje
para Portugal com a solução ecológica como único ponto de saída.
Neste País o tempo corre lentamente, ignorando a fúria das horas, e gozando
o lazer dos séculos. Ofereçamos pois, a essa Europa
apressada e já com sintomas de artérioesclerose,
a pujança de um País novo que regressou de África com forças redobradas e
que tem para oferecer a paz, a segurança, o bem-estar e o ar de puro que se
respira do Minho Algarve e onde o paladar do Vinho ribatejano ou do azeite
beirão são néctares próprios do deus homem que cada vez pagará mais para viver
neste País à beira-mar plantado, mas cujo preço será, obviamente compensador.
Portugal, País de férias, é isso um bom motivo para entrar pela porta grande na CEE.
NÃO BASTA FAZER LEIS
Viver hoje em dia em sociedade é algo de complexo e difícil.
A vida já nos disse que nos dias de hoje o analfabeto é um autêntico cego
perdido num labirinto. Precisamos de conhecer concretamente os nossos direitos
e os nossos deveres.
Precisamos de ter acesso fácil às nossas regalias.
Precisamos, em suma, de campanhas que nos alfabetizem socialmente.
Não basta fazer leis. É preciso divulgá-las constantemente, nunca nos cansando
porque todos os dias há novos cidadãos que chegam à
vida.
Democracia é precisamente isto: valorizar as pessoas, tornando-as mais integradas
na sociedade em que vivem.
A par disto é preciso convencer os funcionários públicos que estão ao
serviço do povo e que é o povo quem lhes paga.
Em todas as terras há nas repartições públicas funcionários extremamente
amados e respeitados e outros profundamente odiados e desprezados.
É preciso, também aqui, preparar os que atendem o público para que isso possa
ser feito com carinho, dedicação e eficiência.
UM PAÍS NÃO PODE SER GOVERNADO EM CIMA DO JOELHO
Entrando de rompante nesta Europa onde o progresso e a democracia pontificam
há décadas, Portugal estremece em cada dia que passa e enfia-se atabalhoadamente
em jogos dos quais mal sabe as regras.
Na verdade, a nossa impreparação, faz com que os políticos e que a política
por nós seguida se venha degradando rapidamente. Essa degradação é tão
alarmante que poderá vir a custar-nos a nossa própria sobrevivência.
Com efeito, em Portugal, tem-se confundido o termo democratizar, com abandalhar
e isso é de tal modo grave que a descrença e o desinteresse vão-se instalando
comodamente no interior da sociedade portuguesa o que lhe poderá trazer dentro
de um ou dois anos gravíssimos amargos de boca. (Medite-se nos retornados
de Angola e Moçambique e nos massacres praticados em Timor).
Se por um lado pretendemos imitar os países onde o bem-estar é evidente e
as instituições democráticas funcionam, por outro lado esquecemos que um país
não pode ser governado em cima do joelho e temos forçosamente, se quisermos
sobreviver, de lhes imitar também os organismos públicos que estão solidamente
entregues a técnicos profissionais e a políticos eficientes que, em qualquer
circunstância, asseguram a manutenção da máquina do Estado evitando, desta
maneira, situações dramáticas e irreversíveis.
Portugal necessita de encontrar, urgentemente, uma equipa nova, dinâmica,
digna e competente que trace as linhas mestras da recuperação nacional que
nos consiga aguentar como país independente
Temos de largar infantilismos e quezílias despropositadas.
Temos de manter firmeza nas decisões justas e sensatas, e é preferível ouvir
a gritaria dos opositores que ainda conseguem comer com regularidade, do que
o choro surdo dos famintos que morrendo pelos casebres ou pelas esquinas nos
hão-de acusar de pusilânimes, de inconscientes e de medrosos.
PORTUGAL NUNCA SE ORGANIZOU A NÍVEL DE TRABALHO
Em Portugal vive-se um fenómeno muito antigo e muito curioso. Emigra-se porque
o país, nunca se tendo organizado a nível do trabalho, apresenta um número
reduzido de postos de trabalho e esses, mal remunerados.
Estamos mesmo convencidos que os Descobrimentos resultaram de um caso de emigração.
Por outro lado poderemos dizer que nunca nos organizámos bem economicamente
porque preferimos emigrar.
Como vai ser o futuro?
Para já entrámos na CEE e o primeiro embate parece-nos positivo, por outro
lado a crise do petróleo passou, no entanto, e por paradoxal que isto nos
pareça, estamos convencidos que se aproxima uma nova era de fortíssima emigração
e isto por dois motivos: voltará a ser necessário a mão-de-obra nos países
da CEE e, a médio prazo, os portugueses voltarão a ser solicitados para trabalhar
em Angola e Moçambique resultando daqui uma sangria profunda da população
portuguesa que poderá chegar ao fim do século com menos de oito milhões de
habitantes.
Ou então, mais grave ainda, seremos emigrantes no nosso próprio país, pois
individualmente ou em grupos, as empresas estrangeiras vão
invadindo Portugal e de repente, sem bem sabermos como, está tudo a trabalhar
para patrão estrangeiro em terra portuguesa.
Será mesmo este o nosso destino? Vender a alma, a alegria e Portugal a troco
de uns míseros tostões ou será que os portugueses, conscientes do seu valor,
utilizando a massa cinzenta a cem por cento se unem
e acreditam, finalmente, que podem construir na terra onde nasceram o lugar
de sonho que sempre imaginaram para si e para a felicidade seus filhos?
OS TRABALHADORES DA TERRA
Explorados desde tempos ancestrais os trabalhadores da Terra vão
abandonando a mesma com amargura e desilusão devido não só à subida desenfreada
dos adubos, do gasóleo, das sementes, mas também pelo desprezo com que são
tratados.
Gil Vicente pôs na boca de um lavrador a célebre definição: “nós somos vida
das gentes e morte das nossas vidas”.
Como há 500 anos a lavoura é ainda em Portugal a morte espiritual do homem
condenado ao trabalho pesado, permanente e rude, ao analfabetismo, à vida
isolada, à ausência de serviços de saúde.
A desordem da nossa agricultura obriga à desordem na vida do homem do campo.
Por isso e muito naturalmente esta agricultura obsoleta que se pratica no
nosso País não interessa a ninguém, não serve ninguém, desertificando cada vez
mais os campos e fazendo que eles contribuam cada vez menos para o nosso
bem-estar e para uma alimentação que venha para os portugueses da terra portuguesa.
Terá que se encarar a vida agrícola como um trabalho igual ao de um banco,
de um hospital, de uma secretaria ou de uma escola.
Isto mesmo se faz, já há muito tempo, em França e na Inglaterra. Nós se não
o fizermos também nunca mais atingiremos o nível do mundo desenvolvido onde
o bem-estar e a segurança social são a raiz da felicidade dos povos que aí
habitam.
DEFENDEMO-NOS COM A EMIGRAÇÃO E O TURISMO
Portugal nunca foi bem governado. Só assim se compreende que tenhamos
chegado ao final do século XX com uma agricultura medieval, uma indústria e um
comércio incipientes, sem marinha, sem aviação e com um exército obsoleto e inoperacional.
Defendemo-nos com a emigração e com o turismo.
A história aponta-nos dois ou três reinados e dois ou três estadistas isolados
que saíram do marasmo sem que a sua obra tivesse continuidade.
O problema mantém-se nos nossos dias em que a grande falha política e social
continua a ser a direcção das empresas e em última análise
a direcção do País.
De facto nunca soubemos fazer nada com regularidade.
De tempos a tempos cai-nos nas mãos uma Índia ou um Brasil os quais acabamos
por perder sem glória nem proveito e não vemos modo de modificar esta situação
que se agrava cada vez mais, tornando impossível a modernização de que tanto
se fala.
Estamos de novo numa séria tentativa de acertar o passo
pela Europa que acabou por nos receber na Comunidade Económica.
É uma tentativa onde temos de colocar toda a nossa esperança, embora o
atraso que nos separa dos países ricos da Europa, agora nossos parceiros, seja
muito grande.
Não nos podemos esquecer que, oficialmente temos
ainda 20% de analfabetos e 70% de semi-analfabetos que praticamente nada lêem
e nada escrevem depois que saíram da quarta classe.
Isto não quer dizer que o português não seja hábil, disciplinado, cumpridor
e honesto.
Perante o desafio que a Europa do progresso e do bem-estar nos propõe, vamos
agarrar com ambas as mãos a nova situação e aplicar no nosso país os méritos que
os outros nos reconhecem e que já demonstrámos, sobejamente, em terra alheia.
O PORTUGUÊS EMIGRA PORQUE SE SENTE PRISIONEIRO NA SUA TERRA
A emigração em Portugal é velha como a história e prende-se
fundamentalmente com a nossa missão de viajar.
Entalados pela Espanha, neste recanto da Península, é natural que o português
se sinta prisioneiro na sua própria terra.
Interessados pelo mar e naturalmente pela navegação, cedo verificámos que viajar
era uma aventura fabulosa e lucrativa.
Assim, começámos a emigrar. A viajar pelo mundo, a darmo-nos com gentes de
todas as raças, a ser capazes de trabalhar em qualquer parte e a fazer quase
tudo e quase sempre bem feito.
Quem primeiro emigra são os portugueses do Ribatejo e do sul de Portugal. O
Norte é gente de lavoura, mais agarrados à terra.
Estes só se decidiram no século passado, impelidos pelo mal-estar económico
e escolheram o Brasil.
São conhecidas as casas dos brasileiros do Minho, que partiam pobres e
chegavam ricos para fazer grandes casamentos e levar vida faustosa.
Mas ao contrário do que muita gente diz, nós não emigrámos só por razões
económicas.
Seja qual for a nossa situação havemos sempre de emigrar, de viajar, tendo
uma curiosidade insaciável de ver outras terras e outras gentes.
Apesar de tudo, e como bons portugueses que somos, nunca esquecemos a santa
terrinha, esperando sempre voltar a ela nem que seja só para aí acabar os
dias.
Apaixonados pela nossa terra comprazemo-nos com o sofrimento de estar longe
dela e de vir aqui, de tempos a tempos, matar saudades da nossa paisagem, da
nossa comida, do nosso vinho e sobretudo de ouvir falar da nossa gente.
A verdade é que ninguém é totalmente emigrante. Pode dizer-se que muitos
portugueses, numa altura da sua vida, fazem emigração.
Emigrar ou não emigrar é um fenómeno como viajar ou não vigiar e é bom que
se saiba que somos todos portugueses e não nos dividimos nunca em emigrantes e
não emigrantes.
Fomentar este género de disputa é desvantajoso e pouco sério.
Somos todos filhos de um mesmo País que amamos acima da própria vida, e, vivendo
em Portugal ou a milhares de quilómetros de distância, todos sentimos orgulho
em sermos portugueses.
AS CASAS DOS EMIGRANTES
Alguns órgãos de comunicação têm atacado, com alguma ingenuidade e com laivos
de tradicionalismo saloio, as casas que os emigrantes fazem em Portugal, responsabilizando-os
por todas as mazelas urbanísticas de que este País vem sendo vítima nos últimos
anos.
Embora não seja apologista da sistemática descaracterização urbanística
penso que num país como o nosso, fortemente batido pelos ventos da história é
pelo menos, insensato, travar a influência deste ou daquele país, nesta ou em qualquer
outra época.
Se pensarmos um pouco vem-nos imediatamente ao espírito as casas dos
“brasileiros” que eram os emigrantes de há cem anos e que hoje são monumentos
nacionais.
Na verdade, é ridículo que se defenda que os portugueses tenham de fazer as
casas sempre da mesma maneira.
É por casos destes que a nossa arquitectura é hoje uma aberração e o que há
no nosso país é de autoria de arquitectos estrangeiros ou de amadores cultos.
Ninguém pode, por uma questão de bom-senso, ignorar que os povos têm direito
de inovar, de fazer como desejam e como gostam, mesmo que isso ofenda os Velhos
do Restelo
Não exageremos o nosso proverbial bacoquismo e
deixemos os emigrantes em paz.
Na verdade, não nos ofende o gosto e as influências longínquas das casas
dos emigrantes, ofende-nos a sensibilidade de alguns que não fazem nem deixam
fazer.
A SINA DE UM POVO
Têm-me chegado centenas de cartas para atacar a descolonização e defender
o passado
Muitos continuam a insistir para que o faça.
Aquilo que está feito, mau ou bom, já passou
Sejamos realistas. Acabemos com rancores.
Penso que estão a durar tempo demais.
Nós temos de encontrar urgentemente a nossa identidade, esquecer os ódios
antigos e arrancar da nossa inteligência a felicidade que a raiva e a inveja
afastam irremediavelmente de nós.
Todos devemos compreender que Portugal ao integrar a Comunidade Económica Europeia
não entrou na Europa, mas regressou à Europa depois de um passeio de meio
milénio por esse mundo de Cristo em que fomos missionários, civilizadores,
piratas, transportadores de cultura, aventureiros, como compete a um povo nobre
e digno.
De candeias às avessas com o seu único vizinho de fronteira, os portugueses
viraram-se decididamente para o mar, navegaram e viajaram.
Regressámos trazendo na bagagem um pouco de cada povo e de cada região
Muito antes de termos iniciado, no século XV, os grandes Descobrimentos, também
nós fomos integrados desde as mais remotas eras, por povos de diferentes paragens
que vinham para a Península Ibérica e ficavam no território que é hoje Portugal,
por ele ser o último antes do mar.
Dos indígenas a que chamaram Iberos pouco se sabe, mas é bem conhecida a história
dos celtas, dos fenícios, dos gregos, dos suevos, dos alanos, dos vândalos,
dos visigodos, dos muçulmanos e dos romanos que aqui vieram em passeios turístico
militares, misturando-se com as populações locais e deram origem ao povo de
caminheiros que nós somos.
Tal como eles voltámos ao local de origem.
OS PROTESTANTES E A ARGENTINA
É evidente que seria grossa maldade da nossa parte juntar os honestíssimos
deputados signatários do protesto contra a Argentina com os réus bombistas
que rebentam petardos à porta da Embaixada daquele país
É evidente que não pode haver, nem fisicamente nem ideologicamente,
comparações. É porém legítimo sublinhar que o efeito internacional é muito
semelhante, talvez o mesmo.
Nós conhecemos as pessoas. Eles não. Nós sabemos quem são os senhores
deputados Carlos Laje, José Leitão e Aarons de Carvalho. Sabemos que lutaram
pela democracia, vemo-los pôr o seu nome e a sua responsabilidade em todos os actos,
em todas as situações, frontalmente contrários à bomba anónima e assassina. Mas
lá fora, no mundo para o qual se dirige o protesto e a bomba, a distinção é
pormenor que não virá ao caso.
Os deputados, os protestos, as bombas, a arruaça é conjunto que não se
pormenoriza para lá da fronteira, que não se pode individualizar em boas ou más
intenções, independentemente da bomba e do protesto.
Perguntamos: que se pode adiantar a nível de Argentina e do mundo o nosso
barulho, ali em S. Bento, perdendo definitivamente a oportunidade de tratarmos
assuntos urgentes, por vezes dramáticos, dos portugueses que aqui ao nosso lado
sofrem a dura vida imposta ao país.
Se a Ordem dos Médicos trata da reforma agrária e a Faculdade de Ciências
se reúne em plenário durante dois dias para equacionar o problema Lisnave
ou da Setenave, e a Setenave entra em greve por
motivos de ensino, nós protestamos e protestaremos violentamente por intromissão
em áreas de competência alheia. E quando a Assembleia da República quer governar
a Argentina e o Brasil? Rimo-nos ou limitamo-nos a votar contra?
A CRISE DO HUMANISMO
A generosidade que o humanismo trouxe ao mundo debate-se frontalmente com a
filosofia oposta, de imprevisíveis consequências: O banditismo.
Crentes nos direitos do homem, de qualquer homem que escolha o caminho da
justiça e da verdade, a organização social moderna cria no seu seio o exército
do mal, da morte e do medo.
Contra Aldo Moro levantou-se a espada satânica
dos perversos, abalando profundamente o sagrado princípio da autoridade, da
disciplina, do respeito pela vida humana, pela própria condição humana.
A benevolência do humanismo gera o banditismo.
Mais rentável e mais fácil que assaltar bancos vem sendo o assalto ao poder para o que basta um pequeno grupo.
Ao terrorismo, e até ao momento presente, nunca a humanidade respondeu com
o próprio terrorismo, mas parece-me que é tempo de repensar esta atitude.
Crimes de terrorismo político não são só um problema de polícia, mas
um crime contra humanidade, contra todos nós e contra o futuro dos nossos
filhos.
Apologista da paz, do amor, da fraternidade, sou
também a favor da resposta violenta e cruel para crimes desta na natureza.
A GERAÇÃO DE 80
A geração de 70 do século XIX parece implicar que o grupo elitista da nossa
centúria fique conhecido pela geração de 80, como indicam as Conferências
democráticas do teatro Maria Matos que há falta do Casino Lisbonense pretendem futurizar a política deste país na década que se prepara
para entrar.
Um semanário de Lisboa, dirigido e elaborado por jornalistas, cujo top cultural
equivalia a Espiolhar a geração de Antero e Eça de Queirós apresentam agora
as conferências do Maria Matos que são um arremedo
revolucionário, doméstico e publicitário, sem desprimor para as personalidades
que falam e para aquilo que dizem.
Antero, Eça, Adolfo Coelho, Salomão Saraga, não equivalem, por maior que seja
a boa vontade, a Freitas do Amaral, a Sousa Franco, a Mário Soares, a Álvaro
Cunhal. Estes, a maior ou menor diferença são Governo do hoje, enquanto Eça,
Antero, e companhia era politicamente pelo amanhã
Quer o “O Jornal” a glória política de meter o pé na argola? Ceda nesse caso a tribuna do Maria Matos à Isabel do Carmo
e ao famigerado Carlos, a Arnaldo de Matos e a Saldanha Sanches que não a
Acácio por moderado e tratável, só assim o Visconde de Jaime Gama de Ávila,
mandaria encerrar o Casino Lisbonense do Maria Matos e daria origem a burburinho
intelectual e político na zona do Chiado.
As respostas históricas e o regresso às origens democráticas são sempre
sintonia de decadência e alvorada de um mundo novo prestes a começar.
OUTRA VEZ ANOS 80
Resposta a um leitor.
O português é naturalmente desconfiado e atribui, normalmente, a quem escreve,
intenções que nunca estiveram no pensamento nem na imaginação.
Só isto explica uma página de verrina aguda que nos foi enviada por causa
do “fundo” do último jornal, que, se bem se recordam tratava das conferências
do Casino Lisbonense ou melhor, do Maria Matos que terminava assim: “As reposições
históricas e o regresso às origens democráticas são sempre sintonia de decadência
e alvorada de um mundo novo prestes a começar”.
Tanto bastou para que um Sr. nos enviasse, entre outros piropos a seguinte
prosa:
“É natural que o clima de liberdade, que mesmo assim se vive neste país asfixie
muita gente desejosa de regressar aos privilégios passado pelas costas bem
guardadas e os bolsos recheados.
O desplante para quem aponta para a decadência, passados que são quatro escassos
anos de democracia, não devia ficar impune numa sociedade que se quer defender
dos seus inimigos”.
Passando em falso os privilégios, os bolsos recheados e outros
lugares-comuns dicionarizados por um conhecido Partido português, julgo
importante esclarecer duas questões que podem ter real interesse para quem
tiver paciência de nos ler.
Efectivamente, penso que a democracia e o parlamentarismo português deste fim
de século estão extremamente próximos do panorama português do final do século XIX
pois pouco se progrediu em ideologia, em métodos e em organização social. Comparativamente
poderemos dizer que nalguns se estagnou por completo ou até se retrocedeu. O
que não há dúvidas é que continuamos politicamente românticos como há cem anos.
Continuamos elitistas, historicistas como há cem
anos, continuamos divorciados do País real como há cem anos. E como há cem anos
continuamo-nos a servir do nome do Povo e a ignorar completamente esse povo de
que tanto falamos.
Meu caro e virulento opositor e meus prezados leitores; a verdade é que
pensar que há efectivamente decadência não é um crime e julgamos mesmo que não é
um erro.
A segunda questão que gostaríamos de lembrar ao estimado epistológrafo é que
a decadência de uma época e de um regime não obriga a retrocessos nem a reposições
históricas.
Acreditamos que o futuro do mundo nos trará novas e melhores soluções
baseadas nas lições do passado e na arte de imaginar futuro.
A crise que o país atravessa é, quer queiram quer não, uma crise de incultura
e de ignorância, por isso será longa e dramática embora não seja eterna, nem
fatal.
Depois disto meu caro senhor e prezadíssimos portugueses, porque é para todos
vós que eu falo, resta-nos a esperança na capacidade que sempre revelámos,
resistindo aos piores momentos da história.
Vem sendo assim há mais de oito séculos
e assim continuará a ser por "secula seculorum".
O MUNDO EM QUE VIVEMOS
O mundo em que vivemos é no seu todo uma casa mal arrumada e mal
administrada.
É na verdade inconcebível que o orçamento de um navio nuclear, russo ou americano, ultrapasse o Orçamento Geral do Estado
de 50 países não alinhados. Por outro lado a distribuição da população é fundamentalmente
anárquica, encontrando-se países como a Índia em que as pessoas se amontoam
para morrer de fome e outras como o Canadá, a Austrália ou grande regiões
de África onde a vida não funciona por falta de mão-de-obra.
Competiria às Nações Unidas debruçar-se sobre este problema, procurando uma
melhor distribuição das pessoas pelos territórios e uma maior participação dos
ricos na vida dos pobres.
A terra podia ser efectivamente um autêntico paraíso onde todos vivessem o
conforto, onde não houvesse crianças com fome e onde não fosse preciso roubar e
matar para comer.
É necessário muita coragem para trabalhar com amor e devoção por esta terra
que precisa urgentemente da inteligência e da força de todos, para continuar
digna e lugar aprazível para os vindouros.
COMO ACABAR COM A MISÉRIA E O DESEMPREGO
O surto de desemprego dos países industrializados ou mesmo em vias de desenvolvimento
contrasta violentamente com as carências de toda a ordem dos países do terceiro
mundo, principalmente em África e nalgumas regiões da Ásia.
Ora estes países vivem na mais profunda miséria por falta de técnicos competentes
que os organizem a nível da exploração do solo e do subsolo.
Como é evidente, todos os desempregados dos países industrializados seriam
utilíssimos no lançamento da Indústria e da Agricultura dos países que
normalmente possuem abundantemente matérias-primas, solos e clima propício.
Por outro lado os países ricos gastam biliões de dólares em subsídios de
desemprego, resolvendo mal um problema que poderia ser extraordinariamente bem
resolvido se os que sobram de um lado e fazem falta no outro fossem deslocados
em perfeitas condições de operacionalidade.
Os que acham esta ideia louca e descabida fazem parte daquele grupo que acha
que não vale a pena abrir o chapéu-de-chuva quando chove só para não o fechar
quando a chuva passa.
Esta era a nova cruzada que acabaria com a fome à superfície da terra.
Em vez de darmos um peixe de esmola ensinávamos o pobre a pescar.
HOMENS E MULHERES DE CABO VERDE
Cabo Verde nasceu comigo e tem-me acompanhado pela vida fora como um sonho
que não nos deixa por muito tempo e volta que não
volta ele aí está.
Primeiro, as histórias do meu avô sobre Cabo Verde e por São Tomé, lugares
onde tinha deixado a sua juventude, depois o Cabo Verde da escola primária com
o professor José Manuel Landeiro a exigir que ninguém falhasse um único
pormenor sobre aquelas ilhas que na minha imaginação de criança inquieta, à
procura do mundo tomava como ilhas encantadas. O professor Landeiro era pouco
dado aos sonhos dos alunos, tomava os erros a sério e quando eu misturava o Barlavento
com o Sotavento lá vinham um par da reguadas para avivar
a memória e trazer-me aos factos reais, concretos da vida.
Falava-se muito da banana, do café, do ananás de Cabo Verde e em Diogo Gomes
e António de Nola. Ensinaram-me mil pormenores e
também me disseram que às vezes os estios eram muito prolongados. Só das gentes,
dos homens e das mulheres nada me disseram, talvez porque a gente não era
pergunta de exame... e a mim, só a gente me interessou sempre em detrimento
dos ananáses, das bananas e do senhor almirante António de
Noli. E foi essa gente que encontrei num acampamento da Mocidade
Portuguesa que me leva, alguns anos mais tarde, a dedicar-lhe duas ou três
dezenas de páginas num livro publicado há 16 ou 17 anos.
É verdade que publiquei o romance sem nunca ter visitado Cabo Verde. E hoje,
depois de lá ter estado, constato que a gente nunca
me tinha enganado. Sempre os senti como na realidade são.
Na viagem de Grupo Parlamentar fui então ver a cor,
a maneira, o feitio e a forma das ilhas de que tanto tinha ouvido falar e
do povo que sempre me esconderam e que eu, por acaso, tinha encontrado.
Estive no Sal, em Santiago e em São Vicente. Foi em Santiago, na cidade da
Praia, e na magnífica estância do Tarrafal onde marquei encontro com o povo de
Cabo Verde.
O povo de Cabo Verde é harmonia, é ritmo, é beleza, é jovialidade, é alegria
de viver. Dir-se-ia que Deus corrigiu, no Cabo-verdiano, as raças que se afastam
e distinguem: a pele vem de África e da Europa. Os olhos doces lembram as
gentes que navegam até lá, idas do fundo do Mediterrâneo.
Um dia, a mulher de Cabo Verde marcará o mundo, como padrão ideal de beleza
feminina.
O homem é inteligente, aberto e sempre à procura da melhor solução para
resolver um problema que parece insolúvel: a seca.
Entre o tradicionalismo africano e modernidade europeia, Cabo Verde poderá
vir a ser um magnífico exemplo de equilíbrio com vantagem para dois continentes
que buscam há séculos o tipo de relações que melhor convém.
Só um último reparo: a vida em Cabo Verde parece
estar no seu primeiro dia da criação, em contraste com a decadência de outros
homens e outros ambientes, e tudo isto porque aqui encontramos homens e mulheres
sublimes, que nasceram felizes e que irradiam felicidade numa terra áspera
e dura que lhes nega cada dia o pão que lançam à terra.
TURISMO EM CABO VERDE
A lindíssima mulher de Cabo Verde, a lagosta das ilhas e a areia sedosa dessas
praias de maravilha acabarão por fazer, paradoxalmente, do tenebroso Tarrafal
uma doce estância de férias.
Tal como a Madeira, os Açores e as Canárias, as ilhas Cabo Verde só poderão
ser alternativa poética das férias, dos povos do Norte e do trabalho.
É inevitável Acapulcar Cabo Verde.
Se eu mandasse começava-se já amanhã. Tudo é bonito e é natural nestas ilhas
do Atlântico. Tudo é harmonia beleza e calor. Tudo é simpatia desde os olhos
profundos dos habitantes ao moreno saudável da pele, às
areias e praias iguais às areias e praias Portugal, mas muito, muito mais
quentes.
É o fogo de África, a beleza de África, e poderá ser (e vai ser com certeza)
a comodidade e a mentalidade Europa.
No Tarrafal, na praia do Tarrafal servem-se hoje, por tuta-e-meia, percebes,
que justificam uma viagem à ilha de São Tiago.
Eles e elas falam no tempo dos portugueses, olham para nós e riem-se como
se tudo fosse tempo de portugueses e não valesse a pena ter sido de outro modo.
Talvez seja isto o espírito de Bissau, que outra
obrigação não tem o natural de receber bem, de proporcionar aos visitantes
as delícias do seu habitat de eleição.
Um dia haverá passagem de Ano na cidade da Praia, com aviões especiais e haverá
hotéis que farão lembrar muita terra e muito povo.
Nós somos daqueles que já vêm de regresso, da expansão e do Império, para
saber melhor que ninguém, que temos de voltar a essas ilhas onde o pensamento
e o coração se perdem no amor à terra e às gentes. E ninguém, ninguém foje
por mais forte ao destino que Deus dá.
A CHUVA EM CABO VERDE
Quem alguma vez visitou as ilhas áridas de Cabo Verde, permanece na angústia
da chuva que o Criador parece ter negado, abusivamente, a esse extraordinário
povo que jamais esquecerei.
Só quem conhece Cabo Verde pode sentir a simples notícia de jornal que
informa o facto, aparentemente simples, de a natureza, finalmente compadecida e
após longos anos de espera se ter decidido pela água, que é milagre em tão
longínquas paragens.
Sei que há lágrimas nos olhos dos Cabo-Verdianos que olham a chuva benéfica
que cai na Terra madrasta, que de outro modo lhe nega o sustento.
O cabo-verdiano na sua terra, agora independente, desde a primeira hora que
se prepara para receber a chuva e segurar em terra firme o precioso líquido que
das encostas se precipita no mar que os rodeia. Os diques que o povo constrói, de
sol a sol, e amassa com o suor, são na verdade os alicerces de uma independência
que se deseja próspera e feliz
Os cabo-verdianos, lutando assim contra a natureza
pela sobrevivência ganham a admiração de todos os povos do Mundo, generosamente
obrigados a ajudar quem tão dignamente sabe lutar contra a adversidade.
Que a solidariedade dos homens se junte à da natureza e que um dia seja possível
o Cabo Verde, verdejante, onde a felicidade e a abundância possam habitar na casa
de cada um.
RECADO PARA AMÂNDIO CÉSAR
Não o conheço pessoalmente. Tenho lido, como toda a gente, coisas suas das
mais diversas épocas e sobre os mais diversos assuntos. O senhor foi para
mim um nome em tipo de Imprensa ao qual quase nunca ligamos uma pessoa de
carne e osso com vida própria neste vale de lágrimas a que todos, mais ou
menos penosamente atravessamos. Não sei onde está presentemente, nem sei o
que lhe aconteceu depois do que se passou neste País ultimamente.
Julgo, no entanto, que é meu dever deixar aqui este recado com a simplicidade
com que me o deram.
A história conta-se em duas palavras: tendo-me deslocado a
Cabo Verde travei conhecimento com um escritor da
terra, de nome António Aurélio Gonçalves. Conversámos, falámos muito de Cabo
Verde e dos que têm escrito sobre as ilhas misteriosas do Atlântico. Aurélio
Gonçalves, um homem tisnado pelo singular clima de Cabo Verde perguntou-me por
si, falando de um amigo querido que também não conhece.
Aurélio Gonçalves refere-se a Amândio César e às criticas
que sobre ele escreveu como dos momentos mais altos da sua vida de homem e de escritor.
Terminou por me pedir para lhe transmitir a sua amizade e a sua solidariedade
sobretudo se atravessa um mau momento ou passa por uma situação difícil
Aqui fica, Amândio César, a mensagem de um homem que não esquece os amigos.
É destes raríssimos exemplos de lealdade e dignidade que se fará a história
das qualidades de grandeza e glória de que já nos orgulhámos e dos quais,
Portugal e os portugueses, nunca terão de se envergonhar.
EXILADOS
O duro pão do exílio, alterna com a broa de milho
portuguesa por dá cá aquela palha.
Intolerantes e ferrabráses, a metade que governa espantou sempre para longe a outra metade que fica
normalmente em Paris, em Londres, em Argel ou em São Paulo à espera da viradeira.
Rebenta a “bernarda” vêm os de lado lá, vão os de cá, tudo como dantes, com
a diferença que o povo paga, com língua de palmo e de fome, as transferências
das suas elites políticas por essa Europa fora. Um ou outro vai deixar longe
a ossada. Foi assim com D. Miguel, com Afonso Costa, com Henrique Galvão,
com Jorge de Sena.
Por muito respeito que nos mereça as andanças de Portugal por Franças e Araganças, fugido ao fado
político não deixaremos de sublinhar com certo espanto que os indígenas evitaram
sempre o exílio para terras longínquas do Leste, trocando a ideologia, o marxismo
e o leninismo pelo conforto das Américas, pela doce França, pela civilizadíssima Inglaterra.
O Marxismo nunca foi o forte dos nossos esquerdistas para viver, antes o
foi para escrever e pensar.
A prática, o dia-a-dia, a civilização quiseram-na sempre menos à esquerda e
mais ao conforto, menos ao sacrifício e ao bolchevismo e mais ao elitismo e
cultura.
As sociedades capitalistas seduzem não só os detentores do capital, mas todos
os que vivem da sua estrutura, do conforto renovado na sua imaginação de cada
dia.
Jorge de Sena não será o último Português a repartir-se com a estranha
terra do exílio. Pelo mundo, morrem todos os dias, homens ignorados que aqui
nasceram e que longe foram buscar com que viver.
A alma portuguesa, corpo e alma portuguesa, pelo mundo em pedaços
repartida.
FEDERAÇÃO IBÉRICA
Os vende Pátrias vieram à praça ultimamente com a ideia estafada da velha
Federação-Ibérica.
Fundamentalmente desejam tudo menos que lhes metam o cachaço na canga e os
obriguem a trabalhar. Ligá-los a Espanha seria criar mais uns anos de confusão,
obrigando assim a que os madraços se esquivassem legitimamente ao trabalho em
nome das ideias.
Sem necessidade de recorrer a grandes filosofias, basta pensar em países como
o Luxemburgo, o Mónaco e a Suíça que, esquecendo as suas dimensões reduzidas,
se deitaram arduamente ao trabalho, sacrificando-se diariamente para melhorarem,
cumprindo exaustivamente programas pré-estabelecidos.
Nada de penínsulas de malandros.
É sempre preferível um país pequeno, governado por gente séria e trabalho
digno.
O lugar da gente desonesta não é no palácio do Governo, mas nas celas da penitenciária. Só a partir daqui é possível recomeçar
Portugal.
Deixámos vender impunemente as províncias ultramarinas, não deixaremos
vender a terra que é nosso berço há 800 anos.
REGIONALIZAR O QUÊ?
Na falta de outros assuntos mais urgentes os nossos políticos gastam energias
delineando a regionalização que cada cabeça vai sentenciando.
Na verdade, Portugal é um País demasiado pequeno, do tamanho de uma província
francesa e com tantos habitantes como a região de Paris. Por outro lado somos
um país de semi-analfabetos, impreparado, com uma
classe política muitas vezes hesitante e arriscamo-nos a provocar mais uma
série de abortos políticos, caríssimos e ineficazes.
Regionalizar desta maneira é em si mesmo negativo, superficial e autêntica
obra de fachada.
Não é possível regionalizar se os serviços forem inexistentes, inoperantes
ou desarticulados e parece-me paradoxal julgar um êxito a instalação Regional
quando a instalação Nacional desses serviços falhou apesar de todas as condições
para triunfar. E falhará sempre enquanto o nível sócio-económico das populações
que se pretendem regionalizar continue num atraso e numa impreparação indigna
em comparação com os outros países da Europa.
No meu entender, a regionalização feita sem uma profunda pedagogia e sem uma
revolução escolar, não tem vantagem política. Perder tempo agora com o sexo
dos anjos é demasiado perigoso para um país velho de quase
dez séculos.
DESEMPREGO
Por todo lado se fala de desemprego e na impossibilidade de inverter esta
tendência; contando-se por milhões e milhões o número de desempregados na
Europa.
Os economistas e os Governos servem-se já do desemprego como destabilizador
dos preços e da inflação.
Um bom lote de desempregados é uma garantia para determinados sistemas.
Há tempos esteve em Lisboa um teórico destes assuntos que previa a hipótese
de estabilizar o mercado de emprego expulsando os emigrantes, recorrendo ao
subemprego ou proibindo a mulher trabalhar.
As soluções parecem-me tristes e indignas de um teórico sério destas questões
fundamentais para o sossego da humanidade.
Será que a nossa civilização, dita cristã e ocidental, não será capaz de
resolver esta questão dando a todos a possibilidade de ganhar decente e
legitimamente o pão nosso de cada dia?
Parece que sim. Uma das medidas que poderiam alargar substancialmente a procura
em relação à oferta no mundo do trabalho era deixar que os horários ficassem
ao critério da entidade patronal a qual se limitaria a estabelecer uma escala
de remunerações adequadas conforme o trabalho fosse diurno ou nocturno, mais
fácil ou mais difícil.
Para outro lado, não seria necessário a criação de taxas especiais para o
maior volume das transacções verificadas, as quais já estariam cobertas pelo
imposto existente sobre as vendas.
Parece-me que tal sistema traria todas as vantagens incluindo a de um melhor
serviço público que teria outra capacidade de abordagem aos bens de consumo
e aos serviços.
Para o caso de Portugal bastaria aumentar em um quinto a capacidade de
emprego para que fossem absorvidos todos
os desempregados e a procura passasse a ser superior à oferta.
Este processo traria ainda o benefício de evitar novos recrutamentos para a
Função Pública, empregando ao mesmo tempo os excedentes, que nela vegetam, de
modo eficiente e a bem da Nação.
O EXAGERO DAS TAXAS DE JURO
As dificuldades que se levantam a toda a hora ao empresário português no dia
a dia da sua empresa, levam-no a comparar uma vida activa com a tranquilidade
de poder colocar no Banco o dinheiro que tiver disponível
deixando de ser empresário para se tornar capitalista.
Até agora, o capitalista, entregava ao Banco o seu
capital que o empresário ia buscar para o transformar em trabalho e produção.
O exagero das taxas de juro, que se pagam e que se recebem, acabam por fazer
terminar na banca o círculo de dinheiro todo ele convertido
em depósitos impossíveis de transferir para o investimento, para o trabalho
e para a produção.
Embora se diga que não, este processo leva à estatização de todos os
sectores e à sociedade colectivista comunista.
Reanimar as empresas portuguesas privadas, assegurando-lhes o financiamento
em boas condições, proporcionando-lhe que defendam o dinheiro emprestado é,
a par do recurso à imaginação e ao dinamismo do empresário português, a solução
que propomos, profundamente desenvolvimentista, longe da política actualmente
seguida de parar para pagar.
É necessário e urgente lutar a sério pela modernização
da Cultura, pela exploração do subsolo, pelo fomento das Pescas, os quais
são os verdadeiros processos de criar prosperidade no País, de pagar as dívidas
e melhorar o nível de vida.
Apertar o cinto é o conselho de quem não sabe dar conselhos
e utilizar a imaginação e o trabalho para criar riqueza.
AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS SUSTENTAM ESTE PAÍS
Tenho-me dado conta que uma inusitada azáfama faz correr os cobradores de
impostos em direcção às pequenas e médias empresas e aos pequenos e médios comerciantes.
Que vem a ser isto? Os senhores fiscais das Finanças deixaram de acreditar
na honestidade dos pequenos industriais e comerciantes ou pretendem sugar
todo o sangue a quem trabalha de manhã à noite para endireitar a vida e não
se envergonhar de ser português em Portugal?
Mal vai o Governo se à custa de quem trabalha continua a subsidiar a preguiça,
a incompetência e o subemprego em lugares estatais onde muito se fala e pouco
ou nada se produz.
Não é amedrontando, empatando e vasculhando escritas e mais escritas que o
Governo arranjará os milhões de que necessita para manter algumas instituições
nacionais, que por desnecessárias, são um crime de lesa-pátria.
Quando nos lembramos que o nosso Exército gasta um mínimo de 41 milhões de
contos, que continuamos todos os anos a alistar, sem qualquer justificação
plausível para o facto, milhares de mancebos que contrariados vão gastar uma
boa parte destes 41 milhões de contos, perguntamo-nos espantados se não seria
melhor fazer intensivas campanhas de esclarecimento sobre pagamentos de
impostos, livros fiscais etc. etc.. Do que enviar
batalhões de fiscalizadores à procura de arrancar o forro do casaco ao pequeno
e médio comerciante, ao pequeno e médio industrial para pagar uma tropa que
devia ser urgentemente reduzida, racionalizada e criando um corpo de elite com
4 ou 5 mil homens num máximo e não 50.000 que nos custam os olhos da cara e que
obrigam os cobradores de impostos a correr de um lado para outro à procura de
lançamentos mal feitos ou de erros que a lei não permite.
Exigir o corpo e a alma às pequenas e médias empresas é o mesmo que dizer
que este país já não existe ou então que tudo isto está seguro por arames e que
ao menor vendaval tudo ruirá como um baralho de cartas.
A FRAGILIDADE DO SER HUMANO
O instinto animalesco que enferma o homem faz dele
um ser perigoso e de actos imprevisíveis.
Hoje um santo, amanhã um assassino caso sinta que
está a ser perseguido injustamente e o seu grau de saturação tenha atingido
os limites a que ele se impôs como padrão de dignidade e de personalidade.
E a este santo, a este louco ou a este assassino ninguém escapa pois que ele
fica indiferente às consequências e às vozes dos que o cercam.
Veja-se o que aconteceu na América:
Ronald Reagen, Presidente dos Estados Unidos e o Homem mais poderoso do
Mundo, o mais bem guardado e o mais bem vigiado não morre por um acaso, por um
golpe de sorte, o que vem inequivocamente demonstrar que se isto aconteceu com
este homem que manda no mundo, que dá ordens ao mundo e que basta carregar num
botão para fazer desaparecer este mundo, quantas vezes, infinitas vezes mais, não
seremos nós vulneráveis perante os escolhos e os perigos que nos rodeiam todos
os dias?
Que meditem na fragilidade do ser humano todos aqueles que passam a vida a
arranjar questiúnculas e intrigas e a fazer perder o tempo e a paciência a
quem trabalha.
Até os santos se tornam assassinos. E quem acreditar que assim não é, muito
pouco conhece do género humano.
VALERÁ A PENA PERMANECER NESTE MUNDO?
Por incrível que pareça gastam-se no mundo cem mil contos por minuto a
fabricar armas e munições cuja única utilidade é matar.
O ser humano conhece criteriosamente e concretamente o caminho do bem, sabe
como deve proceder em relação ao seu semelhante, sabe perfeitamente
que lhe é vedado atentar contra a vida do próximo e no entanto, por um gigantesco
acto de loucura gasta diariamente uma fabulosa fortuna para poder matar os
seus vizinhos. Isto é, os outros seres humanos seus companheiros na Terra,
seus amigos, seus iguais.
Como se justifica que o homem se tenha transformado num únic animal capaz
de matar por prazer?
E afinal porquê e para quê centralizamos a nossa vida no desejo incontido
de matar? Apenas por razões económicas, apenas pela ânsia de possuir mais do
que os outros.
Atravessámos já uma fase em que o homem matava por razões religiosas, a
seguir o homem matou por razões ideológicas e políticas, agora mata por uns
palmos de terra, pelo domínio dos mares ou pelo domínio do ouro, da prata, dos
cereais, dos frutos, das árvores que Deus pôs na terra para todos, com bondade
e amor.
Vão longe as palavras de Cristo do “Amai-vos uns aos outros”.
Já ninguém sabe o que é a fraternidade.
A juntar às armas que se fabricam todos os dias veio a droga, o álcool, a
loucura, o crime, a insegurança nas ruas, o terrorismo, o rapto.
Valerá a pena permanecer neste mundo?
Na verdade não vale. Depois apetece fazer o gesto banal de quem abandona o
eléctrico e dizer calmamente:
É favor pararem o mundo que eu quero sair!
A LOUCURA EM QUE VIVEMOS
Ocupamos por inteiro o nosso tempo produzindo para ganhar dinheiro, para comprar
e gastar o que produzimos.
O homem deixou de pensar no homem porque pensa exclusivamente na produção
rápida de objectos que vão desde as bombas atómicas aos detergentes e aos
produtos de beleza.
De repente chegamos à conclusão que muita da nossa produção é um autêntico
crime social e ecológico.
Ser meditássemos um pouco nem precisaríamos de renunciar
totalmente à técnica e ao progresso, nem precisaríamos de continuar a desesperada
agressão à Natureza que se verifica nos nossos dias.
O aviso é sério e urgente. Ou arrepiamos caminho ou a humanidade tem à vista
um fim catastrófico e inglório.
A recente guerra no Golfo foi um acto de loucura colectiva em que vale pena
meditar.
A culpa nem foi de Bush, nem de Saddam.
A culpa é da humanidade que se perde numa crise de loucura que nada tem de
útil nem de belo, e levará, inevitavelmente, à destruição total da vida sobre a
terra.
VIVEMOS NUM MUNDO PROFUNDAMENTE DESIGUAL
Em todos os países do mundo passa hoje uma onda desumanizante
que obriga as pessoas a fecharem-se em si mesmas e a cair num isolamento
voluntário.
É a solidão das multidões.
É o isolamento.
O caminho para a tristeza, para a angústia, para a agressividade.
Em tais condições e por muito que se deseje não é possível viver feliz.
Não é possível transmitir aos outros essa felicidade, nem na vida
particular nem no exercício da profissão.
Paralelamente à acção escolar que, melhor ou pior, todos os Governos
desenvolvem torna-se urgente que todos os povos do mundo se empenhem numa
campanha de humanização dando à vida outra dimensão e privilegiando o
entendimento social, combatendo a agressividade e possibilitando a boa disposição.
Esta ideia que em princípio parece destituída de viabilidade prática é bem
um ponto fulcral para construirmos uma vida melhor, para podermos
ter uma actividade profissional mais atraente e simpática o que equivale a dizer
para trabalharmos de melhor vontade e produzirmos mais.
O mundo vai transformar-se radicalmente nos próximos dez anos. Todos temos
que nos especializar numa actividade.
Os salários crescerão e desaparecerá da Terra o fantasma da miséria.
É claro que falamos assim para a Europa, parte das Américas, parte da Oceânia
e provavelmente para uma pequena parte da Ásia.
Infelizmente, zonas sul americanas e africanas, profundamente deprimidas,
continuarão ainda durante séculos no atraso vergonhoso em que se morre de
fome ou se sucumbe a doenças que o mundo civilizado debelou por completo há
dezenas de anos.
É preciso não esquecer que nas 14 mil ilhas da Indonésia há ainda tribos em
plena Idade da Pedra.
O mundo profundamente desigual levará séculos a atingir uma normalidade relativa
e abrangente de toda a humanidade.
Provavelmente nunca o conseguirá.
Apesar de tudo o que fica dito e sobretudo do péssimo que se demonstra em
relação a Portugal é bom lembrar que o nosso país
está em vigésimo quarto lugar na lista dos países mais desenvolvidos, podendo,
graças à CEE, até ao fim do século baixar da vigésima posição.
No se pode dizer que tenhamos um futuro cor-de-rosa, mas também é exagero
pintá-lo de negro.
Queira Deus que o esforço necessário no campo da Educação seja atempado e
em qualidade de modo que responda às nossas necessidades e imperativos.
Tudo depende do saber e do espírito empreendedor dos que forem escolhidos
para levar por diante esta importante e o urgente missão.
O APARTHEID EXISTE
Se quisermos pensar sem fanatismo e
de espírito lúcido sobre o que é o apartheid compreenderemos imediatamente que
ele existe em todas as sociedades.
Proponho pois, aos prezados leitores, que pensem durante alguns minutos, na
imensa diferença que existe em Portugal entre ricos, remediados e pobres cujo
convívio não se faz a nenhum nível.
Senão vejamos:
Enquanto os ricos têm os seus transportes particulares, os pobres têm os
colectivos ou andam a pé.
Enquanto os ricos têm as suas clínicas particulares, os pobres morrem à
espera da consulta na Caixa.
Enquanto os ricos frequentam colégios de luxo, os pobres consolam-se com o
a, é, i, o, u da Escola
camarária.
É claro que, apesar de tudo isto, nós vivemos em perfeita e fraternal
democracia enquanto o apartheid sul-africano, que não é mais do que uma técnica
de convívio, torna possível organizar e fazer progredir, devidamente, as
diversas etnias.
Deste modo e apesar das críticas atiradas contra o regime sul-africano
ninguém, até hoje, conseguiu em África, nada que se pareça em prol das
comunidades negras.
Tenhamos a coragem de pensar que só um nivelamento sócio-cultural poderá trazer
um dia à África do Sul a plena integração racial feita com coerência e defendendo
os interesses de todos, porque todos terão um dia iguais possibilidades e
capacidades.
O ATAQUE DOS CREDORES
O gravíssimo erro que as super potências estão a cometer em relação ao Brasil
leva-nos a alertar todos os gananciosos dos perigos da sua cupidez.
Há que saber esperar e tudo será pago.
Os Estados Unidos e todos os capitalistas que, impensadamente, puxam a
corda do desesperado devedor ou estão cegos ou estão loucos. Eles estão a cavar
a sua própria destruição por terem querido fazer negócios fáceis com quem tinha
de aceitar todas as condições impostas.
A dívida dos países da América Latina rondará os 300 biliões de dólares. A
fatia do Brasil é muito grande, mas todos sabemos que o Brasil é o país do
futuro onde com o tempo e algum trabalho o ser humano viverá cada vez mais
feliz a ajuizar pela conjugação harmoniosa de credos e raças que aí pontifica,
onde o amor é mais forte do que dinheiro.
A grande diferença entre o Brasil e as outras nações está aqui: no amor, na
alegria de viver, no prazer de estar no mundo e na certeza de que só se vive
uma vez.
Tenho a certeza que no juízo final os únicos que terão direito a Prémio serão
os de expressão portuguesa e, dentre esses, os brasileiros ocuparão o primeiro lugar.
Hoje as guerras não são tanto químicas ou atómicas, mas sim, ideológicas e
houve países que já o entenderam. Será que os Estados Unidos compreenderam o
aviso ou insistem em tocar a finados quando o Brasil der o último suspiro e
arrastar consigo todos aqueles cuja avareza e inconsciência foi muito superior
do que a sua sensatez?
NOBRE DA COSTA VERSUS AMARO DA DITA
Em 7 de Setembro de 1978 na
Assembleia da República portuguesa começou um desafio insólito e histórico. A
última geração de políticos recuava perante a primeira invasão dos tecnocratas
organizados em Governo.
As bancadas assistem perplexas à invasão do poder
pela alma técnica e toda poderosa.
O exército invasor, chefiado por um arquitécnico
traz na bagagem o sheltox que apagará de vez o
zumbido da oratória política que herdámos do século XIX.
Seja quem for o vencido, importa sobretudo
salientar que está lançada uma nova sorte no último Parlamento tradicional da
Europa.
Amaro da Costa é politicamente
um mundo que foi, Nobre da Costa, é um mundo que será.
As duas centenas e meia de políticos improvisados, que deixaram por alguns
meses as oficinas de trabalho, vergam de espanto com o golpe destes gestores
de profissão que governam pelo computador.
O país, ou melhor, os países que despiram há muito a nevrose religiosa largam
agora a psicose política para se organizarem numa empresa gigantesca, inexoravelmente
organizada na prática do possível e do desejável.
Amaro da Costa, Jaime Gama, Menéres Pimentel e outros foram ao ataque,
atirando contra um inimigo em cuja vulnerabilidade não acreditam.
O humanismo teórico, o populismo, a grandiloquência lamechas abatem-se nas
teclas da máquina dos outros que respondem por números, calculam matematicamente
as adições, as multiplicações e as divisões.
O novo capítulo da filosofia política chama-se matemática, chama-se, se
quiserem, matemática política. É possível, por agora, que Nobre da Costa não
fique no Governo. Mas temos a certeza, é fatal que os arquitécnicos
voltarão a impor-se e a comandar este processo.
Pode mesmo dar-se o caso, de perante a resistência e a teimosia da arqueopolítica de bancada, o Poder
passe subtilmente cá para fora, para as salas ministrialonas
dos imensos conselhos de administração. Depois é só assistir à desvalorização
gradual e ao desinteresse sistemático das grandes crises políticas.
Já se vive sem Governo meses a fio. Poderá vir a viver-se sem Governo anos
a fio...
A CRISE
Ao contrário do que muita gente pensa, a crise que afecta Portugal
ultrapassa uma mera crise económica e é bem mais grave.
De uma crise económica consegue-se sair mais dia menos
dia, bastando para tanto ensaiar uma nova forma de produção, reactivar o
trabalho, fortalecer a moeda, reanimar a agricultura, isto é, aplicar ao mal
uma dessas curas que se usam universalmente.
Infelizmente o caso de Portugal é bem mais grave, a crise, mais do que
económica é um caso aflitivo de moralidade e consciência.
A geração que nos governa está em crise profunda.
Ninguém acredita em ninguém
Ninguém é capaz de colocar os interesses de todos, nos lugares dos seus próprios
interesses.
O que se passou com a Aliança Democrática é na verdade um autêntico caso
incompreensível, política e socialmente.
Como é que uma a Aliança composta por partidos ideologicamente próximos, por
homens que se conheciam e se respeitavam, dominando todos os mecanismos da
governação e da economia, como é possível que se auto desagregue acabando
por desavenças no grupo dirigente, os quais mostram um desprezo total pelo
interesse do País e pelo futuro de Portugal.
Nas mãos de gente desta qualidade o País está morto e pior do que no tempo
dos Filipes.
No mundo dos nossos dias pode-se encarar perfeitamente a dissolução de uma
Pátria por incompetência de governantes.
A história está cheia de impérios de que hoje só existe a memória e que,
por uma razão ou por outra foram varridos do mapa.
Será esta a vontade dos portugueses no final do século XX?
PORTUGAL PERDEU O POLÍTICO QUE MAIS LONGE APONTAVA O FUTURO
Com Adelino Amaro da Costa morre a última esperança de traduzir democracia
em Portugal por felicidade, por boa disposição, por grandeza de alma e por amor
ao próximo.
Mais que um grande político era um homem com a altíssima noção do que é
estar no mundo e servir os outros.
Não foi só o CDS, nem a AD a perder com a sua morte. Portugal perdeu o
político que mais longe apontava no futuro.
Pessoalmente e para lá de todo o seu talento foi um grande amigo que
perdemos, daqueles que marcam uma época da nossa vida e do qual nos lembraremos
todos os dias como se estivesse vivo e continuasse ao nosso lado.
O HOMEM MAIS INTELIGENTE E O MAIS GENEROSO QUE ATÉ HOJE CONHECI
Fazia 39 anos no dia 18 de Abril o meu amigo Adelino Amaro da Costa, provavelmente o homem
mais inteligente e o mais generoso que até hoje conheci.
Amaro da Costa era, em
toda a sua humildade, um Homem superior ao serviço do seu semelhante.
Amaro da Costa disse um
dia que a missão do seu Partido era educar a direita de Portugal. E ele era
um privilegiado para exercer essa delicadíssima missão, não só da direita,
mas do Povo Português.
Inteligente, honestíssimo nos seus processos, infinitamente paciente, como se
o tempo para ele nada representasse, Amaro da Costa, deixou a recordação de uma
obra fabulosa que o destino quis adiar.
Há dias, um jornalista chamava-lhe a fada da Sá Carneiro pela sua
capacidade de dialogar e de o conduzir para o melhor.
Amaro da Costa seria
verdadeiramente a fada deste País se a sorte não o tem desacompanhado tão
tragicamente.
Naturalmente, homens desta natureza são pouco acessíveis,
distantes, maus de humor, difíceis de trato.
Adelino Amaro da Costa era, neste aspecto, um esbanjador de simpatia.
Actor talentoso, homem de mil ofícios, impressionante no seu poder de comunicação e na sua afabilidade, conseguia tudo isto
convictamente, distinguindo cada amigo, cada situação e cada caso.
Recordá-lo com saudade é saber que o exemplo deste homem nos acompanhará
para sempre num saudável saudosismo de continuar a usufruír
da mensagem inesgotável que foi a sua vida.
Adelino já não é um homem do poder, já não é um homem
poderoso, consola-nos porém, infinitamente mais, falar dele e para ele agora,
quando tudo o que passou continua a ser, não uma recordação simples, mas a
esperança de melhores dias pelos quais lutava entusiasticamente quando a morte
lhe armou uma cilada.
O espírito de Adelino Amaro da Costa continua vivo e presente na recordação
da sua amizade e na esperança da sua esperança porque há homens que não morrem,
já que os vivos se encarregam, por necessidade e devoção, de os deixar a seu
lado eternamente.
SÁ CARNEIRO
Snu Abecasis morreu por amor ao lado de Sá Carneiro que não a sacrificou nem
ao poder, nem à popularidade, nem ao dever, nem à
família, nem à Igreja.
De mãos dadas, enfrentando tempestades, Sá Carneiro e Snu Abecasis ficaram
cada vez mais serenos no Centro deste pequeno mundo como se soubessem que
lhes valia a pena viverem assim e que seriam, só deles, as últimas e poucas
horas que lhes restavam.
Foi só a luz dos olhos de Snu Abecasis e de Sá Carneiro que confundiram as
leis, as convenções, as tradições ou teria sido a força do carismático estadista
que fez ajoelhar a vetustíssima,dura e intransigente Igreja Católica Romana?
Não há Concílios que possam destruir o amor entre um
Homem e uma Mulher.
Louvamos Snu que amou Francisco e com ele morreu, decretando, de novo, a lei
da ternura para que ela possa vigorar entre os homens até à consumação
dos séculos.
Que repousem em paz, juntos, frente-a-frente para que no fim do mundo
continuem o idílio agora interrompido.
QUANTO VALE UMA MULHER
Devido ao afluxo inesperado de centenas de cartas sobre questões femininas,
a nossa colaboradora Inês Castro pediu-me uma opinião sobre a condição da mulher.
Para analisar das capacidades da mulher e da sua maior ou mesmo menor capacidade
em relação ao homem, teremos de lhe dar as mesmas condições de vida quer no
campo profissional, quer nos aspectos sexuais, familiares e culturais. Isto,
acompanhado, naturalmente, por escolas mistas e iguais oportunidades em todos
os domínios da vida.
Criadas e aplicadas estas condições, a mulher estará
livre dos efeitos ancestrais que a têm reduzido a simples objecto, desde que o
Mundo é Mundo. A partir destas premissas poderemos então observar a maior ou menor
semelhança entre os sexos. Embora partamos de uma certeza, como o demonstrarei no
meu livro “a Libertação da Mulher”.
A mulher é mais capaz, mais forte e mais intuitiva do que o homem. Porque não
aproveita estas qualidades, isso é muito difícil de entender.
Mas voltemos à análise que fazíamos.
Nas condições de igualdade total, estou convencido que, na vida humana, deixará
de existir o crime e a paixão, transformando-se os homens e as mulheres numa
sociedade perfeita onde cada um terá o suficiente e as grandes emoções deixarão
de existir.
Embora pense que é de toda a justiça reconhecer o valor da mulher e que é
urgente restituir-lhe a dignidade que sempre lhe foi negada, mesmo assim não
posso deixar de confessar que para mim, e estou convencido que para 99 por
cento dos homens, foi sempre mais cómodo esta subserviência feminina. Por
mim adorei ter vivido esta minha época onde os grandes dramas alternam com
as grandes comédias, onde é possível passar da desgraça à fartura e onde a
vida é comandada por essa incógnita maravilhosa que se chama esperança.
Isto não é mais possível. A mulher vale o que vale o homem. O comando do Mundo
pertence-lhe por alternância e é provavelmente a vida que nos espera a partir
do século XXI. Pena é que eu já não possa saborear esse prazer e confirmar
que, finalmente, o ser humano se humanizou.
OS PORTUGUESES CONTINUAM AGARRADOS ÀS CALÇAS DO PRIMEIRO-MINISTRO
Neste país subsidiado e à beira mar plantado, havia um ditado que dizia
“quem não arrisca não petisca.” Agora não, ninguém quer arriscar e todos querem
petiscar.
Ainda há tempos ouvi na rádio, um artista da nossa praça, dizer que não cantava
porque o Estado não lhe dava condições. Esta é forte! Não lhe dava condições?
Então quem é que lhe punha a mão na boca?
Na CEE para onde entrámos complexados e cabisbaixos ninguém vai ter pena de
nós e ou nos tornamos gente ou... estamos mal.
Lá fora as pessoas andam para a frente, arriscam, assumem-se. Aqui pedem-se
subsídios.
Os portugueses têm de se convencer de uma vez por todas, e tem de ser quanto
mais depressa melhor, que o Estado patrão acabou. Antigamente é que o Ti
António resolvia tudo, e àqueles que não resolvia deixava-os emigrar.
Enfim, perdemos um tempo inestimável e deixámos sair o sangue mais jovem
que aqui possuíamos.
A Europa desenvolveu-se e vive bem porque o Estado deu voz às pessoas.
Portugal continua desesperadamente agarrado às calças
do Primeiro-Ministro enquanto este tenta emancipar um povo que ama e a quem tem
dado o melhor da sua inteligência.
Já passaram quinze anos depois do 25 de Abril. Para muitos foi um trauma muito
grande. Compreende-se e aceita-se, mas não podemos
andar eternamente a chorar e a lamentar o que é irreversível.
É necessário mostrar de novo ao mundo que a inteligência portuguesa continua
a servir de fermento para os povos de todo o mundo tal como foi nos séculos
XIV, XV e XVI.
No perdemos qualidade, estivemos só a retemperar forças.
CAVACO, CADILHE E BELEZA, OS BOMBOS DA FESTA
Insatisfação constante, um masoquismo exacerbado e um choradinho a
tresandar a ranço fazem dos portugueses o povo mais rezingão de toda a Europa.
Latinos, aventureiros, improvisadores e profissionais nunca ninguém conseguiu
obrigar esta gente a ser governada com cabeça, com regularidade, com técnicas
de gestão tal como pretende Cavaco Silva acolitado por Leonor Beleza
e pelo bombardeadíssimo Cadilhe, que tem sido enxovalhado
com o que de mais abjecto tem saído da cabecinha de muitos plumitivos que desta maneira vêem assegurado o ordenado
ao fim do mês.
Na verdade, a vida que o espartano Cavaco e o imperturbável Cadilhe têm tentado
impor para salvação do País sofre as mais variadas contestações e vem dos
quadrantes mais diversos.
O português não aceita esta vida de apertos porque, acha ele, nunca
precisou de guia de marcha para ir à Índia, nem planeou Aljubarrota para chutar
os espanhóis por todas as fronteiras.
Napoleão foi também vítima do nosso improviso e tudo isto sem abdicar do
fado, do vinho tinto e de meio Bairro Alto que é todo este país.
Quando as coisas correm mal à direita, fazemos uma revolução e as coisas
começam a correr mal à esquerda. Se as coisas correm mal à esquerda faz-se uma
revolução de sinal contrário o que permite pelo menos quatro anos de festas, de
manifestações, de greves, de discursos, de intentonas e de inventonas...
Trabalhar é que não. Governar é que não.
Cavaco Silva, que não é para graças, acha que esta bagunça já chega, que
Portugal já está mais adulto e resolveu governar seguindo os parâmetros europeus.
Bem podem os portugueses dar por paus e por pedras. Cavaco não está com meias-medidas:
para os contestatários mais avarentos pôs-lhes o Ministro Cadilhe à perna
e para aqueles que se armam em carapaus de corrida deu-lhes a Ministra Leonor
Beleza para lhes tratar da saúde.
Até que enfim, aparece alguém que conhece os portugueses!
Continuar a improvisar, num mundo onde os profissionais são cada vez mais
profissionais, é preparar o suicídio colectivo e isso
Cavaco nunca o permitirá, doa a quem doer.
O GOVERNANTE NÃO PODE TER MEDO DE ERRAR
Governar um país pequeno e maneirinho como Portugal só não é viável a
homens receosos da crítica, do diz-se e das graçolas de mau gosto.
O governante não pode ter receio de errar. As suas atitudes e as suas
decisões são sempre susceptíveis de rectificação. Aquilo que ele não pode
fazer é hesitar, protelar e nada fazer.
Portugal é um país tão governável como a Suíça, a Holanda ou a Suécia, é
necessário simplesmente o querer e a determinação dos seres que nele habitam
para o desenvolver e criar o bem-estar porque todos os portugueses anseiam.
Para realizar a transformação rápida, eficiente e correcta deste País é
urgente que o seu colectivo se transforme na verdadeira extensão do homem
pensante e inteligente, é necessário também que o homem se sirva da
colectividade na medida em que vai servir-se de mais cabeças e mais braços.
O colectivo é um crescer de forças, por tal motivo é premente que os homens
e mulheres que compõem a sociedade portuguesa colaborem não só com o Governo
central, mas com as Autarquias locais onde vivam.
Pertençam as Autarquias locais ao Partido que pertencerem é dever de todo
o cidadão prestar-lhes a ajuda na realização dos objectivos que os autarcas:
Presidentes de Câmara, Presidentes de Juntas de Freguesia e Vereadores se
propuseram.
É urgente que o homem acabe de uma vez para sempre com o seu egoísmo feroz,
com a sua auto-suficiência improdutiva para se realizar no colectivo de uma
aldeia, de uma vila, de uma cidade, em suma: de Portugal.
POLÍTICA O QUE É?
Costuma dizer-se que os portugueses estão desencantados da política e que
não participam, não se interessam, não se dignam sequer criticar ou elogiar
o que está mal ou que está bem.
Por isso mesmo há quem pense, e com toda a razão, que isto pode passar pelo
salvador nacional que traz a tiracolo a saca dos remédios miraculosos.
Contudo, o que nos parece importante é inaugurar uma nova metodologia que
possa abrir uma porta como deve ser, à metodologia política e à resolução
dos problemas que interessam a todos.
Os candidatos que nós hoje elegemos
morrem no fim da campanha eleitoral...
O povo deita um voto e sofre até à próxima campanha.
Na verdade, a evolução social das últimas décadas é de tal modo anémica que
se nota a incompetência dos políticos.
Nós não sabemos o que faz falta, nós não sabemos quem faz falta.
A política deixou de ser uma administração próxima de coisas muito
concretas e passou a ser uma ciência acessível só a alguns.
Hoje, a cada passo, ouve-se dizer “eu não percebo nada de política”, como
quem diz; eu não percebo nada de matemática ou de química, esquecendo que
a política é o preço da água e da luz, do litro do leite, da carne,
do peixe, do pão.
Não perceber nada de política é não perceber nada da vida e disso, enquanto
andarmos neste mundo, não nos resta outro remédio se não perceber o mais
possível.
O PAÍS REAL E O PAÍS POLÍTICO
Incapazes de gerir um país, acabamos por arranjar
dois: o País real e o País político.
Convém saber para que cada um se situe e actue, o que vem ser o País real,
com quem conta, o que faz.
O que é o país político, como alinha, para que lado joga.
Primeiro, o real:
Sem receio de desmentido parece não oferecer dúvidas que este é o País que
emigra, que trabalha, que sofre. É o País dos pagadores de salários, é o País
dos criadores de riqueza. É o País dos lavradores e de todos os que fazem
dia-a-dia o dinheiro com que se pagam e com que pagam os outros.
O País real é o que inventa de comer todos os dias, é o País que não sente
domingos nem feriados, é o País de sempre, é o País da dignidade e do trabalho,
é o País da história.
O Portugal político, é a ignorância política, é a malfeitoria política que
são, neste País, sinónimos preclaros.
O Portugal político chupa o suor do rosto do seu semelhante, bebe-lhe o sangue,
mas tira-lhe a carne.
O Portugal político importa lá de fora todos os mercantilismos possíveis e o whisky possível
transformando a esquerda portuguesa numa resultante de aguardente da Escócia.
O País político é o filho que não trabalha, que dissipa a fortuna, que exige
automóvel, que bate no pai, que comunga a droga e cai, todos os dias, num
novo farrapo social. O país político é o delinquente mongolóide, infantilmente
agressivo e perigoso.
De um dia para outro o País político volta à Cruz
Vermelha de Caxias e ao sanatório de Peniche. É que a liberdade não dispensa
mastigação. E... fidalguia sem comedoria é gaita que não assobia.
UMA ASSEMBLEIA À SÉCULO XIX
A Assembleia da República onde se misturam e se chocam quatro paladares de
socialismo continua a ser um órgão anémico e sem poder
de resposta a um país que necessita urgentemente de vitalidade, de inteligência
e de leis reguladores de trabalho, de maneira que os vadios e os desempregados
à força possam e devam contribuir para o bem estar nacional.
Na verdade, a Assembleia da República não tem sido mais do que o espelho do
País onde tudo continua desorganizado, destruído, vilipendiado e escarnecido. É
uma assembleia com todos os defeitos do século passado e que teima injustificadamente
a mantê-los.
Ainda há poucos dias, a Assembleia da República, perdeu uma tarde inteira,
o que representa centenas de contos gastos, para discutir se um programa da
TV, escrito por um pseudo historiador e produzido por um realizador com tantos
escrúpulos como o primeiro, devia ou não devia ter sido exibido.
Em qualquer país civilizado os inquéritos, as culpas e os castigos, se os
houvesse, estariam cometidos à administração da televisão. Isto seria motivo
para encerrar o incidente e continuar o trabalho, que esse sim é preciso desenvolver
e melhorar todos os dias.
E assim, quando tudo pensava que se começasse a dar aos actos a importância
que eles têm, resolvem os deputados arengar durante cinco horas sobre as aventuras
e desventuras do “historiador” César para saber se valia a pena queimar o
homem.
Houve mesmo quem, levantando a mão tremente, se pusesse em guarda contra a
guerra santa.
E o país continua sem uma regulamentação de Saúde,
sem uma regulamentação de Ensino, sem circuitos alimentares, sem leis que
intensifiquem a pesca, sem alcatrão que dignifique as estradas.
É urgente que a Assembleia da República se transforme num centro respeitável
de decisões rápidas, modernas e úteis. O País, que a elegeu e a paga, não
pode esperar outra coisa.
QUANDO PORTUGAL ERA UM IMPÉRIO
Quando Portugal era um império tínhamos sete ministros, três secretários de Estado e cerca de
100 deputados.
Era praticamente esta a classe política que tínhamos que pagar porque a
nível de Câmaras Municipais trabalhava-se por carolice
e amor à terra.
O povo pagava, é certo, o clã político que não vivia mal, simplesmente eram
poucos. Hoje que estamos reduzidos ao Portugal da Europa, Açores e Madeira,
a classe política aumentou de um para 1000 e esse aumento correspondeu a uma
gula indisfarçável referente ao Orçamento do Estado que sai do bolso todos
nós.
Um enxame inumerável de políticos, devora o cadáver de um País apertado de
sanguessugas por todo lado.
Mas somos, pelo menos, mais bem governados?
A resposta ficará à escolha do leitor porque receamos que se formos nós próprios
a dá-la se pense tratar de um caso de sectarismo político.
Mas meditemos nestes números: os deputados passaram de 100 para 250 e as despesas
com a Assembleia da República aumentaram 500 vezes.
A vantagem disso vale a diferença?
As Câmaras Municipais que, neste País, se contam por mais de três centenas,
todas, para além de presidente, vereadores a tempo inteiro, bem pagos, bem
comidos, bem bebidos e deslocando-se nos Mercedes que lhes deixou o “fascismo”
ou compram Mercedes novos à medida que termina a herança motorizada.
Apesar de tudo isto vemos que a governação é deficiente.
Resumindo e dizendo verdades desagradáveis:
É preciso acabar de uma vez para sempre com esta classe de marginais privilegiados
a que vulgarmente chamamos políticos.
AS ARMAS SÃO AS ESCOLAS, AS FÁBRICAS E AS MINAS
De 1910 a esta parte, Portugal vem
sendo governado, a nível de presidência da República, por militares.
Tirando o consulado de Salazar, em que os militares
Presidentes foram meras figuras decorativas, assistimos hoje à manutenção
de um equívoco que coloca as Forças Armadas no topo da hierarquia político-social
com garantia de paz interna e de independência nacional.
Se tais pressupostos tiveram outrora algum valimento estão hoje
completamente ultrapassados, e um militar na presidência da República é um acto
perfeitamente gratuito por variadíssimas razões.
Em primeiro lugar os militares actuais estão claramente impreparados
para esse tipo de cargos.
Por outro lado, à Nação não interessa a via militar cuja utilidade e
sentido são altamente discutíveis.
Podemos dizer, sem receio de desmentido, que um exército, em países
como Portugal, não passa de um símbolo totalmente vazio de utilidade.
A época em que vivemos é demasiadamente sensível para se perder tempo com
uma candidatura que não seja a de um homem inteligente e honesto que tenha dado
provas como administrador e como financeiro.
Em Portugal haverá meia dúzia de nomes dos chamados generais da Indústria
cujo perfil se coaduna perfeitamente com a presidência da nossa República e com
as tarefas urgentes que se impõem ao povo português.
A independência de Portugal travar-se-á, nos próximos anos, no campo do trabalho
e da produção.
O Exército mudou de mãos e mudou de táctica. As armas são as escolas, as fábricas,
as estradas, e as minas.
Precisamos de um homem para governar que crie já um Portugal mais rico, mais
próspero, mais justo
Precisamos de um homem para governar que transforme este País numa empresa
bem organizada, bem gerida, bem rentável.
No vale a pena distribuir miséria.
Nem as G3, nem as paradas militares, resolvem seja o for.
AO SABOR DO ACASO
Segundo estatísticas recentemente publicadas, Portugal foi o país que no ano
passado recebeu maior número de turistas.
Para aqueles que, distraídos com o próprio umbigo, não querem ver o que se
passa à sua volta iremos dar algumas razões pelas
quais os estrangeiros nos procuram e saboreiam sofregamente este Portugal
que nós teimamos em não usufruir em proveito, dando jus ao ditado: “Dá Deus
as nozes a quem não tem dentes.”
Se pensarmos um pouco, o que para o português é um sacrifício tremendo, o
português não gosta de pensar, a maior parte das vezes faz as coisas à toa, ao
acaso, acreditando mais na intuição do que na razão e raramente se importando
com as consequências. “Há-de ser o que Deus quiser” e com este grito de
esperança e ao mesmo tempo de inconsciência aí temos Portugal feito à medida da
nossa inconstância e a história recheada de grandezas e de misérias porque
temos vivido, neste País de eleição, quase sempre ao sabor do acaso.
Mas deixemos as considerações anteriores e vamos ver porque razão os turistas,
os industriais e os habitantes dos outros países nos procuram tão avidamente e
se vão deixando ficar por aqui.
Vejamos as razões:
Portugal é o país da Europa com mais
elevada temperatura média anual.
O preço da nossa moeda em comparação com a moeda dos outros países torna possível
a aquisição de terrenos e de indústrias por montantes perfeitamente ridículos.
Qualquer Casal de reformados da Europa Central e do Norte vive, em Portugal,
dez vezes melhor do que no seu país.
O índice de criminalidade em Portugal é o mais baixo da Europa.
A legislação actual beneficia extraordinariamente o proprietário
estrangeiro.
O povo português privilegia extraordinariamente a sua relação com a pessoa
estrangeira.
Portugal é o país menos industrializado e menos poluído da Europa.
Estas razões, que acabámos de mencionar, provam à evidência que
este País que habitamos é um pequeno paraíso onde todos poderemos viver felizes
se assim o desejarmos.
Os estrangeiros já nos descobriram. É tempo de nos descobrirmos a nós próprios.
É PROIBIDO FAZER INOVAÇÕES
As confederações dos comerciantes portugueses vêm muitas vezes à televisão
pedir as mais diversas regalias e lamentar a crise profunda em que se encontram
os pequenos e médios comerciantes.
Pelo que se passa no nosso País só nos admira que a crise não seja ainda maior
em virtude dos usos e costumes obsoletos que regem as nossas casas comerciais.
Por esse mundo fora os horários comerciais são totalmente livres o que leva
os responsáveis pelo negócio a adaptar-se aos melhores horários de acordo
com o interesse dos clientes.
No mundo onde quase todos os adultos estão ocupados de segunda a sexta, das
nove às seis da tarde, parece-me essencial que os horários funcionem a partir
desta hora e aproveitando integralmente o Sábado e o Domingo.
Mas nada disto se observa em Portugal.
Os comerciantes vêem-se obrigados governamentalmente, a proceder como simples
funcionários públicos que trabalham quando os outros trabalham e os obriga
muitas vezes, a não cumprir cabalmente as suas obrigações para se abastecerem
do essencial.
Mas nem só as lojas do comércio deviam ter em conta esta descentralização
de horário. O mesmo devia acontecer com repartições de Finanças, Câmaras
Municipais, serviços de Ministérios, serviços Médico-Sociais,
dando assim a quem trabalha a possibilidade de beneficiar mais à-vontade dos
serviços que, ao fim e ao cabo, vivem da sua bolsa.
Nunca é demais dizer isto embora saibamos perfeitamente que neste País é proibido
fazer inovações e melhoramentos.
Habituámo-nos a viver miseravelmente e mesmo que seja fácil parece que não
nos interessa sair do atoleiro.
OS POVOS DE TODO O MUNDO APROVEITAM OS SEUS GÉNIOS
Enquanto por toda a parte o acesso às universidades depende de provas de
aptidão e de mais nada, em Portugal é preciso determinado curriculum e
determinada idade para aí se entrar.
Os povos de todo o mundo aproveitam os seus génios seja qual for a sua idade
ou as circunstâncias em que os reconhecem.
Temos exemplos de crianças com dez anos que passaram todos os exames da Universidade
ultrapassando assim todos os obstáculos e vendo-se cedo com a possibilidade
de aproveitamento total das suas qualidades excepcionais.
Não foi Jesus ao templo embaraçar os doutores aos sete anos de idade?
Se o filho de Deus tivesse tido o azar de nascer em Portugal não o tinham
deixado entrar no Templo por falta de idade e, se o miúdo teimasse, tinha
levado uma valentíssima sova.
Este é o país de anões em que vivemos, onde as ideias de progresso e de renovação
chegam com séculos de atraso devido à tacanhez, ao medo e à cegueira de um
povo que vive mais da má-língua, da crítica e da inveja do que do trabalho
útil e do reconhecimento do valor do ser humano, tenha ele dez ou cem anos.
PORTUGAL ESTÁ DE FÉRIAS
Depois da guerra e para reconstruir o Japão e a Alemanha todo o cidadão,
sem olhar a idades nem posições, aceitou trabalhar 14 horas por dia e
dispensar-se de férias.
Esta política conseguiu reconstruir a Alemanha e o Japão em tempo recorde e
transformá-los em potências mundiais, superiormente administradas, que
ultrapassaram os países vencedores da guerra, eles que tinham sido os grandes
vencidos.
Os portugueses, amputados do Império Ultramarino, sofreram um traumatismo
mais violento do que a própria Alemanha e o Japão depois da guerra. Convinha-nos
pois, organizar a restauração de Portugal, corajosamente, como se fosse uma
acção pessoal de todos e de modo a que viéssemos a sofrer por pouco tempo
e o menos possível.
Não é assim que acontece, infelizmente.
Fazemos greves, temos baixas constantes, trabalhamos pouco. Por este motivo
o Governo vai-nos tirando sorrateiramente a carne, o peixe, o leite e o pão.
Muitos ministérios deste Governo não sabem como fazer produzir este país, não
sabem como resolver a crise nem como criar motivação e capacidade trabalho num
povo que só está à espera que os governantes os animem, os encoragem
e lhes facultem os meios para fazer de Portugal o País próspero por que todos
anseiam.
SITUAÇÃO DESESPERADA
Num país onde a taxa bancária é de 26% de lucro líquido
e a margem de negócio não atinge normalmente esse valor, não vale a pena falar
de investimento pelo menos a nível do negócio médio que é ao fim e ao cabo
o grande poder de emprego em Portugal.
Por outro lado é o próprio Governo que torna os empréstimos bancários
impraticáveis na área do trabalho honesto.
Ninguém sabe, na verdade, onde se quer chegar por este caminho quando se sobrecarregam
as pequenas, médias e grandes empresas com impostos e contribuições incomportáveis
para pagar as dívidas e para sanear a economia, destruindo a organização no
trabalho e tornando cada vez mais incapaz de chegar aos bens consumo.
Pelas nossas contas isto equivale a colocar a Nação num estado de pobreza que
nos coloca num após guerra da Europa.
Somos aparentemente um país pobre, sem Ultramar, sem indústria, sem
matérias-primas, e sem agricultura.
Por isso mesmo temos turistas e emigrantes que são os que não vivem cá.
Perante a situação desesperada em que nos encontramos até parece que somos
um País economicamente inviável e que estamos na contingência de fechar a
porta.
Nós acreditamos que o caso é somente de uma nova gerência inteligente e eficaz
para a casa Lusitana, mas se não formos capazes de o fazer, imitemos os nossos
reis que, em alturas de confusão e inépcia, ainda tinham o discernimento suficiente
para mandar vir do estrangeiro quem nos governasse com saber, inteligência
e cabeça fria.
O GRANDE MOTOR DA ECONOMIA MODERNA
Quando hoje se fala, em Portugal, da exploração do homem pelo homem todo
sabemos que isso não é verdade e o trabalhador que sente que nas circunstâncias
actuais tem de dar o máximo rendimento para daí vir a colher os seus
benefícios.
E de tal modo isto é assim que tanto empresários
como trabalhadores já há muito se aperceberam que o grande motor da economia
moderna reside, precisamente, na capacidade de compra dos trabalhadores.
Se pensarmos um pouco, todos nós compreendemos que a ninguém interessa
produzir automóveis, frigoríficos ou máquinas de lavar se o mercado que envolve
a produção não for capaz de as consumir rapidamente.
A economia moderna, longe de ver no trabalhador um mero fabricante, deseja
muni-lo de alto poder de compra para ele próprio
consumir grande parte do que produz e dar origem a novas produções.
Esta sociedade de consumo, que muitos criticam, é aquela que faz entrar na casa
dos pobres o frigorífico, o aspirador, a máquina de lavar, facilitando assim o
dia a dia da mulher, dona de casa e trabalhadora.
Não podemos, de modo algum, dividir miséria na miséria.
Por este motivo incitamos todos ao trabalho de maneira que o amanhã não seja
só uma esperança, mas a realidade que produz o conforto e o bem-estar.
Somos pela liberdade total da produção, pelo fomento do consumo, somos,
numa palavra, pela sociedade de abundância, onde cada um tem o direito, desde
que trabalhe, desde que não parasite, à sua quota parte
e à prosperidade da vida.
TODOS À ESPERA QUE A SORTE LHES CAIA DO CÉU
O clima, o sangue e o sonho que vive em cada português faz dele um idealista
inveterado, confundindo muitas vezes a realidade com a ficção, e por
Com a entrada de pleno direito na Comunidade Europeia temos de começar a
pensar menos nos casos da sorte e mais no como vamos resolver os nossos
problemas sem que para isso tenhamos de entrar em desespero.
Alguns dos estrangeiros mais inteligentes e mais bem instalados na vida, que
ao longo das minhas deambulações pelo Mundo tenho conhecido, todos são unânimes
em afirmar que os portugueses são muito preguiçosos de cabeça, que eles não
gostam de esforçar a máquina pensante com assuntos que apresentem alguma dificuldade
e que preferem imaginar como seria bom ganhar a lotaria,
o totoloto ou o totobola. Isto não é bem assim.
Nós, portugueses, não somos inferiores a nenhum povo
do mundo.
Já o demonstrámos e a prova mais evidente são os países descobertos,
povoados e civilizados e que viveram e se desenvolveram em fraterna harmonia
connosco.
Por que será então que, neste momento, começámos a lamentar-nos das dificuldades
que nos afligem e todos? Desde o Governo aos mais desprotegidos, todos recorrem
a estratagemas que não podem levar a bom porto, em vez de tirar da inteligência
as soluções mais capazes e mais eficazes para acudir não só à nossa sobrevivência
como aumentar a prosperidade de cada um sem ter de recorrer à degradante “esmolinha
por amor de Deus”, aos subsídios fraudulentos ou aos aumentos constantes de
impostos.
Temos, urgentemente, de confiar mais uns nos outros, temos de pensar nos negócios
que nos são propostos não como uma maneira de enganar o próximo ou de um lucro
imediato. Temos, em suma, de rentabilizar as nossas economias não as metendo
debaixo do colchão ou tendo-as inertes e improdutivas em qualquer outro lado.
O dinheiro é um bem social que tem de ser posto ao serviço de todos.
A prosperidade de um país e a felicidade dos nossos filhos constrói-se enquanto
vivos, se não o tivermos feito podemos ter a certeza
que a nossa vida não foi mais útil que a dos cães e dos gatos.
Ninguém deseja partir deste mundo com a consciência pesada, pois aqui, todos
sabemos, a vida são dois dias, mas do outro lado esperam-nos milhões de anos
de sofrimento ou de alegria eterna, segundo a vida que aqui levámos.
UM EXÉRCITO DE PAZ
A Guerra do Ultramar, terminada em
1974 terá sido, provavelmente, a última guerra do Exército português; deste
modo é indispensável reconverter uma máquina de guerra inútil num dispositivo
de paz que poderá constituir uma alta escola cívica de grande parte da juventude
portuguesa.
Hoje, está fora do modo a artilharia, a cavalaria e a Infantaria. Estas antiguidades
duram segundos após a chegada da bomba de neutrões.
Por tudo isto que vimos dizendo, não resta outro caminho ao Exército português
se não orientar a guerra para outros inimigos não menos destruidores como
sejam as calamidades públicas sempre tão carenciadas de auxílio.
Na verdade, a actividade dos Sapadores Bombeiros só poderá ter dimensão
nacional e verdadeira eficácia se for integrada no Exército.
Por outro lado os transportes de que depende essencialmente a economia de
um país não podem continuar sujeitos ao boicote de meia dúzia de irresponsáveis.
É pois preciso criar uma acção paralela militar que garanta ao país que nunca
será possível paralisá-lo como ultimamente se tem verificado.
A um exército interessado no bem-estar do povo português e que poderia servir
de exemplo a este mundo louco onde a corrida aos armamentos, à destruição
e à morte são muitíssimo maiores do que o combate à miséria e à degradação
do ser humano poderiam ser cometidos alguns serviços de saúde, sobretudo as
campanhas de vacinação, desinfestação de regiões, combate a epidemias, serviço
de correios, transporte de doentes, etc. etc. etc..
Aos responsáveis pelo nosso Exército aqui lhes fica o apelo para que a sua
reorganização se faça com inteligência, com segurança e sem precipitações,
de molde a ajudar este Povo Português tão sequioso da paz que tanto necessita
para iniciar com força e determinação um novo capítulo da história, onde todos
tenham o suficiente para viver com dignidade.
EMPRÉSTIMOS PARA MATAR
Se alguma coisa nos tem admirado nos últimos tempos é a ânsia com que os
nossos responsáveis políticos pedem e aceitam empréstimos vultuosos para comprar
armas e modernizar o Exército.
Nós, que já conquistámos o que tínhamos a conquistar e já perdemos o que tínhamos
a perder, não estamos de modo nenhum dependentes da maior ou menor força que
venha a ter o nosso Exército.
Parece que toda a gente está de acordo de que se hoje quiséssemos declarar
guerra aos Estados Unidos, à Inglaterra, à Rússia, à França ou à Espanha o
mundo responder-nos-ia com uma sonora gargalhada. E no entanto faltam-nos hospitais, fábricas, escolas, técnica agrícola.
É bom não esquecer que pagamos em dólares metade do comemos e que o
dinheiro empregue em armamento é um crime que não só lesa a Pátria como lesa
a humanidade.
Portugal tem de ser um país de Turismo, Paz e Amor, nunca um campo
armadilhado à entrada da Europa.
A ingenuidade dos nossos governantes ao aceitar empréstimos para armamento
é um acto muito grave e que deve ser repensado urgentemente para bem de
Portugal.
TENHAMOS A CORAGEM DE SERMOS OS PRIMEIROS A ACABAR COM O EXÉRCITO
Portugal abismou o mundo fazendo-se pioneiro da abolição da pena de morte
para os crimes políticos e para os crimes civis.
Justificar-se-á para todo o sempre e com a maior dignidade a Revolução do
25 de Abril se aproveitarmos a oportunidade para abolir pela primeira vez
um exército num país da Europa.
Enquanto os altos comandos militares e o Governo nos desejam ver promovidos
a guerreiros da NATO, bem apetrechados, e a extrema esquerda nos sonha pontas-de-lança do Pacto de Varsóvia, paremos, por momentos,
para reformular o nosso sistema de ataque à pobreza armando-nos com bons tractores,
com bons adubos, com boas estradas, com bons transportes e com boas fábricas,
marchando contra a miséria poderosamente.
Em vez de nos lamentarmos pela falta de armas sugerimos a venda imediata de
todo o armamento que possuímos, a reforma digna dos nossos militares sobejamente
condecorados, dedicando-nos depois ao bem-estar de cada cidadão que nasce
neste território seja qual for o local em que nasceu ou a categoria social
dos pais que o geraram.
Alimentar manhas falaciosas e militarices
impertinentes é impróprio da nossa geração.
Os militares alimentam a guerra, a guerra alimenta os militares.
Compete-nos destruir este infame imbróglio.
Um homem que mata outro, seja qual for o fato que envergue, é um assassino.
Cada vez há menos gente a aceitar esta loucura.
CONTINUAMOS 60 ANOS ATRASADOS
Consta que a Marinha portuguesa vai gastar o equivalente a duas vezes o orçamento
do Ministério da Educação e da Saúde a comprar nada mais, nada menos do que um
submarino.
Não explicam os valentes marinheiros se vão comprar submarinos atómicos ou
desses baratos que ninguém utiliza, mas que servem para enganar os países que
os compram e encher os bolsos aos países que os vendem e os teriam de enviar
para a sucata se não houvesse uns quantos países ingénuos, daqueles
considerados do terceiro mundo e que lhes falta de tudo, mas têm um submarino.
Ter dinheiro para comprar um submarino atómico também não acredito que tenhamos
e a crédito ninguém vende desses artigos que infelizmente nem servem para a
pesca submarina.
O Estado português acaba de comprar três fragatas que custaram ao contribuinte
140 milhões de contos. Fragatas que servem para nos proteger dos submarinos.
Devemos andar obcecados com a ideia dos ditos e, se por um lado queremos comprá-los,
por outro queremos afundá-los. Deve ser para ficarmos a dominar os mares por
baixo de água.
Este País é mesmo de espanto. Ninguém me tira da cabeça que os culpados
disto tudo foram espanhóis que nos ocuparam 60 anos e nos deram volta ao miolo.
Daí para cá nunca mais regulámos certo.
Agora que os exércitos começam a ficar fora a moda é que nós vamos gastar o
que temos e não temos num armamento que não serve para defender ninguém.
140 milhões de contos já foram por água abaixo.
Esperemos que fique por aqui a nossa vontade de ajudar os outros... a vender.
Temos escolas para abrir, estradas para pavimentar, hospitais para
construir e muita, muita falta de casas. Nós queremos acreditar no bom-senso
deste Governo.
À BABUGEM
Desde a fundação da nacionalidade que a Igreja pontificou em todos os actos
notáveis que neste reino se fizeram.
A Igreja alia à tremendíssima força espiritual que arrasta os seres pela fé,
a enorme força intelectual que domina tudo pela razão e pelo saber. Saber
e razão que se humilham e se engrandecem na maneira como se misturam no mundo.
Hoje em dia, com a dificuldade de emprego que há, quando qualquer licenciado
em Medicina, Direito, História, etc. se recusa a ocupar o lugar para onde
vai porque esse lugar é no interior do País, nós pensamos nos milhares e milhares
de sacerdotes, também eles licenciados, também eles de vasta cultura, que
sem um mínimo queixume iam paroquiar a aldeia ou o lugarejo mais inóspito
deste país e aí ficavam até apodrecer de velhos.
Esta humildade tornou a Igreja invulnerável aos ataques dos materialistas.
No entanto, a Igreja sofre nos princípios do século XIX o primeiro ataque
em Portugal com Joaquim António de Aguiar, o mata frades, o qual se aproveita
dos seus bens para serviço do Estado. Mais tarde, a República nascente, quando
a imaginação tinha acabado e o descrédito estava à vista, lança, de novo,
as mãos sobre os bens da Igreja e aí instala escolas e serviços públicos.
Desde então este País tem vivido à babugem e em vez de se construir, de se
edificar, de progredir continua a erguer a vida sobre
os escombros, sem ter coragem de fazer obra de raiz e ultrapassar, de uma
vez por todas, esta Europa que anda a passo de caracol e que, mesmo assim,
não conseguimos alcançar.
CADA UM SOFRE À SUA MANEIRA
A trilogia pai, aluno e professor toma importância capital nesta época.
Depois do 25 de Abril, no campo do ensino, ninguém acredita em ninguém.
Como consequência deste facto, os alunos são os grandes sacrificados. E a
confirmar isto basta dizer-lhes que em cinco turmas (100 alunos) do 10.º ano,
das quais sou professor, só nove alunos nunca reprovaram e uma grande parte já reprovou
duas e três vezes.
São todos burros? Não. São vítimas de toda esta balbúrdia legislativa que
muda constantemente de critério e de orientação.
Os professores, como são eles? Muitos São competentes e conscientes, outros
autênticos abortos de corpo e alma que vêem no aluno a maneira fácil de sublimar
todos os complexos, frustrações e pequenos ódios que vão recalcando em cada
dia que passa.
O professor, alguns professores, não se preocupam em saber se o aluno
necessita de ajudas, se o ano anterior foi mal dado e se devem fazer uma
recuperação antes de iniciar nova matéria. Não senhor. O professor empertiga-se
nas suas “sete tamanquinhas” e diz: - “O meu programa
é este, tenho de o dar e tanto me faz que o aluno tenha bases ou não, que reprove
ou passe, o que eu não quero é responsabilidades”.
Triste País este, onde toda a gente teme assumir responsabilidades e dizer
NÃO a uma orientação flutuante. Na verdade, só procede assim quem não sabe,
ou quem é mal formado.
Segundo o Professor Vítor Crespo “o sistema educativo é, no que se refere
ao ensino básico e secundário, uma gigantesca experiência pedagógica”, deste
modo, acrescento eu, o melhor método a aplicar para que o aluno tire o máximo
rendimento tem de ser o professor a decidir, de maneira a não se aproximar
da marca escandalosa de 90 a 100 por cento de reprovações. A média é de 40%.
Na Europa evoluída, o máximo de reprovações não atinge os 5 por cento.
A finalizar, uma palavra sobre os pais. Acusam-nos de não apoiar os filhos
no estudo. Apoiar como? Alguns não sabem, outros não podem e outros não têm
tempo.
Os pais não têm que apoiar ou deixar de apoiar os filhos, o professor
esse sim, tem de saber motivar os alunos na matéria dada e no gosto de aprender
a descobrir um mundo novo, cheio de surpresas aliciantes e, tanto mais agradável,
quando mais culto se é, e quanto mais se sabe.
A MODA É AQUILO QUE NOS FICA BEM
Obrigado por dever de paternidade a vestir e a calçar a gente jovem, medito nas várias
questões que se põem à geração dos educadores de hoje perante as propostas que
a moda faz a adultos e a adolescentes.
Tomemos por agora o caso dos adolescentes e os hábitos dos nossos dias do vestir
e do calçar.
Quem assistir à saída dos alunos de uma das nossas escolas secundárias terá
grande dificuldade em distinguir o seu filho ou filha porque vê sair pelos
portões centenas de jovens com os mesmos penteados, os mesmos fatos estapafúrdios
e as mesmas incríveis botas.
Instantaneamente se conclui que para serem originais, vestem hoje um
uniforme de um exército cujos generais costuram em Paris ou em Londres e
exploram a papalvice de uma geração de jovens apressados.
Já não é só o dinheiro que custa, mas é também e sobretudo o abdicar do gosto
próprio, o de pensar pela que pela própria cabeça, de usar e utilizar o que
dá prazer, mesmo que não seja o que os outros usam.
A juventude de um país que copia fielmente a moda que vem de fora perdeu no
que é essencial a sua independência pessoal e nacional.
Longe de nós de ver rapazes e raparigas deste País vestidos à moda do Minho
ou à moda do Ribatejo!
Gostávamos mais de vê-los vestidos à moda de cada um, pensando pela própria
cabeça tanto física como espiritualmente.
Isto para não falar na escravatura cultural e que se exerce sobre os nossos
jovens, ao impor-lhes textos e ritmos que nada têm a ver com o seu dia-a-dia.
São estas almas dirigidas no que vestem, no que ouvem, no pensam que podem
cair em abismos como o da droga.
É bom que ninguém esqueça, que é desta massa que
se talharão os governantes deste País e, em que depositamos a nossa esperança.
AO SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO E UNIVERSIDADES PROPONHO UM QUARTO PERÍODO
ESCOLAR
O drama, o verdadeiro drama da nossa gente é morar
numa Europa que apostou na cultura e na instrução há cem anos, enquanto nós
apostámos na preguiça e na emigração.
Em suma, somos um povo impreparado para habitar
na Europa neste final do século XX em que é preciso, não só, saber ler, escrever
e contar, mas ir muito mais longe competindo com gerações de comerciantes
formados em óptimas escolas politécnicas e onde a indústria especializa os
seus operários como nós somos capazes de fazer ainda aos nossos engenheiros.
É evidente que não podemos pensar em manter as escolas
que temos que só sabem ensinar os privilegiados os quais até aprenderiam mesmo
sem escola.
Aos alunos com dificuldades espera-os muito comodamente a reprovação.
É no sentido de evitar que isso aconteça que chamamos daqui a atenção ao senhor
Ministro da Educação e Universidades.
Tem Vossa Excelência um método muito simples e eficaz para reduzir drasticamente
o Insucesso Escolar, causa de atraso deste país e verdadeiro culpado dos males
que nos têm afligido durante todos os tempos.
Mande Vossa Excelência continuar o Ano Escolar normalmente até 15 de
Setembro obrigando à permanência, neste quarto período, os atrasados com vista
à recuperação de grande parte deles e verá que dentro de poucos anos Portugal
descobrirá alunos muito mais aplicados, professores mais diligentes e muito mais
rentabilidade no campo Preparatório e Secundário.
Explicando melhor, acabam as aulas em 5 de Junho para os alunos que trabalharam
e aproveitaram, e continuariam na Escola aqueles que, neste momento, não teriam
sucesso até ao momento em que os professores os considerassem aptos, ou seja,
até 5 de Julho, até 5 de Agosto e até 15 de Setembro para os mais difíceis.
Estes, se mesmo assim não obtivessem aprovação repetiriam o ano.
Os edifícios escolares continuam nos mesmos locais e os professores e os empregados
estão pagos... por tal motivo, esta prática não custa ao Estado mais do que
a água, a luz e os paus de giz.
Temos de convir, senhor Ministro, que esta atitude é um acto de coragem e
de imaginação galopante que mudaria radicalmente este País, e reduziria o
insucesso escolar a 2 ou 3 por cento enquanto hoje se assiste a reprovações na
base de 30 a 40 por cento média anual.
Diga lá senhor Ministro e digam lá os meus prezados leitores se não valia a
pena prepararmos, para o futuro próximo, um País com gente capaz no comércio,
na indústria, na agricultura e nos serviços?
Pelo facto de se ser funcionário da limpeza, jardineiro ou cavador
não se pode julgar que essas acções e essas profissões só servem para gente
boçal e ignorante.
O pedreiro e o servente de pedreiro serão tanto melhores como profissionais
e tanto mais felizes como pessoas quanto mais cultos forem, o mesmo acontecendo
às donas de casa e às empregadas domésticas.
Isto que vimos dizendo tem de ser a tendência de um país que se pretende na
Europa e que tem verdadeiro respeito pelos cidadãos que o integram.
O que fica dito, quer queiram quer não, é importante e é verdade.
É preciso ter coragem para o pôr em prática? Pois é. Mas é para isso que serve
o Governo e muito especialmente o ministro da Educação.
LÍNGUA PORTUGUESA
Não é por mera questão patriótica que se defende a instituição do português
como língua de interesse universal presente entre as que nos organismos oficiais
vêm sendo obrigatórias e traduzidas simultaneamente em todas as cerimónias
oficiais.
Na verdade, continuamos a ser um pequeno País de dez milhões de habitantes,
mas tivemos a rara habilidade de conseguir que a língua portuguesa seja hoje
a língua mãe de 150 milhões de homens, mulheres e crianças espalhadas por
todo mundo.
Perante este número, na verdade fabuloso, convém acrescentar ainda que para
além disso o Povo Português se encontra hoje em pontos nevrálgicos do mundo!
Domina o Atlântico com o triângulo Angola, Brasil, Portugal para não falar
em Guiné, Cabo Verde, Madeira e Açores. Do outro lado de África, Moçambique e Goa
fazem com Timor a nova triangulação onde falar português é indispensável.
Macau, apesar das suas reduzidas dimensões é hoje um ponto fabuloso de
Comércio, mesmo superior a Hong-Kong embora este último seja mais falado no
mundo dos negócios.
É de notar também que o Brasil, Angola e Moçambique serão dentro de 50 anos
três futuras super-potências cujo símbolo esconde a maior quantidade de matérias-primas
vitais para a sobrevivência da humanidade.
Portugal deverá contribuir e
fomentar a utilização da língua portuguesa.
Afinal tão pouco pedimos aos homens da actualidade, dado que os nossos antepassados
tudo ou quase tudo deixaram feito ao “repartir pelo mundo em pedaços a alma
portuguesa”.
Saibamos ser dignos do passado glorioso até porque poderemos tirar largos
proveitos de uma acção eficaz e universal em prol da língua portuguesa.
OS CIGANOS
Sem problemas de crise económica, nem de habitação, nem de ensino, os ciganos
vivem há séculos à margem da nossa civilização e da nossa cultura desdenhando
da importância que damos às coisas e ensinando, pela prática, uma vida mais
simples e mais de acordo com a natureza.
É certo que, de tempos a tempos, abusam da nossa ingenuidade vendendo-nos
um burro lazarento ou guerrilhando a nossa economia com assaltos
insignificantes que nunca os fizeram ricos, nem pobres os roubados: roubam
galinhas armados de manha, mas não assaltam bancos armados de G3.
Uma carroça e um pano de tendal evita-lhes o Ministério da habitação, o pesadelo das cooperativas
e o horror da construção civil, política e religiosa.
Chateados com o ambiente, mudam-se carroçando as estradas lentamente como quem bebe de cada
lado, paisagem que lhe pertence.
Casam-se e morrem bebendo o mesmo e cantando o mesmo.
Para eles nem comunismos, nem fascismos, nem idealismos. Atravessam
fronteiras rindo-se de leis e demarcações, ignorando ódios ou amizades do
Governo de cá e do Governo de lá.
Os ciganos têm de facto, muito a invejar num mundo dividido e corrompido
pela mesquinhez do interesse material, pelo ódio, pela maldade e pelo desamor.
Para ti, irmão cigano, homem livre num mundo agrilhoado, vai a minha simpatia.
FELIZ ERA CRISTO
O que se passa em Portugal é uma crise profunda de qualidade de trabalho.
De facto não basta trabalhar, é preciso trabalhar bem.
Melhor que a quantidade é a qualidade do que se faz.
Melhor que a escravatura é a organização.
Melhor que o incentivo é a inteligência laboral.
Na verdade vivemos relativamente pouco tempo e, normalmente, não é pela posse
de múltiplos bens que chegamos à felicidade.
Vale a pena entender vida.
A divisão entre patronato e trabalhadores é uma estupidez total que mutila horrorosamente
o ser humano, todos nós diferentes, pessoalíssimos, desiguais, todos temos
afinal uma carreira na vida que nem sequer se justifica a não ser pelo bem que
fizermos, pela alegria que tivermos e pela felicidade que desfrutarmos.
Tenho amigos que possuem tudo e mais alguma coisa, das que normalmente se
julgam indispensáveis para se ser feliz e, no entanto, não o são.
Por outro lado conheço gente sem eira nem beira, feliz como os ratos.
Feliz era Cristo que morreu sem conta no Banco e nos deixou a maior herança
de todos os tempos.
INTERVENÇÕES PARLAMENTARES
O JULGAMENTO
I PARTE
Senhores deputados: Temos na mesa um
ofício do Tribunal da comarca de Tomar. Trata-se
de saber se deve ou não ser suspenso das suas funções de Deputado,
para efeito de seguimento de processo correccional que pende naquela comarca,
o Sr. José Cunha Simões, acusado de delitos de liberdade de Imprensa.
Como os senhores deputados sabem, de harmonia com o art.º
9, nº 3, e alínea b)” do art.º
65 do Regimento, tem de recair sobre esta decisão uma votação por escrutínio
secreto. Já está preparada a urna e já estão distribuídos os papéis pelas
bancadas. Trata-se, pois de saber se a Assembleia entende, sim ou não, que
o Sr. Deputado deve ser suspenso das suas funções para o prosseguimento do
respectivo processo correccional.
Quer o senhor deputado Cunha Simões dizer alguma coisa sobre este problema?
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Senhor presidente, Srs. Deputados: quero vincar
bem que é muito desagradável para quem escreve, escrever a medo. Já há muitos
anos que escrevo e tenho-o feito sempre com a consciência tranquila de que
estou a servir o meu País. Tenho dezenas de artigos publicados e tenho cinco
livros também publicados. Qualquer deles pode ser consultado por quem queira
ver a matéria que versam.
A democracia constrói-se em liberdade e nunca qualquer espécie de coacção
contribuiu para a evolução do ser humano. Não podemos
aceitar chefes carismáticos, queremos, sim chefes humanos sujeitos a crítica.
O meu artigo, que se intitula “atrás dos militares”, é precisamente uma crítica,
que eu considerei honesta, para chamar a atenção dos militares para a situação
em que o País estava. Não o fiz para os denegrir ou com malévola intenção,
fi-lo sim, para que este País reencontre a paz e a tranquilidade de que tanto
necessita. Está claro que esta é minha posição. No entanto, é evidente que
compete à Assembleia decidir sobre este assunto e não quero de modo algum
influenciá-la. Trata-se, aliás, de uma questão de opinião, justamente do tipo
daquelas que os deputados se devem considerar imunes, segundo o número um
do art.º 160 da Constituição.
Por isso, Sr. Presidente e srs. Deputados, estou à vossa disposição para aquilo que decidirem.
O Sr. presidente: - Como os Srs. deputados bem entenderam, trata-se
simplesmente de, no quadrado do papel que lhes for entregue, escreverem “sim”
ou “não ”.
Pausa
O senhor deputado Vital Moreira pediu palavra?
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Presidente: era apenas para pedir alguns
esclarecimentos ao Sr. Deputado do CDS.
O Sr presidente: - Tenha a bondade.
O Sr. Vital Moreira (PCP): Em primeiro lugar, queria saber em que data e em
que jornal foi publicado o artigo objecto de incriminação. Em segundo lugar, gostava
de saber quem é o autor do procedimento criminal. Por último desejava saber
qual é o motivo da incriminação.
O Sr. presidente: - Tem palavra o Sr. Deputado António Arnaut.
É com certeza um pedido de esclarecimento, não é verdade?
O Sr. António Arnaut (PS): - Não, Sr. presidente. Trata-se de um requerimento
que eu queria fazer em nome do Grupo Parlamentar do Partido socialista.
O Sr. Presidente: – Tem V. Excia. a palavra para apresentar o requerimento.
O Sr. António Arnaut (PS): Consideramos que esta matéria é complexa e melindrosa.
Não temos conhecimento do texto que fundamenta a acusação e gostaríamos de
ponderar nitidamente sobre este problema, como resulta da sua natureza, visto
que está envolvido um Deputado, um colega nosso, por isso requeríamos que
esta matéria fosse apenas votada na sessão de amanhã.
O Sr. presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Vital Moreira.
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Senhor presidente: Sem me opor certamente à
votação do requerimento e como tinha feito anteriormente pedidos de esclarecimento,
proporia que o Sr. Deputado a quem pedi os esclarecimentos pudesse responder
antes de votarmos o requerimento.
O Sr. presidente: - Não quer antes aguardar para amanhã, no caso de o
requerimento ser aprovado?
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Creio que uma coisa não prejudica a outra e,
mesmo com o adiamento, o requerimento pode ser reforçado ou não, de acordo
com os esclarecimentos que ouvirmos aqui.
O Sr. presidente: - Pois muito bem. O Sr. Deputado Cunha Simões fará o
favor de esclarecer.
O senhor Cunha Simões (CDS): - O artigo intitula-se “atrás dos militares” e
saiu no jornal o Templário.
Vozes do PCP – Ah!
O orador: - A data é de 20 Fevereiro de 1976. O autor do procedimento
criminal foi o ministro da Comunicação Social.
Quero no entanto a acrescentar que, antes desta data, eu tinha sido Director
deste jornal, onde publiquei artigos bastante mais contundentes, chamando
a atenção para a crise que o País estava a atravessar. Quero mesmo lembrar
que quando todas as publicações deram cobertura às afirmações de um Sr. Major
que disse que os fuzilamentos na Guiné não se tinham processado, eu, no mesmo
jornal, no artigo de Fundo advertia as pessoas sobre esses fuzilamentos e
outros assuntos que me pareciam de interesse.
O Sr. presidente: - O Sr. Deputado António Arnaut pediu palavra?
O Sr. António Arnaut (PS): - Era para perguntar ao Sr. Deputado do CDS se
era possível facultar-nos o texto do artigo em causa, ainda que a título
particular, dada a dificuldade que pode existir na consulta desse jornal.
O senhor Cunha Simões (CDS): Sem dúvida.
O Sr. Presidente: Sr. Deputado António Arnaut, eu estava
a pensar exactamente na necessidade de tirar fotocópias para serem entregues
aos diversos grupos parlamentares, na hipótese de o requerimento ser aprovado,
claro está.
Pausa.
Está em votação o requerimento do senhor deputado António Arnaut.
Submetida à votação, foi aprovado por unanimidade.
O Sr. Presidente: Tem a palavra o senhor deputado Barbosa de Melo.
O Sr. Barbosa de Melo (PPD): - Senhor presidente, Srs. Deputados: era para
fazer uma breve declaração de voto.
Entende o Grupo Parlamentar do partido Popular Democrático que esta matéria
não pode ser objecto de um julgamento por parte Assembleia. Estamos perante
o exercício de uma liberdade fundamental. Um dos nossos pares emitiu uma opinião
e não é através do exame do conteúdo daquilo que ele escreveu, não é pelo
julgamento objectivo daquilo que escreveu, que, no nosso entender, a Câmara
se deve orientar para conceder autorização para o prosseguimento do processo
criminal.
Vozes do PPD: Muito bem!
O orador: - Em todo o caso, nós votámos pelo adiamento da votação para amanhã
para que todos possam reflectir serenamente e chegar a uma decisão que prestigie
seguramente os interesses da Câmara.
Velozes do PPD: - Muito bem!
O Sr. Vital Moreira (PCP): Peço a palavra.
O Sr. Presidente: - Já concedo a palavra ao Sr. Deputado Vital Moreira, mas, até
para meu esclarecimento, parece-me que o Sr. Deputado Barbosa de Melo não
trata do problema de prosseguir ou não o procedimento criminal. O que diz
o n.º 3 do art.º 9 do regimento é o seguinte: “movido
o procedimento criminal contra algum deputado e indicado este por despacho
de pronúncia ou equivalente, fora do caso previsto no número anterior (que
é o caso de crime punível com pena maior), a Assembleia decidirá se o deputado
deve ou não ser suspenso para efeito de seguimento do processo.” É a suspensão
simplesmente do deputado. Acertei?
O Sr. Barbosa de Melo (PPD): - O resultado é o mesmo, Sr. presidente.
O senhor Presidente: Salvo o devido respeito, não me parecia o mesmo, por
que parecia que a Assembleia se iria pronunciar sobre o prosseguimento ou
não da pronúncia, o que não é esse caso.
Mas a coisa está solucionada.
Tem a palavra o senhor Deputado Vital Moreira.
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Deputados: é para uma brevíssima
declaração de voto.
Votámos favoravelmente o adiamento da votação sobre a suspensão ou não suspensão
do deputado em referência porque, segundo o Regimento, compete à Assembleia
deliberar ou decidir, como diz o artigo 9º. No entanto, a Assembleia
para decidir tem de ter elementos que a isso a habilitem. A Assembleia não
decide em branco. Entendemos, pois, porque carecíamos de alguns elementos que podem ser relevantes
para efeitos da nossa decisão, que era necessário estabelecer pelo menos este
prazo de um dia para podermos julgar em consciência sobre a questão da suspensão
ou não do Sr. Deputado.
O Sr. presidente: Mais alguma declaração de voto?
Tem a palavra o Sr. Deputado António Arnaut.
O Sr. António Arnaut (PS): - Apresentámos o requerimento, e votámos naturalmente
em seu favor, não só pelas expressões regimentais, mas também pela razões que acabam de ser aduzidas pelo Sr. deputado Vital
Moreira, o que, com a devida vénia, fazemos nossas, e ainda tendo em atenção
o disposto no art.º 160, nº 2 do Regimento que neste
momento rege.
O Sr. Presidente: - Vão então ser entregues aos Grupos Parlamentares fotocópias
do despacho de pronúncia.
O JULGAMENTO
II PARTE
O Sr. Presidente: - Senhores deputados: vamo-nos preparar para votar, em escrutínio
secreto, o problema, que já ontem foi posto e que foi transferido para hoje,
do nosso colega Deputado José Cunha Simões. Como é um problema original para
alguns dos Srs. deputados, embora no ano passado
tivéssemos tido um problema semelhante, está pronta a urna para a votação,
pelo que vai proceder-se à chamada. Os Srs. deputados têm, cada um, um quadradinho
de papel para a votação. Se entendermos que o Sr. Deputado deve ser suspenso
escrevam “sim”; se entenderem que o Sr. deputado não deve ser suspenso escrevem
“não”;
Não há nenhum pedido de esclarecimento nem nenhum problema prévio antes da
votação?
Pausa
Sr. António Arnaut(PS): - Peço desculpa Sr.
presidente. Por minha desatenção e certamente só por isso não compreendemos
como vai ser o sentido da votação. “Sim” quer dizer suspenso e “não”, não
suspensão, é assim?
O Sr Presidente: - Com certeza. Não pode ser de outra forma.
Sr. António Arnaut (PS): Muito obrigado. Eu não tinha ouvido a explicação.
Procedeu-se à votação.
O Sr. Presidente: - Peço aos Srs. Deputados Moura Guedes e Lucas Pires o favor
de servirem de escrutinadores.
Procedeu-se ao escrutínio.
O Sr Presidente: Senhores Deputados: o resultado
da votação foi o seguinte: 220 votos na urna, dos quais quatro são brancos, 85
São pelo sim à suspensão e 131 pelo não.
Será comunicado ao Tribunal da Comarca de Tomar o resultado.
O Senhor Presidente: Tem a palavra o senhor Deputado Cunha Simões para uma
intervenção.
A INGENUIDADE REVOLUCIONÁRIA
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente, Srs
deputados: a Revolução de Abril, mau grado as múltiplas contradições que a
foram acompanhando desde as primeiras horas da sua madrugada, parece ter mantido
sem contradita a justa intenção de proteger as camadas populacionais, até
então votadas ao abandono e francamente carecidas de uma renovação de mentalidades
e formas de acção que tornasse possível à maioria do povo português viver
com dignidade o seu dia a dia. Da extrema-esquerda mais recôndita diariamente chegavam as mensagens de protecção e segurança
aos desvalidos, dando sempre a entender que no dia seguinte se começaria a
cruzada para pôr termo a toda a injustiça social.
Aos revolucionários da primeira hora foram sucedendo os gestores públicos
de acentuado pendor esquerdista, que mantiveram a campanha verbal e a
transmitiram há actual administração socialista, que, por sua vez, a fará a
transitar em branco para quem direito.
Uma voz do PS: - Para o CDS.
O orador: Pode
muito bem ser para o CDS, que o CDS dará resposta como deve ser.
Entretanto os camponeses pobres estão mais pobres...
Uma voz do PS: E tu mais rico!
O Sr presidente: Srs deputados: Pedia o favor de
não interromper o orador. É certo que são admitidos apartes, mas tenho algumas
dúvidas sobre se essas intervenções são apartes.
O orador: -... os reformados mais mendigos e, como
se tudo isto não bastasse, uma multidão de refugiados encontra-se por esse
país fora, assinalando em cada vila e em cada aldeia as tragédias que acompanharam
a descolonização. Quando a ingenuidade revolucionária acabou com ricos em
Portugal...
Uma voz do PS: - Quem diria?
Risos do PS e do PCP.
O orador: - ... talvez
ninguém pensasse que seriam de novo as camadas mais desprotegidas da população
a pagar com o sustento, a saúde e a pouca segurança que sempre tiveram, a
ignorância de uns tantos e a cobardia criminosa de muitos mais.
A reforma agrária, circunscrita a uma parte do país, discutível nas suas linhas
gerais e hesitante no seu processo, ignora que Portugal
agrícola não é o Alentejo e que não é possível exportar, porque país nenhum,
até hoje, se dedicou à importação de boatos; entretanto, as dezenas de milhares
de assalariados rurais que trabalham de sol a sol, para atingir a gloriosa
reforma de 500 paus por mês (como diria o popular Vasco Gonçalves)...
O Sr. Carlos Candal (PS): - Não fale calão, que lhe fica mal.
Risos
O Sr presidente:- Sr Deputado Cunha Simões tenho de interromper para informá-lo
que terminou o seu tempo. Assim, deve concluir de imediato para não prejudicar
o orador seguinte.
O orador: Lamento ter tão pouco tempo.
O Sr. Aboim Inglês PCP): - Mas tem o Templário.
O orador: No entanto, queria dizer-lhes que houve um período passado onde,
com muito menos gente e com muito menos recursos, se fizeram os Descobrimentos.
Simplesmente, essa gente era outra e os pouco recursos
eram aproveitados. Enquanto nesta assembleia só ouço gargalhadas, o Povo Português
continua a pagar aquilo de que os Srs. deputados não são capazes.
Vozes do CDS: Muito bem
Vozes de protesto.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões
OS SAQUES DE LISBOA SOBRE A PROVINCIA
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Senhor presidente, Srs. Deputados: Agora que tanto
se fala em regionalismo, convinha antes de mais, aprender a respeitar o património
de cada região, acabando de vez e para sempre com os saques de Lisboa
sobre a província, que vão desde a cultura à agricultura
Tomar é neste aspecto uma cidade mártir. Na verdade, desde sempre os seus imensos tesouros de Arte foram espólio às ordens dos museus da capital do país. O que se salvou do saque e da ignorância pode dizer-se que se encontra hoje no Museu de Arte Antiga, na Sé de Lisboa e noutros armazéns nacionais de arte.
Quadros de Gregório Lopes e toda a prata e ouro que nos resta do Convento
de Cristo estão
hoje nos museus e nas sacristias de Lisboa
O Sr. Manuel Gusmão (PCP) Ai, malandro!
O orador: Há mesmo quem afirme que os painéis de São Vicente foram feitos
para a Charola.
A livraria dos padres e os riquíssimos arquivos do convento de São Francisco
abandonaram há muito a cidade e nunca mais voltaram
Mesmo dentro da cidade e naquilo que não é possível transportar para
Lisboa se tem teimado por ocupações despropositadas e devastadoras:
o Convento de Cristo, que poderia ser um centro turístico de primeira grandeza
é quartel, é seminário, é albergue
de retornados.
A improvisação tem de acabar. A arquitectura portuguesa, religiosa ou não,
está gravemente ameaçada pelo desinteresse, pelo desrespeito, pela
falta de verbas para restauro e salvaguarda do que devia ser orgulho de um
povo.
Tomar, sede da Região Militar, viu extinguir
o quartel-general sem a mínima justificação e sem o mais leve interesse. E,
por mais incrível que pareça, o edifício onde
estava instalado esse mesmo Quartel-General arde pouco depois, ardendo com
ele muito livro e muito papel que muito histórias interessantes nos poderiam
contar! Até hoje, e embora a falta de edifícios seja evidente, o antigo Palácio
ainda não foi reparado.
O Instituto politécnico de Tomar, criado por decreto e justificadíssimo
pelos interesses locais nele envolvídos, nunca chegou
a abrir as suas portas.
A zona industrial que todos os planos apontavam para a região de Tomar,
Abrantes e Torres Novas não passou do papel.
Ameaçam agora extinguir a agência do Banco de Portugal, uma das
agências de maior movimento de todo o país.
A Casa bancária Mendes Godinho e filhos, fundada em 1917ou 1918 e canalizadora
das poupanças regionais e dos depósitos dos emigrantes da região, foi
extinta e integrada num Banco comercial. Enfim!...
A emigração roubou e continua a roubar milhares de braços que não encontram
resposta no mercado de trabalho local.
As aldeias vizinhas estão despovoadas,
as casas em ruínas, os caminhos
desertos, dos 90 mil contos...
Risos.
O orador:-. Na verdade, as gargalhadas, já outro dia me referi a elas, são o sintoma deste país, que gargalha muito, mas que
pensa pouco.
Dos 90 mil contos arrecadados anualmente pelo Fisco só 5 por cento são aplicados directamente nesta região, revertendo
o resto em favor da rebaldaria política com sede
em Lisboa e onde os Srs. deputados continuam a rir, o que é muito grave.
Uma voz do PS: Ah!Ah!Ah!
O orador: Ria, Sr. Deputado, que irá longe.
Esta é bem a imagem do regionalismo possível em Portugal e da descentralização:
mandem-nos o vosso dinheiro e resolvam vocês os vossos problemas, é
e foi sempre esta a palavra de ordem do Governo de Lisboa.
Descentraliza-se para resolver as questões, mas não se deixa descentralizar
quando toca a receber
A iniciativa privada viu anular por completo as suas possibilidades de actuação, especialmente coartadas por um conjunto de funcionários públicos incapaz de responder numa linha comercial que já não é a sua.
Infelizmente, esta perda não foi só de Tomar, mas de todo o País. E
é triste constatar que o homem português desconhece ainda a região
em que vive, desconhece as riquezas artísticas e culturais que tem muitas
vezes a dois passos da casa onde mora.
O Sr. Lino Lima (PCP):- Gostam de Turismo!.
O orador: Tem razão. Os turistas que procuravam a
região aos milhares debandaram como por encanto nos dois últimos
Sr. Presidente, Srs. Deputados : O espírito regionalista e descentralizador
é incompatível com a pilhagem e com o reflexo das asneiras e de incompetência
que descaradamente se passeiam por esta Lisboa.
Não basta dizer que Lisboa governa! É preciso governar de facto,
tratando a província em pé de igualdade, e respeitando e amparando os seus
valores humanos, artísticos e culturais!
O senhor presidente: - Tem a palavra o senhor Deputado Cunha Simões
CARÊNCIAS DA BEIRA BAIXA
O Sr. Cunha Simões (CDS): - A Beira Baixa, como quase todo o Norte do país,
é uma região agrícolamente estagnada onde o progresso quase não
chegou. O que se fez está feito há séculos, o que está por fazer não
parece ao alcance de quem consome energias em discursos numa organização pública
verdadeiramente desmotivada e incapaz.
Se agrícolamente a Beira Baixa é paradigma de desilusão, o que se poderá dizer
da despromoção e esmagamento de centros tradicionalmente industriais como
desde sempre foi a cidade da Covilhã, hoje à beira de uma falência generalizada
que lançará no desemprego milhares de trabalhadores? Já nem se fala dos prometidos
novos postos trabalho. Já ninguém quer que se tente fixar os beirões, obrigados
a buscar o sustento em terra estrangeira, mais não se deseja que conservar
o pouco que havia em condições de trabalho digno para aqueles que se fixaram
nesta região e vêem de todos os lados soçobrar a angariação indispensável
para uma vida decente.
Como é evidente, os Governos dizem que ainda não houve tempo para fazer
mais. Por nossa parte parece-nos que teria, pelo menos, havido tempo de fazer
alguma coisa e nem isso foi feito
A habitação é para a Beira Baixa um motivo de sérias preocupações:
não há esgotos, não há distribuição domiciliária de água,
a distribuição eléctrica é insuficiente.
A nível rural, a habitação é não só primitiva como destituída de todas
as condições sanitárias e provoca doenças endémicas, regionalmente recrutadas
como não se conhece exemplo em parte nenhuma da Europa.
A escola é ainda, em muitos casos, um local a atingir depois de longa caminhada,
muitas vezes por cima de neve e com lobos soprando-lhes às botas.
A obrigatoriedade do ensino, a partir dos seis anos de idade, em parte nenhuma
do mundo levará em linha de conta tão difícil situação.
Para que se acentue a inabitabilidade total basta olhar para uma rede de estradas ainda mais desactualizada do que as desactualizadas estradas do resto do País.
Falta dizer que a Beira Baixa começa na Estrela, que é apontada como o primeiro grande centro de turismo português do passado e um dos locais mais belos e mais saudáveis do mundo. Extremamente dotada para a prática de um Turismo de Verão e de Inverno, a Serra da Estrela só pode lamentar-se de ter nascido em Portugal fora da Região de Lisboa.
A serra, agrícolamente desperdiçada, socialmente perdida, não encontrou
ainda quem fosse capaz de a programar turísticamente, transformando-a num
centro de Turismo ao nível do Algarve, da Madeira ou da Costa do sol
Nao basta chamar pelo poder local e pela descentralização.
Pedir ao poder local para resolver problemas a este nível, localmente, é de quem não pretende fazer nada que não seja rir-se de quem se esforça por resolver os problemas da sua região.
A Serra da Estrela é um projecto que ultrapassou sempre os próprios
serviços nacionais de Turismo e continua a ser impensável resolver a questão
a nível de Câmara Municipal. De menor envergadura, mas de máxima utilidade,
seria a instalação urgente de unidades hoteleiras adequadas à região
que não só pudessem servir o turismo, mas que fundamentalmente tornassem
possível instalar operadores estranhos à região que a ela viessem para
trabalhar por mais ou menos tempo.
Sem instalações condignas torna-se impossível programar qualquer actividade
para uma região desde que seja necessário fazer deslocar e instalar
forasteiros. É mesmo esta uma das razões
apresentadas (e talvez a única razoável) pelos políticos, pelos técnicos e
pelos políticos técnicos que permanecem em Lisboa durante 365 dias.
Sabemos que regiões desta natureza nunca tiveram um Plano Director que visasse a reorganização do território e a obtenção de núcleos populacionais médios de capacidade suficiente para justificar investimentos viários, sanitários, rede escolar, etc.
A correcção do tipo de povoamento da Beira Baixa é há muitos anos urgente
e várias vezes vem sendo tentada a nível demasiadamente amadorístico
e hesitante. É tempo de a Beira Baixa sair da apatia em que se encontra
mergulhada. Ao Governo se requer prioridade para os assuntos desta região.
O senhor presidente: - Tem palavra, para uma intervenção, o senhor Deputado
Cunha Simões
A CASA DOS PATUDOS
O Sr. Cunha Simões (CDS).- Sr.
Presidente, Srs. Deputados. No coração do
Ribatejo um grande português e um grande democrata deixou no povo, a eternizar
a sua memória, e o seu amor à terra, uma obra que engrandece dia a dia.
A Casa dos Patudos, museu herdado de José Relvas, é na verdade uma pedra preciosa que de muitos anos antecede em todo mundo as fundações e as casas de cultura que depois se vulgarizaram.
Como tudo em Portugal que diz respeito à arte, a Casa dos Patudos, que poderia
e deveria estar continuamente superlotada de visitantes, acaba por servir
escassa centena de curiosos que por uma outra razão estão mais virados para
as coisas do espírito.
Carinhosamente e exemplarmente administrada, a Fundação José Relvas
é um exemplo de Instituição ao serviço do povo, feita por um homem
de larguíssima visão, que fez da vida um sacrifício constante em defesa
dos Direitos do homem e das liberdades fundamentais.
Apesar de tudo o que foi e o que fez, não seria hoje, em vozes acacianas,
mais do que um miserável latifúndiário e um ignóbil explorador do povo trabalhador
Na província do Ribatejo, que tem, neste momento, cerca de 500 mil habitantes
e 6689 km2 de superfície, o Museu dos Patudos é o único que merece o nome,
dado que em mais lado nenhum do Ribatejo há núcleos museológicos bem
organizados e abertos ao público, como devia ser de toda a obrigação numa
província que foi cenário e ouviu de muito perto toda a acção Histórica de
Portugal
Como é evidente, para que o Museu de Arte Antiga tenha em armazém cerca de 40.000 peças de arte, não é possível que na província sobrem as necessárias para núcleos museológicos visitáveis e dignos de interesse.
Na verdade aqui gostaria de chamar a atenção para o Museu Nacional de Arte
Antiga, onde o número de visitantes em relação às peças de arte que lá estão
e à riqueza nele contida, é muito diminuto.
Vozes do CDS: - Muito bem!
O orador: - Junte-se ao que fica dito a inigualável incapacidade dos responsáveis pela administração e conservação do património
para resolver, como se estivéssemos no século XIX, problemas inerentes
aos seus programas de acção.
No que diz respeito à legislação que defende o património em Portugal poderá
dizer-se que se caiu neste sem-fim: uma legislação obsoleta que foi, que é,
e que será. Que defende um conjunto de funcionários, alguns deles obsoletos
que foram, que são e que serão.
Por isso, nada há de mais bisonho, tristonho,
enfadonho e massudo que os monumentos portugueses a não ser os patrões
desses mesmos monumentos.
Sr. Presidente, senhores Deputados: A Casa dos Patudos, com um recheio de
razoável valor, pode ser encarada fundamentalmente como um local privilegiado
para albergar os serviços centrais de salvaguarda do património artístico
da Região Centro do país
A Casa dos Patudos tem instalações que poderiam perfeitamente comportar oficinas
de restauro, com capacidade para responder às exigências de uma zona limitada
pelo Mondego, a norte, e pelo Alto Alentejo, a sul.
A propósito do restauro, gostaria de focar aqui um aspecto que me parece muito
importante. As pessoas que trabalham no restauro de obras de arte são
muitíssimo mal remuneradas, e estão carecidas
de diversos meios. Apelo aqui para que essas pessoas sejam acarinhadas, ajudadas,
para que se reveja tudo aquilo que lhes diz respeito. Para tanto chamo a atenção
especial para o Instituto José de Figueiredo onde há pessoas
encarregadas do restauro de obras de arte, que aí trabalham com todo
o sacrifício, com uma remuneração deficientíssima. Lembro o
caso de encarregados que estão ainda na letra J.
Sr. Presidente Srs.Deputados: Pela localização e pelo espaço seria de aproveitar a Casa dos Patudos e a propriedade adjacente para se instalar um Centro de Inventário Artístico do Património a nível nacional com os serviços devidamente computorizados.
Aqui se poderia fazer também o Centro Nacional de Exposições
Itinerantes de Arte.
Para a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais endereço estas
sugestões e o desejo sincero para que elas se concretizem
a bem do Ribatejo e do povo ribatejano
O Sr. presidente: - Sr. Deputado eu queria dirigir-lhe uma palavra de solidariedade
– penso que será este o termo -, porque efectivamente eu conheço bem a Casa dos Patudos
e o que se passou lá – poucos senhores Deputados o conhecerão – conheço
também a obra de José Relvas, as suas memórias, e sei perfeitamente,
o que esse homem representou para a implantação da República em Portugal.
Poucos talvez saberão que José Relvas foi um homem extraordinariamente activo
durante a revolução do 5 de Outubro e um agente de ligação entre
a Rotunda e os populares que se encontravam em Alcântara, portanto um homem
de rua, não deixando de ser intelectual e nosso representante diplomático
no estrangeiro e depois ministro da República.
Tem a palavra senhor o Deputado Cunha Simões para uma intervenção
O SECTOR TURISTÍCO E AS PERTURBAÇÕES POLITICO-SOCIAIS
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente,
senhores Deputados: Parece não oferecer dúvidas de que o sector turístico
terá sido um dos mais afectados pelas lamentáveis perturbações
político -sociais que os usurpadores do 25 de Abril provocaram para
se apoderar da Revolução
Não fosse o problema dos retornados e a maioria das empresas ligadas
à actividade turística teria irremediavelmente falido. Recordamos até que,
durante o Gonçalvismo, não se pouparam esforços
para destruir por completo toda a capacidade turística do país. Por outro
lado, torna-se evidente que a indústria do Turismo constitui, para já, uma
das únicas fontes de divisas que poderão manter um país que, como o nosso,
tanto depende da importação e tanto necessita de divisas para pagar bens essenciais
e indispensáveis à própria alimentação. No entanto, novas dificuldades se
levantam à hotelaria nacional, este ano invulgarmente solicitada, com um tal
número de reservas, que poderia originar um dos melhores anos turísticos de
sempre.
Opõe-se a esta esta promissora perspectiva a pirataria política de
Partidos que tentam, inconsciente e criminosamente, desencadear greves no
sector, nomeadamente entre os agentes de viagens. Tudo isto, acrescido da
escalada dos preços dos produtos alimentares, pode desequilibrar perigosamente
os orçamentos que foram fornecidos a um ano de vista, vindo a criar ainda
maiores dificuldades ao sector e o país
Como é evidente, a desactualização dos preços e a força contratual comprometem
uma actividade turística condigna, com serviços capazes,
cuja dignidade se torna indispensável num país essencialmente turístico como
é o nosso.
Que os trabalhadores do turismo sejam pressionados para não aguardar
a reestruturação do sector, em vias de recuperação, e adiantem exigências
incomportáveis e inutilizadoras dessa própria recuperação, parece-nos crime
que ultrapassa a simples economia do país porque, antes
demais, atingirá a própria segurança do trabalho desses mesmos trabalhadores.
Os responsáveis do turismo em Portugal sabem que se encontra previsto para
1977 um dos maiores fluxos turísticos de sempre e sabem também que a ameaça
da greve basta para desviar os que procuram tranquilidade e não estão
dispostos a pagar a arruaça e a inutilizar o período de férias. Aliás,
é mesmo natural que os trabalhadores, aqueles que efectivamente trabalham,
escolham para repousar locais que lhes garantam paz e sossego.
Pensamos que é perfeitamente legítimo debater todo
e qualquer contrato trabalho. O que condenamos é que esse debate ultrapasse a esfera dos
contratantes para agravar a situação económica do país, que os mais conscientes
procuram, a todo o transe recuperar.
A Europa poderá olhar-nos com simpatia. O mundo poderá desejar ajudar-nos
a manter a via democrática, mas ninguém está disposto a subsidiar a trapaça
ou a ajudar a implantação de totalitarismos que pretendem sedimentar-se num
país economicamente arrasado. Afastar de nós a poupança dos emigrantes e as
divisas do turismo é manobra claramente suspeita que visa a nossa ruína e
o nosso descrédito, criando o campo ideal para a actuação de um determinado
tipo de gente que, dizendo bater-se pelo povo, procura tomar de assalto o
poder e conseguir para si, o monopólio dos privilégios
Deficientemente apoiada, a indústria turismo, que parecia destinada a desempenhar
um papel fundamental na economia portuguesa no próximo futuro, continua a
ser encarada como uma actividade tolerada. A fragilidade dos apoios humanos,
a nível oficial, não permite aos investidores responsáveis encarar
com tranquilidade suficiente o abalançarem-se a novos empreendimentos. As
astronómicas quantias investidas, cedo são abandonadas à sua sorte
(veja-se o caso da Torralta e o Complexo Turístico do Algarve) e desencorajam
quem quer trabalhar, mas exige segurança.
Só por ironia poderia recordar as promessas feitas em tempos e em situações
especiais que certificavam a chegada de centenas de turistas de Leste que
aqui viriam despejar rublos e copeques em substituição dos turistas que nos
procuravam e continuam, felizmente, a procurar. Mas, falar destas situações
é o passado e o importante é o futuro.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os inimigos de Portugal terão forçosamente de boicotar o surto turístico deste ano sob pena de assistirem à vitória da democracia e da liberdade, duas situações que, em parte nenhuma do mundo, coabitam com marxismos, leninismos, oportunismos e demais complexos de inferioridade que afligem a humanidade.
Humanismo, progresso, tudo quanto diz respeito à dignidade do homem, travarão aqui uma batalha que convém ganhar.
Abdicar de posições fundamentais quando forças minoritárias
não se coibem de lançar mão de toda a espécie de artimanhas
para prejudicar a colectividade...
O Sr. Presidente: - Terminou seu tempo Sr. deputado.
O orador: - Muito obrigado, Sr. Presidente, vou acabar.
Como ia a dizer, é um crime contra o presente e contra o futuro.
O turismo vencerá porque somos um país livre, visitável por homens
livres...
Risos.
... ou que queiram aprender como se vive liberdade, venham eles de onde vierem.
Que as autoridades que neste país têm a responsabilidade da política
do trabalho e do turismo tenham isso em conta.
Senhor presidente, senhores Deputados: É preciso cortar de vez e para
sempre todos os caminhos que desacreditem a democracia e abram alas à verdadeira
reacção. E só o poderemos fazer em paz, em harmonia, em trabalho, em produtividade
e sarando, rapidamente, feridas abertas.
Que os trabalhadores do turismo sejam dignos da profissão que escolheram e
que todos os portugueses recebam com dignidade e com simpatia os turistas
que aí vêm!
Aplausos do CDS.
O Sr. Gualter Basílio (PS): - Falou a reacção!
O senhor Presidente: - Tem a palavra o senhor Deputado Cunha Simões para uma
intervenção.
Uma voz do PCP: - Lá vem o Templário!
ESTENDAL DE BUROCRACIA
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Não, não vou falar do Convento de
Tomar, mas antes de começar a minha intervenção gostaria de dizer algo acerca
das intervenções que consomem o tempo desta Câmara.
O Sr. Presidente: - Este problema está terminado. Agradecia ao senhor deputado
que entrasse directamente na sua intervenção.
O orador: - Mas, senhor presidente, o que tenho a dizer enquadra-se na minha
intervenção.
Na verdade, como Deputado expressamente eleito pelos portugueses para tratar
de assuntos urgentíssimos deste país...
Risos....
... não me parece correcto aplicar o tempo
que devo às tarefas de reconstrução nacional, com atitudes, embora meritórias,
deslocadas da nossa missão; de igual modo as horas de trabalho em qualquer
fábrica só podem ser correctamente empregues no trabalho e na produção...
...parece-me que nós, deputados, devíamos pensar nisto a sério.
É que, na verdade, se nas fábricas não se podem fazer plenários, também
aqui, nesta assembleia, os assuntos nacionais devem ser tratados como deve
ser...
Risos.
... não é prejudicando o Povo Português que
nós melhoraremos a situação do país...
Novas manifestações de desagrado do PCP
... eu tenho a impressão de que os Deputados
da bancada comunista são talvez os únicos satisfeitos com a situação política
do país.
Protestos do PCP.
O Sr Presidente: - Atenção Srs. Deputados.
O orador: Sr. Presidente, Srs. deputados: O estendal de burocracia que se
patenteia a estrangeiros e a portugueses nos postos fronteiriços e nas alfândegas
portugueses é prova evidente que não somos ainda um país livre.
Dispersos e ocupados em vigilâncias menores, temos
uma horda de funcionários apostados em evitar que o anis d'el Mono tente a
invasão de Portugal.
Paralelamente, a primeira imagem deste País, que se quer de turismo é de mesquinha
comadrice de quem se torce de gozo a espiolhar peça por peça
a roupa interior de quem passa.
Risos
Riam-se, mas é verdade!
Se quisermos ser coerentes teremos de concordar que não é a revistar
bolso por bolso que se arranja pretexto para desculpar a delapidação do tesouro
nacional
O Sr. Lino Lima (PCP): Para ser coerente, o melhor é usar DDT!
Risos.
O orador: - O senhor deputado ainda acaba por passar pela vergonha de ser
o primeiro político reformado sem nunca ter feito nada pela revolução
Risos.
Taxar em 7 contos cada português que sai é
cavar fundo os canais de clandestinidade e pôr de sobreaviso quem tem valores
a resguardar.
Se desejarmos inverter toda esta situação basta que queiramos fazer nascer um País próspero para que ninguém retire um centavo do ouro que se recria.
Com tudo isto, as nossas fronteiras são,
na Europa, paradigma de repressão, fazendo lembrar em tudo os sacrários
do comunismo europeu.
É urgente entregar nas mãos dos portugueses uma sociedade que sabe
conviver com os outros povos.
É urgente abandonar por completo os complexos de ridícula vigilância que nem
sequer contribuem para uma relativa segurança social.
É urgente entregar nas mãos dos portugueses as decisões que podem levar
este país à normalidade e à prosperidade. É urgente criar, entre nós, um ambiente
de confiança que, por si só, seja um travão eficaz às exportações de
divisas, às fugas de capitais, à delapidação do património português.
Transformar o país numa imensa colónia de vigilantes e de vigiados é degradante
e nem sequer é útil.
Útil, sim, seria a transferência deste esforço para dotar os Bancos
por esse país fora de um sistema eficaz de anti-roubo que evite assaltos a
toda a hora, com a quase certeza de que o crime compensará.
Mas, ainda temos mais; como não bastasse o apalpar, o revistar, o vasculhar,
as longas bichas de automóveis, as enormes esperas, as perdas de tempo e paciência,
vem por cima de tudo, o preenchimento dos inevitáveis formulários destinados
a hipotéticos arquivos e à recolha de dados que ninguém consulta e que poderão
servir para tudo menos para melhorar os serviços que se mantêm imutáveis como
aliás quase tudo aquilo, que neste país podia efectivamente melhorar as condições
de vida dos portugueses.
Precisamos de mais postos fronteiriços, mais dinâmicos, mais abertos, menos
burocratizados, mais livres, mais inteligentemente organizados, mais integrados
numa Europa livre que abate gradualmente fronteiras.
Risos do senhor deputado Victor Louro (PCP)
O orador: - Não sabia que os papagaios riam.
O Sr. Presidente: Srs. Deputados, peço atenção para a intervenção do senhor deputado Cunha Simões.
O orador: - O assunto que abordámos é na realidade urgentíssimo quando
estamos a escassas semanas de nova avalanche de turistas, que eles sim, vêm
à procura do país original e desconhecido que nós há tanto tempo andamos a
prometer. Para que a desilusão não se inicie logo à entrada seria bom
que eles encontrassem menos trancas à porta do que aquelas que o actual regime
herdou do antigo e mantém religiosamente.
Estou certo de que o tempo da sensatez está a aproximar-se. Apressemos
pois a sua chegada. É para o bem de todos, para o bem deste País, para
o bem dos nossos filhos.
O senhor presidente: - Para uma intervenção tem a palavra o senhor Deputado
Cunha Simões.
AS DESILUSÕES
A falta de habitação é tal que se assiste a verdadeiros dramas, sobretudo
para os jovens que desejam constituir família.
No campo do ensino, demos conta da queda da Universidade, o abandono da instalação
das Escolas politécnicas e a degradação das Escolas secundárias. As
nossas estradas São 30 mil quilómetros de buracos. Unidades fabris moderníssimas,
intervencionadas, estão ao abandono e deteriorando-se, como é o caso
da fábrica de Mosaicos Santa Iria, onde 70 mil contos apodrecem sem proveito
para ninguém.
E o menos que se pode dizer deste caso é que é um crime de lesa-economia
e lesa-pátria, devido aos gravíssimos danos morais
e materiais que está provocando.
As Câmaras Municipais, agora eleitas, continuam destituídas de fundos e perfeitamente
inoperantes.
Os investimentos cessaram por todo lado e a fome e o desemprego dão
os maus frutos de sempre.
Lisboa continua a ser o grande cofre dos tributos do país.
Isto não é viver em democracia, nem é viver decentemente. Isto não
é governar democraticamente, nem governar decentemente.
O País precisa de um decisivo impulso de dinamização!
Claro que não se pode fazer tudo num dia, mas também não se
pode esperar eternamente.
Senhor presidente, senhores deputados: No campo da Saúde continuamos a assistir
a manobras esquisitas e inexplicáveis, manobras essas que me fizeram prometer
à Assembleia Municipal de Tomar, da qual sou membro, e à população que enchia literalmente a sala das sessões,
o corredor e as escadarias da Câmara Municipal, que traria aqui ao Parlamento
as suas preocupações e a sua inabalável decisão.
Vamos aos factos: A população de Tomar foi obrigada a defender na rua o seu
hospital. Pena foi que à legítima defesa do seu hospital lhe
fossem dadas conotações partidárias e, de momento, sem quaisquer resultados
práticos, porque a luta partidária que toma como pretexto um hospital, indispensável
a este concelho, esquece que não é legítimo discutir e impugnar
bens essenciais a uma população cujo enfraquecimento só pode envergonhar os
dirigentes democraticamente eleitos, seja qual for o Partido que representem
O CDS, que se bate, desde sempre, pela ordem e pelo bom-senso,
julga que, casos desta natureza, deverão ser energicamente contestados antes
que as populações se vejam obrigadas a fazer funcionar aparelhos de massas
na defesa dos seus legítimos interesses.
Aqui, neste mesmo local, alertei, em devido tempo, a Assembleia da República
para a degradação dos bens do Concelho de Tomar,
sistematicamente delapidados perante a indiferença dos que têm por missão
defender os interesses do povo da região.
O povo do Concelho Tomar, que tem dado exemplo de
civismo, reivindicou o direito sagrado de defender um património que lhe pertence
e sem o qual não é possível uma vida digna.
O desplante e o descaramento no passado foram tão grandes que até o
rio quiseram tirar à cidade e ao Concelho. Nessa altura,
a população saiu para a rua em peso e organizada, e o belo Nabão
ainda hoje lá se encontra.
Risos
A história, parece caricata, mas é verdadeira
e passou-se há poucos anos.
Hoje, depois do 25 Abril, quando se julgava haver uma melhoria de vida em
todos os campos, a situação piorou. Senão vejamos:
O Instituto Politécnico, criado pelo decreto-lei n.º 402-73, não
foi institucionalizado. A Estação Rodoferroviária,
cujo projecto estava aprovado e cuja construção estava inscrita no Orçamento
Geral do Estado de 1974, desapareceu. A remodelação do Quartel
General foi tão grande que saiu definitivamente de Tomar. Os
edifícios do Ciclo Preparatório nunca mais são erguidos. A Estação
de Tratamento de Lixo e Esgotos... foi pelo cano abaixo.
Risos.
O Abastecimento de Água a todo concelho continua
a passo de lesma. A Casa Bancária Mendes Godinho e a Agência do Banco de Portugal
saíram, prejudicando não só a região como os concelhos
limítrofes. Os Monumentos estão em estado lastimável.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: sejamos coerentes e justos: despromover as
Instituições, anulá-las ou deixá-las degradarem-se revela a maior indiferença
pelas condições de vida numa região! Condições
de vida que todos desejariamos melhores e mais humanas.
O caso do Hospital de Tomar é bandeira comum a que não podem ser indiferentes
os utentes da região, independentemente de Partidos, de militâncias
ou mesmo de indiferença política.
É ponto assente que não abdicaremos do Hospital Distrital de Tomar
e o desejamos cada vez mais capaz de assistir na doença, não só na
cidade, mas em todo o concelho.
As instalações do Hospital Tomar, legadas ao povo por Manuel de Matos, são efectivamente do povo e constituem propriedade
inalienável.
O CDS, na região de Tomar, defenderá intransigentemente todo o património
desta cidade e deste concelho, sempre com ordem,
mas sempre com energia, para que ninguém pense espoliar-nos através da nossa
fraqueza.
Aplausos do CDS.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o senhor Deputado Cunha Simões para uma
intervenção.
PARA ENSINAR É PRECISO AGRADAR
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Parece-me de elementar justiça trazer a esta
Câmara um assunto que já por mais de uma vez me foi apresentado por
pais e professores e que envolve o processo da construção escolar a nível
de ensino primário.
Desde as famosas escolas de Plano Aberto, elaboradas sem um correcto parecer
pedagógico e onde é necessário improvisar paredes com armários até à falta de luz, passando
pela ausência total de material escolar, eis o chocante panorama num sector
e numa sociedade que começa por afirmar que a criança deveria ser a mais privilegiada.
Esclareço aqui, que nas escolas Plano Aberto,
também conhecidas por escolas P3, o planao é tão aberto, tão
aberto que os gatunos têm preferência por elas e vão
"limpando" os esquentadores e os fogões dessas mesmas escolas. E
ainda, para ajudar, essas escolas de Plano Aberto funcionam, pelo menos, há ano e meio, dois anos, sem
terem luz. Elas são tão abertas, tão abertas que os serviços
competentes acham que a luz do dia é suficiente para alumiar professores
e alunos.
Ridiculamente, inexplicávelmente, abusivamente grande parte dos encargos com
o ensino primário é suportado pelas paupérrimas Câmaras Municipais que, umas
melhor e outras pior, vão fazendo o que podem e como podem.
A propósito disso, tendo falado aqui com o senhor Presidente da Câmara Municipal
de Oeiras, precisamente de uma escola, a escola n.º 3 da da Damaia, ele tratou imediatamente do assunto;
simplesmente a escola n.º 3 da Damaia continua ainda sem luz.
Como é evidente, uma uniformidade de critérios acabará por estar sujeita ao
poder económico de cada um dos municípios o qual,
como se sabe, difere largamente entre si.
As escolas continuam tão inconfortáveis, tão insípidas
tão pouco atraentes como há trinta anos.
A escola portuguesa, a nível primário, ignorou que mesmo neste país tudo mudou.
E para ensinar, é preciso agradar.
Por outro lado é confrangedor observar as escolas que servem o ensino a nível
de aldeia; reduzidas a quatro paredes e um tecto e onde as crianças comem
ao ar livre, à chuva e ao sol.
Na minha região, no meu Distrito, há escolas em que chove lá dentro como se tivessem um guarda-chuva roto a cobri-las, cito os casos de Águas Belas e Pedreira, para ficar por aqui. Há escolas que não têm abrigo para as crianças comerem, porque não sei se sabem, nos meios rurais as crianças muitas vezes comem nas escolas. Como não podem comer dentro das mesmas, se estiver a chover, têm de comer à chuva.
Pode o País estar muito mal de Finanças, mas este estado de coisas não
pode continuar de forma nenhuma! Não me venham
dizer que para isto não há gente competente ou pelo menos capaz de
aplicar no ensino primário o sistema de instalações escolares utilizado na
Europa pelos países civilizados.
Aqui fica o alerta que o Ministério da Educação e Investigação Científica
poderá aproveitar, se quiser, não esquecendo que Portugal não
pode continuar a ser só Lisboa, nem as crianças podem ser passíveis de qualquer
discriminação de tratamento que cedo começa a marcá-las e que dificilmente
as deixará pela vida fora
Aplausos do CDS
O Sr. Presidente - Há algum pedido esclarecimento?
Pausa
Tem a palavra o Sr. Deputado Gabriel da Frada.
O Sr. Gabriel da Frada – Depois da sua extraordinária lição
de pedagogia, gostava de fazer uma pergunta muito concreta
ao Sr. Deputado Cunha Simões.
Porque a sua intervenção revelou exactamente um tradicionalismo
nos processos educativos, exactamente pela maneira como atacou as escolas
de Plano Aberto, pergunto-lhe se o que ataca é
a ideia das escolas de Plano Aberto - e a maneira como criticou essa ideia
dá a entender isso - ou se, pelo contrário são
as condições em foi criada essa iniciativa pedagógica, um novo avanço a nível
de métodos educativos, que estão errados.
O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado
Cunha Simões para responder.
Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Deputado Gabriel da Frada é com todo
o prazer que lhe respondo.
Na verdade, tenho percorrido imensas escolas de Plano Aberto.
Fui alertado para a existência dessas escolas durante uma visita que fiz ao
complexo de Sines, onde vi a primeira. Depois fui às escolas da Pontinha,
da Damaia, das Lapas e do Pendão. Em todas elas o edifício
é bonito, têm um aspecto agradável e é novo. Aliás, é
de registar um aspecto interessantíssimo, que é o facto de haver armários
para as crianças, quando chegam de casa e está mau tempo, guardarem os sapatos
que descalçam para calçarem galochas, o que é uma coisa fora de série
neste país, porque, por mais esquisito que pareça ainda há gente descalça,
pelo que não compreendo a existência desses mesmos armários.
Mas deixando isso, tenho a dizer-lhe que, de todos os professores com quem
contactei nesta escolas, não houve um único que me afirmasse que estava
satisfeito com as mesmas, não pelo facto de serem novas, pois agradava-lhes,
mas sim porque estando em contacto uns com outros, ninguém se consegue entender,
tanto professores como alunos. Se um explica uma matéria, por exemplo português
e outro explica matemática, é uma confusão terrível.
Mesmo supondo que os dois explicam português, é a mesmo confusão, porque
a maneira de expor os assuntos é sempre diferente de pessoa para pessoa.
O Sr. Gabriel da Frada (PSD): - Dá-me licença
que o interrompa, Sr. Deputado?
O orador: Faça favor, Sr. Deputado Gabriel da Frada. Será um
prazer ouvi-lo.
O Sr.Gabriel da Frada (PSD): Já estamos esclarecidos
sobre a sua imagem das Escolas de Plano Aberto, pelo que a pergunta é
muito simples: esses professores têm formação, estão
especializados neste tipo de ensino?
O orador: O Sr. Deputado Gabriel da Frada gosta
tanto do plano Plano Aberto que parece fechado
à ideia que estou a sugerir. Na verdade, essas pessoas não estão formadas
para isso. Tem razão quando me faz essa pergunta, mas gostaria que o senhor
me indicasse quantas pessoas, neste país, é que estão formadas
para dar aulas numa escola dessas. Se não se importa, faz favor de
me responder agora a esta pergunta: quantas são, quais são e
onde estão essas pessoas para eu, em contacto com elas, saber a sua opinião.
O Sr. Gabriela da Frada (PSD): O Sr. Deputado
faça uma visita a Sintra e veja a Escola do Dr. Nabais.
O Sr. Presidente: -
Para uma intervenção tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões.
AS CORPORAÇÕES DE BOMBEIROS
O senhor Cunha Simões (CDS): - Senhor presidente, senhores deputados: As corporações
de bombeiros são em Portugal o que eram há cem anos;
uma aventura humanitária de homens bons cujas intenções generosas não
encontram no Estado contrapartida em fornecimento de meios adequados para
realizar a benemérita missão a que se propuseram ao serviço da Comunidade.
Eternamente voluntários e eternamente abandonados,
os bombeiros portugueses continuam a ver arder este país sempre que o fogo
resolve atacar as nossas árvores e as nossas casas sem que se tomem
medidas, sem que, pelo Estado, garante teórico das vidas e haveres,
lhe sejam proporcionadas condições de equipamento e preparação técnica correspondente
à generosidade com que acorrem.
No entanto, o perigo de incêndio, melhor dizendo, a iminência de incêndio,
de acidente, multiplicou-se ultimamente em elevadíssimo grau.
É confrangedor verificar que a passagem do carro da bomba e dos capacetes
amarelos se reduz a pouco mais que a simples manifestação de
Folclore. Apesar de tudo, homens bons continuam a arriscar a vida na defesa
do seu semelhante. Homens que, por se aventurarem desinteressadamente a a
querer defender direitos de todos, tinham direito a outras
condições e a uma melhor e mais digna aventura.
O serviço de incêndios em Portugal não é, mas devia ser, encarado como
uma questão de segurança colectiva que não ficasse
à mercê da caridade próximo.
Embora pareça mentira, os bombeiros em Portugal vivem sobretudo de generosidade.
Têm de esmolar o favor de poderem cumprir uma missão
altruísta e digníssima.
Supõe-se erradamente que a única missão que se pediria ao bombeiro está
relacionada com o incêndio, esquecendo-se que desde a porta a que se perdeu
a chave, ao animal em situação difícil, tudo é motivo para chamar imediatamente
os bombeiros.
Sem manchar o ideal humanitário e o brilho tradicional que anima cada um dos
soldados da Paz, torna-se indispensável que o Governo tome conta deste punhado
significativo de boas vontades, dotando-os de técnica e de material que lhes
dê possibilidade de contribuir efectivamente para a segurança civil, para
o bem comum e para a paz em geral.
É fundamental encarar situações que possam resolver
o problema dos bombeiros a nível de todo o país e não só de Lisboa
A prestação de serviço militar em corporações de bombeiros, de um número de
mancebos que garantissem uma capacidade efectiva de realização seria um dos
passos mais positivos dotando ao mesmo tempo largas camadas da população com
princípios e técnicas de segurança
Uma voz do CDS:– Muito bem!
Orador: - A obrigatoriedade de incluir quadros tecnicamente preparados a nível
de grandes empresas poderia obviamente evitar riscos
e perdas que muito se lamentam, mas ninguém parece querer evitar.
O entrosamento da personalidade do bombeiro no quotidiano
das grandes e pequenas cidades portuguesas e dos habitantes das áreas rurais
e florestais impõe-se como medida que poderá obviar aos elevadíssimos prejuízos
que o País anualmente sofre
Torna-se conveniente que a aeronáutica civil
ou a Força Aérea Portuguesa criem estruturas de apoio que em caso de
incêndio possam garantir os benefícios de uma Força Aérea apetrechada
da maior eficácia num incêndio a florestas ou culturas.
Da mesma maneira se chama a atenção para os incêndios a bordo de navios, uma
vez que na nossa costa outra hipótese mais não lhes resta do que arder
completamente.
Assim, relativamente a este problema, quero chamar a atenção do Sr. Presidente
e dos Srs. Deputados para o que pode acontecer na nossa costa com um petroleiro.
Isto porque, supondo que ele colide e começa a arder, nós não
temos meios para debelar a poluição que se espalhará imediatamente
ao longo de toda a costa portuguesa.
Portanto, por mais que esqueçamos este facto - e eu contactei com o
Batalhão de Sapadores Bombeiros, onde todas as informações sobre estas
questões me foram prestadas - é uma realidade que, possuindo o Batalhão
um efectivo de 750 homens, em caso de acidente, como o que atrás referi, esses
homens seriam impotentes para evitar que tal catástrofe caísse sobre
nós.
Na verdade, o inspector da zona sul, o coronel Teixeira Coelho, e o Dr. Vítor
Melícias, pondo-me ao corrente destes factos, mostraram-me o grave
perigo que se pode correr numa situação destas. Por outro lado, ainda em relação
aos bombeiros que não são propriamente voluntários – os Sapadores
-, eles lutam com carências de muita ordem, embora
o seu equipamento já não seja o que se pode chamar um mau equipamento.
No entanto, essas carências poderão agravar-se no futuro, porque a diferença
que existe, por exemplo, entre um subchefe e um chefe de bombeiros é
mínima e não compensa que o subchefe passe a chefe e continue a dar
todo o seu apoio ao Batalhão de Sapadores Bombeiros. É, pois conveniente
que estes assuntos sejam vistos e que não nos limitemos só a
louvar as Corporações de Bombeiros e eles próprios.
Tive também oportunidade de visitar
as instalações dos Bombeiros Lisbonenses, onde observei toda a gama de condecorações
que lhes foram atribuídas – desde a da Torre e Espada à
da Ordem de Cristo. Nessa visita fui guiado pelo Sr. Alberto Ribeiro,
que me deu todas as informações sobre o que ali se passava, e o que é
verdade – dizia-me o tesoureiro– é que, com uma pequena verba da Câmara
Municipal Lisboa, eles resolveriam os seus problemas. Todavia essa verba muitas
vezes não aparece.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Fartos de palavras e de boas
promessas, os bombeiros precisam agora de auxílio, de maneira eficaz,
pronta e digna, para que efectivamente possam contribuir para a segurança
a que todos temos direito.
Sempre é melhor tratar dos bombeiros do que lamentar os mortos, os feridos,
e as perdas materiais, como se faz todos os anos, prometendo para breve a
melhoria da situação sem que se dê um passo,
sem que se faça nada, miseravelmente encolhidos e descrentes da nossa
capacidade realizar.
Os bombeiros, dando tudo, pouco pedem e teriam direito a exigir que lhe déssemos
um mínimo de condições e uma estrutura orgânica que já desesperam de ver sancionada,
apesar de há muito proposta. Nestes termos, senhor Presidente, Srs.
Deputados requeiro que o Governo, através do Ministério da Administração Interna,
informe esta Assembleia do destino do Anteprojecto de Reestruturação elaborado
pela Comissão Nacional de Reestruturação dos Serviços de Incêndios
há muito entregue.
Aplausos do CDS
Tem palavra o senhor Deputado Cunha Simões, para uma intervenção
A INDÚSTRIA DO TURISMO
A COSTA DO ESTORIL
O senhor Cunha Simões (CDS): - Senhor Presidente, senhores Deputados: Não
constitui dúvida que a indústria do Turismo se tem baseado, entre nós, em
meia dúzia de pontos chave que nem sempre têm
merecido das autoridades competentes o devido tratamento.
Está neste caso a Costa do Sol (hoje Costa do Estoril), que pode considerar-se
a região pioneira do turismo em Portugal
Neste ponto, e noutros, parece-me que é tempo de nos organizarmos turísticamente,
para além do improviso que caracteriza as realizações turísticas de ontem
e de hoje.
A Costa do Estoril é considerada, em todo mundo, um dos locais mais privilegiados
da natureza. A atestá-lo, desde tempos recuadíssimos e em diferentes
épocas históricas, ali vamos encontrar famílias reais completas que a escolheram
como o melhor, depois da Pátria perdida.
Ora a Costa do Estoril tem estado pura e simplesmente, abandonada, tanto pelas
entidades oficiais como pelos utentes que esquecem ingenuamente que a zona
da Costa do Estoril é uma das zonas a preservar neste país se queremos, na
verdade, ter um país, um país viável, um País de futuro.
O plano de actividades para 1978 e elaborado pela Junta de Turismo da Costa do Estoril é um documento que merece a nossa
melhor atenção, pois emerge da vulgaridade, avançando propostas técnicas e
socialmente recomendáveis
A esperança voltou. As iniciativas estão em marcha. Temos de impedir
que elas não fiquem eternamente no papel.
Assim, na “Breve caracterização do turismo local e sua evolução” afirma-se
que, apesar desta zona ser vocacionada para turismo externo, está longe de
ser classificada como centro de turismo internacional e apresenta motivos;
tais como falta de alojamento, motivos de diversão que continuam a
ser praticamente os mesmos de há vinte anos, as praias estão poluídas;
o jornal "A Luta", de 17 de Maio de 1978, trazia mesmo a gravura
de um colector transportando toda a espécie de detritos, que desagua em Carcavelos
e que é mais um dos milhentas alertas que têm sido lançados sobre a
possibilidade de as praias da Costa do Estoril atingirem um grau de poluição
tal que ninguém mais as posso utilizar.
A inconsciência, o desinteresse, a morosidade com que estes problemas são tratados seriam crime se não conhecessemos
a mentalidade do povo português, a sua bonomia e a sua esperança de que amanhã
tudo se resolverá.
Mas amanhã é hoje! E ou todos os portugueses lançam
mão deste País, ou este país passará a ser um foco de poluição a nível
Europeu.
Se os portugueses não cuidarem das suas praias, da limpeza e embelezamento
das suas casas, do asseio dos cafés e restaurantes, das ruas onde o lixo se
amontoa, daqui a pouco não teremos um país, mas sim uma estrumeira
à beira mar plantada!
Risos.
Sr Presidente, Srs. Deputados: Volto à Costa do Estoril e ao Plano feito em
1978, o qual reputo de muito válido e que espero não fique eternamente
no papel. E é bom que, tal como aí se diz, a Junta da Costa do Estoril
se transforme num orgão de dinamização, acabando de vez com a sua estrutura
burocratizada e inadaptada ao século em que vivemos, nunca esquecendo, no
entanto, que desburocratizar não é anarquizar como tanta vez,
e nestes últimos quatro anos, se processou em tantos sítios.
Nas acções no domínio das infra-estruturas o Plano aponta para a criação de um Palácio de Congressos, um Museu de Arte
Infantil, um Museu Automóvel, o urgente aproveitamento das termas do Estoril,
o estudo das grutas de Cascais e Alapraia, a construção de piscinas aquecidas
na Parede, S. Pedro e noutro locais a estudar convenientemente,
a construção de uma marina, a valorização e aproveitamento máximo das praias
e ligações directas entre o Aeroporto e Cascais.
Senhor Presidente, Srs. Deputados: O plano da Junta
de Turismo da Costa do Estoril aponta para uma correcta e leal coordenação
com os órgãos locais de Turismo de Sintra, Lisboa e Oeiras...
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado peço-lhe o favor de abreviar, pois
já esgotou o seu tempo
O orador: - Muito obrigado, Sr. Presidente, mas, se me dá licença
de mais algum tempo... pelas vezes que deixo uns bocados em branco...
Risos
O Sr. Presidente: Está bem Sr. Deputado, mas o tempo destas intervenções
foi estabelecido rigorosamente.
O orador: - Certo, Sr. Presidente. Vou já acabar.
Dizia que o plano da Junta de Turismo da Costa Estoril aponta para uma correcta
e leal coordenação com os órgãos locais de Turismo de Sintra, Lisboa e Oeiras,
zonas de diferentes características, mas complementares
no campo turístico. Levanta, por outro lado, a ideia de uma central de compras,
um plano de ordenamento físico, inventariando os
recursos turísticos. Como alicerce de tudo isto um Plano a médio prazo
até 1983, em vez dos ineficientes planos anuais.
Nas acções no domínio da animação-fixação, animação-atracção, o Plano incluiu
já os estruturados cursos internacionais, o Festival de música, as exposições,
a Feira de artesanato, o Teatro Experimental de Cascais e o apoio às
iniciativas locais, embora os critérios de atribuição de subsídios tenham
de ser maduramente pensados para não redundarem em financiamentos à
mediocridade.
No campo da promoção, o Plano, mais uma vez se mostra realista e levanta temas
como o próprio nome da Costa do Estoril, as exposições
e semanas nacionais e internacionais, a colaboração com países de turismo
complementar, a publicidade, as relações públicas e a promoção de vendas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Para os derrotistas,
para os incrédulos e para os incapazes, este plano da Junta de Turismo,
assinado pelo presidente da mesma, Dr. Licínio Alberto de Almeida Cunha, parecerá
ambicioso, utópico e irrealista, mas para aqueles que têm a cabeça sobre os
ombros aceitam-no como possível, urgente e viável em todos os aspectos.
Não parece de mais pedir ao Secretário de Estado do Turismo que mande
analisar e ponha em execução urgentemente o Plano Director da Costa do Estoril
com vista ao ordenamento turístico desta região e ao aproveitamento
sistemático das suas potencialidades doze meses por
ano.
A região
precisa, na verdade, de um Plano, a curto prazo que possa orientar a actividade
privada, com vista ao estabelecimento de novas empresas de dimensões adequadas
e situadas em local próprio
Mas a região precisa também de um Plano a médio prazo que englobe gradualmente
vizinhos com interesse turístico, que possa repensar questões de fundo e olhos
postos numa sociedade cada vez mais preocupada com os tempos livres.
A Junta de Turismo da Costa do Estoril já tem esse Plano, vamos dar-lhe todo
o nosso apoio para cimentar o País que havemos de deixar às gerações vindouras.
Aplausos do CDS.
Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões, para uma intervenção.
Uma voz do PCP: Lá vem o vinho do Cartaxo!
A CAÇA E O EQUILÍBRIO ECOLÓGICO
O Sr. Cunha Simões (CDS): Sr. Presidente, Srs Deputados:
A chacina geral da caça deve ter este ano o seu epílogo se não houver
coragem suficiente para lhe pôr termo imediatamente.
O homem português não respeita a natureza nem os seus habitantes e em vez de os proteger, defender, e fomentar o desenvolvimento das espécies cinegéticas, o “caçador”, num egoísmo todo feito de ignorância e de rapacidade, comporta-se como os piores predadores, não respeitando nem regulamentos, nem reservas que deviam ser intransigentemente preservadas. Por outro lado, a fiscalização é nula ou inoperante.
Este País está a perder o sentido da autoridade e a “autoridade” evita desagradar,
repreender ou castigar os infractores porque assim está a bem com Deus
e com o diabo, embora esqueça deliberadamente que, com a sua apatia e o seu
desinteresse, está a servir pessimamente a comunidade e a contribuir
para o desequilíbrio da Natureza ao deixar destruir a fauna e a flora.
A Natureza não pode ser violentada! O homem ao fazê-lo contribui activamente
para a sua própria destruição.
Este pequeníssimo preâmbulo vem chamar a atenção do Governo e é também um
apelo à coerência cívica de todos aqueles que tiram licenças de caça, e outro
pensamento não têm que abater indiscriminadamente tudo quanto mexa.
Risos.
Esta intervenção tem ainda como finalidade alertar os poderes públicos para que a caça à perdiz e à lebre seja imediatamente suspensa, em virtude de as espécies estarem a desaparecer tão rapidamente, que em 1979 elas deixarão de existir se estas medidas não forem tomadas.
A caça é Património da Natureza e ninguém, nem o Estado nem os caçadores se
poderão arrogar o direito
de se autodenominarem seus proprietários.
O Sr. Manuel Alegre (PS): - muito bem!
O orador: - No entanto, é ao Estado que compete administrar, dentro do seu
território, e administrar bem, a salvaguarda de espécies selvagens em virtude
de o homem inculto abusar da Natureza que tudo lhe oferece em abundância,
mas que não permite desmandos nem violências escusadas.
O Estado tem de garantir a “semente” susceptível de procriações que garantem
a continuidade. Os caçadores, esses só devem ter direito aos excedentes. E é bom, e seria óptimo que a rádio, a televisão
e os jornais se fizessem eco destas verdades comezinhas, mas que tão
importantes se tornam para um equilíbrio ecológico neste País tão carenciados
de bom-senso.
Sabendo nós que muitas espécies estão em vias de extinção, não
só as espécies de caça, mas muitas outras, e sabendo também que as causas
vão desde as modificações do meio ambiente, as quais conduzem a condições
precárias de habitat, a poluição – e sabe-se quanto os pesticidadas têm
contribuído para a flagrante escassez das aves insectivoras– o acréscimo notório
do número de caçadores, o qual deve rondar pelos 400 mil, e a aglomeração
destes nos terrenos de caça, o desenvolvimento dos transportes que permite
deslocações rápidas dos caçadores a todos os cantos, o sofisticadíssimo
e aperfeiçoandíssimo material de caça, etc. etc..
Perante esta situação e devido, como atrás disse, à aglomeração de caçadores,
estamos a assistir no nosso país à destruição das perdizes e das lebres.
Exemplificando: Se numa determinada área onde haja 100 ou duzentas perdizes
se concentrarem 300 ou 400 caçadores, é cercear a estas
aves toda e qualquer possibilidade de defesa e a realidade que conduz
à destruição maciça: o genocídio infame que o ser humano, dito inteligente,
vai produzir sobre o irracional, que deve ser acarinhado e protegido
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Todos os caçadores das regiões com quem tenho
falado se queixam da diminuição crescente do número de perdizes em todo o
País.
E repito: a escassez, que no corrente ano é alarmante, põe em perigo o futuro
das espécies cinegéticas, com especial relevo para a perdiz e para
a lebre. E não se queira que, tal como aconteceu com a cabra do Gerês,
testemunho real e evidente da nossa incúria e para nossa vergonha, suceda
o mesmo à perdiz e à lebre.
Não sei se evitaremos a extinção das espécie citadas, mas para que
pelo menos o tentemos, proponho:
a) Fecho imediato, ao abrigo da lei vigente, da caça à perdiz e à lebre
em todo o território nacional que permita a salvar os “ restos” destas espécies
cinegéticas.
b) Estruturação imediata de uma nova lei de caça, sem privilégios, mas que
evite aglomerados de caçadores e condicione os abates dos excessos da “semente”.
Para atingirmos esta finalidade devemos enveredar pelo caminho da caça condicionada,
isto é, zonas de caça sociais e turísticas onde todos possam caçar;
não só um determinado número de caçadores por dia, mas também regulamentando
os abates em relação à densidade das espécies e fiscalizando convenientemente
estas áreas.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: embora a regulamentação e aturada vigilância
sobre a lei da caça seja urgente, urgentíssimo é que termine imediatamente
a permissão da caça à lebre e à perdiz.
Aos caçadores, a todo o povo português, eu peço que vejam neste apelo um grito
angustiado, para defesa de um bem que impensadamente teimamos em destruir.
A lebre e a perdiz se forem totalmente eliminadas como está previsto, a continuar
o massacre decretado desde o principio deste mês e o último Domingo
de Dezembro, serão mais um exemplo de como os portugueses teimam
em se auto-destruir ao destruirem os seus meios de sobrevivência.
Desta bancada, requeiro ao Secretário de Estado da Agricultura e ao Director-Geral dos Serviços Florestais, que ouvidas urgentemente as Comissões Venatórias se feche de imediato a caça à perdiz e à lebre.
Aplausos do CDS e de alguns Deputados do PS e PSD
O Sr. Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões.
AO PATRIMÓNIO ARTÍSTICO E CULTURAL FALTA UM INVENTÁRIO SISTEMÁTICO DOS VALORES
ARTÍSTICOS, PAISAGÍSTICOS, CULTURAIS E AINDA UM LEVANTAMENTO ETNOGRÁFICO
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Antes de começar
a minha intervenção, queria dizer ao senhor deputado Manuel Dias que, na verdade,
o problema da Ponte da Praia do Ribatejo, sobre o Tejo, foi há tempos tratado
por mim, tendo contactado as Câmaras da Barquinha e de Constância sobre
este assunto. Tenho a impressão que está em bom andamento e
por isso esperemos que a ponte não seja destruída em favor da outra que lá está.
A senhora Ercília Talhadas (PCP): - Então o dinheiro
do povo?
O orador: Quanto a esse assunto, senhora Deputada, a verdade é que eu ando
de um lado para o outro a tratar os assuntos do povo. (risos de PCP) Não
estou aqui a perder tempo, como os Srs. deputados costumam fazer; não
estou aqui a gastar horas e horas ao Povo Português sem lhe dar nada
em troca, Srª Deputada. Aliás, eu estava a dar uma explicação
ao Sr. Deputado Manuel Dias.
O Sr. Presidente: Sr Deputado, faça o favor de fazer a sua intervenção
O orador: Eu quis apenas responder àquela senhora Deputada, tão
simpática, mas que não gosta nada de mim.
Risos gerais.
A Srª Ercília Talhadas (PCP): Acertou!
O orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Entro agora na minha intervenção
propriamente dita.
É sabido que todos os períodos de convulsão
social representam grave perigo para o património artístico e mesmo, em muitos
casos, para o património cultural de um povo
Pode dizer-se que nesse aspecto o que se tem passado em Portugal, nos últimos
quatro anos, é realmente dramático para a herança que, neste aspecto,
nos foi legada e nos obrigámos a transmitir aos vindouros. Na verdade,
é indesmentível que continuamos sem rever e actualizar a incompleta
classificação de monumentos considerados nacionais e imóveis considerados
de interesse público. Continuamos sem um inventário sistemático dos valores
artísticos, paisagísticos e culturais.
Valiosos arquivos das autarquias, das instituições públicas e até particulares são pasto das chamas ou material de ferro-velho.
Não se fez, e possivelmente nunca se fará, um levantamento etnográfico
que fixe determinados estados da cultura portuguesa, indispensáveis para nos
entendermos como povo. Há um diploma que obriga à conservação
dos arquivos das empresas portuguesas com mais de 20 anos sem que no entanto
se crie qualquer serviço de Inspecção e recolha dessa documentação onde se
fiscalize a sua destruição.
As nossas paraculturais Secretarias de Estado estão cheias de gente que pouco faz,
limitando Portugal à área da cidade Lisboa onde trabalham e habitam
O Sr. Manuel Dias (PS): Muito bem!
O orador: em Tomar fez-se a primeira exposição de arqueologia industrial,
demonstrativa de que a tecnologia entrou decididamente na sua fase Histórica,
tornando-se fundamental organizá-la nesse sentido.
No entanto, todos os dias se destrói e se vende para a sucata exemplares
únicos de máquinas que convinha conservar e integrar no património cultural
português.
O Sr. Carlos Robalo (CDS): Muito bem
O orador: - A museologia é decisiva na organização da educação permanente,
do turismo e de outras formas de organização social de vital importância para
o nosso país
Como é evidente, pretendemos que estes assuntos sejam tratados por Secretarias de Estado de âmbito nacional, com capacidade
de apoio em qualquer província portuguesa ou região autónoma
É conveniente que medidas de largo alcance e de decisiva
importância sejam tomadas no campo da Cultura para que se salvaguardem da subutilização, por repartições, quartéis, arrecadações, hospitais, albergues
de mendicidade, os muitos conventos e mosteiros vendidos em hasta pública
nos meados do século passado. Convém terminar de uma vez para sempre com esta
situação, dando a tais edifícios missões condignas cultural e socialmente.
Casos há em que o abandono lento
da subutilização foi simultâneo com o desaparecimento das obras de restauro
e manutenção, transformando muitos destes imóveis em montões de ruínas,
como é o caso do convento de S. Francisco,
em Tomar, mutiladíssimo pela utilização de caserna, em que se viu transformado,
logo após a extinção das Ordens e actualmente prestes a ruir por falta de
conservação.
Todas as diligências locais para evitar um desacato desta
natureza, têm resultado em vão devido à burocracia e às
desculpas tradicionais: falta de verbas, espera por despacho, interesse por
parte do Exército, etc.
Por todo o País os monumentos estão abandonados e desprezados, fisicamente
em destruição acelerada.
Como aqui já uma vez afirmei; não têm guardas, nem cicerones,
nem qualquer espécie de protecção.
O Convento de Cristo é um exemplo de entre muitos, sem que isto queira dizer
que o resto do país se encontra bem ou mesmo que não haja casos bastante
mais graves; pois bem, no que se pode considerar a casa-mãe da arte
portuguesa, confrange o abandono e o desrespeito a que tudo está votado.
Uma instalação eléctrica precária ameaça uma parte edifício, que pode a todo
o momento ser devorado pelas chamas. Os telhados em derrocada, as janelas
podres e destruídas, os soalhos deteriorados pelas infiltrações, o lento corroer
das fundações de grande parte do edifício infiltrado de águas das cisternas,
são mais do que prenúncios de gritos de dor
que arrepiam e que nos compete extinguir.
A recente presença de um grupo de retornados que ali se alojaram, por absoluta
falta de espaço noutro ponto mais próprio da cidade, causou o desgaste
normal de uma utilização forçada de locais que mereceriam de imediato completa
reparação
O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Muito bem!
O orador: - As colecções de azulejos, extremamente importantes para a história
daquele tipo de decorações em Portugal, são as que
mais sofrem com subutilizações deste tipo, que urge banir o mais depressa
possível e radicalmente da vida dos nossos monumentos.
Aliás, o Centro do País, contém núcleos
habitacionais de invulgar interesse arquitectónico e com marcas de habitação
relevante, que deviam obrigar à sua imediata classificação
e orientação futura de modo a manter a sua traça e a sua beleza. Neste
caso estão as povoações da Pedreira, Vila Velha de Ourém, Golegã, parte
da cidade de Tomar, Olalhas, etc.
Mas nada disto é de admirar se o facto for comparado com a destruição total
do arquivo da Polícia de Coimbra, vendido ao ferro-velho por um comandante
progressista da dita polícia, que assim mandou destruir, na sua criminosa
ignorância, entre outros, os arquivos dos extintos conventos da região
coimbrã, recolhidos a seu tempo naquela corporação e conservados até
1975.
Até hoje não nos consta que tivessem sido pedidas responsabilidades,
nem pelo menos aberto aquele inquérito que nunca ninguém sabe como se fecha.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Era conveniente que
a Secretaria da Cultura tivesse vida própria, orçamento
próprio e independente. Desta maneira, poder-se-ia
pedir responsabilidades e exigir trabalho.
Diga-se, em abono da verdade, que pelo menos nos últimos dois anos passaram
pela Secretaria da Cultura dirigentes de comprovadas
qualidades que só não fizeram mais porque a máquina burocrática mais
não deixou.
O 25 de Abril, que curiosamente se baseia em princípios respeitáveis de maior
consideração pela cultura portuguesa, fez-se para fomentar a cultura e a defesa
do património. Na verdade, pouco ou nada se tem feito por estes aspectos,
a não ser palavreado oco ou legislação inoperante.
Estamos certos de que não continuará a ser assim, e se para tanto for
necessário não haja receio: crie-se urgentemente o Ministério da Cultura.
Aplausos do CDS.
O senhor presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões.
FALTA DE APOIO AOS NOSSOS TÉCNICOS
O senhor Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Integrado na
Comissão Eventual de Solidariedade para com as Vítimas
das Cheias e dos Temporais tive mais uma vez oportunidade de verificar, em
plena Lezíria, como os técnicos portugueses são
desacompanhados depois de acabados os cursos e se lançam no mercado de trabalho.
Na verdade, a lentidão com que enviamos os
nossos técnicos para os centros mais avançados do mundo e a incapacidade de
lhes exigir os resultados dos estágios são
responsáveis pelo nosso atraso, em todos os campos que dependem da investigação
e de uma experiência que nunca tivemos.
O Ribatejo é agrícolamente uma vítima da incompetência
dos nossos técnicos, incapazes de altear e consolidar valados de maneira a
dominar os malefícios das cheias.
Até na dragagem das areias os nossos técnicos são
incapazes, em termos eficientes, de responder às necessidades do país
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Não apoiado!
O orador: - Embora o senhor deputado Vital Moreira não apoie, a verdade
é que eu fui à Lezíria, contactei com os técnicos
que estão a trabalhar e eles disseram-me precisamente o
que acabei de referir. Há um técnico holandês, para orientar os serviços,
que vai sair no fim deste mês e eles não sabem como continuar com o
trabalho. Ou seja, quando se faz uma dragagem há um pagamento de horas
a empreiteiros, que se cifra no montante de 16 mil escudos, que nunca é
verificado, precisamente, porque os técnicos não sabem como é
que aquilo se faz e assim nunca sabem se os empreiteiros levam mais ou menos
tempo que o necessário e se, na verdade, estão
a trabalhar como deve ser ou não. E isso é importante, embora
os srs. Deputados digam que isto não é verdade. Mas, na realidade, isto é mesmo assim.
Estarmos a pensar que somos os melhores não pode ter o meu acordo e
creio mesmo que só por ironia o podemos dizer.
Uma pequena parcela dos milhares de contos, com que corrigimos a catástrofe, poderia
fazer com que tivéssemos entre nós profissionais capazes de a evitar
em grande parte.
Isto que venho dizendo também é verdade para o ensino, para a medicina,
para a habitação, para as estradas, para as pescas, para
a construção naval, etc..
A adensar os efeitos negativos da situação
temos a má utilização dos poucos técnicos
competentes, que temos entre nós, cujos conhecimentos não são
aplicados, provocando muita vez total descrença por parte dos que aqui ficaram
e nem sequer sonham com a mensagem que os novos lhe trazem.
A coragem para dar importância e competências aos renovados técnicos está
ligada à remodelação do sistema de bolsas,
de relatórios, de tempo mínimo de trabalho para o Estado por parte dos que
se especializam à custa dos dinheiros públicos.
As nossas Universidades são na maior parte dos casos, antros de fósseis
equivocados com o processo educativo.
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Não apoiado
O orador: - Embora o Sr. Deputado Vital Moreira diga que não apoia,
a verdade é que isto é assim.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: É fundamental que seja revisto e modernizado
o acesso dos técnicos, de todas as especialidades, aos centros estrangeiros
e, do mesmo modo, se criem condições para cursos pós-universitários em centros
portugueses, muitas vezes não estimulados ou completamente esquecidos
para o aperfeiçoamento dos nossos estudantes e técnicos.
É necessário que esses técnicos sejam dotados de uma preparação antecipada que lhes permita aproveitar a 100% o esforço e o dinheiro que o País investe neles.
É necessário que os seus conhecimentos sejam contabilizados e aplicados sem
burocracias, nem entraves, nem invejas.
É necessário, por outro lado, acabar com as bolsas científico-turísticas que
só nos desacreditam e impedem uma reorganização
deste sector, de vital importância para a economia nacional, – este "vital"
não era referido ao Sr. Deputado Vital Moreira, está claro!
Risos.
A crise endémica e a pobreza deste País exige uma reorganização
correcta e imediata do trabalho que, esse sim, é a riqueza crescente e distribuição generosa a todo um Povo sequioso de progresso
e de bem-estar
Aplausos do CDS.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Sousa Marques
O Sr. Sousa Marques (PCP): - Desejo apenas dar um esclarecimento à
Câmara Sr. Presidente
De facto, o senhor Deputado Cunha Simões é membro da Comissão Eventual
de Solidariedade às Vítimas das Cheias e Temporais,
recentemente criada nesta Assembleia, mas nessa qualidade não pode
tomar a palavra neste hemiciclo. E, nesse sentido, as palavras que acabámos
de ouvir são da exclusiva responsabilidade do senhor Deputado
Cunha Simões e do Grupo Parlamentar em que está integrado e não podem
ser consideradas como tomada de posição da
referida Comissão, pois esta não lhe conferiu qualquer mandato
para isso e, portanto não tem qualquer responsabilidade em tais afirmações.
Julgo que este esclarecimento era devido, porque as primeiras palavras do Sr. Deputado Cunha Simões foram equívocas quando disse “Como membro da Comissão, etc.etc.”
Assim, penso que o esclarecimento está dado, é claro e iliba a Comissão
das afirmações que aqui foram feitas.
O senhor Cunha Simões (CDS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Cunha Simões, visto haver outro Deputado que pediu a palavra, deseja responder já ou só no fim?
O Sr. Cunha Simões (CDS): Prefiro responder no fim.
O Sr Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Monteiro de Andrade.
O Sr. Monteiro de Andrade (indep.): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Desejo
dar também alguns esclarecimentos, porque me pareceu que o Sr.
Deputado Cunha Simões, na sua intervenção,
elaborou num equívoco
Refiro-me à primeira parte da já mencionada intervenção,
quando fala da carência e na incapacidade dos técnicos portugueses para responder
a algumas solicitações emergentes, nomeadamente no que respeita à obra de
drenagem, que se está a processar na região
do Ribatejo.
Há aqui um equívoco, pois pareceu-me que o Sr. Deputado frisou que os técnicos holandeses que aí colaboram ao irem embora não deixavam nenhum técnico português preparado. Devo esclarecer que isso não é verdade, pois a Assembleia da República ratificou um acordo feito com os países Baixos em que se prevê, o que se tem efectivado, o intercâmbio de estágios de técnicos e têm ido bastantes técnicos portugueses aos Países Baixos a fim de aí adquirirem conhecimentos que têm sido muito úteis para a obra de dessalinização e recuperação da Leziria Grande.
Portanto, já temos muitos técnicos preparados e, mesmo que os técnicos holandeses se vão embora, hoje já é possível que os nossos técnicos sejam capazes de empreender a obra urgente de regularização dos solos da Leziria Grande. As questões respeitantes a drenagens de terrenos não são questões técnicas complicadas e, portanto, essas podiam e deviam ter sido, há muito tempo, resolvidas pelos técnicos portugueses que têm capacidade para tal.
O Sr.Presidente – Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha
Simões.
O Sr. Cunha Simões (CDS): Sr. Deputado Sousa Marques, na verdade, eu não
sabia que para falar neste hemiciclo tinha de pedir autorização
a V.Excia..
Quanto ao esclarecimento que o Sr.Deputado deu, devo dizer-lhe que comecei
a minha exposição referindo que estava integrado na Comissão
Eventual da Solidariedade para com as Vítimas
das Cheias e dos Temporais, mas não vinculei com isso a Comissão.
Quando falo aqui, falo em meu nome
O Sr. Vital Moreira (PCP): Felizmente!
O orador: - Felizmente, Sr. Deputado
Vital Moreira!
Risos do PCP
O Sr.Vital Moreira: - Que ideia!
O orador: Por tudo isto que acabei de dizer, Sr. Deputado Sousa Marques, pode
de facto estar descansado que eu não falei em nome da Comissão,
mas em meu nome. Mas, se V.Excia, quando eu falar sobre a Comissão
Eventual de Solidariedade para com as Vítimas
das Cheias e dos Temporais, quer que eu lhe peça autorização,
eu peço. O Sr. Deputado dá-me licença que eu continue?
Risos.
Quanto aos esclarecimentos dados pelo Sr. Deputado Monteiro de Andrade, tenho
a dizer-lhe que não há qualquer equívoco. O Sr. Deputado referiu que
existe um intercâmbio entre técnicos holandeses e portuguesas, mas a verdade
é que não existe um verdadeiro intercâmbio, pois nós é que vamos à
Holanda aprender com eles sobre este assunto – é claro que noutros assuntos
talvez nós os possamos ajudar, mas nesta matéria são
eles que nos ajudam, porque têm muito mais experiência do que nós. Até mesmo
as condições de clima são lá muito mais propícias a que haja
cheias.
Este intercâmbio, como o Sr. Deputado lhe chamou, estes estágios de quatro
meses que os técnicos portugueses vão fazer
à Holanda são mais do que insuficientes para se aprender qualquer
coisa, para que esses conhecimentos adquiridos sejam válidos para o nosso
país.
Ora eu falei com os técnicos...
Uma voz do PCP: - Já chega!
O orador: - Talvez já chegue, mas é só mais um bocadinho!
Como ia dizendo, falei com os técnicos portugueses, foram eles próprios que
me puseram estes problemas e foi por isso que levantei aqui a questão.
E ainda bem que o Sr. Deputado Monteiro de Andrade vem à estacada trazer
a este hemiciclo um problema que é necessário levantar. Assim, espero que
os nossos técnicos quando vão estagiar no
estrangeiro não o façam apenas por quatro meses – que só chega
para eles se integrarem e se enquadrarem no país onde estão -, mas pelo menos
por ano, porque esse investimento que fazemos vai ser rentável
para o nosso País.
O Senhor presidente: - Para uma intervenção,
tem a palavra o senhor Deputado Cunha Simões.
IMPRENSA NACIONAL
O senhor Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente, Srs.Deputados: Normalmente
aceita-se chamar aos grandes diários e semanários Imprensa Nacional deixando
à Imprensa Regional as publicações periódicas que defendem os interesses,
averiguam e noticiam dentro de uma área com afinidades etnográficas ou simplesmente
administrativas.
A imprensa regional é aquela cujo âmbito vai da cidade da província ao Concelho e, quando muito, ao Distrito, quase nunca a área mais
vasta. Raramente o jornal regional poderá passar por períodos mais ou menos
dilatados e, mercê das circunstâncias específicas, a merecer o interesse de
uma vasta região ou nação.
Pode dizer-se que a imprensa regional é a que mantém uma tiragem a partir
de 1000 exemplares, podendo atingir 15000, mantendo as estruturas de uma publicação deste género sem crescimento ou investimentos
que possam, a curto prazo, tornar-se insuportáveis.
Indiscutivelmente os quadros da Imprensa Regional
terão de crescer na sua maioria formados por recrutamento local e por
representantes de estratos sociais significativos das zonas.
Sr.Presidente, Srs. Deputados: Deste modo não se pode pretender que
a Imprensa Regional, num País pobre de recursos culturais, venha sendo a imagem
de grandeza de um objecto que em si só se apresenta diminuído e cheio de falhas.
Antes do 25 de Abril, as técnicas de informação
em Portugal estiveram sempre amordaçadas, muito mais pelo pouco nível cultural
e educacional do que pela censura e outras formas de repressão,
só possíveis perante a indiferença de um povo numa dada época.
Seja como for, é a nossa Imprensa Regional que está em causa e não outra, mau grado as suas limitações e os seus defeitos;
essa mesma que pretendemos melhorar, dinamizar e tornar mais útil à
sociedade que serve e foi, pelo menos, esse o espírito que imperou no encontro
nacional da Imprensa Regional que teve lugar na bela e pujante cidade da Póvoa
de Varzim.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: o período de despudor
jornalístico, inevitável após meio século de censura, parece ter chegado ao
fim e são horas de equacionar a sério, a
nível de Imprensa, os problemas nacionais, no maior respeito por um ambiente
de concórdia e de convívio, a melhorar cada vez mais. Por isso mesmo,
acreditamos que os poderes públicos deverão,
neste momento, encarar com energia a restauração
da livre e digna Imprensa Regional portuguesa, de tradições seculares inestimáveis.
Por isso mesmo se solicita a quem direito a formação
gradual dos abnegados servidores da Imprensa Regional, cuja missão poderá ser cada vez mais profunda e mais subtil
à medida que a nossa qualificação subir de nível.
Com equipas mais capazes é provável que se consigam jornais mais úteis, mais
rentáveis e de muito maior nível.
Independentemente de ajudas financeiras, é na valorização
dos grupos humanos que servem a Imprensa Regional que nos parece residir um
plano concreto e sério de dotar o País de estruturas
de informação sérias e prestáveis. Simultaneamente não
negamos a utilidade de facilidades económicas fiscais, postais e outras, embora,
por dever de consciência, acrescentemos não desejarmos que determinadas
empresas, por praticar jornalismo, venham a ser privilegiadas em relação a outros sectores privados, muitos deles de
notável utilidade pública e lutando também
com enormes dificuldades e pouquíssima compreensão.
Sabemos que um jornal bem feito, atraente, honesto e defensor intransigente
da verdade e da Pátria acaba sempre por se impor às crises e aos ataques
dos seus adversários.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: - Sabemos perfeitamente que esta actividade
na Imprensa Regional não deixa lucros, traz arrelias,
insónias, dores de cabeça e está inçada de dificuldades e incompreensões.
Nesta base, pretende-se que o Governo actue, sem criar favoritismos onde se
pretende só que se faça justiça sem paternalismos atrofiantes nem situações
de favor.
Aqui, como em todo o lado, o critério a adoptar terá que ser, forçosamente,
o das competências que sobrevivem, acabando de vez com estratagemas de ganhar
dinheiro com pseudo jornalitismo que não interessa a ninguém nem beneficia
coisa alguma. Tenha-se a coragem de dar primazia ao que tem valor, ao que
é bem feito, ao que é digno, e passaremos de imediato a ter provas
de rentabilidade que os leitores agradecem e que o País
paga mais barato
Parece-me que, neste sentido, valeu a pena o Encontro Nacional da Imprensa
Regional, na Póvoa de Varzim, do qual se poderão
extrair duas conclusões de maior interesse: em primeiro lugar, o momento por
que passa a informação em Portugal é decisivo
e carece do máximo apoio, sem detença e sem
hesitação. E, segundo, não vale a
pena insistir em paternalismos que não resultaram nem em tentativas
de domínio, de impressionante estupidez, para impor padrões
totalitários onde só pode caber interesse patriótico e fomento regional e
local.
Sr.Presidente, Srs. Deputados: A terminar, uma palavra de muito respeito e
admiração por todos aqueles que, com grandes sacrifícios
pessoais, trouxeram até aos nossos dias a Imprensa Regional lutando
sempre por melhores e mais dignas condições, muitos deles vítimas de
recentes atropelos de oportunistas transformados à pressa na vanguarda esquerdizante
que encobre, muitas vezes, os bajuladores e os vermes dos outros tempos.
Aplausos do CDS e de alguns Deputados sociais-democratas.
O senhor Presidente: - Para uma intervenção
tem a palavra o senhor Deputado Cunha Simões
A CRIANÇA CIGANA
O Sr. Cunha Simões (CDS) – Sr. Presidente, Srs. Deputados. Entre os grupos
sociais radicados em Portugal que porventura mais se poderão queixar de desfavor social avultam, sem sombra
de dúvida, os ciganos.
Sem esquecer a homenagem devida à heróica persistência na luta por uma vida
livre e independente – quase única no mundo -, não
posso deixar de lamentar, especialmente neste momento, o abandono a que vem
sendo votada a criança cigana, para a qual ninguém pensou jamais em infantários,
em maternidades, em jardins-escolas, nem ninguém quis recuperar e encaminhar
na vida.
Vozes do CDS- Muito bem
O orador - Aqui e em plena Europa só o desprezo por estas crianças de cor diferente e raça diferente.
É certo que poderá haver quem cinicamente comente, que quando se fala em
criança e Ano Mundial da Criança ninguém pretende excluir a criança cigana,
continuando a dar-lhe plena liberdade para estoirar de fome e para crescer
na miséria e na ignorância.
Deste modo, é evidente que, assim iniciados, os pequenos ciganos não
podem aspirar a uma vida normal, a um procedimento normal, ao respeito e à
obediência às regras de uma sociedade que nunca soube respeitá-los
e que preferiu sempre castigá-los. As escolas dos ciganos foram sempre
as cadeias. E mais, muita sociedade cristã nunca
achou de mais, a desumanidade com que sempre foram tratados e em que foram
obrigados a viver.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não se pretende
que a caridade e os procedimentos de certa camada social obriguem o cigano
a abandonar, de vez, uma prática secular para se converterem à monotonia
e ao destempero das nossas vilas e cidades. Respeitando o seu espírito de
aventura e a sua mobilidade, pedimos para os ciganos um
tratamento não policial, mas fraterno, humano e compreensivo
Vozes do CDS: Muito bem
O orador: Ninguém pretende desvirtuar-lhes a sua cultura ou manietar-lhes
os movimentos, mas tão-só deixá-los aproveitar
da benesse de uma sociedade vocacionada para programar com eficiência um mundo
melhor, muito mais culto e mais saudável.
Vozes do CDS: Muito bem
O orador: Não fica mal, nesta Assembleia de homens livres, saudar a
lição de liberdade que os ciganos souberam sempre dar ao mundo,
pedindo para eles compreensão e amizade,
pedindo para as crianças ciganas um mundo diferente de paz e amor, pedindo
para os velhos ciganos uma velhice repousada.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Se procedermos desta maneira só assim poderemos pertencer a um mundo que não nos envergonha, só assim podemos viver em paz! Que não é só paz a ausência de armas, porque é verdadeiramente paz a tranquilidade de consciência, a fraternidade e o amor.
Aplausos do CDS, do PS, do PSD e dos deputados independentes sociais-democratas.
ESTA ASSEMBLEIA NUNCA AJUDOU A GOVERNAR PORTUGAL
O Sr. Presidente: - Vamos iniciar o debate sobre o programa do V Governo Constitucional.
Informo a Câmara de que até ao momento ainda ninguém se inscreveu para
intervir.
Pausa .
Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões
O Sr. Cunha Simões (indep.): - Sr. Presidente, Senhora
Primeira-Ministro, Srs. Membros do Governo, Srs Deputados: Felizmente que
o País não poderá esperar muito mais para que as actuais formações
políticas e partidárias tenham de prestar contas à Nação.
Organizar eleições quando 18% do Parlamento se desvincula partidáriamente
não parece tarefa de somenos importância e poderá ser o êxito que mais
se deseja a este Governo, dado que o futuro da democracia e do País vão
nesta linha e precisam de eleições claras e de resultados inequívocos.
Supomos que o presente Governo não terá dúvidas neste exercício, uma
vez que se declara convicto a dedicar ao sufrágio o melhor da sua atenção.
Apesar de tudo, a guerrilha partidária dos visionários políticos, agarrados
a estruturas partidárias em ruínas, não perdem oportunidade, opondo
mil frentes de luta contra adversários que sempre os venceram eleitoralmente.
Seja quem for o Primeiro-Ministro que aqui venha a apresentar Governo há sempre
quem lhe descubra a lepra e a maleita, nem que para isso recorram à mentira
e à calúnia.
Esta Assembleia nunca governou Portugal! Esta Assembleia
nunca ajudou a governar Portugal! Esta Assembleia nunca deixou que ninguém
O governasse.
Vozes do PS: - Não apoiado!
O orador – Não apoiado, mas é verdade.
A Sra. Emília de Melo (PS): Não apoiado é mentira.
O orador: É verdade, Sra. Deputada! E o seu Partido tem experiência
disso.
Todos nos recordamos de como foi aqui tratado esse homem extraordinário que
se chama Nobre da Costa, vítima do primarismo político de alguns portugueses.
Depois foi Mota Pinto, atingido de outros ângulos, mas com redobrado furor.
Agora são as últimas telhas do PSD arremessadas
contra a Engª. Maria de Lourdes Pintasilgo e contra todos os membros
do Governo, os quais estão conscientes da
ingratíssima missão
para que foram chamados, num momento difícil e por um período curtíssimo.
Tenho pois a certeza de que, mesmo que Cristo aqui viesse, havia de lhe ser
pedido adiantado o dinheiro e o menu da última ceia.
Mas Portugal continuará, mau grado ter de passar sobre o cadáver político
de alguns insubstituíveis de quem a história não vai falar.
Maria de Lourdes Pintasilgo vai governar sem milagres nem catástrofes e possivelmente
sem a bênção desta Assembleia, que nunca deu nem tirou
a virtude a qualquer Governo.
Para bem de Portugal e da democracia, só desejo que o próximo Parlamento seja
de defensores Indefectíveis dos interesses nacionais, ainda que isso obrigue a sacrificar posições partidárias
VOTOS DE PROTESTO, DECLARAÇÕES DE VOTO, INTERVENÇÃO DE DESAGRAVO, A SAÍDA
DO CDS
VOTO DE PROTESTO CONTRA A NICARÁGUA
O Sr. Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões,
para pedidos de esclarecimento.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Deputado António Guterres, apesar de não
ter ouvido toda a sua intervenção e apesar
de não concordar com o voto de protesto que o Sr. Deputado anunciou,
em virtude da situação em que vivem muitos portugueses. Em vez de
lutarmos pela realidade portuguesa continuamos a preocupar-nos com os países
estrangeiros nesta Câmara – digo já que o meu voto será sempre de
abstenção e por isso nunca poderá ser por unanimidade. (risos
do PS) – Gostaria de lhe perguntar, já que conhece tão bem a Nicarágua,
quais são as as cidades que estão
destruídas e tudo aquilo que aconteceu lá por fora
Protestos do PS
O Sr. Vital Moreira (PCP): Reaccionário impertinente
O Orador: A Televisão e
a Radiofusão portuguesa, meu caro amigo, dão-nos a realidade
que todos nós conhecemos
Protestos do PS e do PCP.
O Sr. Vital Moreira (PCP) Sr. Presidente, isto é intolerável!
O Orador: Continuem a falar, senhor Deputados. Na verdade, o vermelho sempre
me desagradou. Vermelho só o tinto do Cartaxo e não esse que está
à minha frente.
Por isso, Sr. Deputado António Guterres, só gostava de lhe perguntar se me
sabe dizer quais são essas cidades destruídas
e o que se passa na Nicarágua, já que me parece que os Deputados portugueses
se esquecem da realidade portuguesa. Aqui, em Portugal, é que se sofre
e não lá fora! Os Srs Deputados não tratam nem da realidade
portuguesa nem do Povo Português!
Protestos do PS e do PCP
O Sr. Gualter Basílio (PS): reaccionário!
O Orador: - Os Srs Deputados podem continuar a barafustar que nada disso me impressiona.
Era pois, esta a pergunta que tinha para lhe fazer,
Sr. Deputado António Guterres.
O Sr.Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado António
Guterres para responder, se assim o entender.
O Sr. António Guterres (PS): Sr Presidente, peço desculpa, mas em meu
entender não vale a pena responder a esta interpelação.
Aplausos do PS e do PCP.
O Sr. Cunha Reis (CDS): - Ele não sabe e por isso não responde.
A HIPOCRISIA DOS VOTO
Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões para um esclarecimento.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr Deputado: A minha posição
ficou há dias clara sobre estes protestos contra países estrangeiros.
Na verdade, num país com meio milhão de desempregados, com centenas
de milhares de retornados, com milhões de cidadãos
pagadores de impostos, cada vez mais sobrecarregados e cada vez mais aflitos,
eu fico confuso com aquilo que se passa aqui nesta Câmara. E, principalmente,
quando vejo utilizar a hipocrisia através do Partido Comunista Português,
que aceita uns protestos, recusa outros e faz o jogo que todos nós conhecemos.
O Partido Comunista Português devia ser na verdade português e não
estrangeiro.
Vozes do PCP: - Cala a boca, provocador!
A CONFUSÃO NO ENSINO
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado
Cunha Simões
O Sr. Cunha Simões (CDS): Sr Ministro, ouvi com agrado a sua intervenção e na verdade secundo-o, porque a confusão que reinou no Ensino Secundário e no Universitário, em determinada altura, foi de tal ordem que cheguei a convencer-me de que ficaria mais barato ao MEIC vender directamente diplomas para oferecer como prenda de anos do que ter lá os alunos e os professores.
Risos.
Na verdade, nunca compreendi como era possível que se saneassem
indivíduos porque ensinavam Físicas fascista, Anatomia fascista ou
Mecânica fascista.
A pergunta que gostaria de pôr ao Sr. Ministro era a seguinte: V.Excia.
falou nos Jardins de Infância que se iriam estender
pelo país e na reconversão das Escolas do
Magistério Primário em escolas de Educação
de Infância. Pois bem, houve 154 Câmaras Municipais que responderam afirmativamente
a esta questão e 140 responderam negativamente.
Gostaria de saber qual o motivo porque estas últimas responderam negativamente
Resposta do ministro:
Em relação à questão
que me foi posta pelo Sr. Deputado Cunha Simões, tenho a informar que não
é a mim próprio que deve perguntar qual o motivo por que responderam
negativamente 154 Câmaras Municipais, mas a elas próprias. Posso apenas presumir
que elas não estão em condições, pelo
menos de momento, de colocar à disposição
do ministro as instalações que foram solicitadas.
AS OCUPAÇÕES NO ALENTEJO
O Sr Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Cunha Simões, também para
formular pedidos de esclarecimento.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - É para um protesto, Sr. presidente.
O Sr.Presidente: - Tenha a bondade.
O Orador: - Já que não está o meu colega de bancada a que o
Sr. Deputado Dias Ferreira se referiu, aproveito eu para fazer aquilo que
ele não pode fazer:
Defender de novo ocupações no Alentejo é um acto miserável de
desespero. Uma fábrica de vítimas, um sacrifício
que custará ao País mais alguns milhões, mais alguma fome, mais algum descrédito!
É evidente que estamos dispostos a viver democraticamente com todas as ideologias, mesmo as comunistas, tanto ligeiras como pesadas.
Risos gerais
O Orador: O que não há possibilidade nenhuma é de viver num país onde o crime compensa e um Partido Político é velhacouto de gangsters e de assaltantes. Muitas vezes chego-me a convencer de que entre o Partido do Sr. Cunhal e Al Capone ou há diferença ou há cadeia!
O Sr. Presidente: O Sr. Deputado não pode de maneira nenhuma dirigir-se
a um Partido Constitucional da República, que se encontra representado nesta
Assembleia e que foi livremente eleito pelo povo português, da forma como
fez. Não pode chamar-lhe velhacouto nem utilizar outras expressões
do género.
Risos do PCP e do PS.
O Sr.Presidente: - É claro que as palavras estão
ditas e já não tenho poder para
as eliminar do Diário, como seria meu desejo.
A COMISSÃO ADMINISTRATIVA DA RDP
O Sr Presidente: - Tem a palavras o
Sr. Deputado Cunha Simões, para pedir esclarecimentos.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Deputado Igrejas Caeiro, na verdade, se dissesse
que gostei de ouvir a sua peroração, mentia. Gostava mais de
o ouvir nos tempos em que o Sr.Deputado tinha mais graça. Atacar o
Governo Mota Pinto, atacar o Ministro da Comunicação Social,
parece-me completamente descabido.
O Governo Mota Pinto e o Ministro da Comunicação
Social nunca levantaram um processo contra qualquer jornalista que, despudoradamente,
os atacasse.
O Sr. Presidente: - Dá-me licença, Sr. Deputado?
O Orador: - Faça favor
O Sr.Presidente: - O Sr. Deputado pediu a palavra para pedidos de esclarecimento
e está fazer uma intervenção.
O Orador: Na verdade, vou pedir esclarecimentos, mas estou apenas a fazer
uma apreciação do foi dito para depois colocar a minha
dúvida.
Como ia dizendo, o Governo Mota Pinto não levantou um único processo,
enquanto todos os outros Governos moveram processos
a jornalistas, por tudo e por nada, e até esta própria Assembleia,
ainda há dias, aqui levantou um problema por causa de jornalistas, salvo erro,
do jornal O DIA.
Ora, afinal onde está a sua isenção,
Sr. Deputado? O Sr. Deputado teve a Radiofusão na mão, e quando
a rádio, desde 1974 a 1978, esteve na mão dos socialistas muita gente
deixou de ouvir a Radiodifusão Portuguesa.
Vozes do PSD: - É verdade, é!
O Orador: - Considera que, nessa altura, tínhamos uma Radiodifusão
que não era propagandista? Era uma rádio que fazia a propaganda de
determinadas ideias.
Sr. Deputado Igrejas Caeiro, parece-me que a objectividade e o pluralismo
são atributos da nossa rádio actual, embora não
a considere uma maravilha. No entanto, é muito melhor do que aquela que tínhamos
quando o Sr. Deputado a esteve a dirigir.
Vozes do PS e do PCP: - Não apoiado!
O orador: Queria perguntar-lhe o seguinte: acha – e peço-lhe que me responda
com toda a franqueza, – que a Radiodifusão, entre 1974 e 1978, era
objectiva e tinha o pluralismo que o Sr. Deputado aqui, neste momento, apregoa?
É apenas esta pergunta que lhe queria colocar e
gostaria que a sua resposta fosse concisa.
O Sr Presidente: Sr. Deputado Igrejas Caeiro, há mais Srs. Deputados inscritos. Deseja responder já ou no fim?
O Sr. Igrejas Caeiro (PS) : - Prefiro responder já.
O Sr. Presidente: Faça favor.
O Sr. Igrejas Caeiro (PS): Eu optei por uma declaração política exactamente para evitar que esta
Câmara perdesse tempo e é evidente que a única coisa que desejo responder
ao Sr.Deputado Cunha Simões é que ele tem razão, eu tinha
muita graça.
Em todo o caso tenho-a ainda, mas tive pudor de contar nesta Assembleia uma
anedota chamada Cunha Simões.
Aplausos do PS.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Conte-a, conte-a! Ou
vai guardá-la para a segunda edição dos "Companheiros
da Alegria?"
SUBSIDIOS À COMUNICAÇÃO SOCIAL
O Sr. Presidentes: - Para pedir esclarecimentos, tem palavra o Sr. Deputado
Cunha Simões.
O senhor Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr Deputado
Jorge Lemos: Ouvi com prazer a sua intervenção
e gostava de lhe pedir alguns esclarecimentos
Concorda o Sr. Deputado que o Governo continue a subsidiar os jornais e os
orgãos de Comunicação
Social que dão prejuízos incalculáveis ao Povo Português?
O Sr. Aboim Inglês (PCP): Será o Jornal Novo?
O orador: - Sr. Deputado, não tenho nada a ver com o Jornal
Risos do PCP
Nunca escrevi para esse jornal...
Vozes do PCP: - E para O Diabo, não?
O Orador: -... Nem para o Diário, nem para o outro.
O Sr. Aboim Inglês (PCP): - É a voz do Templário.
O Orador: - Tenho a dizer-lhe, Sr. Deputado, que um jornal é uma empresa e
como tal tem de dar rendimento. Se não der esse rendimento, tem de
ser fechado.
Como os Srs. Deputados sabem, sou do interior do País e por isso conheço
as suas carências de toda a ordem; desde o saneamento básico, às escolas,
etc. Enquanto os jornais e a Comunicação
Social em geral recebem, por ano, 1 milhão de contos, este país vive
na miséria e o povo sofre todos os dias.
Vozes do PCP: - Vê-se,
O Orador: - Quando o Sr. Deputado Jorge Lemos apoia esses orgãos de
Comunicação Social, esquece que esse dinheiro, entregue
a alguns desses órgãos, que não souberam
gerir os seus jornais – e quem quiser ter jornais tem de saber geri-los, sem
desviar os dinheiros públicos – é realmente necessário para o Povo
Português. Por isso, penso que subsidiar esses jornais é um autêntico
roubo ao Povo Português.
Lembro-lhe ainda que no outro tempo houve jornais que foram subsidiados pelo
povo português...
A Sra. Ercília Talhadas (PCP): - Que saudades que o Sr. Deputado sente!
O Orador: - Minha senhora, tenho saudades, sem dúvida,
e também gosto muito de a ouvir.
Risos
Tenho saudades porque antes do 25 de Abril sempre disse aquilo que me apeteceu
e agora continuo a dizer aquilo que me apetece. Antes do 25 de Abril nunca
fui processado e hoje tenho um processo por aquilo que escrevi.
Protestos inaudíveis do Sr. Deputado Victor Louro.
O Sr. Deputado Victor Louro tenha cuidado, pois ainda vai parar ao Jardim
Zoológico. Olhe que o Sr. Deputado ainda volta para lá!
O Sr. Lino Lima (PCP) : – Os que falavam a favor não eram perseguidos.
O Orador: - O que é verdade é que houve jornais que foram subsidiados
no outro tempo, como é o caso do Jornal República, subsidiado directamente
pelo povo português.
Lembro aos Srs. Deputados e aos próprios jornalistas que esse subsídio é o
único subsídio honroso que o jornalista merece. Esse sim. Se o Povo Português
quer ter os seus jornais compra-os e lê-os. Foi o que aconteceu com
o Jornal República e o que deve continuar a acontecer, porque não podemos
continuar a ver nas freguesias do interior a falta de estradas, de esgotos,
de água, de luz, enfim, falta de tudo. Se os Srs.
Deputados querem viver aqui à tripa-forra é com os Srs. Deputados.
Não se pode manter um jornal e esperar que o Governo lhe dê um
subsídio para que ele sobreviva.
Sr. Deputado Jorge Lemos, quero apenas saber, além da pergunta
que já lhe fiz, quais são os grupos capitalistas que são
agora privilegiados pelo Governo e qual a Imprensa privada que é subsidiada?
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lemos, para responder,
se assim o entender
O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Cunha Simões: Antes de responder ao seu chorrilho de demagogia,e para ficarmos mais esclarecidos sobre o que o Sr. Deputado acabou de dizer, gostava de lhe perguntar se falou em nome pessoal ou em nome do seu Grupo Parlamentar...
Começando pelo fim dos seus pedidos de esclarecimento, ao dizer que nunca
foi perseguido antes do 25 de Abril, devo dizer que isso é claro porque o
fascismo nunca perseguiu fascistas. Creio, aliás, que isso é claro para todos
nós.
Aplausos do PCP, de alguns deputados do PS e dos deputados independentes Lopes
Cardoso, Vital Rodrigues e Brás Pinto.
O Sr. Deputado Cunha Simões preocupa-se muito com os custos da informação, mas se calhar não ouviu bem a minha intervenção. Ela mostra que a Comunicação Social tem um custo social e esse mesmo custo deverá ser suportado pelo Governo. Com o que não concordamos é que, enquanto apertam os cordões e a bolsa aos órgãos públicos que são pluralistas, como manda e garante a Constituição, se dêem subsídios à imprensa privada. Aliás, é o próprio jornal O Tempo que reconhece e que apregoa nas suas páginas que, para já, irá receber um subsídio de 2400 contos. Veja, Sr Deputado, que nem somos nós que o estamos a dizer. Mas também seria bom que soubéssemos quanto é que o jornal do seu Partido vai receber. Isto dar-lhe-á, talvez, uma noção do que pensamos.
Mas o Sr, Deputado, que está tão preocupado com as carências do povo
português, não se preocupou quando votou a favor da Lei das Indemnizações,
fazendo com que os grandes tubarões, os grandes monopolistas, recebam milhões
e milhões de contos em desfavor das crianças e daqueles que não
têm trabalho e que nada recebem !
O Sr. Deputado não se preocupou quando votou a favor da Lei do Ensino
Privado que vai pôr o Estado a subsidiar os colégios para os
filhos dos ricos. Nessa altura não se preocupou!
Aplausos do PCP
O Sr. Pedro Roseta (PSD): -
O Orador: - Preocupa-se agora porque acha que o Governo ainda devia apertar o cerco à imprensa. Esse é o seu único objectivo, Sr. Deputado.
Mas como lhe disse, o fascismo nunca perseguiu os fascistas e de fascistas nós não temos lições a tirar nem temos, sequer esclarecimentos a dar-lhes.
Aplausos do PCP
Uma voz do PSD: – sabem tudo !
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente, peço a palavra para um suave contraprotesto.
Risos
O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Deputado Cunha Simões (CDS): Sr. Presidente, Sr. Deputado Jorge Lemos: Na verdade, não gostava de ser muito contundente com o Sr. Deputado.
O Sr. Deputado tentou ofender-me ao chamar-me fascista. Devo dizer-lhe que
não me ofendeu absolutamente nada. Mas fique sabendo que se me chamasse
comunista é que eu ficava ofendido
O Sr. Lino Lima (PCP): Claríssimo !
Risos gerais e aplausos
O Orador: Muito obrigado, Srs. Deputados. Queria dizer ao Senhor Deputado
Jorge Lemos que tenho pena que, sendo uma pessoa inteligente, seja influenciado
pelo Partido que o rodeia, porque, para mim, o Partido Comunista Português
é o partido do riso, da asneira ... do complexo de inferioridade, do qual
o Sr. Deputado nunca mais se há-de livrar. E teria muito mais para
lhe dizer se, na verdade isto não fosse pago pelo Povo Português e
não tivesse o tempo contado.
Na verdade a Imprensa tem, sem dúvida alguma, um custo social, mas devo dizer-lhe
que não apoio que haja subsídios nem para a imprensa estatizada nem
para imprensa privada. Como se diz na minha terra “quem quer bolota trepa”.
E por isso, meus amigos, e se “quem tem unhas é que toca guitarra”,
quem quiser um jornal ou fazer Comunicação Social terá de lutar
porque, como disse, é o Povo Português que sofre e que tem as carências.
Enquanto os Srs. Deputados continuam a defender que
se pague isto e aquilo, não se lembrando precisamente desse Povo que
lhes
O Sr. António Pedrosa (PCP): Não merece o ordenado que recebe !
O Orador: - É verdade. Cada um devia ser pago por aquilo que diz e
faz em favor do Povo Português.
VOTO DE PROTESTO CONTRA O GOVERNO BRASILEIRO
DECLARAÇÃO DE VOTO
Como cidadão, como homem livre, como espectador do panorama político em Portugal nas últimas décadas,
julgo-me no dever de evitar que o mau funcionamento
da democracia e a repressão conduzam os portugueses
à ditadura e ao totalitarismo como acontece na União
Soviética, no Chile, na Checoslováquia, em Moçambique, em Angola ou Polónia,
etc. etc.
Como Deputado eleito pelo povo português reafirmo a minha intenção de só o Povo Português aqui defender
nesta Assembleia.
Fora dela, o meu apoio é total a todos os povos oprimidos.
Especialmente hoje, e especialmente num momento em que os destinos da Nação apresentam fortíssima incerteza, é trágico desviar as atenções da Assembleia da República praticando mais um enxovalho a um país estrangeiro, desta vez o Brasil, num gesto platónico de defesa de direitos que por si só não tem qualquer eficácia, e pode prejudicar as relações internacionais de Portugal.
- Cunha Simões (CDS)
MAIS UM VOTO INÚTIL, PERDA DE TEMPO, DINHEIRO E PACIÊNCIA
O Sr Cunha Simões (CDS): - Que país desgraçado!Os deputados passam o tempo
a discutir os assuntos dos outros países e não os nossos. Por exemplo, o Sr.
Deputado Acácio Barreiros está sempre a discutir os assuntos
dos países estrangeiros, mas... e os de Portugal?
O Sr. Presidente: - O Sr Deputado Cunha Simões, se quiser falar terá de pedir
a palavra.
Quanto ao pedido formulado pelo Sr. Deputado Vilhena de Carvalho, se ninguém
se opuser está concedido.
Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Alegre.
O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: apesar do adiamento
da votação deste voto de saudação,
o Grupo Parlamentar do Partido Socialista deseja tornar já conhecida a sua
posição.
Assim, o Partido Socialista vai abster-se, porque não concorda com
os termos em que este voto está formulado. Independentemente disso,
o Partido Socialista é solidário com a luta do povo do Irão
para instaurar no seu país um regime democrático. E formulamos votos para
que a queda do Xá dê origem a um processo autenticamente democrático
e para que, em paz e sem ingerências externas, o povo iraniano possa escolher
livremente o seu destino
Essa é a nossa posição.
Vozes do PS: Muito bem!
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Peço a palavra, Sr.Presidente.
O Sr. Presidente: -Tenha a bondade, Sr. Deputado.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr Presidente, Srs. Deputados: Na verdade, é muito triste dizer isto: este País, que vive mal e que sofre todos os dias as maiores privações, vê que este Parlamento continua a preocupar-se com os problemas dos países estrangeiros e a descurar os nacionais. Isto não pode continuar. Eu vivo no interior do país. Sei a miséria que o povo sofre.
Portugal é um país desorganizado e penso que os
Srs. Deputados têm culpa daquilo que se está passar. Peço-lhes,
por isso, que não continuem a desviar-se dos assuntos prementes deste
País camuflando-os com os problemas de outros países.
Para já, era só isto que lhes pedia, Srs. Deputados.
O Sr. Carlos Robalo (CDS). Peço a palavra, Sr.Presidente.
O Sr. Presidente: - Pode dizer-me qual o motivo,
Sr. deputado? É que já interveio um Deputado do seu Grupo Parlamentar.
O Sr. Narana Coissaró (CDS): - Foi a título pessoal, Sr. Presidente!
O Sr. Carlos Robalo (CDS): Sr. Presidente, pedi a palavra para explicar o
sentido do voto do meu Grupo Parlamentar, mas, se, em termos regimentais,
não posso intervir, agradeço a V.Excia a informação
e não intervenho.
O Sr. Presidente: Sr. Deputado é que segundo o Regimento não
pode intervir mais do que um Deputado por cada Partido.
O Sr. Carlos Robalo (CDS): - Sr. Presidente, agradeço a V.Excia
o rigoroso cumprimento do Regimento, desejando bem
que o mesmo continue a ser cumprido com o rigor com que está neste momento
a sê-lo.
O Sr. Presidente:- Sr. Deputado Carlos Robalo, o Regimento terá de ser cumprido com o rigor que é possível e parece-me que este preceito
é bem claro
O Sr. Nuno Abecasis (CDS): - Peço a palavra para um esclarecimento,
Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: - Tenha a bondade, Sr. Deputado.
O Sr. Nuno Abecasis (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados.
Quero chamar a atenção do Sr.Presidente para o facto de não
ter interrogado o Sr. Deputado Cunha Simões sobre o motivo da
sua intervenção.
O Sr Presidente concedeu-lhe a palavra no seu legítimo direito, mas toda a Câmara se tinha apercebido de que o Sr. Deputado Cunha Simões queria exprimir uma opinião pessoal. Como penso que o Partido tem o direito, tal como acaba de fazer o PS, de exprimir a sua posição acerca deste voto, Peço ao Sr. Presidente que reconsidere a sua posição.
O Sr. Presidente: - Sr.Deputado, o seu camarada de bancada...
O senhor Cunha Simões (CDS): - Camarada, não, Sr. Presidente!
Risos.
A oposição que sempre manifestei aos votos
contra ou a favor de países estrangeiros, devido à ineficácia
dos mesmos, fez que o CDS, pela voz de Adelino Amaro da Costa recusasse voltar
a pronunciar-se sobre este assunto.
Nuno Abecasis sublinha-o a meio deste debate que se previa interminável
Para cortar, de uma vez por todas, o mal pela raiz tive de ser extremamente
duro para com o Deputado Aires Rodrigues e envolvi também a Assembleia da
República por conivência na de- lapidação
dos dinheiros públicos.
Rebentou o escândalo.
Maior não foi porque o Presidente do Grupo Parlamentar, nessa altura
o Deputado Rui Pena, depois do Presidente da Assembleia da República,
Deputado Teófilo Carvalho Santos, homem exemplar e meu saudoso amigo, ter encerrado
a sessão, o CDS pediu a suspensãoda mesma.
Rui Pena e todos os meus colegas do CDS insistiram para não regressar
nesse dia ao hemiciclo, argumentando que assim iria fazer perder mais tempo
à Câmara o que eu sempre pretendi evitar.
Rui Pena, no hemiciclo, foi infeliz ao tentar deitar água na fervura. Ofendeu-me,
talvez sem intenção. Até posso compreender o nervosismo
do momento, mas lá diz o ditado: quem não se sente...
Em Janeiro, desse mesmo ano, eu já tinha pedido para reingressar como professor
na Escola de Santa Maria do Olival. A Direcção
do Partido não sabia dessa intenção,da
mesma maneira que não lhes passou pela cabeça eu tornar-me independente
logo que tive conhecimento dos infelizes termos que Rui Pena empregou para
verberar o meu comportamento e pedir desculpas.
Aos Deputados dos outros Partidos admitiria esta e outras palavras até
mais violentas, pois eu tinha provocado a situação
e a linguagem ultrapassa muitas vezes o limite do razoável. A um deputado
do meu Partido nunca o consentiria.
A amizade, a união e a confidencialidade de tudo quanto se passava no seio do CDS era muito grande. Se entre nós, as palavras não tinham importância ou eram minimizadas, no hemiciclo tomavam a forma de insulto.
Vamos então ao que se passou. Transcrevo mesmo a parte final
do debate, já sem eu me encontrar no hemíciclo.
UM ÚLTIMO VOTO FOI A EXPLOSÃO TOTAL. A PARTIR DESSE DESTE MOMENTO A
MINHA CARREIRA POLÍTICA ESTAVA DETERMINADA
O Sr. Nuno Abecasis (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar,
abstivemo-nos porque, conforme já anteriormente anunciámos nesta Assembleia,
entendemos que não é este o lugar próprio, para sistematicamente votarmos
sobre problemas de política internacional
Mas mesmo que assim não fosse, nós estaríamos impossibilitados
de dar a nossa adesão ao voto apresentado
pela Sr.ª Deputada Carmelinda Pereira tal como ele vem expresso. Com efeito,
esta Srª Deputada revela uma grande sensibilidade em
relação aos problemas dos Direitos Humanos que nós, aqui, intransigentemente
temos defendido, mas parece consubstanciá-los apenas nos 15 militantes
do Partido trotskista do Irão, que estão
presos, esquecendo os milhares de pessoas que foram fuziladas sem sequer terem
sido julgados e esquecendo que, em termos de Direitos Humanos, a todos os
homens assiste a defesa desses direitos, mesmo que a pessoa em causa seja
o Xá da Pérsia.
O senhor Rui Pena (CDS): Muito bem!
O orador: - Além disso, não podemos compreender
que nesta Assembleia, invocando os Direitos Humanos, se apresente um voto
destes ignorando que os mesmos “comités Khomeiny” declararam a
perseguição universal a um homem que no caso presente
é o Xá da Pérsia, declarando que qualquer que seja o sítio onde
ele se refugie há-de ser liquidado por esses mesmos comités
e por essa ideologia que os enforma
Portanto, que fique bem claro que o CDS, tal como já anteriormente o fez a União Europeia das Democracias Cristãs, condena tudo, mas tudo o que se passa actualmente no Irão e não só a prisão dos 15 membros do partido trotskista. Esses também os lamentamos, mas a nossa condenação é bem mais vasta do que, a que aqui vem expressa.
O Sr.Rui Pena (CDS): Muito bem!
O Sr.Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Aires Rodrigues.
O Sr. Aires Rodrigues (Indep.) Sr. Presidente, pedi a palavra para protestar em relação à declaração de voto do Sr. Deputado do CDS.
Em primeiro lugar, direi que é evidente que no voto estão claramente expressas...
O Sr. Presidente: - Se o Sr. Deputado me dá licença quero lembrá-lo
de que o Sr. Deputado Nuno Abecasis fez uma declaração de voto,
e em relação às declarações de voto não
se podem fazer protestos.
O Orador: Sr. Presidente penso que se está a seguir um formalismo demasiado rigido.
Risos
...dado que perante declarações, tenham elas a forma de declarações
de voto ou de intervenções, sempre se têm feito protestos.
O Sr. Cunha Simões (CDS): Porque é que não se fecha esta Assembleia?!
É o Povo Português que a está a pagar! Continuamos
só a preocupar-nos com o estrangeiro!
O Sr. Presidente: Sr. Deputado Cunha Simões, peço-lhe o favor de só
usar da palavra quando a pedir e lhe for concedida.
Quanto ao Sr. Deputado Aires Rodrigues, tenho a dizer que não o posso
deixar continuar a falar sobre este assunto.
Por que é que o Sr. Deputado não propõe a alteração do Regimento relativamente a este ponto...
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Isto não é
a Assembleia da República, isto é a Assembleia da Vergonha!
O Sr. Cunha Simões (CDS): - O senhor não
é um Deputado, o senhor é a carraça do Povo Português!
O Sr. Aires Rodrigues (Indep) Sr. Presidente, penso que fui insultado, assim
como todos os Deputados desta Assembleia, por aquele Sr. Deputado, que visa
espezinhar a vontade popular
A SrªMaria Emília de Melo (PS): Muito bem!
O Orador: - O apodo de que fui vítima não me atinge apenas a
mim, Sr. Presidente. E por isso peço a V. Excia. que intervenha nesse
sentido.
Vozes do PS: - Muito bem!
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Cunha Simões, quer retirar o que disse?
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr.Presidente, perante aquilo que o Povo
Português está a sofrer, não posso retirar aquilo que
disse. Esta Assembleia tratando os assuntos..
O Sr.Presidente: - Está interrompida a reunião.
O Orador: - ...de países estrangeiros e não tratando dos assuntos de Portugal...
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, está interrompida a reunião.
O Orador: - ...é na verdade a Assembleia da Vergonha!
Protestos do PS e do PCP.
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Isto não pode ser, Sr.
Presidente, é intolerável!
Pausa.
O Sr. Presidente: - Está reaberta a reunião.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Sr. Presidente, aquilo que tenho a dizer
ao Sr. Deputado Aires Rodrigues é que o tempo que ele aqui perde a
tratar de assuntos estrangeiros, se tratasse dos assuntos portugueses, para
o bem-estar do Povo Português, eu até estava a favor dele, mas
assim tenho de estar sempre contra.
O Sr. Presidente: - Não parece.
O Orador: - Tenho sim, Sr. Presidente. simplesmente, ao Sr. Deputado Aires Rodrigues não posso pedir desculpas, nem posso retirar o que disse.
O Sr. Rui Pena (CDS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr.Presidente: - Faça favor.
O Sr Rui Pena (CDS): - Sr. Presidente, nos termos regimentais requeiro a interrupção dos trabalhos por dez minutos.
O Sr.Presidente: - Está deferido o requerimento. A reunião é
interrompida por dez minutos.
Eram 17 horas
O Sr. Presidente: - Srs. Deputados,está reaberta a reunião.
Eram 17 horas e 20 minutos
O Sr. Presidente: - Comunico à Câmara que o Sr. Deputado que há pouco perturbou os trabalhos não está presente.
Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Pena.
O Sr.Rui Pena (CDS): - Sr. Presidente, é em primeiro lugar a V.Excia que gostaria de dirigir-me e, muito simplesmente, para, em nome do Grupo Parlamentar do CDS, lamentar os termos em que decorreu a última parte do debate e que mereceu a interrupção por parte de V. Excia.
Em nome do Grupo Parlamentar do CDS quero apresentar à Assembleia da República as desculpas desta bancada pelos termos soezes com que, em nosso entender, a Assembleia da República - a Instituição por excelência, bandeira da nossa democracia - foi ofendida por um Deputado da minha bancada. E mais: queria dizer que nós, centristas, sempre defendemos e nos apresentámos, neste Parlamento, com uma maneira especial de estar, de tolerar, sem nunca diminuir, um momento que fosse, a nossa determinação na daqueles ideais de que o povo português nos deu a representar. Isso não impede, de forma nenhuma, uma convivência democrática, uma tolerância, a respeitabilidade pelos demais Partidos, pelos demais Deputados, pelos diversos pontos de vista que aqui são expressos nesta Assembleia...
O Sr. Carlos Lage (PS): - Muito bem!
O orador: - E que todos entendemos são expressos
no sentido da dignidade desta casa e no sentido de melhoria do nosso país
O Sr. Salgado Zenha (PS) – Muito bem!
O orador: - Por tudo isto, Sr. Presidente e Srs. Deputados queria requerer,
em nome do meu Grupo Parlamentar, que V.Excia. determinasse que a última parte
do debate e no que respeita a agressões, em nosso entender, descabidas,
a um Deputado desta Casa, fossem pura e simplesmente rasuradas
na acta desta sessão.
Aplausos do CDS, do PS, do PSD e dos deputados independentes sociais
O Sr. José Luís Nunes (PS):- Peço a palavra.
O Sr.Presidente: - Faça favor, Sr Deputado.
O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados:
As minhas palavras são muito breves para justificar o nosso voto a
favor, em relação ao voto apresentado pela Srª Deputada
Carmelinda Pereira.
Em segundo lugar, a Assembleia adquiriu uma outra responsabilidade nesta matéria
quando votou há algum tempo, um
voto congratulação por acontecimentos que
se tinham passado no Irão, país a que se refere o voto em causa.
Em terceiro lugar, penso que continuando sempre a protestar contra ofensas
que se fazem em qualquer parte do mundo aos Direitos do Homem, numa futura
Reforma Regimental este problema dos votos, em toda a sua amplitude,
deverá ser encarado de frente, de modo a realçar e a dar força às posições
que a Assembleia deva tomar nesta matéria e evitar uma constante banalização
que a ninguém interessa.
Aplausos do PS
O Sr. Vital Moreira (PCP) Peço a palavra.
O Sr Presidente: - Faça favor, Sr. Deputado..
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Presidente, Srs Deputados. Quando pedi a
palavra imediatamente a seguir à expressão inqualificável
proferida pelo Sr. Deputado Cunha Simões, pretendi pedi-la para exarar,
em nome do Grupo Parlamentar do PCP, um protesto por essa frase que, obviamente,
não atinge apenas o Deputado a propósito do qual foi proferida,
mas naturalmente a Assembleia da República, como Instituição,
e todos os Deputados que dela fazem parte
O orador: Essas responsabilidades cabem a outrem, que não à Assembleia em si mesma, que é composta por quem cá está. Em todo o caso, julgamos que as palavras do Sr. Deputado Rui Pena -, -pertinentes, oportunas e justificadas – vêm dar razão às vozes que imediatamente se levantaram, protestando contra a intervenção do Sr. Deputado Cunha Simões.
Resta-nos esperar que as próximas eleições intercalares permitam que o Sr.
Deputado Cunha Simões não volte a envergonhar a Assembleia da
República.
Vozes do PCP – Muito bem!
O Sr. Rui Pena (CDS): - Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Pena (CDS) : - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É apenas para
declarar que, tal como o meu Grupo Parlamentar se insurgiu há pouco
com as ofensas
Aplausos do CDS e do Sr. Deputado Amândio de Azevedo (PSD).
O Sr. Aires Rodrigues (Indep): - Sr. Presidente, peço a palavra
O Sr. Rui Pena (CDS): - Peço a palavra.
O Sr. Presidente:- Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Pena (CDS): - Sr. Presidente, Srs.Deputados: Era apenas para referir
que, anteriormente
O senhor Veiga de Oliveira (PCP): - Não pode retirar-se.
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Presidente, peço a palavra.
O Sr. Presidente:- Faça favor.
O Sr Vital Moreira (PCP): - Sr. Deputado Rui Pena: o Sr
Deputado entendeu dever protestar contra a forma, por si qualificada de violenta
O Sr. presidente:- Srs. Deputados, há portanto dois requerimentos: um do Sr. Deputado Rui Pena para que sejam rasuradas da acta de hoje as palavras proferidas pelo Sr. Deputado Cunha Simões e outro apresentado pelo Sr. Deputado Aires Rodrigues, que já foi lido pelo próprio.
Mas para decidir sobre estes dois requerimentos parece-me que terei de ouvir a Câmara, a fim de evitar que qualquer decisão minha seja apoiada por umas bancadas e não apoiada por outras. Por isso, talvez sendo a Câmara a tomar uma orientação fosse mais prática a solução. Oxalá tenha razão.
O Sr Magalhães Mota (indep.): Peço
a palavra
O Sr Presidente: - Faça Favor.
O Sr. Magalhães Mota (Indep): - Sem pretender discutir os requerimentos
apresentados, porque isso não é possível, gostaríamos, no entanto,
de fazer algumas considerações também sob o incidente que a eles deu origem
Temos para nós que o Regimento é claro quanto a que constituem deveres dos
Deputados, nos termos das alíneas d e e) do número 1 do art.º
15º, respeitar a dignidade da Assembleia e dos Deputados. A observar
a ordem e a disciplina fixadas no Regimento e acatar a autoridade do Presidente.
São disposições claras do nosso Regimento, são deveres dos Deputados que, para nós é também claro,
foram infrigidos nesta sessão.
Mas, Sr. Presidente e Srs. Deputados, trata-se, no nosso modo de ver, de deveres a que o nosso Regimento não fez corresponder qualquer sanção. Podemos neste momento e neste lugar lamentar -nos do facto, mas cremos que o Regimento é claro. E portanto o que sugerimos é que ouvida
a Comissão de Regimento e Mandatos, essa lacuna, porque
de lacuna se trata, possa ser integrada.
Não nos parece que qualquer das soluções propostas seja viável. Em primeiro lugar, porque o Diário deve relatar aquilo que se passa na Assembleia; não pode ser emendado a nosso belo prazer, não pode, infelizmente, ser modificado. Os factos são o que são; as declarações produzidas foram-no, todos lamentamos, mas a verdade é que são factos e o diário deve ser a acta fiel daquilo que decorreu durante a sessão.
Em segundo lugar, também não nos parece que seja possível a esta Câmara
impor-se de algum modo à vontade do próprio eleitorado. O Sr. deputado
Cunha Simões foi eleito como qualquer de nós e esta Assembleia não
tem, naturalmente, competência para se pronunciar sobre o seu mandato. Poderá,
quando muito interrogar-se sobre a coerência de quem, entendendo que a Assembleia
é uma vergonha, nela permanece.
O Sr. Vital Moreira (PCP) – Muito bem!
O orador: - Isso com certeza que é legítimo e essa
interrogação nós a faremos, mas não podemos
sobrepor-nos nem devemos ter a pretensão
de tentar, por nossas mãos, emendar o voto de quem também nos elegeu
O Sr Vital Moreira (PCP): - Peço a palavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: Faça favor
O Sr. Vital Moreira (PCP): - Sr. Presidente, serei breve.
Pedi a palavra para apoiar as teses expendidas pelo Sr. Deputado Magalhães
Mota. Quanto ao primeiro requerimento, parece-nos que ele não tem objecto
e contraria fundamentalmente outras normas regimentais, segundo as quais,
designadamente, o Diário deve reproduzir tudo aquilo
Cremos, entretanto, que o Presidente da Assembleia da República foi claro,
ao fazer suspender a sessão, no que lhe merecia
de censura a atitude tomada pelo Sr. Deputado Cunha Simões. Pela nossa parte
também já o expendemos e creio que os Grupos Parlamentares que sejam
desse opinião o devem também exprimir.
Em todo o caso, entendemos não haver lugar para censuras institucionais
da Assembleia da República como tal
O Sr. Veiga de Oliveira (PCP): - Muito bem!
O Sr Presidente: - Srs. Deputados, estamos portanto, como acabou de ser dito,
perante um problema que não tem sanção estabelecida nem
onde encontrar caso semelhante.
Além das disposições que foram citadas pelo Sr. Deputado Magalhães
Mota,- as alíneas d) e e) do nº 1 do art.º
15 do Regimento - há ainda a alínea i) do art.º
26 do regimento, que diz que compete ao Presidente da Assembleia da República,
quanto aos trabalhos da Assembleia, manter a ordem de disciplina
Como se tem aqui visto vários Deputados de vários Partidos têm
sugerido várias soluções. Isto é, não há
efectivamente um objectivo que tenha sido atraído por todos os Partidos.
Desta maneira, e depois de dar entretanto a palavra aos Deputados que já
a pediram, proporia - se a Assembleia assim o entendesse,
O Sr. Rui Pena (CDS): - Sr. Presidente, peço a palavra.
Sr. Presidente: - Faça favor. Sr. Deputado.
O Sr. Rui Pena (CDS): - Sr. Presidente, era para retirar o requerimento que há pouco formulei.
O Sr. Presidente: Como ninguém se opõe considero-o retirado.
O Sr. Aires Rodrigues (Indep) : - Sr. Presidente, em função
das questões que agora foram levantadas do ponto de vista do Regimento,
põe-se o problema se de facto pode haver uma sansão institucional
da Assembleia da República perante os insultos proferidos. O requerimento
que apresentei era no sentido
O Sr. Amândiode Azevedo (PSD): - Peço a palavra
O Sr. Presidente: - Faça favor, Sr Deputado.
O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): Sr. Presidente, Srs. Deputados é pena
que este incidente se não tivesse considerado encerrado a seguir às
palavras do Presidente do Grupo Parlamentar do CDS, Deputado Rui
Tudo o que se disse a seguir contribuiu muito mais para complicar
as questões e para fazer perder tempo à Assembleia do que para esclarecer
este assunto.
Vozes do CDS: - Muito bem.
O Orador: Ainda bem que o requerimento apresentado pelo Sr. Deputado Rui Pena
foi retirado, porque ele choca manifestamente com disposições
do Regimento.
Quanto ao requerimento do Sr DeputadoAires Rodrigues, o Sr.Presidente já
convidou o Deputado em questão a retirar as palavras que formulou,
mas ele não o quiz fazer. É evidente que a Assembleia só
se desprestigiaria se viesse agora com uma votação fazer-lhe
essa exigência, que naturalmente não seria também cumprida.
Portanto, entendemos que já se disse de mais sobre este triste caso e entendemos
que o requerimento não deva ser submetido à votação
nem tem qualquer conteúdo útil.
Vozes do PSD. Muito bem
O Sr Presidente: - Faça a favor
O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, Srs Deputados: No seguimento daquilo que foi dito e – muito bem - pelo Sr. Deputado Amândio de Azevedo, interponho recurso da decisão da Mesa que admitiu o requerimento apresentado pelo Sr. Deputado Aires Rodrigues.
O Sr.Presidente: - Sr. Deputado José Luís Nunes o requerimento não foi ainda admitido. Ele foi apenas recebido, foi posto à consideração da Assembleia, foi lido pelo Deputado proponente, mas ainda nem sequer foi admitido.
Sr. Deputado Aires Rodrigues: em face do que está a passar-se e do que vários Deputados têm dito, pergunto-lhe se quer ou não quer retirar o requerimento?
O Sr. Aires Rodrigues (Indep): - Sr Presidente, mantenho o requerimento no
que se refere à condenação da Assembleia em relação
às afirmações insultuosas contra ela proferidas, isto
é, a primeira parte do requerimento que diz, salvo erro, porque não
o tenho agora aqui, que a Assembleia condena o carácter insultuoso
das afirmações proferidas. Como disse, não tenho aqui
o requerimento, mas penso que a Mesa o pode ler.
O Sr. Presidente: - Então o Sr. Secretário
vai ler o requerimento, a fim de que o Sr. Deputado Aires Rodrigues
O orador: – Portanto, eu mantenho o texto do requerimento até "que a Assembleia condene este acto", retirando o resto.
Para terminar, Sr Presidente, Srs. Deputados, penso que é grave aquilo que se passou nesta Casa. Julgo que se tratou apenas de um pretexto que foi utilizado, num determinado momento político, pelo Sr. Deputado Cunha Simões...
O Sr.Presidente: -O Sr. Deputado não pode fundamentar o requerimento.
O
O Sr. presidente: - Srs. Deputados, insisto na minha sugestão de que talvez se encontre uma solução
mais fácil para o problema, uma vez, que as disposições regimentais o não
contemplam, pedindo que se faça imediatamente uma reunião
no meu Gabinete com os representantes de cada um dos partidos.
O Sr. Salgado Zenha (PS): - Peço a palavra Sr. Presidente
O Sr. presidente: - Tenha a bondade.
O Sr. Salgado Zenha (PS): - Sr. presidente, acataremos a decisão de V. Ex.a de irmos
para uma conferência de Grupos Parlamentares, mas visto que o problema já
atingiu o ponto a que chegámos, para o Grupo Parlamentar do Partido Socialista
a sua solução é extremamente simples. Para nós, a Mesa tem poderes
de manutenção da disciplina desta reunião
e portanto poderá, no decurso dos trabalhos parlamentares, exercer esses poderes
ou seja retirar a palavra, etc.. Todavia, e isso
para mim é líquido, a Assembleia nunca poderá através de um voto condenar
a actuação de um Deputado. Isso seria, manifestamente,
contrário aos príncipios gerais de Direito consignados na nossa Constituição,
que dizem que ninguém pode ser condenado sem exercer o seu direito defesa,
e até à Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que estipula
um comando da mesma natureza.
Seria extremamente inoportuno e absurdo que a propósito de uma moção
apresentada pela senhora Deputada Carmelinda Pereira, na qual se condena a
violação dos Direitos do Homem, um colega de bancada
dessa mesma Deputada vá propor a esta Assembleia que viole esses Direitos
do Homem que ela pretende defender. Logo, esta Assembleia nunca pode pronunciar
um voto de condenação contra um Deputado,
que aliás não está aqui presente e portanto não se pode
defender. O Sr. Presidente poderá, sim, no momento oportuno ou quando entender,
manter a ordem. Poderá pensar-se na alteração
do nosso Regimento. Agora esse processo expedito e sumário, proposto pelo
Sr. Deputado Aires Rodrigues, é contrário aos Direitos do Homem, é contrário
à nossa Ordem Constitucional, é contrário à Convenção Europeia dos
Direitos do Homem, e não tem cabimento nem tem objecto. Se for posto
à votação, votaremos contra; se não
for admitido, apoiaremos a Mesa.
O Sr. Aires Rodrigues (Indep): - Peço a palavra Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: - Para que efeito, Sr. Deputado?
O Sr. Aires Rodrigues (Indede): - Sr.Presidente, é para anunciar que retiro
o requerimento.
O Sr. Presidente: - Tenha a bondade.
O Sr Aires Rodrigues (Indep): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Penso que têm algum fundamento as afirmações produzidas pelo
Sr. Deputado Salgado Zenha de que a condenação
do Sr. Deputado Cunha Simões, não estando
ele presente, seria um processo sumário, contrário aos princípios da liberdade
e do direito. Nesse sentido, e porque somos contrários a processos sumários,
porque somos contrários, e creio que já o manifestámos, ao entrave e ao livre
exercício da democracia, retiramos o requerimento apresentado. Todavia julgamos
que a Assembleia, através da proposta que o Sr. presidente acabou de fazer
aos Grupos Parlamentares, deveria ter em conta o conteúdo político das afirmações
proferidas e deveria discutir o modo como a questão
deve ter uma solução.
Retiramos o requerimento, mas pensamos que a Assembleia, através da proposta
feita pelo Sr. Presidente ou de outras, deve ter em conta o carácter insultuoso
das afirmações proferidas.
O Sr Olívio França (indep): - Peço apalavra, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: - Eu já tinha encerrado o incidente. Mas o Sr. deputado
entende que tem alguma declaração a
fazer, faça favor
O Sr. Olívio França (indep): - Sr. Presidente ía dizer que não
se tornava necessário a reunião dos representantes
dos Partidos desta Assembleia. E devido à circunstância, aliás, já demonstrada,
de que não há qualquer sanção contra
palavras proferidas pelos Deputados neste hemiciclo, entendo que o problema
é de ética e de moral e portanto a própria movimentação de todo este incidente na Assembleia
já fez, sem dúvida nenhuma, o julgamento das palavras do Deputado em causa.
Penso que depois disto deve ser encerrado o incidente e que não é preciso
dizer mais nada.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o problema põe-se deste modo: O Presidente
tem obrigação de manter a disciplina, mas
dada a reacção do Deputado em causa e devido
às atitudes que ele tomou, não pôde mantê-la.
Dou por encerrado o incidente, mas acho que de facto deve ser feita uma reunião
dos representantes dos Partidos sobre o problema, até para definir o comportamento
futuro, pois não podemos estar hoje e no futuro com questões
destas. Em vez de se fazer hoje a reunião,
pois os trabalhos estão já mais do que dilatados,
e como amanhã à tarde há
a reunião normal dos Grupos Parlamentares, punha-se lá
o problema e talvez se resolva melhor.
SAÍDA DO CDS
Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República:
Agradeço a V. Excia, que a partir deste momento (dia 13 de Agosto de 1979)
dê conhecimento à Assembleia que passo a Deputado
Independente, largando, deste modo, todos os laços que me ligam ao Centro
Democrático social.
Com os meus melhores cumprimentos.
Cunha Simões
ALGUNS A REQUERIMENTOS ENVIADOS A DIFERENTES
MINISTÉRIOS
REQUERIMENTO
Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República:
Solicito a V. Excia, ao abrigo das disposições legais, regimentais e constitucionais
aplicáveis, que, através do Serviço Nacional de Emprego e da Secretaria de
Estado do Estado do Emprego, me sejam fornecidos os seguintes dados:
Serviço Nacional de Emprego:
a) Nível de desempregados neste momento em Portugal;
b) Postos de trabalho existentes antes de 25 de Abril;
c) Postos de trabalho existentes
após o 25 de Abril;
d) Previsão
de novos postos de trabalho nos próximos cinco anos.
Secretaria de Estado do Emprego:
1) Verba gasta em 1976 para subsidiar empresas deficitárias;
2) Verba prevista em 1977 para o mesmo fim,
Lisboa, 3 de Fevereiro de 1977, - o Deputado Cunha
Simões (CDS).
REQUERIMENTO
Ao abrigo da alínea C) do art.º 159 da Constituição e das correspondentes disposições regimentais,
solicito ao Ministério da Administração Interna que me informe
qual o destino do Anteprojecto de Reestruturação,
elaborado pela Comissão Nacional da Reestruturação
do Serviço de Incêndios há muita entregue.
Palácio de São Bento, 22 de Fevereiro de
1978 – o Deputado do CDS, Cunha Simões.
REQUERIMENTO
Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República:
Ao abrigo do art.º 159 alínea C), da Constituição e do art.º 16,
alínea e), do Regimento desta assembleia, requeiro ao Ministério dos
Negócios Estrangeiros que, através dos serviços competentes,
saiba o que se passa com o cidadão Fernando
Nunes Maria, preso há 20 meses na República de Angola.
Fernando Nunes Maria é natural do lugar de Barbados, freguesia de Areias,
Concelho de Ferreira do Zêzere, e prestava
serviço na Diamang como mecânico.
Este cidadão português tem estado preso sem
culpa formada, embora, segundo conste, por pessoas chegadas daquele território,
o cidadão Fernandes Nunes Maria sirva coercivamente
de electricista a cubanos.
Palácio de S. Bento, 9 de Novembro de 1978 – o Deputado do CDS, Cunha
Simões.