UM PAÍS INGOVERNÁVEL
OU POLÍTICOS INCAPAZES?

O grave crime dos governantes deste País, desde que se democratizou, é teimarem em manter este Povo na mais desbragada ignorância.

Os culpados foram sempre os que desgovernaram antes. Andamos assim há séculos. Os delinquentes foram sempre os outros.

O português até nem precisa de desculpas. A sua inteligência, a sua capacidade de trabalho, a sua imaginação e a sua sensibilidade são suficientes para não ter que se desculpar com coisíssima nenhuma. Basta trabalhar, concentrado na tarefa que lhe está destinada. Das suas qualidades nasce a riqueza e a prosperidade.

Aquilo a que o português não resiste é à má-língua e à intriga. Se ele toma conhecimento das críticas que lhe fazem, claudica imediatamente. É um erro que tem que ser corrigido e contra o qual todos temos de lutar. Sobre essa peste já lhe tentei pegar fogo ao escrever no semanário "A Província", logo nos começos desta atribulada revolução, da qual ainda não conseguimos despir a estupidificação inicial:

A má-língua em Portugal é a única instituição que funciona.

Nunca ninguém tentou fazer neste país fosse o que fosse que não levantasse de imediato uma onda de maledicência.

Por esse mundo de Cristo, deixa-se governar quem governa e trabalhar quem trabalha. Em Portugal ainda não se conseguiu esse objectivo. Na verdade, quando é preciso, mas só quando é preciso utiliza-se a crítica inteligente, séria e frontal.

Em Portugal, seja qual for o serviço a prestar ou prestado, injuria-se, sabuja-se, difama-se. É a resposta da incompetência num país em que muitos não querem trabalhar e muitos outros não sabem trabalhar.

O Governo terá dois caminhos: o caminho do passado; via Salazar, obrigando, a safanão, a meter a viola no saco aos imbecis. A outra solução é cerrar os ouvidos a quem não merece atenção e ordem nenhuma.

Seja qual for a estratégia da maledicência há que continuar o caminho das decisões, da reconstrução, do ressurgimento nacional indispensável ao País aonde todos desejamos que dê gosto viver.

Faz falta deixar que os outros se sintam livres, senhores da sua iniciativa, da sua imaginação, da sua actividade de trabalho, não inutilizando com os pequenos desgostos os homens e as mulheres que podem e devem transformar Portugal.

Isso mesmo não quer dizer que não haja crítica ou que ela tenha que ser benévola ou inoperante.

Isso mesmo não quer dizer que se afrouxe a guerra sem quartel aos traidores da pátria e aos que vendem o país todos os dias.

Isso mesmo não quer dizer que não se possa utilizar a máxima severidade para os pseudo democratas e para os trapaceiros políticos que utilizam a liberdade ingénua das democracias para as aniquilar sem dó nem piedade e para todo o sempre.

Dou-lhe alguns exemplos.

Um dos homens mais inteligentes deste País é o Dr. Almeida Santos, no entanto teve o azar de ouvir o boato, a má-língua, a injúria sussurrada. Não aguentou a infâmia. Continuou o seu trabalho, fez leis, dirigiu a Assembleia da República foi o maior suporte de Mário Soares. Tenho a certeza que, sem Almeida Santos, Soares dificilmente teria conseguido levar o barco a bom porto e conquistado tanta simpatia à esquerda e à direita. Ele que é propenso a ter os seus deslizes.

Almeida Santos apagou-se, não foi Primeiro-Ministro, não foi Presidente da República porque a má-língua o abafou. Lamentei. Eu que sou um centrista, de todos os quadrantes, apostava neste socialista.

Lembro-me do Doutor António Arnaut, que desesperado por todos os entraves colocados ao Serviço Nacional de Saúde e do qual esteve a um passo de desistir perante as resistências que lhe eram levantadas. Fui ter com ele e incitei-o a continuar. Ele olhou para mim, admirado.

- Ó Cunha Simões, mas o seu Partido é contra.

- E que tem isso? O Serviço Nacional de Saúde é bom para os portugueses. O senhor não pode desistir.

Não fiz mais que o meu dever. O Doutor António Arnaut é genuíno. É alguém que ama muito o País e o que faz é porque pensa ser o melhor para Portugal. Em 13 de Dezembro de 2004, o Dr. António Arnaut tenta que seja feito um pacto de regime político partidário que confira estabilidade ao sector da saúde de modo a impedir mudanças estruturais sem ter havido uma avaliação das experiências anteriores.

Vejamos agora o Doutor Paulo Portas. Este cilindrou as críticas e a má _ língua. Tapou os ouvidos, não deu importância às atoardas, à ignorância, à malvadez política e, perante o espanto geral, apresentou trabalho, deu mais valia ao País e conseguiu confundir e aniquilar os adversários.

Como é que, Paulo Portas, conseguiu livrar-se desta escória falante? Aprendeu com os erros cometidos, aprendeu na escola do jornalismo, o que é honesto e o que é desonesto, e no Governo resolveu, em vez de ouvir os tagarelas, trabalhar.

Santana, que é um homem inteligente, é mais inseguro. Ainda não conseguiu libertar-se dos que aproveitam as suas debilidades para o diminuir e achincalhar. Julgo que vai libertar-se desse medo, principalmente da acusação de andar pelo "Stones" e de ter as suas amigas. Felizmente que tem. Só um homem compensado pode trabalhar com redobrada energia.

Sócrates, também é um homem inteligente. Pisa mais leve. Estuda mais as palavras, é mais susceptível às críticas e à má-língua. Necessita de um suporte para lhe incutir confiança. António Vitorino pode ser o seu Almeida Santos.

A directora do Notícias Magazine, em 26 de Dezembro de 2004, Isabel Stilwell, não tem dúvidas sobre o que falta aos homens: "...as extremosas esposas...emprestam à sua cara-metade um sexto sentido, que falta à esmagadora maioria dos homens. Os elementos do sexo masculino formataram o cérebro para não se chatearem, ou melhor, para se chatearem o menos possível."

Como estes três actores, da cena política portuguesa, estão abrangidos na sua análise, sintetizemos: a escritora tem carradas de razão e, para que este País normalize, acrescento, os políticos deviam ter coragem para repartir os cargos fifty-fifty, tanto nos ministérios como para deputados. Mas...as mulheres ainda hesitam em aceitar responsabilidades governamentais, escondem-se e...os homens perdem a paciência com o jogo do gato e do rato. Por outras palavras e parafraseando a escritora: os homens não estão para se chatear.

O português não lhe interessa que, quem o governa, homem ou mulher, seja da direita, da esquerda ou dos extremos e que tenha os seus pecadilhos. Quem os não tem? O português quer é ser bem governado, quer saber o que deve fazer dentro da legalidade. Se não lho dizem desenrasca-se. Não paga impostos porque também não sabe muito bem como fazê-lo. O português não sabe, e é sempre prejudicado na sua ignorância. É o bombo da festa, como a ele próprio se define. E é tão simples ensiná-lo. Há duas vias:

A primeira, na escola. Desde o quinto ano os jovens deviam ser ensinados a preencher protótipos de pagamento de impostos, duas ou três vezes por ano. Gastavam nisto, umas três horas. Seriam eles a ajudar os pais, menos habilitados, a preencher a papelada.

A outra forma seria utilizar a televisão, com explicações naturais, pausadas, simples, nada rebuscadas e sem a chapa do Governo, para não haver uma rejeição própria deste Povo que gosta de ser bem mandado, mas não gosta de se sentir comandado.

Página principal - Página Portugal - Anterior - 2 - Seguinte