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SEXO E MAGIA DESENCADEARAM

A II GUERRA MUNDIAL

 

 

NOTA PRÉVIA

 

Escrito em 1995, o “Sexo e Magia, Desencadearam a Segunda Guerra Mundial”, este livro é premonitório quando, a determinada altura diz: “As próximas guerras não serão conflitos de cavalheiros. Há-de ser o terrorismo escondido, cego, cínico e hipócrita que destruirá o mundo.”

Como não tenciono reeditar a obra, e como há sempre alguém a querer ler, o que já não existe nos escaparates das livrarias, aqui fica na Internet para satisfação desses apetites.

 

 

 

CAPÍTULO I

 

 

Judeus, ciganos e cães de caça é tudo a mesma raça! Judeus, ciganos e cães de caça é tudo a mesma raça! Cantarolavam doze ou treze miúdos saídos da abadia de Lambach do Traun, alta Áustria, enquanto atiravam pedras a três madeireiros que aproveitavam velhas árvores para juntar mais algum dinheiro às suas magras economias.

Um dos homens, de cabelo muito escuro e tronco atlético ergueu-se um pouco e gritou-lhes:

- Se nos acertam, desgraçado daquele que for apanhado.

Os rapazes calaram-se. Passados alguns segundos, o mais irrequieto retorquiu.

- E o que é que fazes, porco judeu! Ide para a vossa Terra.

- Vai-te embora rapaz. Não me faças perder a cabeça.

- Vai tu para a tua terra, porco judeu.

A um sinal, os miúdos descarregaram todas as pedras que tinham disponíveis. Os homens mal tiveram tempo de se abrigar atrás das árvores. O mais forte disse para os outros.

- Vamos agarrar aquele que falou. Ele é o chefe. Enquanto eu lhes chamo a atenção, vocês tentem-no apanhar. Aos outros assustem-nos.

Quando os miúdos viram os dois homens aparecerem-lhes por trás e alguns deles levarem uns bofetões, fugiram. Adolfo enfrentou-os tentando proteger a fuga dos amigos e gritando para o seu irmão de leite:

- Foge Willy! Eu não tenho medo.

- Ai não? Já vais ver.

- Larga-me judeu! Larga-me antes que te arrependas!

O homem deu-lhe uma bofetada. O miúdo respondeu-lhe com um pontapé e tentou livrar-se das mãos dos lenhadores. Não o conseguindo continuou a insultá-los até que apareceu o mais forte.

- Grande sacanote! Ainda pensas continuar a dizer parvoíces, ainda?

O homem passou-lhe as mãos pelos cabelos e acariciou-lhe as faces. O miúdo sentiu um arrepio de nojo.

- Não me toques, porco judeu!

- É isso que te ensinam na escola? É pena. Tens uma carinha tão linda… o teu pensamento não se parece nada com o corpo.

Não me toques! Deixa-me! Os polícias vão saber o que vocês fazem aos mais pequenos. Se eu tivesse o teu corpo não me agarravas assim. Deixa-me!

- Eu deixo-te depois de jurares que nunca mais te meterás connosco, nem farás com que os teus amigos aqui venham,

- Eles foram chamar reforços. Vocês vão-se arrepender.

- Coitados dos teus amigos. A estas horas devem estar borrados de medo. Deixemos de conversas. Juras ou não?

- Preferia morrer!

- Se é isso que tu queres. - O lenhador acariciou-lhe, de novo, as faces. O rapaz, de olhos muito abertos, cuspiu­-lhe para o rosto. O homem deu-lhe um bofetão e ele começou aos pontapés e a tentar fugir daquelas garras.

- Está quieto, senão apanhas mais. - Adolfo não parava, cuspia, esperneava, mordia.

- Agarra bem este filho da puta. Ele quer brincadeira, vamos dar-lhe a brincadeira. Despe-lhe as calças. Vai levar tantas no rabo que nunca mais há-de esquecer este dia.

- Deixem-me! - Gritava Adolfo. - Deixem-me!

- Pede perdão. Jura que nunca mais te metes com quem trabalha.

- Deixem-me! Vocês vão pagá-las!

- Segura-o bem. Deita-o sobre aquele tronco de árvore e tira-lhe as calças enquanto eu procuro uma boa vara que lhe marque o rabo.

- Devíamos cortar-lhe a pilinha. - Disse Isaías rindo.

- Boa ideia. - Respondeu Abel.

O miúdo continuava a gritar, espernear, cuspir, arranhar. A muito custo quase o despiram. Jacob passou-lhe a mão pelo corpo.

- Largai-me! Porcos! Largai-me! Socorro!

- Bem podes gritar.

O miúdo conseguiu esticar a perna com tanta força que bateu no sexo de Isaías. Este cambaleou cheio de dores.

- Que grande cabrão! - Gritou desesperado enquanto lhe dava uma violentíssima vergastada.

- Cuidado! - Gritou Jacob.

- Tu não vês? Estou cheio de dores! O Abel sangra abundantemente por causa das unhadas deste selvagem e ainda queres que tenhamos cuidado com ele? Que grande filho de puta!

- Deitai-o sobre a árvore. Ele vai gemer e bem!

Adolfo mordeu as mãos de Abel. Este agarrou-o brutalmente e disse para Jacob.

- Este cabrão só se acalma, se levar uma enrabadela! Enraba-o, Jacob!

Jacob olhou os outros dois, abriu a braguilha e Adolfo sentiu a carne rasgando-o.

- Não! Porcos! Não!

- Segurai-o bem! - gritou Jacob, que, nervosíssimo, tentava penetrar o rapaz.

- Ai! Ai! - Gritava Adolfo. - Porcos! Porcos! Deixai-me!

Nisto ficou inundado de um líquido pastoso que o incomodava. Sentiu retirar do ânus um pouco de carne mole.

- Já estás mais calmo? - Perguntou Ismael.

Adolfo inclinou a cabeça de modo a esconder algumas lágrimas que, raivosamente, teimavam em cair. Jacob desculpou-se.

- Este sacana excitou-me. Só consegui meter um bocado. Mesmo assim está a sangrar.

- E vai sangrar ainda mais até pedir perdão e jurar que nunca mais volta aqui a aparecer. Pedes perdão?

A cabeça de Adolfo latejava. O rapaz morria de ódio e vergonha. Estava muito pálido.

- O gajo está a passar mal. - Disse Isaías.

- É para aprender. Deixa-o descansar um pouco, já leva outra enrabadela. E vai levar tantas, quantas conseguirmos até tomar juízo. É à vez. Temos o resto da tarde e a noite. Vais ver o que é gozar um judeu, meu grande sacana. Pedes perdão?

O rapaz não respondeu, deixou-se ficar na posição em que estava. Fechou os olhos. Os homens afastaram-se um pouco. Quando os sentiu distraídos levantou-se. Em correria louca desapareceu numa das pequenas minas abandonadas que ali se encontravam, Os homens correram atrás dele. Exaustos de excitação e um pouco receosos pelo acto cometido terminaram as buscas passado algum tempo. Adolfo, tremendo de frio e vergonha manteve-se, por mais duas horas, quieto mas vibrando de ódio e com receio de ser descoberto e voltar a ser violado. Não tinha coragem de mexer nas nádegas que continuavam peganhentas e latejantes. Quando o fez, os vómitos deram-lhe volta ao estômago.

 

CAPÍTULO II

 

Ao chegara casa roto, sujo e pálido como um cadáver, deu a desculpa que tinha caído numa das grutas.

- E os teus colegas?

- Não viram.

- Nem o Willy Schneider? - Insistiu a mãe.

O miúdo não respondeu.

O pai, Alois Hiedler (Schicklgruber), que já tinha sessenta anos, não acreditou no rapaz. Disse para a mulher, Clara Paetzl.

- Vê o que se passa com ele. O garoto está cada vez mais parvo.

- Não lhe ralhes.

- Ele precisa de umas correadas naquele lombo para ver se toma juízo.

- Tens-lhe batido todos os dias.

- Nem que fosse a todas as horas. Este não toma jeito. É preguiçoso, refilão, rebelde e incapaz de fazer qualquer coisa bem feita.

Tu não tens paciência nenhuma para o garoto.

- Não sei a quem ele saiu. Eu vim do campo e cheguei a oficial superior das alfândegas. Ele já reprovou um ano e a ir por este caminho há-de ser um desgraçado ou há-de fazer dos outros uns desgraçados.

- É da doença.

- Que doença? O médico só lhe encontrou uma estranha protuberância no cimo da cabeça.

- O padre disse que ele tinha o diabo no corpo.

- Esses têm sempre de inventar qualquer coisa.

- Se ele não o tivesse ajudado ainda hoje vivíamos naquele desassossego.

- O médico disse que ele seria sempre um torturado da cabeça.

- Que estranho mal, Alois. Quando se zangava com um companheiro, mal anoitecia começavam a chover pedras nas casas dos amigos. A vizinhança vivia aterrorizada.

- Aquilo era muito esquisito.

- E quando ele e o Willy Schneider estavam juntos e zangados com os outros?

- Eu perdia a cabeça e só não os corria a pontapé porque o outro não era meu filho.

A minha mãe descobriu que tudo era por causa dele. Foi num dia em que lhe ralhou. Ele ficou muito assustado. Pôs-se a olhar, muito sério, para os vasos de flores que, sem ninguém lhes mexer, se voltaram e mudaram de lugar. A minha mãe, se não o visse ao pé dela, iria jurar que ele tinha feito aquilo.

- Este rapaz dá cabo de mim. Ele põe-me doido.

- Temos de o levar com paciência.

- Nunca pensei, na minha vida, passar semelhantes vexames.

- Ele ficava com os olhos postos no vago e por mais que falássemos para ele não respondia. Se lhe tocávamos entrava em fúria, deitava-se para o chão, batia com os pés. Ficava completamente transtornado.

- O dinheiro que gastei com ele dava para governar outra casa de família.

- O médico acabou por concluir que ele sofria de leves perturbações psicológicas. Deu mesmo a entender que podia ser esquizofrénico.

- Pelo menos, esse deu uma resposta racional.

- Mas o padre também acertou. Disse-nos para mudar de lugar para evitarmos que ele tivesse aborrecimentos e que estes fenómenos tomavam o nome de poltergeist.

- E vê as terras por onde andámos. Braunau, Passau, Linz, Hafeld, Lambach, Leonding. Quanto dinheiro já derreti por causa deste fedelho!

- Melhorou.

- Ele nasceu a 20 de Abril de 1889 em Braunnau. Vai fazer onze e vê o estado em que ele se encontra?

- Há-de passar.

- Não tivemos sorte com os filhos. A Paula é meio taralhouca e este ainda é mais parvo do que parece.

- O médico disse que pode ser da nossa consanguinidade.

- Este rapaz ainda irá causar grandes problemas. Vai vê-lo. Ele está a arder em febre, mas só para não dizer o que lhe aconteceu há-de fingir até cair para o lado. E eu, para não perder a cabeça, o melhor é não ir até lá.

- Espero que os fenómenos que sucederam há cinco anos atrás não regressem de novo.

Adolfo esteve vários dias sem ir ao colégio. Teve febre altíssima e gritava de noite coisas incompreensíveis.

 

CAPÍTULO III

 

 

As violentas crises onde o poltergeist se manifesta não reapareceram, mas a partir daquele infeliz dia, Adolfo nunca mais foi o mesmo. Acordava várias vezes de noite. Gritava como um possesso: “Não! Não! Não faça isso!”

Ao convite dos colegas para irem atormentar judeus, respondia invariavelmente:

- Hoje não. Tenho que fazer.

Nem o amigo Willy Schneider o conseguiu demover desta atitude que lhe fez nascer ódio doentio no inconsciente.

Vagueava pelos cemitérios. Olhava as campas. Quem o visse diria que bebia nelas a sabedoria, escondida e desaproveitada, dos que voltaram à outra dimensão sem terem compreendido o porquê de uma passagem tão rápida e tão sem sentido nesta vida.

Na igreja, os cânticos e os ofícios do culto faziam-no entrar em êxtase. Quem olhasse para ele, e não conhecesse a sua parte rebelde e turbulenta, ficaria a pensar que ali estaria um santo.

O abade de Lambach que lhe conhecia a irreverência e a costumeira indisciplina admirava-se da modificação, mas os trabalhos eram tantos que o foi esquecendo.

À medida que os anos passavam Adolfo tornava-se mais reservado, irascível, apático ou turbulento. As mudanças de humor eram inesperadas. Tudo o aborrecia. Sempre ruminando vingança e sempre temendo aqueles selvagens de pele escura e de cabelos muito negros.

Adolfo, apesar de inteligente, nunca foi bom aluno. Quando pensava que iria fazer tudo com uma perna as costas, lembrava-se da violação que sofrera; sentia calores insuportáveis. Nunca mais se recordava das matérias.

 

 

CAPÍTULO IV

 

 

Desde os finais do século dezanove, a Alemanha possui pequenos cursos técnicos que toda a juventude é obrigada a frequentar segundo as inclinações de cada um, para que as tendências, aptidões e capacidades dos jovens sejam aproveitadas ao máximo.

Aos dezasseis anos, Adolfo tira um pequeno curso de serralheiro e dedica-se a pintar.

Continua a visitar cemitérios numa tentativa obsessiva de encontrar a maneira de resolver o seu ódio.

Kubizek, um amigo de longa data, diz-lhe:

- Andas estranho. Ninguém te encontra. Dizem-me que passas o tempo nos cemitérios. Esperas encontrar aí a fórmula mágica para resolver os problemas dos homens?

- Ou para os complicar.

- Não me admiro. Sempre foste inclinado para a magia negra. Lembras-te da chuva de pedras?

Adolfo ficou muito sério.

- Muda de conversa.

- Tens-te preparado para entrar na Academia?

- Tenho.

- Que fazes agora?

- Uns biscates, aqui e ali.

- Lembras-te dos tempos de Lambach?

Adolfo corou.

- Esqueci tudo.

- Os judeus, que costumávamos arreliar, mudaram-se para os arredores de Munique.

- Espero que morram em breve.

- Com as artes mágicas que bebes nos cemitérios, eles estão nas tuas mãos.

- Chega. Queres ouvir o Grande Mestre?

- Lá continuas tu com a loucura do Wagner. Não sei que febre deu a toda a gente para andarem obcecados com Wagner depois de o terem escorraçado durante tantos anos e de o terem feito provar o gosto amargo da miséria.

- É o destino dos génios. Wagner incita-nos a ir mais longe.

- A mim não me incita a nada.

- Vem daí. Verás como te sentes outro.

Enquanto assistem à ópera, Kubizek vê que o amigo se transforma. Ele é outro. A sua face ilumina-se. Parece viver em êxtase cada um dos acordes da música.

À saída vagueiam pela cidade de Linz, dirigem-se para a parte mais alta. Adolfo está perturbado. Agarra as mãos do amigo. Este sente uma sensação estranha, Hitler confessa-lhe a sua paixão por Wagner e diz-lhe que só os puros, como eles, se poderão entender. Dá-lhe pequenas palmadas nas mãos, Kubizek sente o gosto complexo e confuso entre o prazer da amizade e o sabor feminino do híbrido indefinido. Perante a perturbação do amigo, Adolfo descansa-o.

-Vamos. Vou deixar-te em casa. Um dia compreenderás a minha atitude.

- Que atitude?

- Nada. Nada, – Respondeu Adolfo largando-lhe as mãos.

- E tu, vais para onde?

- Depois de Wagner e da tua companhia... só me resta Stephanie. Ando muito confuso, Kubizek. Adeus.

Adolfo dirigiu-se para casa de Stephanie.

- A estas horas?

- Aborrecida?

- Claro que não.

- Ficas cá?

- Importas-te?

- Está à vontade.

Enquanto a rapariga preparava chocolate quente, Adolfo imaginava como ia ser a noite. Estava excitadíssimo. Só de pensar no que lhe podia acontecer ficava estarrecido de pavor. Apetecia-lhe fugir. A tentação era mais forte do que a sua vontade. Não resistia a uma mulher bonita, mas nunca conseguira ter uma relação aceitável. Amaldiçoava os judeus.

- Muito quente? Pouco quente?

- Pouco quente.

Adolfo e Stephanie tomaram banho e deitaram-se. Mal a rapariga lhe tocou, Adolfo inundou a cama.

- Desculpa Stephanie, desculpa. Eu gosto tanto de ti que não sei como isto acontece. Com as outras...

- Chiu! - Disse-lhe Stephanie rindo. - Não faz mal, o que eu quero é estar contigo. Isto não tem importância. Esta amizade que nos une, este companheirismo é mais forte do que tudo o resto. De onde vieste?

Adolfo contou-lhe a ida à ópera. A rapariga, ou por desilusão ou porque estava extenuada, adormeceu passados alguns minutos. Adolfo insultou-se pela sua desdita.

“Minto! Nunca soube o que era uma mulher. Porque acontece isto comigo? Malditos judeus!”

Adolfo adormeceu. Às cinco da manhã começou aos gritos.

“Não! Não! Por favor, não!” - Stephanie agarrou-se a ele.

- Calma, meu amor. Calma. Eu estou aqui.

Adolfo encharcado de suor contorce-se como se, sombras invisíveis, o atacassem. A rapariga limpa-o com toalhas quentes e húmidas. Tenta acalmá-lo. Adolfo está aterrorizado. Ele encolhe desesperadamente as nádegas. Stephanie sente isso e mexe-lhe. Adolfo dá um urro enorme,

- Aí não! Aí não!

- Mas que é, meu amor?

- Vou para casa.

- Nem pensar! Descansa. Deita-te!

- Não. Não quero. De olhos fechados, não. Vejo figuras horrendas, de cabelos pretos e pele escura. Não, Stephanie!

- Meu amor. Eu gosto tanto de ti.

- Vou-me levantar. Vou-me embora.

Adolfo, mal deu tempo a Stephanie de se lhe opor. Saiu apressadamente de casa. No caminho pensa:

“Todos me enganam. Esta desgraçada engana-me! Anda metida com outro ou outros. Como pode ela estar a chamar-me de meu amor, a dizer-me que gosta de mim se eu não a consigo penetrar? Vagabunda!”

 

CAPÍTULO V

 

 

Adolfo tenta afastar os seus fantasmas. Quer ser arquitecto.

Enquanto prepara as provas para a Academia faz pequenos trabalhos. Frequenta assiduamente a biblioteca de Linz e lê avidamente Kant, Schopenhauer e Nietzsche cuja doutrina sobre a raça superior o fascina. Frequenta sociedades secretas. Em Braunau já tinha entrado em sociedades espiritistas que ele achava ridículas. Nas sessões tudo o que acontecia era por seu intermédio e pelo de Willy, mas nem um nem outro diziam nada porque os que iam às sessões pareciam loucos, paralisados pelo fanatismo.

Em Lambach Adolfo conhecera o monge cisterciense Joseph Lanz, que falava na conquista da montanha mágica situada no monte Elbrouz, só acessível aos iniciados de poderes invulgares. Devia ser essa montanha que ele e Willy visitavam quando voavam em sonhos mediúnicos e se encontravam com os antepassados. Era o segredo deles. Pensavam que aos adultos lhes sucedia o mesmo.

O seu interior continua a sair para o desconhecido mas tem receio de não saber controlar a viagem para fora do pensamento, nem como resolver os seus anseios.

O oculto e a magia dos dogmas seduzem-no mas também o confundem.

Desesperado, masturba-se, diariamente, em frente a um velho espelho e verifica a sua mudança de expressão consoante as fases do prazer. Tenta a todo o custo expulsar o demónio da tentação que o inibe de ter mulher mas não o impede de ter desejos. Tem necessidade de afecto e encontra-se à deriva porque não consegue dar nem receber como gostaria.

Em cada dia que passa o seu ódio aos estrangeiros aumenta.

É um falhado. Falhado na escola, falhado no sexo, falhado no trabalho.

 

 

CAPÍTULO VI

 

 

- Ei, bonitão, precisas de companhia?

Adolfo olhou a moça. Era muito bonita. Virou-lhe as costas e fugiu apressado. Ainda a ouviu rir e chalacear com a falta de virilidade dos alemães.

Adolfo ardia em vergonha. Devia ser uma prostituta estrangeira. “As mulheres arianas tinham pudor”. No quarto, lamenta a sua sorte. O seu sangue tinha sido contaminado por aquele maldito que o possuíra. Ele havia de se vingar. Levantou as mãos ao céu e gritou:” Também eu quero acender o fogo sobre a terra! Diz-me como hei-de fazer e obedecer-te-ei cegamente! Diz-me! Diz-me!”

Adolfo deixou-se cair pesadamente sobre a cama e adormeceu. Logo de manhã voltou ao quarto de Stephanie.

- Tentei encontrar-te. - Disse a rapariga.

- Eu sei. Ando para aí. Salto de um lado para o outro.

- Eu amo-te tanto!

Adolfo olhou-a tentando compreender como era possível ela mentir daquela maneira. Apeteceu-lhe insultá-la. Afinal ele não ia pedir amor. Suplicava amizade, compreensão. Porque havia ela de estragar tudo?

- Vou-me embora. Vim perturbar-te. Não me sinto bem. A verdade é que não me sinto bem em nenhum lugar.

- Fica. Disse alguma coisa que não devia?

Adolfo abanou a cabeça e saiu a correr...

“Porque mentem as mulheres?” – Pensou. - “ E porquê? Com que interesse? Já falhei tantas vezes! Porque tentará ela enganar-se e enganar-me?”

- Olá! Por aqui a estas horas?

Adolfo assustou-se.

- Olá, Annemarie, acabei de sair de casa.

- E eu vou entrar. Anda. Vem comigo.

- Não. Hoje não.

- Vem. - Disse-lhe a rapariga com ar gaiato. Adolfo quis arranjar uma desculpa. Não conseguiu. A vontade de afecto, de carinho, de posse era mais forte que ele. Ao entrar no quarto sentiu suores frios percorrerem-lhe o corpo. Todo ele tremia. Lavou-se rapidamente e meteu-se na cama. Enquanto esperava pela rapariga o sexo parecia rebentar-lhe. Tentava desesperadamente conter os seus impulsos. O coração pulsava tão desordenadamente que iria estourar a qualquer momento. Annemarie nunca mais saia do banho e ele torcia-se na cama para suster aquele jacto inofensivo e incapaz de fecundar qualquer mulher. Mal Annemarie caiu sobre ele, o desastre foi instantâneo. Ela riu a contra gosto. Ele sentiu o som falso das palavras.

- Tinha acabado de tomar banho. Não esperava este.

- Desculpa, Anne. Desculpa.

- Não tem importância. Não fiques aborrecido. - Insistiu a rapariga. Quanto mais insistia, mais Adolfo ficava magoado. Vestiu-se. Tinha fugido de um insucesso. Tinha caído noutro.

- Tenho de ir. Estou tão cheio de pressa que me aconteceu aquilo que raramente me acontece.

- Sou eu que sou fogo, meu querido. Tu entras imediatamente em ebulição. Tens de estar mais vezes comigo para treinares. Eu gosto do teu sexo. É bem desenvolvido, é bonito.

Adolfo estava furioso “A gaja ainda goza. É bonito mas não presta é o que ela quer dizer”

- Tenho de ir.

Já na rua, o peso da vergonha sufocava-o. O impudor da rapariga deixava-o estarrecido. “Já não se encontram mulheres como as do tempo da minha mãe. Mulheres sérias que nem sabiam o que era o sexo, nem o viam, mal o sentiam e isso já as satisfazia. Este país tem de mudar. Logo que entre na Academia vou procurar um médico.”

 

 

CAPÍTULO VII

 

 

Adolfo Hitler apresentou os seus trabalhos na Academia em Viena, respondeu a perguntas e foi reprovado. Ficou louco.

“Tudo está contra mim.” - Kubizek tenta consolá-lo.

- Tens de saber o que aconteceu. Pode ser que tenhas ainda hipótese de entrar.

Ao pedir explicações na Reitoria, Adolfo soube que a decisão era irrevogável e que dos sete membros do júri, quatro eram judeus. A partir daquele momento o seu ódio ao povo judaico tomou-se obsessivo. Era o seu segundo orgasmo incontrolável.

Até ao início da Primeira Grande Guerra, Adolfo mastiga a raiva, frequenta prostitutas e bares de proxenetas e homossexuais onde esmaga o pensamento e a frustração. Gasta, nos primeiros dias do mês, a pensão que lhe ficara depois da morte do pai. A mãe não consegue que ele arranje um trabalho fixo e irá morrer “Sem ver o filho encaminhado”. Passa grandes dificuldades. Entra nos desvarios mais sórdidos para não gastar dinheiro e matar os seus impulsos. A raiva do fracasso empurra-o para o abismo dos sentidos. Quanto maior repulsa sentia pelo corpo, mais ele se enterrava na degradação. Todas as prostitutas o conheciam pelo esfrega. Nunca era capaz de ter uma relação aceitável. Compensava-as com fantasias inconsequentes que as alegravam e as fazia experimentar tudo o que a sua imaginação depravada lhes propunha. Deixavam-no divagar pelo labirinto do corpo. Se os percursos eróticos não as satisfaziam, também não as aborreciam. A ele travavam-lhe a fúria homicida que fervilhava, permanentemente, na sua cabeça.

 

 

CAPÍTULO VIII

 

 

Adolfo sente, que sabe aquilo que nunca lhe foi ensinado. Pensa-se um predestinado incompreendido. Parte para a Baviera e entra na Seita dos Iluminados. Está disposto a aprofundar todos os conhecimentos sobre os poderes do infinito e dos espíritos hostis. Assiste aos cursos sobre retórica que ali são ministrados. Mais tarde entra no grupo Thulé onde conhece Gottfried Feder, Hanz Frank, Dietrich Echart, Von Sebottendorf, Anton Drexler, Rudolfo Hess e Alfredo Rosemberg. Consideram-no muito subserviente e ávido de aprender tudo quanto de misterioso e secreto a Seita lhe possa ensinar.

Dietrich Echart gosta dele. Toma-o sob sua protecção. Considera-o inteligente e louco, quanto baste, duas qualidades que ele admira.

- Adolfo. Estes grupos esotéricos servem para conhecer os desígnios dos deuses. Eu vi, nas últimas invocações, que uma luz brilhou sempre sobre a tua cabeça. Temos de fazer a vontade aos mágicos espíritos de Luz.  A Alemanha não é só a Prússia, é a Áustria, a Renânia, todos os povos de raça alemã ou de origem germânica. A união desses homens e mulheres de sangue imaculado fará a grandeza da Alemanha. É o império sagrado a que todos nos devemos devotar.

 

 

CAPÍTULO IX

 

 

Com a ida para a Baviera as suas fúrias acalmaram. Dietrich emprestou-lhe dinheiro e foi ao médico. Já estava dentro do consultório quando reparou que o Dr. Marx era judeu e estava bêbado. Pensou retirar-se. Depois achou preferível ficar. Com médico bêbado sempre teria mais coragem para lhe contar as suas desventuras.

- Muito bem. Muito bem. É o mal do século. O mundo vai acabar por falta de freguesia. - Disse o médico.

Adolfo sorriu.

- Tu ris-te, mas não tens razão. Tem cuidado com as raparigas. Vai fazer estas análises. Depois volta cá.

Adolfo foi ao analista. Em seguida foi ter com Annemarie que ainda estava deitada.

- Estás com melhor aspecto

- Fui ao médico.

- Foste à inspecção para te alistares?

- Alistar para quê?

- A guerra vai começar por causa do assassinato do arquiduque Francisco Fernando.

Adolfo esfregou as mãos.

- Que bom!

- Que bom, porquê? Isto é muito sério.

- Seríssimo!

- Dá-me um beijo. Vamos esquecer esta parvoíce.

- Agora?

- E quando havia de ser? Estamos na cama. Vamos aproveitar.

- Esquece. Tenho de pensar no assunto.

- Estas coisas não se pensam. Fazem-se.

- Não é isso...

Annemarie abraçou-o e beijou-lhe o peito. Adolfo ficou encharcado.

- Anne...não consigo mais. Olha o que me aconteceu.

- Não faz mal. Eu só quero umas carícias.

- Por favor, Anne. Hoje não. Chega. Tenho de me ir lavar. Olha em que estado me encontro.

- Eu amo-te tanto, Adolfo. Deixa-me estar só um bocadinho encostada a ti.

- Não!

- Que egoísta. Não gostas de mim?

- Gosto. Gosto muito. Vê o que sucedeu.

- Isso não tem importância.

- Eu tenho de sair.

Annemarie olhou-o de lágrimas nos olhos.

- Eu amo-te, Adolfo.

- Não digas patetices. Só pensas em porcarias!

- Chamas porcaria ao amor?

- Mal nos conhecemos.

- Já estivemos juntos na cama, doze vezes,

- Agora até contas as vezes em que estamos na cama. São essas que contam? Não tens vergonha?

Annemarie olhou-o aterrada. Ele estava fora de si. Dera-lhe tudo. Tentara tudo para o conquistar. Entregara-se sem defesas. Começou a chorar. Adolfo saiu. Annemarie foi buscar o frasco de calmantes, que tinha comprado no dia anterior. Maquinalmente tomou um a um até lhe esvaziar o conteúdo. A dose de barbitúricos foi-lhe fatal.

 

 

CAPÍTULO X

 

 

Adolfo mostrou as análises ao médico. Ele ficou muito sério,

- Despe-te.

Depois de o ter auscultado e observado, o médico perguntou-lhe.

- Que idade tens?

- Vinte e cinco.

- Com que idade começaste a ter relações sexuais?

Adolfo ficou muito corado.

- Há dias contei ao doutor que eu nunca tinha conseguido ter uma relação normal. Não sou capaz. O sexo ganha tamanho, excito-me. Mal toco nas raparigas ejaculo imediatamente. Queria pedir para me dar qualquer coisa que me fizesse manter a erecção.

- Os teus pais são saudáveis?

- Meu pai morreu com sessenta e cinco e minha mãe com quarenta e seis. Eles eram primos.

- Tu és sifilítico em estado avançado. Ainda bem que não consegues ter relações.

- Porquê, doutor?

- Porque não tens tomates.

Adolfo corou. O médico era duma rudeza invulgar.

- Mas...

- Tens só um testículo. Com a tua doença ias contaminar todo o mundo.

- Não me diga isso.

- Digo. Porque não havia de dizer? Julgas que os alemães são uma raça pura? São como os outros. Têm as mesmas doenças. Sofrem dos mesmos achaques. Morrem da mesma maneira.

Adolfo sentiu-lhe o cheiro do vinho e evitou contar-lhe o que lhe tinha sucedido quando era criança. Resolveu dar a sua opinião de maneira diferente, mas de forma altiva.

- Impossível. Os meus pais não podiam estar contaminados. Ao princípio andei com prostitutas judias. Se tenho sífilis foram elas que me contaminaram. Que faço para me curar e manter a erecção?

O médico olhou-o com ar espantado e ofendido pela arrogância do rapaz ao falar despudoradamente das prostitutas judias, sabendo que ele era judeu. Sem qualquer espécie de consideração e ultrapassando toda a ética profissional disse-lhe.

- Quanto à sífilis temos umas injecções de bismuto que te vão fazer saltar paredes. Para um tipo sem tomates e sem erecção como tu, tens um bom remédio, põe-o debaixo do cu e caga-lhe em cima.

Adolfo para não matar aquele bêbado judeu saiu porta fora enquanto o médico ria alto e bom som.

 

 

CAPÍTULO XI

 

 

Passados dias, Adolfo tomou conhecimento do suicídio de Annemarie.

“Mulheres!” – Pensou ele. - “Mulheres! Quem as conseguirá entender? O que teria querido esta idiota provar com a sua atitude? Nunca lhe dei nada. Nunca lhe ofereci nada. Infelizmente para mim, nunca conseguiu gozar-se do meu corpo. Porquê esta atitude?”

Karl veio ter com ele.

- Soubeste?

- De quê?

- Da Annemarie.

- Esquece. Mulheres. Todas influenciadas pela Lua. Imprevisíveis, histéricas de pensamento. As nossas mulheres arianas têm de ser diferentes. Não podem ser emotivas.

- Não podem exagerar na emotividade.

- Têm de ser frias, calculistas, um pouco cínicas, se não se quiserem confundir com a escória humana.

- Vem aí a guerra. Que fazes?

- Alisto-me. Estou farto desta paz que não interessa a ninguém.

- Tu continuas a sonhar com guerras de purificação. Guerras de lavagem de honra para que os maiores desonestos lancem uma peneira nos olhos do povo.

- Deixa a pregação. Poupa-me.

- Quem te garantiu que a guerra é um facto?

- Von Sebottendorf. Acaba de ser nomeado Presidente de uma das nossas lojas secretas na Baviera.

- Lá estás tu a malucar com coisas mágicas, com ocultismo.

- Não é nada de maluquismo. No ocultismo pretendemos conhecer o que está escondido. O ocultismo congrega um conjunto de ciências. E aí que temos de descobrir o que é bom para o povo e como devemos actuar.

- O rapaz está mais sensato.

- Deixa-te de gozo. Fui admitido em sociedades que me estão a iniciar.

- Iniciação?

- O iniciado é um aprendiz dos segredos da vida, do infinito e de tudo quanto está oculto e é mágico. O iniciado passa de uma cultura de tempo profano à cultura do tempo sagrado.

- Espantado! Simplesmente espantado. Agora, acredito que vais longe. Afinal, o que é que fez esse Sebottendorf?

- Von Sebottendorf além de ser um homem cultíssimo é um médium muito poderoso. Entrou na outra dimensão. Falou com os nossos mais notáveis governantes e estrategas, os quais lhe disseram que a raça ariana devia estar toda unida.

- Mau. Voltaste outra vez a malucar!

- Acredita se quiseres.

- Quais governantes? Quais estrategas?

- Carlos Magno; Otão, o Grande; Frederico II; Bis­marck...

- Esse ainda nem teve tempo de chegar ao outro lado. Disse-lhe o amigo rindo. - E sabes que mais? Vai-te lixar. Ainda acabo por aturar as tuas maluqueiras nalguma trincheira escavada por outro tonto como tu, que pensa que as questões entre as diferentes ideias se resolvem ou por sugestão dos espíritos ou à bordoada.

 

 

CAPÍTULO XII

 

 

Adolfo Hitler foi dos primeiros voluntários a inscrever-se nas fileiras do exército Bávaro. Era estafeta. A sua coragem e ousadia eram notadas pelos superiores.

O sargento Max Amann que o admirava muito e que mais tarde será o homem de negócios do Partido Operário Alemão dizia-lhe muitas vezes.

- Tu não podes fazer a guerra sozinho. Queres matar-te?

- Morrer ao serviço da Pátria seria um bem supremo.

O desespero de Adolfo Hitler era fruto da sua vida. Fisicamente desprezava-se. Não se considerava um homem completo. Tinha vergonha de si mesmo. Embora tivesse pensado, muitas vezes, em se suicidar, só não o faz porque não tem coragem. Morrer desfeito por um obus era-lhe indiferente. Por outro lado a sua parte económica era desastrosa. Enquanto foi menor recebia a pensão do pai e as ajudas da mãe. Morta a mãe e acabadas as pensões ele viu-se obrigado a trabalhar, o que nunca conseguiu fazer regularmente. Isso obrigou-o a viver, muitas vezes, em asilos de mendigos, em quartos compartilhados por mais de dez indivíduos, todos miseráveis, todos incapazes; bêbados, ladrões, pedintes. Ele tinha um sonho e via-se obrigado a compartilhar o albergue da Mendelmannstrasse para não morrer de frio. De tempos a tempos conseguia alugar um quarto de onde, normalmente, era expulso, porque não pagava o aluguer. Para ele, morrer seria o bem supremo. Pensava-se o mais infeliz dos mortais. A morte seria o fim dos sacrifícios e dos vexames. Fez todos os possíveis para que isso acontecesse e arrastou o amigo Karl com ele.

Num dos violentíssimos combates na frente de batalha, Karl ficou desfeito sem que Adolfo lhe pudesse fechar os olhos. Os bombardeamentos eram tão intensos que em poucos minutos as trincheiras se tomaram verdadeiros túmulos. Mal teve tempo de sair daquele inferno para se atirar de corpo descoberto sobre o inimigo. Foi ferido com alguma gravidade, ganhou a Cruz de Ferro por coragem e bravura. Foi promovido a cabo.

Enquanto convalescia, o sargento Max Amann convenceu-o a frequentar as aulas de política de Gotfried Feder, que mais tarde será o economista do Partido Nacional Socialista alemão dos trabalhadores, conhecido pela abreviatura “NAZI” ou NSDAP.

Adolfo Hitler mostra-se o mais interessado de todos os jovens. Aquele que nunca falta. As perguntas sobre como dirigir um país, indicam claramente a Gotfried, que o cabo Adolfo tentaria a política, caso chegasse vivo ao fim do conflito.

Já no final da guerra Max Amann disse-lhe.

- Escusas de gastar a pele. A guerra está no fim e perdemo-la. Vamos ficar muito piores do que quando a começámos.

- Esta derrota, em vez de nos dividir, vai unir-nos. Renasceremos mais fortes. A nossa capacidade de trabalho, a nossa eficiência e determinação fará que recomecemos para honra e glória do povo alemão. De hoje em diante ficaremos ligados para sempre.

- Não temos outra alternativa senão capitular.

- Se a guerra tem de terminar, que termine. Não fui eu que dei ordem para começar. Se fosse, morria com ela ou tinha de a vencer nem que para isso tivesse de sacrificar toda a nação.

- Tu deves escrever o que dizes. Este povo precisa de alguém que seja capaz de chamar os bois pelos nomes. Tu tens uma força esquisita dentro de ti. Nunca cheguei a compreender porque não morreste, quando à tua volta, várias vezes, os teus companheiros foram dizimados. Tu deves ter um espírito muito forte que te protege.

 

 

CAPÍTULO XIII

 

 

Devido às boas informações do sargento Max Amann e de Gottfried Feder, Adolfo Hitler conseguiu não ser desmobilizado. Passou a dar cursos de politica aos novos recrutas. A sua vida económica continuava péssima. Ganhava mal, vivia numa caserna quase desfeita onde por companheiros tinha os ratos com quem ele conversava e dava migalhas de pão. No entanto, preferia estar ali sem aquecimento e sem a possibilidade de ter um banho quente do que voltar para o albergue da Mendelmannstrasse.

Para o albergue não mais voltaria. Nunca se podia esquecer de uma cena a que assistira e que lhe fizera mais impressão do que os quatro anos de guerra que vivera. Um jovem, de 19 ou 20 anos, provocava todos os dias um homem de 60. Um dia este disse-lhe.

- Tu não deves fazer isso.

- Porquê, bates-me, velho nojento?

- Olha, eu já vivi a vida. Pouco ou nada tenho a perder. Tu és jovem, não a podes desperdiçar, nem te deves meter com os mais velhos. Podem perder a cabeça e estragar-te essa irreverência.

- Ai é? Pois então, vê lá se gostas? - O rapaz deu-lhe um murro que enrodilhou o homem no chão. Ele ficou de pé rindo-se e vendo-o contorcer com dores. Quando o homem se levanta atravessa o jovem com a faca das suas parcas refeições. A cara espantada do rapaz nunca mais lhe saiu do pensamento. O homem fechou-lhe os olhos e disse:

- Paz à sua alma, que veio por engano, a este mundo.

A partir desse dia nunca mais voltou ao albergue.

As aulas levantaram-lhe a moral e deram-lhe o traquejo da palavra. A guerra demonstrou-lhe que era mais corajoso do que pensara e até mais forte do que supunha. Quando da inspecção militar em 1910 tinha sido considerado inapto para todo e qualquer serviço militar por não ter músculos consistentes, o peito metido para dentro, e ter só um testículo, o que lhe ferira o orgulho e o deixara com um aspecto ainda mais doentio. Valeu-lhe o conflito de 1914 para o qual se oferecera como voluntário e onde toda a gente era aceite.

A Guerra de 1914 -1918 deu a Adolfo Hitler a noção exacta da dimensão do homem: uma marionete que podia ser manobrada por quem soubesse puxar os cordelinhos.

 

 

CAPÍTULO XIV

 

 

A 11 de Agosto de 1919 é instituída na Alemanha uma nova ordem democrática e parlamentar; a “República de Weimar”, a que o povo dava pouco crédito. Os seus dirigentes eram acusados de terem cedido a tudo quanto o inimigo tinha imposto: O pagamento de 132 biliões de marcos ouro. A perda das possessões ultramarinas e a amputação do território. A estas exorbitantes exigências seguiu-se uma inflação incontrolável. O equilíbrio económico torna-se impossível.

Hitler inscreve-se no Partido Operário Alemão em 16 de Setembro de 1919, que tinha sido fundado pelo serralheiro Anton Drexler e onde se encontrava o Profes­sor Haushofer, um dos seus iniciadores nos profundos segredos do ocultismo e para quem a astrologia era a arte sagrada. Sebottendorf que ele também já conhecia e era, na altura, considerado um dos maiores astrólogos mundiais. Também lá estão Rudolfo Hess e Rosemberg, dois outros grandes conhecedores dos segredos da magia e do ocultismo.

Muitas das reuniões fazem-se na cervejaria Brennessel, no bairro de Schabing em Munique, onde todos bebem muita cerveja e Adolfo Hitler lhes bebe as palavras.

Passado algum tempo o jornalista, Dietrich Echkart, apresenta-o ao capitão Roehm e este consegue o apoio do general Von Epp. A sua capacidade de trabalho é enorme. É-lhe confiado o dinheiro suficiente para a transformação do Partido Operário Alemão em Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (NSDAP) ­Nationalsozialistischen Deutschen Arbeitterpartei, em 1 de Abril de 1920. Este Partido Nazi toma os seus fundamentos baseado na filosofia de Nietzsche que defende uma doutrina político-social de cariz totalitário e imperialista, baseada na preservação da raça superior. Os aderentes são em número reduzido.

Uma das suas grandes preocupações foi encontrar um sinal de força que pudesse unir todo o povo ariano. Os seus discursos foram aumentando de tom e de capacidade apelativa. Adolfo Hitler começou a dizer aquilo que o povo gostava de ouvir e que poucos tinham coragem de dizer porque as ameaças de prisão eram constantes.

Num dos primeiros discursos definiu as suas intenções quanto a grupos indesejáveis na Alemanha:

“Os judeus seriam excluídos do exército, da administração e da imprensa. Seriam também abolidos todos os rendimentos que não fossem fruto do trabalho”.

Dietrich Eckhart estava felicíssimo com o seu pupilo. Só o irreverente homossexual Ernest Roehm, que o conhecia bem da estúrdia não tinha tantas certezas.

- O tipo é um miserável depravado e esquizofrénico. Não tem onde cair morto. Andou sempre a viver de expedientes. Os judeus Teodoro Neumann e Hanisch conhecem-no bem. Fartou-se de os cravar.

- Ele diz o contrário. Entregou-lhes quadros para eles venderem e nunca recebeu um marco.

- Quem acreditar nele está lixado. Eu já fui na conversa. Bem arrependido estou. Mas eu faço-lhe a cama se ele mijar fora do penico.

- Não digas isso Roehm.

- Repito; quem acreditar nele está lixado. Ele não tem nada a perder. Arranjou um modo de vida. Os judeus conhecem-no bem.

- Ele odeia judeus.

- Pudera! Eles não se deixam parasitar. Estou mesmo convencido que ele tem costela de judeu.

- É judeu e está contra eles?

- Ele estaria até contra o próprio pai, se fosse vivo. Este tipo não é flor que se cheire. Podes crer, o gajo é um judeu renegado que criou ódio aos da sua raça, primeiro, porque eles não o ajudaram como pretendia e depois porque viu aí uma maneira de se afirmar alemão sem levantar suspeitas. O judeu é esperto para caraças!

- Tu estás é com os copos.

-   Não digas isso Roehm. É inteligente, trabalhador, louco até dizer basta. É o homem que necessitamos para virar isto do avesso.

-   Não acredito nele e está tudo dito. O gajo cheira a doença e a fome. Eu não confio nele.

-   Porquê?

- O gajo será sempre um insaciável. É o pobre, que subiu a muito custo na vida, e fica sempre miserável devido à recordação dos tempos difíceis da infância e da juventude. O gajo não presta.

 

CAPITULO XV

 

 

A guerra tinha amadurecido Adolfo Hitler. Habituara-se a ouvir mais do que a falar, mas quando falava, a sua voz, as suas mãos e os seus olhos galvanizavam a assistência. Rudolfo Hess e Karl Haushofer estudavam os seus progressos e ficavam espantados com a sua extraordinária força mental. Tanto um como outro prodigavam-lhe o máximo dos apoios. Hitler, obcecado pela política, esquecia os amigos e quaisquer outros divertimentos.

Para a sua frustração sexual o ocultismo dava-lhe a solução. Os iniciados que já conheciam os segredos das leis do infinito, não deviam casar-se. O casamento multiplica os corpos em prejuízo da continência que lhes aumentava a mediunidade, a clarividência e a memória.

A crise económica avoluma-se. O Partido Comunista Alemão congrega milhões de aderentes enquanto o Partido Nacional socialista avança lentamente. Ernst Roehm insiste em acções violentas.

Adolfo Hitler sabe que precisa dele e fala em tom conciliador indo ao encontro do que Roehm deseja ouvir.

- Para isso temos de criar grupos organizados, tal como são permitidos. Milícias armadas, verdadeiras S.A, Secções de Assalto, muitíssimo disciplinadas.

- Que estás à espera? Estes senhores confiam em ti. Tens de decidir.

- Precisamos de dinheiro e de homens de muita confiança.

- Temo-los às centenas nos desmobilizados, que outra coisa não pensam senão em ser úteis.

- Tem calma Roehm. Tal como planeaste podemos criar as S.A. embora elas possam ser um pau de dois bicos.

- Como, um pau de dois bicos?

- Agora, servem-nos como protecção, como possibilidade de atingir o poder, mas depois, se não forem totalmente controladas, podem-nos causar sérios problemas. A menos que aceites em as formar e ser o seu comandante.

- Claro, Adolfo. E para quem julgavas que eu as ia criar?

- Dietrich, Hess e Rosemberg, concordam?

- Plenamente. E já. - Responderam os três em coro,

- Vamos acrescentar ao programa do Partido, a designação de Cristianismo Positivo.

- Para quê? Queres lamber o rabo aos cristãos?

- Tem calma Roehm. Toda a gente sabe que tu és um iconoclasta, mas não és burro. Precisamos de votos. Para alcançar esses votos, eu venderia a alma ao diabo.

- Tenho de ir. Deixo-te o Rosemberg, o Hess e o Dietrich para darem largas à paranóia.

Os quatro olharam-se sem dizer palavra. Conheciam a rudeza de Roehm.

- Este tipo ainda nos vai causar problemas. - Disse Dietrich.

Rosemberg deita loureiro sobre um vaso onde uns pedaços de beladona ardiam. Aspira profundamente o odor e diz a Hess, a Dietrich e a Hitler que façam o mesmo. Passados alguns momentos começa uma cantilena onde invoca os espíritos atrasados, os desprotegidos da sorte, como ele lhes chamava. Invoca os sem luz, sem consciência, aqueles que nunca tinham conseguido encarnar. Hitler, Hess, e Dietrich de olhos, desmedidamente abertos, perdiam-se na divagação do infinito enquanto Rosemberg, o grande mestre de pesquisas esotéricas, começa a falar na origem secreta da Cosmogonia como sistema de formação do Universo onde o nome de Hitler ressoa como o mensageiro de uma nova era de purificação pelo fogo.

Depois de longas horas de absorção dos fumos e de invocações feitas em coro, os quatro entraram em transe e visionaram o Reich dos mil anos.

Ficou decidido que nunca mais se separariam para alcançar o poder. Adolfo Hitler seria o chefe. Os três tinham observado que uma forma, cinzento escura, o envolvera como se o quisesse proteger. Ficaram muito impressionados. Ele era o escolhido.

 

 

CAPITULO XVI

 

 

O Partido Nacional Socialista tem grandes dificuldades em se impor.

Em 1923 a crise económica bate fundo. A desvalorização da moeda chega a ser de 100% ao dia.

-   É a altura. - Diz Eckhart.

-   Faremos a marcha ordeiramente e tomaremos o poder sem derramamento de sangue.

-   Isso mesmo, Adolfo. Eu irei ao teu lado. Lundendorff também está connosco. Havemos de vencer. Não tens receio?

-   Prefiro a morte a continuar esfregando-me na lama.

Em Maio de 1923 a revolução pacífica falhou com alguns tiros pelo meio e a prisão de Adolfo Hitler que é condenado a cinco anos de cadeia, dos quais cumprirá nove meses. O seu amigo Dietrich morre em Dezembro minado pelo álcool, pela morfina e pelo desgosto. Deixa­-lhe uma boa parte do seu pecúlio para refazer a vida depois de sair da prisão.

Max Amann que o visita incita-o a escrever,

-   Tens de escrever Adolfo. Tens de pôr, preto no branco, todos os teus pensamentos, para que a história não diga que enganaste a vida.

-   Obrigado Max. Tenho escrito sim. Ainda bem que vim parar à fortaleza de Landsberg. Tenho aprendido mais nestes sete meses do que nos anos passados. Aqui é a verdadeira universidade. Encontro especialistas dos mais variados ramos. Vão-nos ser muito úteis. Tenho a certeza que depois de sair, tudo será mais fácil.

-   E não te aborreces, nem te dói a prisão?

-   Nada. Precisava de descansar e de pensar. Aqui, tenho as condições ideais. Só tem problemas quem quiser fazer ondas. Já te disse que tenho tempo para tudo. O irmão Bernhard Stempfle, Hess e o Emil Maurice têm lido o que ando a escrever.

-   Já tem titulo?

-   Já. “Quatro anos e meio de combate contra a mentira, a estupidez e a cobardia”.

-   E um título demasiado grande.

-   Tens outro?

-   Não sei.

-   Que tal “Mein Kampf’?

-   Esse é melhor, mais directo e mais acutilante.

-   “Mein Kampf”, “A Minha Luta”. As bases de um Estado forte estão aí lançadas. Os tópicos por que sempre me irei nortear estão escritos no livro para que ninguém diga que foi enganado. Os objectivos são estes e vamos alcançá-los:

Superioridade da raça germânica

Construção da grande nação alemã

Anticomunismo

Antiparlamentarismo

Culto da força e da violência contra a força e a violência.

Apologia da Guerra quando não houver outra alternativa.

-   Vais ter problemas.

-  Mais uns, menos uns, que diferença faz? Esta fabulosa “escola” de Landsberg tem-me ensinado a não ter escrúpulos de qualquer espécie.

 

 

CAPÍTULO XVII

 

 

Hitler avança ousadamente na conquista do poder. A sua capacidade de entendimento político é assombrosa. Não tem qualquer problema em explorar demagogicamente todos os anseios e frustrações de uma nação inteira desde que os seus objectivos sejam atingidos. Os seus alvos são os operários, os industriais e a classe dirigente.

A demagogia é o seu convencimento. Ele faz aquilo que tem de ser feito por uma Alemanha que tinha sido traída e humilhada.

Aos companheiros iniciais junta reforços de muito peso; Himmler e Goebbels. Com Himmler cria as famosas SS, policia militar e sua guarda pessoal. Com Goebbels desenha o seu pensamento na rádio, nos jornais, nos cartazes. Goebbels consegue transmitir a mensagem com o máximo de força e capacidade criativa. Hitler pensava, Goebbels divulgava.

Os comícios começam a encher salas e estádios. O homenzinho de melena desgrenhada, fato amarrotado, sapatos cambados, olhos de um azul acinzentado e bigode de espanador, desperta o orgulho do povo alemão, levam-no a acreditar que é possível uma Alemanha forte, feliz e próspera. A aderência ao Partido Nacional Socialista é enorme.

Hitler começa a fazer a separação do trigo e do joio. Quem não estava com ele era contra ele. Tentou juntar aos seus partidários Rudolfo Steiner, adepto da magia branca, como não o conseguiu fez que o homem morresse na Suiça para onde tinha fugido.

Goebbels funda o jornal “Der Angriff”, O Ataque, onde começa a incutir a ideia de “Um povo, um império, um chefe”, que naturalmente seria Hitler.

A bandeira toma as cores branco, vermelho e negro. São criadas as juventudes Hitleristas e as associações de mulheres ligadas ao chefe.

A organização Nazi começa a tomar forma. Os seus membros distinguem-se pelos uniformes e pela obediência cega ao chefe. Só Ernst Roehm e Ludendorff não reverenciam o cabo que tinha tantos podres na vida e que de repente virara ídolo. Hitler finge que não sabe. Enquanto tiver necessidade deles será sempre amável, simpático e comedido nas fúrias.

 

 

CAPITULO XVIII

 

 

Em 1925 sai o “Mein Kampf’. A venda não vai além dos nove mil exemplares. Goebbels considera o número razoável. Karl Harrer, o primeiro Presidente da Associação Nazi de trabalhadores promete-lhe toda a solidariedade. Hitler apoia-se em Hausehofer, Hess e Himmler. Toma os conselhos do sábio austríaco Hans Horbiger. Prepara os discursos com Goebbels e a mímica com o fotógrafo Hoffmann.

Goebbels diz-lhe:

- Os últimos comícios ultrapassaram todas as expectativas.

- As pessoas querem um pouco de atenção e ouvir o que desejam. É o que faço.

- Tens sido brilhante,

- Sei que vivi outras vidas. É a minha identificação com o passado.

- Como é possível, nos grandes comícios, congregares opiniões tão diversas?

-  É o instinto. É o sexto sentido que reapareceu quando levantei o pó da memória.

-   Mas antes...

-   Antes de olhar, observar e saber compreender, não sou ninguém. Ao princípio, na minha cabeça há confusão, depois entra em mim o dom do verbo. Leio-os. É a leitura imediata das almas que faz que os entenda e lhes diga aquilo que eles desejam ouvir. Não sou eu que penso. São eles que pensam. Eu não sou mais do que o eco dos seus pensamentos.

-   Telepatia e empatia colectiva?

-   Comunhão de ideias. Não esqueças também que para conquistar multidões a palavra é muito mais eficaz que os escritos.

-   Rendo-me à tua genialidade.

-   Todos nós transportamos cargas de outras vidas. Eu aproveito-as com a ajuda dos espíritos de que não me desliguei. Invoco-os. Eles iluminam-me para entender a fragilidade humana. Agora só me resta rodear de pessoas competentes e levar isto para a frente.

-   Nós estamos aqui para ajudar. Só o Roehm...

-   O Roehm é um frustrado. Eu compreendo-lhe os desesperos.

- O ano passado, quando da gravíssima crise económica, tu soubeste explorar todas as situações travando as loucuras do Roehm, conseguindo manter a calma e dar uma imagem de serenidade que nenhum outro político conseguiu apresentar.

- Os anos de 1929 e 30 foram complicados, mas valeram a pena.

-  O caminho está aberto. É só ter um pouco mais de paciência. Morreram o Stresemann e o Paul Lévi, esse judeu que não me suportava. Agora é só captar a confiança desse ambicioso e rastejante general Kurt Von Schleicher para chegar ao Hindemburgo.

-   Que também não morre de amores por ti.

-   Ele está velho e gagá. Aquilo que hoje não quer, quer amanhã. É só esperar um pouco.

-   Nunca vi coisa assim! Chegámos aos seis milhões de desempregados.

-   Incompetência. Vais ver como mudaremos tudo isto. Este ano tivemos 107 deputados. Nas próximas eleições teremos a maioria e vamos logo acabar com esses aprendizes de políticos. É todo o mundo a rir-se de nós. Trinta e seis partidos políticos! Isto tem lógica? É de gente sensata?

-   Quando ninguém sabe o que deve fazer, mete-se na política.

-   Comigo, não. A política é uma coisa muito séria para sustentar aprendizes ou indivíduos que não têm outro modo de vida. Eu vou acabar com isso, podes ter a certeza.

-   Não duvido. Mas não te esqueças de descansar. Estás com olheiras e um pouco pálido. Aproveita para te distraíres um pouco. A tarefa vai continuar dura. Eu vou-me embora.

- E eu vou passar pela casa de Hoffmann.

Hoffmann tornara-se fotógrafo privativo de Adolfo Hitler. Ao princípio tinha-se interessado por Henriette, filha de Hoffmann, mas o fotógrafo teve conhecimento pelo Dr. Marx que Hitler era um sifilítico de alto risco e fez que Adolfo voltasse as suas atenções para Eva Braun, sua empregada. Eva detestava aquele homenzinho sem interesse, meio pateta, com um bigode horrível e que mal falava para as pessoas. Hoffmann explicou-lhe quem era aquele estranho cliente de sobretudo coçado e sapatos de cores esquisitas. Ele era um homem poderoso. Ele viajava a caminho do poder. O desprezo da rapariga virou em amor. Ela começou a mostrar-se, a dar nas vistas. Em breve se tornaram amigos.

Hitler não faz amor de modo natural, mas para ela isso não tem importância. Ela parece um rapazinho de partes atrofiadas, o que não desagrada a Adolfo. Assim Eva ficará sempre com a impressão que a culpa da ejaculação precoce de Hitler é motivada pela sua deficiente estrutura óssea.

 

 

CAPÍTULO XIX

 

 

Os desejos de Hitler agravam-lhe a esquizofrenia, obliteram-lhe o cérebro e levam-no a mudanças bruscas de atitude. Só o prazer, mesmo incompleto, o acalma e lhe dá tiradas de génio. Entre as suas amigas encontra-se a inglesa Unity Mitford.

-   Adolfo!

Hitler voltou-se contrariado, mas ao ver a escultural inglesa Unity Mitford que tinha autorização de circular pela chancelaria o seu rosto modificou-se.

-   Olá, não te esperava.

-   Acabei de chegar. Otto disse-me que estavas sozinho.

-   Jantas comigo?

-   Verdade? Depois que subiste ao poder só uma vez estivemos juntos. Foi tudo tão rápido que eu ainda penso que foi sonho.

-   Foi sonho.

-   Hoje posso ficar toda a noite contigo.

Adolfo Hitler olhou-a calmamente, não respondeu. Sentiu as faces aquecerem, o sexo pulsar desordenado. Ele sabia que a noite seria um fracasso total.

-   Unity. Os meus compromissos são enormes,

-   Tens de descansar.

-   Só descansar. Não podes pensar em mais nada.

-   Não penso. Quero estar ao pé de ti, sossegada, vendo-te dormir. Hoje, podes dispensar os pretorianos. - Disse-lhe a jovem rindo com ar malicioso e esfusiante de alegria.

-   Só dormir?

-   Só dormir.

Como sempre o começo da noite foi o esperado. Adolfo não dominou o sexo, A cama ficou inundada mesmo antes de ele ter tocado nas monumentais pernas de Unity. O sangue subiu-lhe às faces e chorou de raiva perante aquela estúpida forma de impotência.

-   Não tem importância. - Repetia Unity enquanto lhe acariciava a cabeça.

-   Que se passa comigo? Que se passa comigo?

-   Andas cansado, extenuado pela vida agitada que tens levado nestes últimos anos. Eu vim só para estar contigo. Não pensei em mais nada.

-   Também eu não queria pensar em mais nada. Mas tu, tão bonita, tão perfeita. Quase um anjo do céu...

-   Por isso mesmo. Nos anjos não se toca. - Disse ela rindo e tentando-o beijar enquanto ele a afastava desajeitadamente e lhe pedia para mudar os lençóis.

Conversaram durante algum tempo. Quando Hitler fez nova tentativa, ao tocar sexo com sexo, tudo se inundou sem que o esperma ficasse no local devido.

Hitler olhou Unity desesperado. Esta agarrou-o, não o deixou levantar e daí a momentos ele dormia serenamente.

Unity não conseguiu pregar olho. Adorava aquele homem inteligente e perguntava-se se aquilo que acontecia tinha alguma importância. Ela era virgem e assim continuaria até que Adolfo a conseguisse penetrar.

Pelas quatro horas Adolfo começou a gritar.

- Nunca! Nunca! Deixa-me! Deixa-me! Não! Não!

Unity apertava-o contra si. Tentava acalmá-lo e eis que ele ao gritar ai, ai, Não! Volta de novo a inundá-la de esperma. Depois dormiu até às seis e meia da manhã, hora a que se levantou e saiu.

 

 

CAPÍTULO XX

 

 

Os grandes mestres do esoterismo são os seus conselheiros privilegiados, serão mesmo os únicos de quem ele aceita sugestões. Com Rosemberg, Himmler, Otto Rahri, Hannussen e Willy Schneider faz invocações constantes aos espíritos. Rudi Schneider, irmão de Willy participa em algumas dessas sessões e revela-se um médium de grande sensibilidade. Ele está convencido que os seus poderes provêm da acção física de entidades desencarnadas. Ao entrar em transe, muitas vezes saía dele uma forma nebulosa que respondia a todas as perguntas que Adolfo insinuava. Rudi, era uns dezoito anos mais novo que Adolfo. Ficava extenuado no final das sessões, mas nunca se negava a realizá-las. Ele tinha também nascido em Braunau. Sentia muita afinidade com o irmão e com Adolfo que possuíam poderes idênticos aos seus, mas menos fortes. Numa das sessões ele fala na subida ao poder e na conquista da Gália. Adolfo Hitler nunca mais tirou do pensamento estas directrizes que lhe marcavam o caminho.

A popularidade de Adolfo Hitler ultrapassa todas as expectativas. Os homens mais inteligentes não se coíbem de o adular e de lhe meter, inconscientemente, na cabeça, ideias de extrema gravidade e perante as quais ele fica indeciso, mas que o inconsciente guarda para fazer explodir nos momentos em que é desperto por um qualquer estupefaciente de efeitos catastróficos.

O sábio austríaco Haushofer fala-lhe sobre geografia política e espaço vital. Segundo ele, os países de gente notável deviam ter um espaço geográfico de influência. A Itália, o Mediterrâneo, a Alemanha, a Europa Central e o Japão, a zona do Pacifico. Isto é quanto basta para Adolfo Hitler imaginar que tem o direito de alcançar esse espaço vital nas zonas que ele possa escolher. E aquelas que lhe interessam são as do mar do Norte e os espaços ocupados pela Polónia, pela Checoslováquia e pela Roménia onde encontrará todas as matérias primas desaproveitadas e que tanta falta fazem ao povo ariano.

Por outro lado, o Dr. W. Daumenlang, diz-lhe que a cruz que ele escolheu é uma cruz mística.

- É como lhe digo, Adolfo. Você é um enviado para salvar uma nação moribunda. A Cruz Gamada, sob a forma solar, pertenceu ao brasão dos Hohenzolern. Vem desde 1061. Sabia isso?

- Tinha essa sensação.

-  Você é um homem que não precisa de estudar. Você sabe por intuição. Por conhecimento anterior. Você tem o estigma dos chefes. O mundo falará de si durante muitos séculos.

-   O Dr. exagera.

-   A Suástica representa luz, alegria e vida em marcha para a perfeição. Representa a energia. Você soube-a encontrar.

-   Deve ser daqueles símbolos que batem no pensamento para nos acordarem.

-   São os chamados símbolos de repetição. Ela aparece-nos também na Índia e numa região do Panamá.

-   A Europa terá, finalmente, o seu símbolo mágico.

-   A Cruz Gamada inscreve-se numa visão cósmica do sagrado que o Adolfo devia ter encontrado nas suas viagens ao mundo desconhecido.

As palavras do Dr. Daumenlang vieram renovar o ânimo ao pequeno cabo que mais se convenceu da possibilidade de fundar o Reich dos mil anos com um chefe, o Fuhrer incontestado.

-   Falta-me encontrar o Graal, Dr. Daumenlang.

-   O vaso sagrado por onde Jesus bebeu na última ceia e onde José de Arimateia lhe recolheu o sangue?

-   Esse mesmo.

-   Eu julgava que estivesse totalmente perdido ou destruído.

- Não. Tenho informações precisas que ele se encontra em Montségur no sul de França. Com a posse do Graal e com a Suástica abrir-se-à, finalmente, um caminho de luz para os povos de raça ariana.

- Falou a mais alguém sobre este assunto?

- A Rosemberg e a Otto Rahn.

- Qual foi a opinião de Rosemberg?

- Rosemberg confirmou a magia dos símbolos.

- O movimento Nazi é um movimento mágico de poder incalculável.

- Se conseguir o Graal...

- Se conseguir o Graal terá o mundo a seus pés.

- Eu não quero o mundo a meus pés Dr. Daumenlang. Eu quero que o mundo entenda a beleza de uma ideia e construa a sociedade ideal, segundo os princípios do trabalho, e da não exploração dos homens uns pelos outros. Nós teremos de demonstrar como se faz. Os outros devem-nos seguir o exemplo. Para nós, viver e trabalhar e trabalhar bem desde que nascemos até que morremos. A vida não é nenhuma brincadeira.

O Dr. Daumenlang ficou impressionado com as convicções deste homenzinho que só se tornava notado quando expunha os seus pontos de vista sobre a construção de uma nova sociedade.

Depois da conversa com o Dr. Daumenlang, Adolfo foi ter com Hoffmann, e ambos, com a bênção de Goebbels, criaram um cartaz onde a sua figura aparecia no centro da Cruz Gamada. Foi o delírio. A sua popularidade voltou a aumentar.

Goebbels disse-lhe:

- Rosemberg tinha razão. A magia do símbolo funciona na perfeição.

- Ainda nos falta qualquer coisa.

- Vamos juntar à Cruz Suástica a função mágica das palavras. Os teus discursos têm de ser cuidados e estudados ao mais ínfimo dos pormenores. A partir destes dois items, o caminho do poder será uma realidade e poderás pôr em prática, tudo quanto idealizaste, para o entendimento do povo alemão e para a sua eterna prosperidade.

 

 

CAPÍTULO XXI

 

 

As reuniões na cervejaria Brennessel eram constantes. Muitas vezes a cerveja corria mais do que o bom-senso. Só Adolfo continuava moderado e sóbrio.

Hannussem, o mago negro, num momento de euforia e em plena praça pública resolve divulgar o que o futuro reservava a Adolfo Hitler. Prevê que ele em breve seria chanceler do Reich, mais tarde Presidente, que o Parlamento seria incendiado e que Adolfo Hitler morreria aos 56 anos. Esta última previsão deixou Hitler furioso.

Tal como Hannussem previra, Hitler é chamado por Hindemburgo, em Janeiro de 1933, à chefia do novo Governo, depois da queda do ministério presidido por von Papen que era controlado por Schleicher. Este demonstrou que o chefe do Partido Nacional Socialista, Adolfo Hitler era o único que poderia acalmar as multidões furiosas. No ano anterior tinha havido mais de 450 levantamentos populares com centenas de mortos e Adolfo Hitler tinha num só dia conseguido falar, em Brandenburg, Potsdam e Berlim para um total de mais de trezentas e cinquenta mil pessoas, tendo alcançado 230 lugares no parlamento.

Hitler sabe que o velho marechal Hindemburgo não o suporta. Aquilo que ele faz é estar sempre de acordo com as insignificâncias das suas sugestões. Mesmo assim Hindemburgo evita apertar-lhe a mão como, se com esse gesto, quisesse significar, bem o desprezo que sentia por um cabo subserviente, que a sorte o tinha obrigado a aceitar como parceiro de Estado, temendo que o excesso de poder nas mãos de um homem medíocre, sem escrúpulos e sem preparação conduzisse o país ao caos e à ruína.

Hitler faz invocações às valquírias, as belas deusas da morte, que têm preferência pelas fardas militares, e pede-lhes que recebam nos seus braços o velho marechal. Com a anuência de Hindemburgo nomeia Hess, Ministro de Estado e Von Papen vice-chanceler. Chama Goering para Ministro do Interior. Von Bomberg para Ministro do Exército e Bernard Rust para Ministro da Educação.

O Parlamento que o impedia de governar sob vigilância arde misteriosamente. Aproveita este momento para acusar os comunistas e inicia perseguições de maneira discreta.

A 17 de Março de 1933 cria a sua própria guarda pessoal, composta pela elite das S.S. que mais tarde prestará o seguinte juramento de infidelidade: “Juro-te, Adolfo Hitler, chefe e ditador, fidelidade e bravura. A ti e a todos aqueles que indicares como chefes, prometo obediência até à morte, e que assim seja com a ajuda de Deus”.

No meio da confusão e de reuniões em salas improvisadas, o Parlamento concede-lhe plenos poderes por quatro anos. A 26 de Abril Goering cria a Gestapo, a polícia secreta.

Nota-se que os Ministérios começam a funcionar com ordem e eficiência. Ninguém contesta a autoridade de Adolfo Hitler que parece conciliador, moderado e trabalhador infatigável.

A popularidade e a confiança em Adolfo Hitler aumentam na proporção em que cumpre as promessas feitas antes da subida ao poder. Os desempregados diminuem como por artes mágicas. São promulgadas leis para entrega dos solos a quem os queira trabalhar. A indústria ganha força. A alta finança dá-lhe todo o crédito pelas mãos do barão e banqueiro Kurt von Schroeder

A 20 de Julho celebra a Concordata com o cardeal Pacelli, futuro Papa Pio XII. Os católicos mais se convencem do coração piedoso e das boas intenções do novo Chefe do Governo. Goebbells felicita-o. Ele responde:

- O passado ensinou-me. Sofri imenso. E não te iludas. Sei perfeitamente que é preciso saber mentir, trair, assassinar quando a política o exige.

 

 

CAPÍTULO XXII

 

 

Goering diz a Adolfo Hitler que Emest Roehm prepara uma conspiração para o derrubar.

- Vigia-os. Hindemburgo está muito mal. O momento não é o mais conveniente para eliminar esses idiotas.

- Hindemburgo detesta Roehm. Ainda te agradece. Não podes esperar mais.

- O que tem de ser feito que o seja. Primeiro, eles vão-me prestar um favor.

Telefona a Roehm para atrair três prósperos judeus a um encontro de negócios.

Jacob, Isaías e Abel aparecem sem qualquer suspeita. Ao anoitecer são levados para uma casa num bosque, despem-nos e aparece Adolfo Hitler. Olhou-os com os olhos em sangue. Disse a Roehm que ele e os homossexuais das S.A. deviam possui-los até todos se satisfazerem. Os gritos dos homens são horríveis, prometem dar tudo quanto possuem e irem-se embora da Alemanha. Já noite dentro foi-lhes servida uma refeição tal como estavam. Cheios de esperma e de sangue. Os homens mal tocaram na comida. Hitler deixou-os descansar. Ele próprio dormiu duas horas ao fim das quais mandou que os enforcassem.

Chamou Emil Mourice.

- Vais fazer este serviço. Puxa a corda devagar, deixa que no lugar do nó ela esteja rafada, para que esses porcos saibam que um alemão nem esquece, nem perdoa.

Emil olhou-o sem compreender.

- Vai. Enforca-os um a um. Deixa aquele para último.

- O Jacob?

- Esse.

Ao vê-los baloiçar e ejacularem no estertor final, Hitler inundava também as calças. Terminada a macabra sessão, ordenou que fossem metidos no belo mercedes de Jacob, o despenhassem num precipício e por fim regassem corpos e automóvel até tudo ficar irreconhecível. Ele assistiu a tudo.

- Bom trabalho Roehm.

Ernest Roehm olhou para ele com desprezo.

- Se é assim que tratas os teus adversários, não podes admirar-te que um dia te aconteça o mesmo.

Adolfo Hitler bateu-lhe amigavelmente com o pingalim.

- Até breve, Roehm,

Emest Roehm sentiu um frio desagradável percorrer-­lhe a coluna vertebral.

A 30 de Junho de 1934, Hitler e Goering com a guarda pessoal vai encarregar-se de cortar a cabeça ao movimento. Sabe onde Roehm se encontra. Dirigem-se para Bad-Wiesee. Entra no hotel Hanslbauer às seis da manhã. Schneidhuber e Schmidt tomavam o pequeno almoço. Ao verem o Fuhrer levantaram-se imediatamente e tornaram-se muito pálidos.

- Venham aqui, seus cães!

Os dois homens olharam os soldados SS. avançaram até ao Fuhrer. Este arrancou-lhes violentamente os galões enquanto os enchia dos mais escabrosos impropérios.

- Canalhas! Infames! Traidores! Guardas! Levem-nos e fuzilem-nos imediatamente! Caguem-lhes em cima! - Em seguida dirigiu-se ao conde Von Spreti, ajudante de Roehm, que tremia como uma criança assustada.

- Onde está o teu chefe? - Pergunta-lhe desabridamente Hitler. O conde hesita. Hitler bate-lhe na cara com o chicote de pele de hipopótamo que trazia sempre consigo. Von Spreti indica-lhe o quarto. Hitler manda arrombar a porta e encontra Ernest Roehm com o amigo Heines na cama. Hitler olhou-o com desprezo. Mandou sair Heines e fez sinal a Goering que imediatamente o mandou abater como a todos os S.A. que ali se encontravam.

Hitler voltou-se para Roehm.

- Maricas de merda.

Roehm viu que estava perdido. Perdido por um, perdido por mil. Pelo menos morria de ideias lavadas já que o corpo não o podia salvar.

- Se as pessoas soubessem...

- Cala-te! Pensaste atraiçoar-me. Porquê, meu canalha? Não te dei tudo quanto quiseste? Não te guindei a ti, e aos teus amigos, aos mais altos cargos em louvor da nossa amizade? E que fazes tu? Embebedas-te e escandalizas toda a gente com a tua homossexualidade, mesmo sabendo que tinha pedido para não o fazeres à descarada.

- Esqueces-te que fui eu que te pari em 1920, quando obriguei os meus soldados a aderir ao partido. Esqueces­te que fui eu que te arranjei o dinheiro que necessitavas, meu morto de fome. É isso. Não passas de um morto de fome.

- Vê como falas, imbecil! Sou o Fuhrer!

- Tu és um merdas, é o que tu és. Eu conheço-te. És mil vezes pior do que eu. Fizeste-me cometer os mais execrandos crimes e agradeces-me assim?

- Cala-te! Tiveste tudo. Dei-te tudo para servires a grande Alemanha. Infelizmente, tu continuas a pensar mais com o rabo do que com a cabeça.

- E tu, mal vês o Goering, ficas logo com o cu aos saltos. São dois rabos que não se largam.

Hitler chicoteou-o. Roehm olhou-o com ódio.

- Vais pagar muito caro tudo quanto fizeres.

- Cala-te! Julgas-te inteligente. Desejas mais do que és capaz. Se eu não tomasse a iniciativa, eras tu que me apunhalavas pelas costas. Sei tudo o que andavas a tramar.

- Tu não sabes nada. São esses merdas que te enchem os ouvidos.

- E eu não sei porque te oiço.

- Vivi contigo todas as depravações.

- Viveste. Vais esquecer o que vivemos juntos. Tens aqui a tua dignidade. Quero que te suicides.

- Nunca! Quero morrer como sempre vivi. Morro, pelo menos, com a certeza de que nunca mais estaremos juntos. Mata-me se quiseres. Tu, com a tua prosápia, és um merdas. Um maricas como eu. Eu ao menos tenho tomates e tu finges que os tens. A Geli tem nojo de ti...

- Cala-te canalha!

- Ela engana-te! Não há um, que não se aproveite da tua impotência e da tua loucura! Os espíritos que invocas e as magias que praticas não te valerão de nada. És um génio inacabado e um corno perfeito!

Hitler chicoteou-o, na cara, com o pingalim.

- Impotente!

Hitler estava gago de raiva. Não conseguia articular palavra. Fez sinal a dois S.S. Roehm ao passar junto a Hitler disse-lhe ao ouvido.

- O meu olho do cu está mais limpo do que a tua cabeça. Vais ser a desgraça deste país. Serás amaldiçoado pelos séculos fora. Nem no túmulo terás sossego, impotente de merda!

Hitler ficou petrificado, não disse nada e viu, de lágrimas nos olhos, Roehm ser abatido como um cão raivoso. As últimas palavras daquele desgraçado ficaram­-lhe na cabeça. Hitler era muito supersticioso. Acreditava que um condenado à morte violenta podia lançar anátemas perigosíssimos. Durante muitos dias andou de péssimo humor.

 

 

 

CAPÍTULO XXIII

 

 

Desde o dia em Ernest Roehm lhe dissera que Geli o enganava, Adolfo Hitler andava em grande tensão.

Trabalhava até altas horas e fazia os possíveis por ter sempre o espírito ocupado. Para ele, nada seria mais importante no mundo do que possuir uma mulher. Ter uma mulher que o respeitasse. A política era a sublimação da sua frustração sexual.

Geli Raubel era sua sobrinha. Sentira-a fresca, pura e ingénua. Adolfo Hitler tinha por ela uma paixão sem limites. Geli era o símbolo da pureza que ele podia beijar por todo o corpo sabendo que mais ninguém teria a ousadia de manchar aqueles seios, aqueles olhos, aquele sexo. Roehm lançou a suspeita, O sofrimento de Hitler era muito maior do que todas as canseiras que vivia para levantar a Alemanha. As suas ideias e as suas ordens eram todas arrancadas à dor,

Mandou-a vigiar, dia e noite e chegou à conclusão que o desgraçado do Roehm tinha dito a verdade. Geli enganava-o com o motorista Emil Maurice. Mandou-a chamar.

-    Porque não vieste imediatamente?

-    Tanta pressa, porquê?

Adolfo Hitler tentava esconder todo o ódio que o perturbava. Não conseguia articular palavra. Fazia tremendos esforços para não gaguejar.

-    Sabes que te quero sempre disponível.

-    Tio...comigo não... Eu não sou mercadoria de compra e venda.

-    Tu não gostas de mim?

Geli olhou-o com ar trocista.

-    Também não sei se o tio gosta verdadeiramente de mim. Tem a Eva.

Adolfo hesitou.

-    Eva. Eva não tem importância. É o mesmo que não ter.

-    E a mim, alguma vez me teve?

-    Geli, não brinques! - Disse-lhe Adolfo Hitler com voz rouca e uma vontade imensa de a espancar.

-    Eu não estou a brincar. Dispo-me aqui?

-    Não brinques Geli.

-    Começa por que parte?

-    Tu não gostas de mim Geli.

-    Fazem-me impressão os seus beijos em sítios que...

-    Basta! Preferes que seja o Maurice a beijar?

A rapariga pôs-se muito pálida.

- Diz a verdade!

- Tio...

Adolfo Hitler esbofeteou-a, deitou-a ao chão, pontapeou-a, pisou-a. Geli escondia a cabeça entre as mãos e não deitou uma única lágrima ou se queixou.

- Puta! Grande puta! Porca! Diz a verdade, Andas metida com o Maurice?

- Foi só uma vez. Ele não teve culpa.

- Quando?

- Da última vez que estivemos juntos e o tio o mandou levar-me a casa.

- Porque fizeste isso?

- Estava tão excitada com os beijos que o tio me tinha dado, sem nunca me ter possuído, que eu não resisti a ter toda a experiência sexual. Quase o obriguei a ter relações comigo.

Hitler, doido de ciúme, lançou outra vez, a rapariga ao chão e com o chicote de couro bateu-lhe desvairadamente. A jovem era uma pasta de sangue por todo o corpo. Hitler agarrava-a e arrancava-lhe punhados de cabelos ao levantá-la pelas partes mais sensíveis. Geli não emitia um queixume o que mais desesperava Hitler que continuava a bater, a insultar, a puxar-lhe os seios como se os quisesse arrancar. Extenuado de tanta vilania, ainda teve coragem de a pontapear até à porta do quarto. Ele caiu, sem fôlego, para cima do tapete e a rapariga correu, nua, para o quarto seguinte e fechou a porta. Passados três ou quatro minutos, Hitler ouviu um tiro. Com um esforço sobre-humano Adolfo Hitler conseguiu levantar-se. Cheio de maus pressentimentos arrombou a porta. Geli, bela, nua e morta jazia estendida na belíssima cama de pau-santo e colcha debruada a ouro. Hitler começou a chorar convulsivamente.

- Perdão Geli. Perdão meu amor. Perdão.

Hitler beija o corpo da rapariga. Sente que o sexo se mantém calmo e resolve possui-la. Despe-se. Mal lhe toca, a bela colcha debruada a ouro fica manchada de esperma. Adolfo Hitler deita-se ao lado da rapariga e adormece. A sua consciência tornou-se, definitivamente, imune à dor.

 

 

CAPÍTULO XXIV

 

 

Hitler não esquece Hannussem e aproveita a matança dos S.A para o eliminar, tal como fez ao Pe Stemple que o tinha ajudado a escrever o Mein Kampf, a Schleicher e a Gregor Strasser.

Em Maio de 1934 os militares passam a ostentar sobre a farda a águia nazi e a cruz gamada.

A 2 de Agosto de 1934 morre Hindemburgo. Hitler aboliu imediatamente o cargo de Presidente e toma para ele as duas funções; a de Estado e de Governo. A concentração de poderes num homem só ganha a sua máxima expressão quando todas as Forças Armadas e paramilitares fazem o juramento de bandeira directamente a Hitler. O juramento era sagrado para os soldados. Faltar a este juramento era desobedecer à Pátria mãe. Era a desonra. A partir deste momento, Hitler, sabe que pode contar com estes homens para a vida e para a morte. Eles ser-lhe-iam mais fieis do que a sua própria sombra.

A 2 de Novembro, Bernard Rust promulga um decreto obrigando todos os mestres, desde os professores primários, aos professores catedráticos a um treino militar. Ao fim de três, quatro anos saíam graduados. Aqueles que se recusam são presos.

Goebbels e Himmler são as segundas almas de Hitler que toma o nome de Fuhrer.

-     Tem razão Himmler. Não podemos perder mais tempo. Von Bomberg têm de ter, até finais de 1935, um exército permanente de 1.500.000 homens e 60% do povo militarizado. O Goering está a criar a força aérea. Agora tudo vai ser feito às claras. Desde 1926 começou para nós, a construção de material de guerra na URSS, Suécia, Espanha e Holanda. E fomos nós, Partido Nacional Socialista que forçámos o Governo a tomar esta atitude.

-   E ninguém se opôs.

- Estamos num mundo de loucos, Goebbels. O homem cega pelo dinheiro. Os Governos vão atrás do suicídio colectivo. O que lhes interessa é calar as massas e resolver o presente, enquanto nós...

-   Temos de criar o Reich dos mil anos. Temos de o criar em paz.

-   Isso mesmo Himmler.

-   O Tratado de Versalhes?

-   Acabou. Já pagámos o que tínhamos a pagar. Ninguém vê, nem mais um marco! Goebbels, como vão os preparativos para os jogos Olímpicos?

- Muito bem.

- Os convites estão a ser enviados?

-   Para todo o lado.

- Não quero pretos.

- Vai ser muito difícil. Na África do Sul, os melhores atletas são pretos e eles não vão gostar.

- Estes tipos com a mania das democracias fingidas hão-de ir longe!

-   Como tens procedido?

- O Himmler disponibilizou os seus homens. O Kaltenbrunner e o Heydrich têm infiltrados agentes da Gestapo por todos os países.

-   Quero saber todos os pormenores sobre o que se passa em Espanha. Vou assinar o Pacto Antikomintern com Mussolini, Franco e o Japão. Quero que tudo corra como planeei. A Guerra em Espanha está no ar e nós iremos aproveitá-la no máximo. Nem que seja só para treinar os nossos homens.

 

 

CAPITULO XXV

 

 

Adolfo Hitler além das suas apaixonadas de ocasião tinha uma mulher que toda a vida o seguiu discretamente. Esta mulher bonita, voluntariosa, carente de mimos, mas desinteressada de sexo, sabia calar as infidelidades. Isso não a impedia, de uma vez por outra, ter os seus ataques de ciúme.

Em 1935 um dos seus arrufos ia tendo consequências trágicas.

-   Adolfo. Sinto-me tão feliz por estar contigo. O tempo passa tão rápido. Tudo é tão bonito.

-   Eu sinto o mesmo. E tudo é bonito porque tu és a perfeição. Porque vieste hoje? Devias ter avisado.

-   Vim dar um tempo de folga às tuas canseiras.

-   Por que será que toda a gente quer que eu descanse?

-   Há mais alguém que pensa no teu bem-estar?

Hitler fingiu não ouvir,

-   Hoje não, hoje não posso.

-   Não podes porquê? Não gostas de mim?

- Sabes que não é isso. Sou muito teu amigo. Amigo, Eva. Compreende.

-   Não compreendo. Quero ficar contigo. Já estivemos tantas vezes juntos.

-   Eu não posso deixar que alguém murmure. A minha imagem tem de aparecer como um exemplo.

-   Neste país, ninguém vê ninguém. E se virem e souberem que o seu chefe é homem, ninguém se importa com isso.

Adolfo Hitler sentiu um aperto no estômago. Nunca tinha conseguido penetrar Eva, ela conhecia o seu problema, mas aquilo não poderia durar sempre. O seu corpo tinha de lhe obedecer. Resoluto, aceitou o desafio.

-   Vamos. Já é muito tarde. Ficaremos juntos. No quarto, Eva estava felicíssima, beijava Hitler enquanto este não pensava noutra coisa senão controlar os seus actos impulsivos que tomavam imediatamente flácida a sua força.

Mal entraram na cama, o que sempre acontecia, aconteceu.

Adolfo Hitler ficou louco de raiva.

-   Eu bem disse! Eu bem disse! Devias ter-me avisado! Não sei o que se passa comigo!

-   Eu amo-te como tu és. Isto não tem importância para mim.

-   Para mim tem!

-Não te aborreças. Basta tocares-me para eu sentir um prazer delicioso. Algo que eu nunca experimentei. Sabes que sou virgem.

- Sei lá!

- Adolfo não sejas rude. Isso que acontece contigo acontece com milhões de homens.

- Como sabes isso? Já tiveste outros?

- Não te admito essa suspeita. Parece impossível como um homem como tu não saiba o que se passa neste campo.

- E as mulheres ficam satisfeitas só com carícias e beijos?

-   A maioria. Isso e um pouco de ternura valem muito mais do que a tua grosseria injustificada.

-   Se não estás contente, podes ir-te embora.                              

-   Continuas?

-   Continuo. Vocês são todas iguais.

- Por favor, Adolfo. Não insistas. Vem dormir. Amanhã estarás mais bem disposto.

Adolfo Hitler furioso consigo próprio, sabendo que não tinha razão lançou-se na cama, virou as costas a Eva e adormeceu profundamente.

Eva olhou-o com doçura. Tocou-lhe suavemente e cobriu-o bem. Adorava Adolfo. Com sexo, sem sexo. Com ou sem frustração pouco lhe importava. A admiração pela sua inteligência, pelo poder que tinha sobre os outros eram fontes suficientes de amor. Não lhe admitia que duvidasse dela, da sua integridade e honestidade.

Eva continuou acordada por longo tempo e, mais uma vez, ela teve de o acalmar. Adolfo começou a gritar como um possesso e fez que os guardas viessem ver o que se passava.

Eva tentou-o acalmar, mas ele, de olhos desmedidamente abertos, continuava a gritar: “Não! Não! Não faças isso! Ele!Ele!Ele! Agarrem-no!” – ao dizer isto torcia-se todo e cerrava fortemente as pernas como se naquela zona qualquer coisa de anormal se estivesse a passar.

Eva inadvertidamente acordou-o. Ele ficou desvairado.

- Eu disse-te para não ficarmos juntos! Eu disse-te! Forçaste-me a fazer figura de idiota!

- Que idiota, Adolfo! Amo-te. Juro que eu te amo mais que tudo o que existe no mundo.

- Sai! Sai! Tu não me amas nada! Tu conheces o que não devias conhecer! Sai, antes que eu chame os guardas!

- Tu estás louco!

- Estou! Sai!

Nessa mesma noite Eva Braun tentou suicidar-se. Felizmente que no hotel onde se hospedara alguém ouviu o tiro. Imediatamente avisaram o Fuhrer que providenciou para que nada lhe faltasse. Eva salvou-se. Durante algum tempo, pouco se soube do seu paradeiro e da sua vida.

 

 

CAPÍTULO XXVI

 

 

O ano de 1936 correu como ninguém imaginava. Adolfo Hitler acreditava que todos os seus sucessos e as suas atitudes, não condenadas pelos outros países, se deviam à protecção dos espíritos que ele invocava com os seus companheiros. Nem os movimentos na Renânia, nos Sudetas, o não cumprimento das últimas cláusulas do Tratado de Versalhes, nenhum dos grandes países deu importância. Hitler é aclamado como o salvador da Pátria e admirado em todo o mundo.

Mais de mil pintores, cientistas e intelectuais prodigalizam os mais altos elogios ao homem que, de um dia para o outro, transforma a miséria e a fome em alegria e prosperidade. Entre esses homens está o filósofo Heidegger e o Académico francês Louis Bertrand que escreve sobre Hitler “ Qual o soberano, qual o herói nacional que tenha sido tão aclamado, adulado, querido, e idolatrado como este homem, este pequeno homem em camisa que, seguido do seu séquito, como um soberano, tem sempre o ar de um operário. É algo de diferente da popularidade, é a religião. Hitler aos olhos dos seus admiradores é profeta, participa da divindade.”

Hitler está com Himmler.

- Acredite que eu faço esforços sobre-humanos para não me exceder, mas não sei se consigo resistir por muito mais tempo.

- O Fuhrer está a falar dos judeus.

- É. Esses gajos teimam, teimam, teimam e vão levando a água ao seu moinho. Eu não lhes perdoo e eles têm de abandonar o país.

- Mas eles não querem.

- Vão-me forçar a tomar medidas radicais. Desde 1920 os aviso. Estamos em 1937. A partir de agora incremente medidas que os faça desaparecer de uma vez para sempre da Alemanha. Esses imbecis são como a peste. Perseguidos desde 1096 chacinados em Worms, depois Mogúncia, Colónia, Estrasburgo, Áustria, Baviera, Saxónia. Ainda não terão entendido que são odiados?

- Goebbels dizia-me, há dias, que o judeu sente afinidades com o alemão e não consegue desligar-se desta atracção fatal, por mais perseguições que lhe imponham.

- Comigo vai ser diferente.

- Pode ser, mas vai ser muito complicado. Quanto mais os maltratamos, mais eles se nos colam. O Goebbels, rindo, dizia-me que era quase uma ligação incestuosa, de inteligências brilhantes, que disputam uma à outra o primado da imaginação e o fundem ao atingirem a descoberta. O judeu torna-se subserviente para atingir as suas finalidades. Conquistadas estas, goza-as sossegadamente, não se importando de compartilhar o sucesso com o seu carrasco.

- Desta vez, eles não compartilharão coisíssima nenhuma! E o Goebbels que se deixe de explicações idiotas. Esses gajos não prestam! Eles mataram quem os podia ajudar. Não sei como têm resistido a tanta perseguição. Os Espanhóis correram com eles, os Portugueses fizeram o mesmo. Ninguém os quer!

- Eles resistem porque os que restam dos morticínios ficam sempre unidos. É a união que os torna resistentes.

- É isso. São teimosos, insistentes, perseverantes, persuasivos, mas comigo, chega! Tem tudo preparado para os que não quiserem sair a bem?

- O Julius Streicher, o Heydrich e o Bormann têm vindo a organizar um plano que não poderá falhar. Ou se vão embora ou desaparecem sem deixar rasto.

- Muito bem, Himmler. Quantos pensa que viverão na Alemanha, na Áustria, na Polónia, na Roménia, Checoslováquia, Hungria, Rússia?

- Não me diga que os quer escorraçar da Europa?

- Farei os possíveis, se a isso me obrigarem.

- Não chegam a onze milhões.

- Ainda, onze milhões! Esses tipos são piores que ratos!

 

 

 

CAPÍTULO XXVII

 

 

Alberto Speer está felicíssimo.

- Meu caro Fuhrer, os nossos cientistas Hanhn e Strassman conseguiram a cisão do átomo do urânio.

- Isso, não nos pode levar a um engenho de destruição incomensurável?

- Julgo que sim.

- Com um engenho dissuasor, a Alemanha estender-se-ia pelos outros territórios pacificamente. Todos os povos beneficiariam com a nossa capacidade de trabalho e de engenho, Alberto. Nós somos uma raça superior e não queremos mais do que o reconhecimento dos povos.

Hitler abria muito os olhos e ficava absorto numa ideia que o obcecava.

- Acredita em mim, Alberto?

- Eu acredito.

- As elites pensantes estão na Alemanha. Nós somos a cabeça do mundo.

- Com a mania das independências...

- Independências de miséria. Temos de reverter esta situação. Este ano também nos tem sido favorável. Anexámos a Áustria a 12 de Março, como tínhamos planeado.

- Foi aborrecido termos eliminado o Dolfuss.

- A culpa foi dele. O Schuschnigg que me parecia mais burro tornou-se maleável e tudo correu bem. O povo é o mesmo. Quando se fez o referendo 97,7% votaram a favor da ligação com a Alemanha, afinal, quem tinha razão?

- Não sei como o Fuhrer conseguiu fazer aceitar o Pacto de Munique de 28 de Setembro de 1938.

- O mundo está cansado de guerras. Chamberlain e Daladier viram como o povo lhes agradeceu o comedimento. E o condotieri Mussolini, sempre com muita inteligência, mas com pouca força...

- Eles avalizaram as nossas pretensões ao Este Europeu.

- Temos que actuar com prudência, mas sempre com muita firmeza.

- Não teríamos exagerado na célebre Noite de Cristal?

- Ó Alberto, você fala a sério? Há quanto tempo andamos a avisar os judeus? Esses cavalos querem ser exterminados? Querem? Parece que sim! A Noite de Cristal foi um aviso muito sério. Agora é com eles. Esses tipos dão-me azar.

- Mas por causa do judeu Herschel Grynzspan ter morto, por acidente, o nosso adido de embaixada em Paris, destruímos 76 sinagogas, incendiamos outras 191, fora as inúmeras lojas destruídas e incendiadas. Ainda por cima obrigámo-los a pagar um bilião de marcos de multa. Temos de concordar que foi exagerado.

- Espero que eles não se esqueçam dessa noite de 7 de Novembro de 1938 e se vão rapidamente embora. O Tempo está a esgotar-se. A minha paciência também. Você hoje resolveu chatear-me defendendo esses porcos, quando concordou e também avalizou toda a acção. Só pode estar a querer brincar comigo. Eu não estou para graças. Até amanhã.

 

 

CAPÍTULO XXVIII

 

 

Adolfo Hitler estava muito excitado. Andava de um lado para o outro na Berghof, a sua casa de campo, em Berchtesgaden. Um oficial S.S. anunciou-lhe que Renée Muller acabava de chegar.

-   Olá Adolfo.

Adolfo Hitler olhou a rapariga com os olhos raiados de sangue.

-   Não me toque!

-   Que fiz? Mandaste-me chamar.

-   Trate-me por Fuhrer! Não conhece o regulamento?

-   Eu pensava...

-   Uma prostituta não pensa! Uma prostituta só...

-   Adolfo.

-   Leia alto o regulamento para saber quantas regras infringiu. Leia!

A rapariga, tremendo e de lágrimas nos olhos leu:

1 É proibido fumar fora dos quartos de dormir.

2 Não se deve falar aos criados nem encarregá-los de trazer cartas ou encomendas.

3 Quando se fala ao Fuhrer ou do Fuhrer deve-se sempre empregar esta denominação e não quaisquer outros títulos, nem mesmo a expressão “Senhor Hitler”.

4 É proibido aos hóspedes abusarem de cosméticos e é formalmente interdito às mulheres o uso do verniz nas unhas.

5 Os convidados devem apresentar-se à mesa dois minutos após o toque do gong. Ninguém se deve sentar ou levantar antes do Fuhrer.

6 Ninguém pode permanecer numa sala quando o Fuhrer aí entrar.

7 Os convidados devem retirar-se para os quartos às 23 horas, a menos que o Fuhrer lhes peça expressamente para ficarem.

8 Os convidados devem permanecer na ala da casa que lhes foi reservada. É proibido entrar nos locais de serviço, na caserna dos oficiais S.S. ou no gabinete da polícia política.

9 Após terem deixado Berchtesgaden, é formalmente interdito contar a terceiros ou estrangeiros as palavras que possam ter sido pronunciadas pelo Fuhrer. Toda a infracção consistindo em dar informações sobre a vida privada do Fuhrer será punida com as mais severas penas.

- De todas as regras, você só não infringiu a oitava, sua puta sem vergonha!

- Por favor Adolfo! Eu vim aqui tão poucas vezes. Eu sou uma actriz com hábitos...

- Você é a prostituta mais reles que conheci até hoje! Desde que ficou sob a minha protecção devia saber das minhas vontades! Dos meus gostos! Dos meus desejos!

- Tenho-te feito tudo e deixado que tu me faças coisas que nunca nenhum homem me fez.

- Cale-se! Trate-me por Fuhrer! Não infrinja mais regras, sua destrambelhada sem vergonha! Só me falta saber se conta as nossas intimidades. Mas eu vou saber. O porco do judeu com quem te prostituis vai contar tudo! Ele contará até aquilo que não sabe, sua puta de merda! Nem que tenha de lhe mandar arrancar a pele! - Adolfo Hitler deu um murro tão violento no peito da rapariga que esta caiu no tapete lavada em lágrimas.

- Perdão Adolfo.

- Confessas, grande puta!

- Eu com ele...

- Cala-te! Não te chegam as minhas carícias? Queres mais!

- É diferente.

Adolfo Hitler caiu sobre uma poltrona e começou a chorar. A rapariga perante aquele ridículo impotente, do qual ela sentia nojo, começou a vomitar sem conseguir conter a sua ansiedade. Hitler levantou-se de um salto.

- Fora. Fora daqui! A sujar a minha sala!

Agarrou-lhe por um braço. A rapariga levantou-se, olhou para ele aflitivamente, e vomitou-lhe em cima. Hitler largou-a imediatamente e correu de lábios muito fechados, para a casa de banho onde limpou a cara e esfregou desesperadamente o bigode para tirar os restos de comida e de suco gástrico que tinham um cheiro nauseabundo.

- Pauline! Pauline! - Gritou pela criada.

- Fuhrer.

- Não há água? Como é possível?

- É momentâneo, Fuhrer. Rebentou, mesmo agora, uma conduta nesta zona da casa e a água tinha acabado de ser cortada. Eu vinha avisar.

- Arranje um jarro com água e traga-o imediatamente.

Renée Muler continuava a um canto da sala.

- Que fazes aí? Desaparece! Tu, e esse maldito judeu, com quem fornicas, vão-se arrepender de terem nascido! Fora, sua puta!

Ao chegar ao hotel a rapariga debruçou-se mais do que devia da varanda do quarto. Caiu da altura de três andares e morreu.

 

 

CAPÍTULO XXIX

 

 

- Meus caros Donitz e Goering. Entendam-se. Falem com Alberto Speer. Que me diz, general Von Brauchtisch?

- O mais difícil foi conseguido quando em 23 de Agosto conseguimos o Pacto de não agressão com a União Soviética. A rápida invasão da Polónia em 31 desse mês foi mais um passeio do que uma guerra.

- Mesmo assim, custou-nos alguns milhares de homens. Qual é a sua opinião, Goering?

- Continuo a defender uma força aérea bastante forte. Se alguma prioridade tem de ser tomada, o Donitz, que me desculpe, mas a campanha da Polónia ser-nos-ia ainda mais favorável se tivéssemos podido apoiar a infantaria como desejávamos.

- Hanz Frank. Tem de espremer um pouco mais os polacos. Você, como Governador, tem de fazer um levantamento rápido de tudo quanto necessitemos de momento. Depois a gente devolve e você fará desse país um lugar fabuloso. Comece por sacar aos judeus tudo quanto possuem.

- Heydrich tem trabalhado dia e noite. Eles não vão escapar e o Fuhrer pode contar de imediato com 50 biliões de marcos.

- Óptimo, Franz. Eu sei que o físico Werner Heisenberg e todos os outros cientistas precisam de todo o apoio. Parte desse dinheiro irá para a investigação científica. O resto para a eliminação pura e simples de parasitas. O Decreto de 1 de Setembro permitindo a Eutanásia fez desaparecer 270.000 débeis mentais e abortos de toda a espécie na Alemanha. São menos uns milhares de bocas a sustentar, a tratar, a medicar e os desgraçados a sofrer. Os familiares compreenderam a necessidade de lhes acabar com o sofrimento. Não houve uma reclamação. Esses infelizes, no lugar onde se encontram, devem-nos estar tremendamente agradecidos.

- O mesmo não pensam a Inglaterra e a França que, em 3 de Setembro, nos enviaram o ultimato por causa da invasão da Polónia.

- Tem razão Donitz. E é por isso que você insiste em mais 300 submarinos, de um dia para o outro.

- Sem submarinos, a esquadra inglesa inviabilizará toda e qualquer hipótese de recebermos matérias primas dos outros continentes. Por outro lado eles irão apoderar-se de toda a costa desde o mediterrâneo até à Noruega, Suécia e Finlândia. Os poucos submarinos que possuímos têm-se mostrado eficazes devido aos torpedos orientados pelo som, no entanto, os homens de Kaltenbrunner, que trabalham na espionagem em Londres acabam de o informar que os ingleses inventaram um gerador de ruído para desviar os nossos torpedos do alvo. Nós temos, urgentemente de construir mais submarinos e cada vez mais aperfeiçoados para resolver os problemas que a cada momento nos surgem.

- Faremos isso. Temos os melhores cientistas do mundo. Quanto às costas Portuguesas e Espanholas, estão salvaguardadas. Salazar declarou a neutralidade do país.

- Portugal tem uma Aliança com os Ingleses. Eles cumprem os seus compromissos.

- Eu sei. Esses portugueses são um bocado malucos. Desta vez nem os ingleses lhes pedirão ajuda, nem eles se oferecerão. Quanto aos espanhóis, esse ingrato do Franco tem fugido com o rabo à seringa depois de tudo quanto fizemos por ele. Mas tenho a certeza que também não se unirá ao inimigo. Os problemas dele são ainda grandes demais para se envolver numa guerra, se Ingleses e Franceses teimarem em a fazer. Por mim ficava por aqui. Que diz Brauchtisch?

- Eles vão-nos forçar a ceder ou levar-nos para uma guerra desgastante.

- Não devolvo a Polónia. Preciso dela, para a felicidade dos povos do norte. Para já estão a ser terminados campos de trabalho onde iremos meter todos aqueles que possam impedir de levarmos avante a nossa política.

 

 

 

CAPÍTULO XXX

 

 

- Não podemos parar, Hess. Não fui eu que provoquei a Grã-Bretanha. Ou fui? Agora tenho de lhes provar que só há um povo capaz de restaurar a ordem Europeia, o povo alemão.

- Esquece isso. Já vimos do que eles são capazes. O Somerville mandou afundar a esquadra que estava em Mers-el-Kebir que era dos seus aliados franceses e matou 1300 marinheiros indefesos. Os tipos são loucos.

- Ribbentrop moveu céu e terra para que eles não entrassem no conflito. Em 19 de Julho propus-lhes a paz. Aquele idiota do Churchill mandou-me à merda. O tipo apareceu na hora errada. Com Chamberlain eu tinha-me entendido. A 23 de Agosto assinámos o Pacto de não agressão com a U.R.S.S. Mas esses tipos abocanharam territórios que não lhes pertencem. Vê lá se os franceses e ingleses se importaram? Sacanas. A nós declararam-nos guerra a 2 de Setembro. Eles tinham assinado o Pacto de Munique onde me autorizavam a ocupar os Sudetas.

Agora vêem-me com esta, só porque ocupámos a Polónia! Isto dá para entender?

O ano de 1940 correu-nos bastante bem. O povo tem-nos apoiado e agradecido. Todas as vezes que perguntei se desejam continuar a guerra tenho sempre obtido mais de 90% de respostas favoráveis.

- Não te fies na cabeça do povo. O povo em rebanho é uma massa de galinhas tontas. O povo nos comícios não fala, cacareja.

Hitler fez que não tinha ouvido.

- As vitórias obtidas em Março e Abril contra a Dinamarca e a Noruega aumentaram as nossas capacidades não só de aprovisionamento como de domínio dos portos do norte. A invasão da Bélgica, da Holanda e da França foram autênticos sucessos, mas isso irá continuar?

- Hess. A França está connosco. Eu assisti ao armistício...

- Não resististe a vexá-los.

- Paguei-lhes na mesma moeda. Tal como eles nos fizeram em 1918. Foi tudo assinado na mesma carruagem e na floresta de Compiègne, o mesmo local onde capitulámos.

- Cuidado. Os Franceses são muito orgulhosos.

- Já passou. Encontrei-me com Pétain em Montoir e ele mostrou-se totalmente colaborante.

- O Infeliz, desgraçou-se a ele, para não desgraçar a França.

- Aos primeiros raids aéreos de aviso, capitularam. Serei generoso. O General Von Briesen entrou em Paris quase sem disparar um tiro. Teve o cuidado de preservar a Paris monumental. Só preciso da França, da Bélgica, da Holanda e do Luxemburgo por causa dos estúpidos dos ingleses.

- Tenta fazer as pazes com eles. Convence-os que a Alemanha e a Inglaterra estiveram sempre unidos. Até 1917 a coroa inglesa usou os apelidos alemães. Porque havemos de nos matar inutilmente?

- Vê se consegues dizer isso àquele inveterado fumador de charutos. O tipo é doido! Nos seus discursos não promete mais do que sangue, suor e lágrimas e os ingleses ficam conformados ao ouvir tanto disparate! Vais ver como lhe irão pagar.

- Depois de mandares bombardear Londres, umas sessenta vezes, contrariamente à minha opinião e a de quase todo o Estado Maior, não fazes também o que queres?

- O Goering era dessa opinião. Aquilo que faço, faço a bem do povo! O gajo não tem nada que se meter onde não é chamado! Depois dele ter ouvido falar no pacto Tripartido que assinámos com o Japão e a Itália, talvez pense melhor no sarilho em que está metido.

- Duvido. Churchill é muito teimoso. Ele há-de fazer tudo para que os Estado Unidos nos declarem guerra.

Hão-de também enviar regimentos indianos e canadenses.

- Pior para eles. Ensinam os indianos a lutar. Quando menos o esperarem ficam sem a riquíssima Índia.

-   Neste momento só lhes interessa derrotarem-nos. Não te convenças que eles vão pensar no depois. O depois resolverão na altura.

-   O Goering diz que é uma questão de dias.

- Tu e o Goering quando estão excitados não olham a nada.

-   Hess... estás a ir demasiado longe.

-    Não gostas que te diga o que penso?

- Gosto. Mas com maneiras.

-    Desculpa. A Alemanha ia muito bem. De repente...descambaste.

-   Também posso ter os meus erros, ou não posso?

-    Não. Não podes.

-   Os espíritos...

-   Aqueles que sempre te interessaram foram os atrasados, os incapazes, os sem luz. Avisei-te que essas invocações eram um erro. É preciso ser tremendamente forte para dominar esses espíritos.

-   Tinha o apoio de Hanussen.

-    Mandaste-o matar. A partir daí nunca mais entendeste nada.

-    Até 1938 a Alemanha cresceu em prosperidade.

-  Porque aceitaste as nossas sugestões. Agora és tu, Goering e o Himmler.

- Tens ciúmes?

- De quê? Só me interessa o bem do povo alemão.

- O que faço é a bem do povo alemão.

- Por favor, Adolfo, pára com a guerra. Devolve a Polónia.

- Então para que quero eu o exército, se não é para fazer a guerra?

- Se for preciso, acaba com o exército.

- Tu és doido! Deixemo-nos de conversas sem sentido. Até amanhã. Convoca uma reunião com o Himmler, o Goering, o Paul Goebbels e...deixa-me ver com quem mais. O Bormann, o Heydrich...e o Julius Streicher cujo jornal anti-semita ainda não conseguiu fazer debandar os estúpidos dos judeus. Grandes idiotas!

 

 

CAPITULO XXXI

 

 

- Este país continua cheio de judeus e eu estou por aqui! Era o que me faltava, estar a fazer a guerra por um lado e ter os inimigos do meu povo dentro das fronteiras a rirem-se de nós! Que tem sido feito para eliminar, de vez, esses sacanas? Responda Himmler.

-Alguns dos campos de internamento estão a funcionar. Já receberam 3 comboios de deportados.

- Os gajos não se foram embora, não quiseram colaborar...elimine todos aqueles que não souberem ou quiserem trabalhar. Logo que termine o conflito, não quero um só judeu em território alemão! Desde a França à Noruega! Compreendido?

- O Heydrich diz que eles não aguentam muito. Dos três comboios, um deles desapareceu totalmente. Uma parte morreu durante o transporte e os mais fracos foram metidos em vagões hermeticamente fechados onde foram introduzidos gases de escape.

- Isso é horrível.

- Deixa-te de pieguices, Hess. Se não queres saber como nos estamos a defender, podes sair.

- Julgo que podíamos ser menos radicais. Não havia o plano Madagascar?

- Havia. Mas nem eles colaboram, nem ninguém lhes quer pagar as passagens. Era uma boa solução metê-los em Madagascar e proibi-los de se pavonearem pelo mundo.

- E a Palestina?

- Os ingleses são muito democráticos, mas também não suportam esses gajos.

- E nós temos de os matar? Isso é genocídio. É pior do que crime de guerra.

- Não chateies, Hess. Himmler, que campos estão preparados?

- Chelmno está praticamente pronto. Sobibor está em bom ritmo. Temos Belsec, Maindanek, Dachau, Buchenwald, Trebinka, Auschwitz, Bergen-Belsen, em preparação.

- Levam todos a estrela amarela?

- Todos.

- E os ciganos?

- Castanha.

- Sempre que não haja outra alternativa melhor devem ainda ser adoptadas as instruções de 28 de Outubro de 1941 do comando-chefe da Sérvia sobre as execuções em massa. Leia alto, Himmler.

Himmler leu:

1 Quando se tratar de um grande número de pessoas, devem ser repartidas, em vários grupos, a fim de se proceder à sua execução.

2 Os corpos devem ser enterrados em fossas suficientemente profundas. É preciso pôr termo à prática de queimar os cadáveres. É preciso impedir a população de colocar flores sobre as sepulturas.

3 A fim de evitar todo o contacto inútil com os cadáveres, as pessoas devem ser postas directamente na beira da fossa. Quando se tratar de execuções maciças é permitido obrigar as pessoas a porem-se de joelhos diante da fossa.

4 As execuções maciças devem ser organizadas por grupos, compreendendo entre cinco e oito indivíduos, um grupo após outro. Os reféns terão as pernas ligadas.

5 Antes da execução serão tirados aos reféns todos os documentos pessoais.

6 A execução deve desenrolar-se com uma perfeita disciplina militar, sob as ordens de um oficial. Devem ser visados o coração e a cabeça. Depois da descarga, o oficial responsável dará um tiro em cada corpo, com a pistola regulamentar.

7 O vestuário, incluindo o calçado e os objectos pessoais das pessoas executadas não será, sob pretexto nenhum, entregue à população local. Será entregue às autoridades militares competentes, contra um recibo.

- Quero tudo bem controlado, inscrito nos registos. Todos os bens revertem para o Estado. Tudo deve ser feito com a maior das lisuras.

- Tu estás a exagerar, Adolfo.

- E tu estás a aborrecer-me, Hess! Fartei-me de avisar, de aconselhar, de sugerir! Agora não transijo! Esses gajos vão-nos servir como moeda de troca, venda directa, subvenções de guerra! Todos aqueles que puserem um só dedo de fora vão para estes campos, para dentro das fossas, ou servirão para fazerem sabão. Eu quero que os gajos vão à merda! Que se lixem! Que morram todos! Avisei-os. Puta que os pariu!

- Isso é um verdadeiro extermínio.

- Não é nada comparado com o que foi feito aos índios mexicanos, aos peruanos e aos indígenas na Austrália.

- Os tempos são outros.

- Estás enganado! Vai ser ainda muito pior se nós não tomarmos conta da Europa! Aquilo que fazemos com os judeus é só cortar o último galho podre. Eu estou tentando salvar o planeta criando o Reich dos mil anos, onde a paz e a prosperidade, se espalhará por todo o mundo, com o nosso exemplo. Já o fizemos desde 1933 a 1938. A partir daí, até este momento, temos actuado contra povos que resolveram provocar-nos. Como foi o caso da França e da Inglaterra.

- E os judeus? Deixa sair os Judeus.

- Eu deixo. Agora vê lá tu se os consegues fazer sair! O melhor é não te meteres nisto. O Heydrich trata do assunto.

- Sim, Fuhrer. O Julius tem sido claro no “Strumer”, o Tambor. Os artigos são incisivos e o Goebbels na rádio fez avisos bastante directos. Já não há mais nada a fazer senão arranjar uma Solução Final para os judeus. O Fuhrer tem razão. Estamos a fazer uma guerra, contaminados por dentro, e minados nas nossas próprias estruturas. Nunca sabemos o que vai acontecer se os largarmos de olho. A única solução é internar aqueles que forem escapando às execuções. Na altura em que terminar a guerra resolveremos o que havemos de fazer com aqueles que ainda estiverem nesses campos.

- Muito bem Heydrich. Espero que tudo seja feito com elegância. Não quero que esses porcos imundos desapareçam sem um sinal de beleza no pensamento.

- Achas que assim morrerão mais felizes e que não nos amaldiçoarão?

- Isso mesmo Hess. A elegância de trato, à hora da morte, irá purificar esses desgraçados.

- Quem sabe se na próxima reencarnação, eles não voltam arianos?

- Quem sabe, Hess, quem sabe?

 

 

CAPÍTULO XXXII

 

 

O Dr. Brandt está com Hitler.

-   Então você acha que eu não estou bem, e o culpado é o Morell?

-   Eu não disse bem isso. Penso, simplesmente, que o consumo exagerado de estupefacientes e afrodisíacos que o meu colega lhe receita é exagerado.

-   Que afrodisíacos! Que Estupefacientes!

-   As cólicas de estômago são derivadas do consumo da noz-vómica.

-   Só da noz-vómica?

-   A genciana e a beladona são também causadoras de muitos problemas nervosos que o Fuhrer manifesta.

-   Você não gosta do Morell! Você não o suporta!

- Fuhrer, eu...

-   Você, Brandt, está a ser esperto demais para o meu gosto! Ponha-se na rua! Ai de você, se eu sei que transpira alguma coisa daquilo que você julga que sabe a meu respeito. Rua!

 O Dr. Brandt ficou lívido. Levou instintivamente as mãos ao pescoço. Sabia que a sua vida tinha deixado de ter valor. Passados quinze minutos entrou o Dr. Morell.

-   Ainda bem que veio rápido. Onde diabo se tinha metido?

-   Fui ver um familiar.

-   Vou para a Berghof. Estou arrasado. O Brandt começou aí com pregação barata. Tive de o meter na ordem. Como é que aquele animal quer que eu ande de pé se não for com uma ajudazinha? Você tem aí “daqueles” que me transportam para o mundo onde não existem imbecis?

-   Quer os comprimidos de paracodeína, Fuhrer?

-   Servem. Vamos. A Jenny está à minha espera.

Jenny Jugo estava lindíssima. O Fuhrer conduziu-a ao quarto sem dizer palavra. Jenny conhecia-lhe os gostos e os silêncios. Hitler agarra-lhe suavemente na mão e coloca-a junto à janela onde o sol do entardecer batia em raios dispersos que atravessavam os cortinados. As roupas de Jenny deixavam entrever toda a sua escultural silhueta. Hitler sentou-se no sofá e assim ficou olhando a rapariga durante uma hora. Depois levantou-se, ajoelhou-se em frente de Jenny e beijou-a por cima do vestido. Encostou a cabeça entre as pernas da rapariga, abraçou-as. Ficou assim largos minutos enquanto Jenny lhe acariciava os cabelos. Em seguida levantou-se e fez um gesto para que a rapariga se despisse. Jenny usou toda a sabedoria de artista a tirar cada peça de roupa como sabia que Hitler gostava. À medida que as peças iam caindo ela aproximava-se do sofá do Fuhrer onde deixou a última. O Fuhrer cai de joelhos e beija sofregamente Jenny. As suas calças estão encharcadas. Saciado, faz sinal à jovem para se vestir, e indica-lhe um belo casaco de vison que ela agarra com volúpia.

O  descanso tinha terminado. Até mesmo aqueles desregrados prazeres já não lhe sabiam a nada. Só o sangue dos inocentes parecia dar-lhe ainda algum contentamento e a noção de que ainda continuava vivo.

Morell deu-lhe um sedativo. Ele dormiu durante toda a viagem de regresso.

 

 

CAPÍTULO XXXIII

 

 

Hitler está acabrunhado. Tem enormes olheiras. O seu mau humor faz que todos evitem dirigir-lhe palavra. Goebbels está com ele.

- Fiz um erro tremendo em me ter desembaraçado de Hannussem. Esse bêbado idiota dizia muita parvoíce, mas tinha a coragem de me contrariar nas minhas intuições mais arrojadas. Agora vê o que está a acontecer.

- Keitel sugeriu que o plano Barbarossa para a invasão da União Soviética fosse adiado para impedir qualquer contrariedade com o tempo.

- Foi. Tu próprio me aconselhaste prudência, e o Hess antes de partir para a Inglaterra ainda me avisou, mas o Goering, e o Von Brauchitsch garantiram-me que em seis, sete semanas resolviam o assunto e vê a situação em que nos encontramos. Eu devia desconfiar de tanta facilidade. Também o Goering me tinha prometido a Inglaterra e tive de abandonar os planos.

- O Goering facilita muito as coisas.

-   Eu ordenei a operação para o dia 22 de Junho de 1941, tal como eles me indicaram, disponibilizei três milhões de soldados, com o melhor armamento que possuímos, contei dez semanas, em vez de sete, e em finais de Agosto tínhamos resolvido o assunto. Estamos em Dezembro, a 40 quilómetros de Moscovo. Estou quase sem um milhão de homens, sinto-os desmoralizados e eu sou o culpado desta situação.

-   Os generais...

-   Não foram só os generais. Menosprezei o maior de todos, o general inverno. Cometi o mesmo erro que Napoleão.

-   Mas foram eles que planificaram a campanha.

-   Eu não devia ter facilitado. Quando decidi esta campanha pensei realizá-la no Principio da Primavera. O Mussolini não teve pernas para vencer a Grécia e a Jugoslávia, e isso fez-me atrasar esta campanha. Depois deixei-me levar pelas facilidades do Goering.

-   O Fuhrer anda cansado. Tem de se distrair um pouco.

-   Ó Goebbels. Cansaço, falta de confiança. Atitudes impensadas, que eu não consigo justificar. Depois o parvalhão do Hess deixa-se apanhar como um pardal. Como é que um tipo daqueles se entrega nas mãos do Churchill e não consegue influenciar o duque de Hammilton e os seus amigos?

-   Os nossos agentes da Gestapo não conseguiram prestar-lhe qualquer espécie de assistência. Foi o Churchill que não deixou que ele falasse fosse com quem fosse.

-   Esse gajo obrigou-me a fazer a guerra! Não posso descansar. Agora os Estados Unidos entraram na guerra por causa dos nossos aliados Japoneses terem atacado Pearl Harbour, em 8 de Dezembro. Isso vai-nos complicar a vida.

-   Esses “cowboys” estavam danados para começar aos tiros.

-   Estou preocupado com os cientistas que saíram da Alemanha e começaram a trabalhar para eles.

-   Qual é a opinião do Goering?

-   O Goering sempre que haja uma possibilidade de fazer guerra, esfrega as mãos. E quantos mais inimigos a abater, mais excitado fica.

-   Mas não pensavas que era um verdadeiro suicídio abrir várias frentes?

-   Era. Agora já não sei mais o que fazer. Se esperar, ou se actuar rápido e em força, antes que os outros países tenham tempo de se rearmar e organizar, tal como o Goering, o Himmler e Von Brauchtish pretendem.

-   Há qualquer coisa que não compreendo...mas as minhas armas são o lápis e o papel...

-   Ninguém me tira da cabeça que os judeus são os grandes culpados. Esses canalhas usam rezas estranhas para combater os povos. É assim que eles se infiltram e se agarram pelos séculos.

- Nada os faz desistir. Nem “pogroms”, nem campos de concentração.

- Eu acabo-lhes com a raça. Dos 14 comboios enviados para o destino que merecem, espero que nenhum sobreviva. Em Treblinka e Auschwitz estão a ser preparadas câmaras de gás e fornos crematórios que nos irão livrar dessa raça maldita. Em Auschwitz ficarão 15 fornos que poderão incinerar 10.000 desses imbecis por dia.

- Não podes ficar obcecado com esta gente.

- Fico sim, Goebbels. Eles não escaparão ao castigo divino Eu serei o executor dessa vontade.

 

 

CAPÍTULO XXXIV

 

 

Himmler, Goering e Rosenberg estão com Adolfo Hitler.

-   O grupo Thulé devia apoiar-nos com mais força. A campanha da Rússia tem sido um fracasso.

-   Muitos dos objectivos foram atingidos.

-   Esteja calado, Goering. Você convenceu-me que venceríamos, aqueles atrasados mentais, em menos de sete semanas e há dezoito meses que não conseguimos atingir o objectivo final. Nem você tem feito o aprovisionamento das nossas tropas como tinha prometido! Eu não me vou contentar em fazer uma guerra de trincheiras! Para mais, o equipamento de Inverno que lhes foi fornecido não é o mais adequado! E tudo isto, por sua culpa, que me falou em seis ou sete semanas!

-   Eu requisitei mais meios aéreos. Não me foram fornecidos.

-   Não foram fornecidos porque você ao princípio disse que eram suficientes! Prometeu 600 toneladas de mantimentos dia, não conseguiu fornecer mais de 70.

- Não contávamos com os efectivos que eles têm feito massacrar na frente de batalha. Segundo os agentes da Gestapo, o inimigo já perdeu mais de quatro milhões de homens, nove mil aviões e quinze mil blindados.

-   Nós necessitamos daquele país, Goering! Mate trinta milhões se for preciso! Mas eu preciso daqueles campos! Eu necessito urgentemente de tudo quanto eles possuem. Eu tenho de acabar urgentemente esta guerra e ganhá-la, para depois fazer frente àqueles estúpidos ingleses que não desistem de me chatear!

-   Os generais Wilhelm List, Bock, Rundstedt e Paulus fizeram tudo quanto era possível para segurar aqueles bárbaros.

-   Todos uns merdas!

-   Preciso de mais aviões.

-   Tem aqui o Himmler. Peça-lhe para os judeus trabalharem melhor e mais rápido!

-   Os tipos são lentos, preguiçosos. Autênticos sabotadores.

-   Sabe o que tem a fazer?

-   Tem sido feito. Dos 104 comboios com deportados para Auschwitz, Treblinka e Sobibor, sobraram uns quarenta.

-   Que métodos têm aplicado?

-   Segundo Eichmann, muitos deles, chegam já mortos aos campos. Aos mais fracos mandam-se despir, entregar todos os objectos pessoais na secretaria, e entram directamente nas câmaras de gás.

-   Que gás estão a aplicar?

-   O Ziklon B e o Sarin.

-   São de efeito rápido ou esses bandidos esperneiam durante algum tempo?

-   Demoram sempre uns trinta, a trinta e cinco minutos a morrer. Alguns deles, mesmo assim, resistem e temos de os abater a tiro ou à paulada.

-   Façam tudo com elegância. Quero que desapareçam, mas que vão felizes.

-   Temos aproveitado os músicos para tocarem, enquanto eles se dirigem para as câmaras de gás.

-   E o resto?

-   Pomos sempre nuas as mais bonitas jovens Polacas nos corredores dos homens. Tenho a impressão que eles morrem felicíssimos.

-   Ainda bem. É preciso que eles se esqueçam de rogar pragas. Praga de judeu é pior que sarna. Como vão as experiências sobre o frio em Dachau?

-   O Wolf diz que eles não resistem aos 20 graus negativos.

-   Os tipos são fracotes. Habituaram-se às comodidades e aí estão os resultados.

-   Os voluntários S.S., os nossos cavaleiros Templários, nas mesmas experiências, resistem até 35 graus.

-  São arianos. Os outros são escumalha. O Mengele tem avançado alguma coisa com os transplantes?

-   Sim. Tem obtido resultados satisfatórios.

-   Estamos nos finais de 1942. Em finais de 1945 não quero um único judeu vivo em nenhum dos campos.

-   E o trabalho nas fábricas?

-   Você Himmler, não disse que os tipos davam pouco rendimento?

-   As mulheres não são más.

-   Não quero judeus! Substitua-os por polacos, por ucranianos, por quem você quiser! Tome atenção: não quero um único judeu em finais de 45. Ponha mais fornos crematórios, aumente a capacidade de 10 para trinta mil, faça como entender, mas faça-me desaparecer essa raça imunda.

-   A resistência...

-   A resistência nos países ocupados é paga por judeus. Sei isso perfeitamente. Dois dias antes de terem morto o Heydrich em Praga, ele enviou um relatório bem explícito, onde informava que, por detrás da resistência na Polónia e em França, andava a mão desses safados! Destrua-os, desfaça-os, esmague-os! No dia seguinte à morte de Heydrich mataram-se todos os homens dos arredores de Lidice. Façam o mesmo com os outros! Estão à espera de quê? Nem quero que as cinzas deles contaminem os campos!

-   Quem assina essa ordem, Fuhrer?

-   Eu, naturalmente! Já esqueceu que em 26 de Abril, o Parlamento me concedeu poderes ilimitados? Se neste país se começa a ter medo de se tomarem atitudes, verdadeiramente de interesse nacional, é necessário que alguém se responsabilize pelo que está a ser feito. Eu tomo essas responsabilidades! Ainda em 27 de Outubro foi assinado o decreto para a esterilização nos casamentos mistos. Ninguém ousou contestar fosse o que fosse. Vocês cumpram o vosso dever obedecendo. Eu cumpro o meu orientando. Eu sou o responsável, entendeu, Himmler!?

-   Sim Fuhrer. Muitas vezes os meios financeiros não são disponibilizados, com a suficiente rapidez, para repor ou aumentar a capacidade de destruição desses indivíduos.

-   Eu falo com o Hjalmar Schacht. Ele vai fornecer-lhe todo o dinheiro que necessitar para limpar a terra desses infames!

-   Não devíamos ter ido na conversa do Mussolini e deslocado para África muitas divisões que ainda não conseguimos repor aqui na Europa. Foi pura perda de material, tempo e dinheiro.

-   Tem razão. Em África está tudo a correr mal. Rommel não conseguiu alcançar os objectivos programados e com a sua substituição, por ferimentos graves, foi a catástrofe. Era a minha grande esperança para aquela zona.

   - Os efectivos deles são imensos. Os Estados Unidos trouxeram-lhes reforços incalculáveis. As fortalezas voadoras têm feito autênticas razias nos soldados italianos. Os nossos tem-se defendido a muito custo.

-   Que pensa de tudo isto, Rosemberg?

-   Faltam-nos companheiros de apoio. Muitos dos iniciados no grupo Thulé morreram no início do conflito, depois ficámos sem o Hannussen, sem o Otto Rahn, sem o Hess...

-   Mas...não era você que me dizia que os nossos sonhos vão buscar as almas?

-   Era.

-   Então ajude. Eu estou preocupado demais com os acontecimentos que me envolvem na terra. Torna-se difícil entrar em contacto com a outra dimensão. Preciso urgentemente de ajudas exteriores às capacidades deste mundo, tal como as tive quando alcancei o poder. Compreende-me?

-   Sim, Fuhrer. Mas não podemos esquecer que mesmo a força dos espíritos tem necessidade de tanques, aviões e combustível para combater os homens. A materialização dos espíritos só resulta se lhes fornecermos os meios apropriados.

-   Eu falo com o Hjalmar Schacht e com o Alberto Speer. Eles hão-de arranjar os meios.

 

                                                                          

 

CAPÍTULO XXXV

 

 

As mãos de Hitler tremiam de modo estranho, o olhar perdera o brilho das vitórias, as depressões tornavam-se constantes, mas ninguém ousava contradizê-lo. Depois de uma tentativa de assassinato em Março, tinha-se rodeado de excepcionais medidas de segurança e começava a desconfiar de todos. O desastre em África tinha sido total. Havia centenas de milhar de soldados alemães presos, e mortos.

-   Eu mandei chamá-los para que, de uma vez por todas, fique claro que ou vencemos ou morremos! A honra do general só se manterá se, tal como os comandantes dos navios, forem com eles para o fundo ou os conduzam à vitória. Só assim, eles poderão figurar no livro eterno que a história concede aos vencedores e aos heróis. Nunca aos traidores e aos cobardes! Que diz Goebbels?

-   Concordo. Melhor que eu, o Goering, o Bormann e o Fegelein se poderão pronunciar.

-   Como explica tantos fracassos na campanha da Rússia, Bormann?

-   Fizemos prodígios, conseguimos mesmo, durante algum tempo dominar a região do Cáucaso, mas aqueles tipos aparecem de toda a parte. Os seus meios de combate aumentaram a um ritmo inacreditável, não concorda Goering?

-   Depois que os americanos e os ingleses os começaram a ajudar calculamos que neste momento eles possuam mais 6500 tanques, 12000 canhões e um número indeterminado de caças Yak-9.

-   Ninguém me tira da cabeça que enquanto sustentarmos judeus, nunca mais resolveremos o nosso problema. São eles, com as suas rezas malditas que atrofiam todas as nossas capacidades de inteligência, de acção e de vontade de vencer! Prometeram-me uma bomba de poder destruidor incalculável. Tenho-lhes fornecido tudo quanto pedem. Essa merda, ainda não está principiada!

-   Os aliados tem bombardeado sistematicamente os locais de fabrico.

-   Mudem de lugar! Enganem-nos.

-   É o que fazemos. Mas, por todo o lado, há espiões...

-   São os judeus. Ninguém me tira da cabeça que são os judeus. Acabem-me com esses filhos de puta! Himmler.

-   Este ano os comboios com deportados atingiram o número de 257.

-   E ainda há judeus, nos territórios ocupados?

-   Os suficientes para nos darem muitas dores de cabeça e para ocuparem homens que necessitávamos deles em lugares de combate.

- Acabe com eles! Tal como eu estou a fazer na União Soviética. Saímos destruindo culturas, casas, abrigos, caminhos de feno, fábricas, minas, centrais eléctricas. Eles ficam sem possibilidade de recuperação dentro dos próximos dez anos e muito antes disso havemos de ter as armas que os cientistas dizem que somos capazes e estamos em condições de possuir.

 

 

CAPITULO XXXVI

 

 

Os olhos de Hitler estão envolvidos por grandes papos de carne, a pele está flácida, os intestinos funcionam mal. O corpo é-lhe percorrido por tremores constantes. A sífilis começa a devastar-lhe o pensamento. Sente-se fraco, perdeu a confiança no seu instinto. Enche-se de comprimidos de todas as cores e feitios. Insulta todos os que não obedecem imediatamente aos seus pensamentos mais insensatos. Alberto Speer e Bormann são os seus confidentes. Ouvem-no, animam-no de maneira cordata. Himmler é a sua esperança na eliminação dos judeus e na sua protecção pessoal. Goering continua a ser o chefe da Luftwafe mas Bormann encarrega-se de minar a confiança do Fuhrer.

- Afinal as V1 e V2 que você dizia que resolviam tudo, não são assim tão eficazes como os seus exageros, Goering?

- Falta aperfeiçoá-las e aumentar a produção. Tenho a certeza que ainda podemos vencer a guerra.

-   Como é que este país há-de ter futuro, se os seus próprios oficiais estão contra o seu chefe?

-   Ninguém está contra o Fuhrer.

-   Temeram-se porque os aliados libertaram Paris em 25 de Agosto. Esquecem-se que a guerra é isso mesmo. Avanço e recuo. Estudo de tácticas e avaliação de efectivos. Bastaria a bomba atómica, que me prometem desde 1941, para mudarmos radicalmente a situação.

-   Os efectivos e meios que eles possuem são imensos.

-   Sejam aqueles que forem! A guerra vence-se com a vontade de a vencer! Se eles vierem até aqui, vereis como os Russos terão a maior e a mais sangrenta derrota da sua história diante das portas de Berlim!

-   Eu tinha-lhe falado nas V1 e V2.

-   Cada vez estou a ouvir pior. Eu devia culpá-lo a você Himmler pelos seus homens não terem descoberto a conspiração do Klaus von Stauffenberg que me deixou um pouco surdo.

-   A operação Valquíria foi montada num curto espaço de tempo. Mesmo assim, os meus homens descobriram em 20 de Julho...

-   No dia em que sofri o atentado.

-   Imediatamente o Stauffenberg, o Olbricht, o Hoepner, o Beck, o Rommel e mais 5000 dos seus homens foram presos e executados.

-   Felizmente, tudo passou.

-   Passou, porque os deuses estão comigo! Vocês é que deixaram de acreditar em mim!

-   Nós estamos e estaremos sempre com o Fuhrer.

-   Os judeus?

-   Entraram nos campos mais 326 comboios.

-   Não quero que sobre um!

-   Os fomos crematórios estão a trabalhar no máximo.

-   E eles não se revoltam?

-   A fome abranda-lhes as fúrias. Mal podem arrastar os corpos. Os pensamentos devem girar todos à volta da comida.

-   Mesmo assim, alguns revoltam-se.

-   Quando o fazem são imediatamente executados. Eles trabalham em grupos de 70. Quando um se revolta, são todos mortos.

-   É preciso não esquecer que, esses filhos da mãe, o ano passado estiveram quase um mês em pé de guerra em Varsóvia. Tiveram a ousadia de se revoltarem!

-   Não se enerve, Fuhrer.

-   Como posso não me enervar, se me vejo rodeado de incapazes!

-   O Fuhrer não esqueça que dos 450.000 que se revoltaram, eliminámos 390.000.

-   Deviam tê-los mortos a todos.

-   Hoje, em finais de 44, não deve restar um.

-   Você, sabe lá, Himmler! Bastam sobrar dois, nem que sejam irmãos, que eles, para conservarem a espécie, aí se reproduzem como ratos. Esses gajos são piores que a peste! Acredite em mim Himmler e vocês, Bormann e Goering hão-de ser testemunhas de que tenho razão. Esses gajos, que nós deixámos partir para os Estados Unidos, hão-de-nos fazer a vida negra.

-   Dizem que eles têm um tesouro escondido onde vão buscar o necessário para a sobrevivência em tempos de crise.

-  Nós também faremos o mesmo. Mesmo que os próximos tempos não nos sejam fáceis, os alemães, nunca mais serão os mesmos, depois destes tempos. O tesouro do III Reich está preservado em local que só alguns conhecem. Ele fará com que os povos arianos nunca mais necessitem de viverem as dificuldades por que nós estamos a passar.

-   Descanse, Fuhrer. Não se emocione.

-   Como posso não me emocionar se assisto impotente ao desfazer dos sonhos e ao massacre do meu próprio povo? Sou um infeliz. Eu não merecia isto.

 

 

CAPITULO XXXVII

 

 

Goering e Fegelein estão eufóricos. Himmler está cabisbaixo. Pelos olhos, muito salientes, de Goering via-se perfeitamente que estava encharcado de morfina e era notório que o vinho francês tinha contribuído para a boa disposição de Fegelein. Himmler estava enjoado, tinha acabado de assistir ao desmembramento de uns vintes civis apanhados por um obus russo. Eram pernas e braços por todo o lado e o sangue a jorrar, muito fresco, o que lhe causava mal-estar.

-   Você tem de tomar cuidado, Fegelein, olhe que o nosso cabo não é para brincadeiras.

-   Goering. Isto está no fim. Não é, ó camarada Himmler?

-   Você está bêbado, Fegelein. Se não toma tento na língua vai ter problemas.

-   Não me lixe, Himmler! Até parece que ainda não conhece o relatório confidencial a seu respeito e do Goering. Agora a menina querida é o Bormann.

- Esse tipo é um intriguista sem vergonha.

-   Himmler, você já não pode voltar à Polónia para rezar à Virgem e pedir-lhe protecção para a sua cabeça. Lembra-se do que aconteceu ao Roehm?

-   Você está bêbado, Fegelein.

-   Eu estou bêbado e você está lixado. Você, quando foi à Virgem Negra de Czestochowa devia ter levado o nosso cabo para ele pedir juízo! É preciso ter muita lata! Pedir a vitória da Alemanha sobre a Polónia logo à virgem de Czestochowa.

-   Não diga disparates.

-   Mas foi lá, ou não?

-   Fui.

-   Ó Himmler, eu julgava-o mais inteligente. Só se você ameaçasse a Virgem com Auschwitz e lhe dissesse: olha que te arranco os dentes, como faço aos judeus, e ficas sem nadinha, se não me ajudares a ganhar a guerra.

-   Deixe o Himmler, Fegelein.

-   Deixo-os a todos. Está aqui a pasta, cheia de notas e algumas jóias. Vocês façam como eu. Estão na mira do Cabo-Fuhrer.

-   Tem a certeza que isso é verdade?

-   Himmler. Se não fosse, acha que lho estaria a dizer e a arriscar o pescoço? É tão confidencial que nem você sabe. Veja o trabalhão que teve para lhe agradar. Passou estes anos todos servindo-o cegamente. Olhe como ele lhe pagou.

- Fui um estúpido.

- Fomos todos umas bestas!

- Eu não me considero besta, Fegelein.

- Você Goering andou sempre a lamber esse cabo.

- E Você Fegelein está a ir longe demais! Não dou um pfennig pela sua vida.

- Ele já o demitiu, seu marechal de papelão. Você está muito pior que eu. Não se esqueça que ele nunca atentará contra a vida do cunhado da Evinha.

- Se fosse a você, eu não tinha tantas certezas.

- O anjo exterminador está ao seu lado e tem as mãos atadas. O cabo mandou cortar-lhe o pio. Sem o implacável Himmler, ao lado daquele eunuco, ele não é mais nada, e o Himmler não é burro! Eu vou-me embora. Isto pegou fogo por todo o lado. Não estou para ser assado no braseiro.

- Espere Fegelein. Tem a certeza que ele nos demitiu?

- Absoluta. Bormann mostrou-me a ordem.

- O gajo é um louco e um prepotente!

- Prepotente isso não. O cabo, nem potente é, como pode ser prepotente? Agora louco e gaseado não tenho quaisquer dúvidas.

- Onde vai?

- Vou lá apresentar as minhas despedidas. Os meus sorrisos. O meu último Heil Hitler e quando estiver bem longe faço-lhe um grande manguito, a esse cabo de merda que deu cabo de um país.

 

 

 

CAPITULO XXXVIII

 

 

No Bunker, Hitler ouvia incessantemente o troar dos canhões. A terra tremia de segundo a segundo. Goebbels estava a seu lado.

-   Fomos abandonados Goebbels. Fui traído pelos meus próprios generais. Amontoei erros sobre erros por minha culpa e por culpa de conselheiros sem qualidade.

-   Exoneraste o Blomberg numa altura em que mais precisavas dele.

-   Era o único militar de carreira que não era imbecil. Eu deixei-me influenciar por intriguistas sem escrúpulos que, só para subir na hierarquia, não tiveram pejo de colocar a segurança do Estado em perigo.

-   Preservámos o futuro da Alemanha?

-   Os cavaleiros Templários esconderam o tesouro do III Reich no lugar que tu conheces. Será impossível, a outros, saber como o utilizar. A Alemanha renascerá das cinzas e finalmente encontrará a paz durante os próximos mil anos.

- A guerra ainda não está perdida.

-   Está. Depois da batalha das Ardenas e apesar dos dez milhões de homens que possuíamos faltou-nos o municionamento. Estamos a ser dizimados por todo o lado.

-   Teremos de resistir.

-   É escusado. Estamos a lutar contra verdadeiros criminosos. Vê o que fizeram a Dresden.

-   A Dresden?

-  Sim. Dresden era uma cidade aberta. Estava protegida pelo artigo 25 da Convenção de Haia que diz, taxativamente, que as localidades e cidades abertas não devem ser atacadas por nenhum meio. Estes criminosos, sem escrúpulos, mataram, de maneira ignóbil, mais de 150.000 inocentes.

-   Quem pensas que teve a ideia?

-   Todos eles. Lançaram mais de 650.000 bombas incendiárias sobre crianças e mulheres indefesas. Os bombardeiros Lancaster da Royal Air Force não pararam durante quatro dias e nós sem podermos fazer nada!

-   Nós atacámos Londres. Destruímos Conventry.

-   Mas eles tinham abrigos. Dresden era uma cidade aberta. Espero que essas tochas humanas os tenham amaldiçoado.

-   Duvido. As bombas de fósforo causam tantas dores que ninguém pensa em mais nada senão em fugir à dor.

-   Esse 13 de Fevereiro nunca mais me saiu da cabeça.

-   Tens de descansar. Fizeste 56 anos.

- Hannussem tinha razão. Não passarei dos 56.

-   Tem esperança.

-   Nem esperança tenho que os alemães me perdoem. Fiz tudo para lhes dar paz e prosperidade. Deixo-lhes uma nação destruída e ocupada.

-   Pode ser o começo da renovação. O tesouro ficou nos quatro cantos da Europa. Os frutos hão-de vir mais rápidos do que nós imaginamos.

-   Tenho de reconhecer a derrota do III Reich.

-   Não é só a derrota militar do III Reich, é toda uma concepção do mundo que se desmorona.

-   Leste o meu apelo ao povo alemão?

-   Ia ler. Gostava que fosses tu a fazê-lo.

Adolfo Hitler leu:

“Após um combate de seis anos que entrará na história, apesar de todos os revezes, como afirmação mais corajosa e mais gloriosa da vontade de viver de um povo, não posso separar-me da cidade que é a capital do Reich. Como as nossas forças são demasiado mínimas para se oporem, precisamente aqui, ao ataque inimigo, e como a nossa resistência vem sendo progressivamente desvalorizada por pessoas tão cegas quanto sem carácter, eu quis partilhar o meu destino, com aquele que milhões de outros escolheram para si, permanecendo na cidade.

Por outro lado, não quero cair nas mãos de inimigos que, para alegria das suas massas histéricas, precisam de um espectáculo posto em cena pelos judeus. Assim, decidi ficar em Berlim e, aqui, escolher livremente a morte no momento em que pensar que a cadeira, do Fuhrer e do chanceler, já não poderá ser ocupada. Morro com a alegria no coração, pensando nas acções e realizações dos nossos soldados na frente, das nossas mulheres no lar, nas realizações dos nossos camponeses e operários e no envolvimento único, na história, da nossa juventude que tem o meu nome.

É igualmente normal que vos exprima o meu agradecimento, vindo do mais fundo do meu coração e o desejo de que não abandoneis a luta sob nenhum pretexto, continuando-a, onde quer que estejais, contra os inimigos da pátria, conformemente aos princípios do grande Clausewitz.

O sacrifício dos nossos soldados e a minha própria fidelidade, que me liga a eles até na morte, farão com que, de uma maneira ou de outra, na história alemã, a semente germine outra vez para uma esplêndida renascença do movimento nacional-socialista e para a concretização de uma verdadeira comunidade popular. Muitos homens e mulheres, de entre os mais corajosos, decidiram ligar a sua vida à minha até ao fim. Pedi-lhes e finalmente ordenei-lhes, que nada façam, e que continuem a participar na luta da nação.

Peço aos chefes dos exércitos, da marinha e da aviação que reforcem, no sentido nacional-socialista, o espírito de resistência dos nossos soldados, tendo em conta que eu, fundador deste movimento, preferi a morte à capitulação. Que a ideia de honra dos nossos oficiais comporte – como já é o caso na nossa marinha – o sentimento de que o abandono de um terreno ou de uma cidade é impossível, e que os chefes dêem antes de mais o exemplo no cumprimento fiel do seu dever, mesmo na morte.

Antes de morrer, excluo do partido o antigo marechal do Reich Hermann Goering...Nomeio para o substituir o grande almirante Donitz, na qualidade de presidente do Reich e de comandante supremo das forças armadas...

Exijo de todos os alemães, de todos os nacionais-socialistas, homens e mulheres, de todos os soldados da Wermacht, obediência fiel ao novo governo e ao seu presidente, até à morte. E sobretudo ordeno aos chefes da nação e aos nossos partidários que respeitem escrupulosamente as leis raciais e que resistam, até às suas últimas energias, contra a envenenadora mundial de todos os povos, a judiaria internacional.”

As lágrimas caíam-lhe sobre a face, as palavras enrolavam-se-lhe na garganta. Terminou a Leitura a muito custo. Goebbels disse-lhe.

-   Meu amigo, quiseste dar honra e glória ao povo alemão.

Adolfo Hitler limpou as lágrimas com um lenço irrepreensivelmente branco.

-   Ainda me hão-de agradecer. Isto faz parte de uma conspiração judaica que dura há dois mil anos.

-   Esquece-os.

-   Não consigo. As próximas guerras não serão conflitos de cavalheiros. Há-de ser o terrorismo escondido, cego, cínico e hipócrita que destruirá o mundo. Tu vais ver...Eles poderão dominar todo o mundo através da chantagem e do medo. Ninguém estará seguro em nenhum lado e finalmente organizarão o holocausto deste planeta.

-   Tu deliras, meu amigo. Que estás a dizer?

-   Judeus, terroristas, hão-de atormentar o mundo até ele desaparecer. Há-de haver engenhos de alta destruição, tão pequenos, que será impossível detectá-los antes de eles produzirem o caos, a dor e a morte!

-   Porque fariam isso, se eles próprios desapareceriam?

-   É isso que eles pretendem. Querem a destruição do Globo para, finalmente, se encontrarem com o Messias e voltarem, de novo, purificados à Terra Prometida.

-   Não te martirizes mais. Pensa noutro assunto.

-   Oh Goebbels, Goebbels. A tua mulher, os teus seis filhos que eu adoro, a Eva. Como hei-de dizer a Eva que tudo terminou? Ela sempre esteve alheada de guerras, de intrigas, de política?

-   Não lhe digas, meu amigo. Nós não vivemos, sonhamos que estamos vivos e isso nos basta. Lembra­-te que os nossos sonhos são os eternos encantadores de almas. Deixa que elas voem ao som da música que sempre te acalmou e elevou até aos sonhos do impossível.

 

 

CAPITULO XXXIX

 

 

Eva olha Adolfo com carinho. Estão sentados em sofás individuais. Ela agarra-lhe a mão esquerda e aperta e desaperta os dedos como a indicar-lhe a sua fidelidade. Blondi, o cão pastor, está aos pés de Adolfo Hitler, Burli a fox Terrier de Eva Braun está deitada numa cadeira em frente, Adolfo Hitler tem um ar extremamente fatigado. A pele está mais flácida do que de costume, os olhos estão sem brilho, de tempos a tempos estremece. Arrepios de frio percorrem-lhe, intermitentemente, o corpo.

- Estás cansado?

- Um pouco.

- As coisas estão feias?

- Não, minha querida. Tudo se vai resolver,

- Quando voltamos para casa?

- Provavelmente hoje.

- Gostaria tanto de ficar contigo no mesmo quarto.

- Ficaremos.

- Prometes?

-  Prometo.

-   Tanto na Berghof, em Berchtesgaden, como aqui, no Bunker, em Berlim nunca dormimos juntos.

-   A partir de hoje ficaremos juntos para sempre.

-   Juras?

-   Juro.

-   És o homem mais compreensivo do mundo.

Hitler pensou” Porque terão, as mulheres, necessidade de mentir e de fingir até à hora da morte só para agradar aos homens?”

-   Não são bombardeamentos, aquilo que oiço? - Continuou Eva.

-   São. Estamos a experimentar as defesas de Berlim.

-   Fazem-me terríveis dores de cabeça.

-   Logo que tomarmos o chá darei ordem para terminarem os fogos de treino.

-   Agradeço-te. Mas não quero prejudicar nenhuma das tuas ordens.

-   Não prejudicas.

-   Ouvi dizer que os Russos e polacos têm violado e morto muitas mulheres alemãs.

-   Que ideia, minha querida.

-   Os Russos e os polacos estão sob o nosso domínio. Eles nunca te inquietarão. Quem diz isso não sabe o que se passa. Podes ter a certeza que nunca te incomodarão.

-   Obrigado Adolfo. Tu sabes que eu sempre acreditei em ti.

- És tu e a Manzialy.

-   Manzialy é a melhor cozinheira do mundo e enche-te de guloseimas. Vou chamá-la para servir o chá.

-   Deixa. Vou eu. Quero saber como funciona a cozinha, já que nos iremos mudar ainda hoje.

-   E não te cansas?

-   Não.

-   Traz-me um dos teus comprimidos para as enxaquecas.

-   O Goebbels tem uns novos que são radicais.

-   Quero um desses.

Hitler e Manzialy voltaram pouco depois. A cozinheira disse para Eva.

-   Fiz uns bolinhos diferentes. O sabor é outro mas são muito bons.

Quando Manzialy saiu, Hitler quis servir Eva.

-   Eu sirvo, meu querido. Tu não sabes. Nunca fizeste isso. Porquê hoje?

-   Porque vamos voltar para casa, e eu quero experimentar o que é servir o chá a uma senhora, no seu último dia...no bunker.

-   Se é por isso. Faz favor. Tem cuidado. Não te escaldes, nem entornes. Dá-me o comprimido.

-   É preferível comeres, primeiro, uns bolos e tomar um pouco de chá. Isto são cápsulas que não gostam de estômago vazio.

-   Como achares melhor.

Adolfo Hitler colocou um disco numa bonita grafonola. Wagner abafou os ruídos das bombas.

-   Está um pouco alto.

-   O regulador de som ainda não é muito perfeito.

-   É por isso que nada chega a um concerto ao vivo. Há muito que não vamos à ópera.

-   Logo que mudemos para casa poderás escolher o dia em que iremos à ópera. Terminaste de comer?

-   Sim,

-   Tens chá?

-   Tenho.

Adolfo Hitler beijou-lhe galantemente a mão e meteu-lhe a cápsula na boca. Eva engoliu-a imediatamente e comeu mais um pedaço de bolo. Hitler sentou-se de novo no sofá e agarrou na mão de Eva.

-   Descansa, minha querida.

Passado algum tempo, Adolfo Hitler sentiu a mão de Eva arrefecer. Limpou algumas lágrimas que teimavam em inundar-lhe o rosto. A companheira fiel e virgem tinha partido. Cobriu-a com uma pequena manta. Burli começou a latir. Blondi encostou-lhe o focinho às pernas.

 

 

 

CAPÍTULO XL

 

 

Adolfo Hitler, com muita dificuldade, percorreu todo o bunker com o general Burgdorf, chefe da casa militar, com Julius Schaub, ajudante de campo, com Heinz Linge, criado de quarto, com o motorista Kempka e com o fiel amigo Goebbels. Ao chegar ao relvado exterior viu que o corpo de Fegelein pendia de uma árvore num dos cantos do jardim de outrora. “Traidor”, sussurrou entre dentes, depois voltando-se para um dos raros canteiros, repleto de flores, disse:

-   Toma atenção Linge. É ali que eu quero que queimem o meu corpo e o da senhora Eva Braun.

Todos se olharam sem dizer palavra.

-   Vamos descer. Aqui o barulho é ensurdecedor.

Numa saleta, contígua àquela onde se encontrava o corpo de Eva, Adolfo Hitler disse-lhes:

-   Quando o barco se afunda, o seu comandante não tem alternativas. Parte com ele para que a honra seja salvaguardada e os carrascos não humilhem a nação no seu símbolo máximo. Deixo-vos com mágoa por não vos ter podido oferecer aquilo que sonhei. Não é necessário que partais comigo. Ainda sois jovens. A Alemanha precisa de vocês. O inimigo saberá respeitar as leis da guerra. Para todos deixei uma lembrança que os poderá ajudar a refazer a vida. Que os espíritos vos protejam. Obrigado por me terem servido.

Goebbels, vem comigo.

-   É a última decisão?

- É.

- E Eva?

-   Já está melhor que eu. Vem para a sala onde ela se encontra.

Eva Braun parecia dormitar. O Fuhrer pôs-lhe a mão na testa e verificou que estava gelada.

-   Bem, meu caro Goebbels. O meu tempo de representação terminou. Vou sair de cena. Nunca pensei que representasse uma tragédia de proporções tão desmedidas. Segundo informações dos serviços da Gestapo deviam ter morrido mais de cinquenta e cinco milhões de pessoas. Estranhamente só penso naquilo, que me vai suceder a mim, e admiro-me como pude transformar-me num monstro para a humanidade, que me irá julgar severamente, quando eu só quis fazer feliz o meu povo.

-   Todos somos culpados.

-   Mas porquê? Por que aconteceu isto? Que maldição se abateu sobre mim, para que eu arrastasse tudo e todos nesta loucura?

-   É a injustiça que nos torna assim. Aquilo que o Fuhrer sentia era também sentido por milhões de alemães, faltava-lhes alguém que acendesse o rastilho, foi o Fuhrer, resta-nos morrer com dignidade. Um verdadeiro alemão morre, mas não se rende.

Hitler pareceu não o ouvir. Tudo se apresentava muito confuso na sua mente. Os neurónios, um a um, deixavam de funcionar desfeitos em indiferença. A muito custo articulou.

-   Sabe onde pretendo ser enterrado. Se possível em cinzas, assim como Eva, para que nem os bolcheviques, nem os poucos judeus que ainda restam, vejam o desprezo que sinto por eles. Adeus Goebbels. Vou tomar a minha dose de cianeto. Você faça o que entender. É um dos que sabe onde se encontra o tesouro do III Reich.

-   Adeus meu amigo, Heil Hitler!

 

 

 

PERSONAGENS DA TRAGÉDIA

 

Adolfo Hitler - Fuhrer do III Reich.

Alois Hiedler ( Schicklgruber) - Pai de Adolfo Hitler.

Clara Paetzl - Mãe de Adolfo Hitler.

Alberto Speer - Ministro do armamento. Condenado a vinte anos de prisão. Nuremberga.

Annemarie - Amiga desgraçada, de Adolfo Hitler.

Anton Drexler - Fundador do Nacional-Socialismo. Trabalhava como ferreiro foi ele que levou Adolfo Hitler para o Partido OperárioAlemão que nem tinha membros, nem organização, nem dinheiro. Havia em caixa sete marcos.

Barão Kurt Von Schoeder - Banqueiro que dá crédito a Adolfo Hitler e o apresenta a outros “barões” da alta finança.

Blomberg - Ministro do Exército. Comandante-chefe da Wehrrnacht. Bormann - Chefe da Chancelaria de Hitler.

Brandt - Cirurgião que tentou avisar Hitler dos perigos que corria por se encharcar em drogas.

Braucbitsch - Um dos generais que convence Hitler a atacar a Rússia. Já tinha sido um dos cérebros no ataque à Polónia.

Burgdorf - Chefe da casa militar.

Calusewitz - General Prussiano (1780-1830) Escreveu um tratado sobre ‘A guerra” que devia ser a biblia de Hitler pois cita-o no “Apelo Final” ao povo alemão, pouco antes de se suicidar.

Conde von Spreti - Ajudante de campo de Roehm.

Christian Weber - Proxeneta, chantagista, corrupto que aproveita a grande amizade de Hitler para enriquecer e utilizar todas as influências a seu favor.

Doenitz - Almirante, sucessor de Hitler por escassos dias. - Condenado a dez anos de prisão. Nuremberga.

Dietrich Echart - Jornalista e dramaturgo que proteje Hitler.

Eichmann - S.S (Serviço de Segurança),Um dos chefes da Gestapo, encarregado de procurar, deportar e exterminar judeus. - Enforcado em Israel em 1962.

Emil Maurice - Chefe S.S, motorista e guarda-costas de Hitler, Eva Braun - “amante” e mulher de “fachada” de Hitler.

Erwin Giesing - Médico do Estado Maior do Exército.

Fegelein - Cunhado de Eva Braun e oficial de ligação de Hitler.

Geli Raubel - Sobrinha de Hitler a quem ele exigia mais do que a púdica imaginação do leitor deve alcançar. Teve um fim trágico.

Goebbels - Ministro da Propaganda e mentor de algumas das melhores ideias Hitlerianas.

Goering - Marechal, alma negra de Hitler, gémeo de pensamento do Ditador, procurado depois da Primeira Grande Guerra como criminoso de Guerra. - Suicida-se antes de lhe colocarem uma corda ao pescoço, em Nuremberga.

Gottfried Feder - Teórico politico. Economista do Partido. Vocifrava contra o capital especulativo. Insistia para que o dinheiro ganho servisse imediatamente para criar novas fontes de produção e que a usura e os empréstimos com juros deviam ser altamente penalizados. Hitler agarra a ideia e difunde-a.

Gregor Strasser - Antigo secretário do Movimento Nacional Socialista

Gunsche - Ajudante de Campo de Hitler. (Queima os corpos de Hitler e Eva).

Hanisch - Companheiro de quarto de Hitler quando ele passava fome de cão e tomava banho de ano a ano. Tinha o futuro “todo-poderoso”, vinte anos. Andou assim até aos vinte e cinco. Depois veio a guerra.

Hannussen - Mágico e astrólogo negro de grandes capacidades interpretativas do futuro.

Hans Frank - Governador da Polónia. - Enforcado em 16 de Outubro de 1946. Nuremberga.

Hans Horbiger - Sábio Austríaco que, inadvertidamente, fala a Hitler no espaço vital, esquecendo-se que a sua preparação intelectual não era suficiente para entender as suas teorias geográficas.

Hausehofer - Professor de geografia política e estudioso do mundo do oculto.

Heinz Linge - Criado de quarto de Hitler que ajuda a transportar os corpos de Hitler e Eva.

Heines - Chefe da policia, homossexual amigo de Roehm.

Henriette - Filha do fotógrafo Hoffmann.

Himmler - O Exterminador “inconsciente”, o Anjo Negro implacável. Esmaga os judeus porque não consegue esmagar os seus complexos e as suas frustrações.

Hindemburgo - Presidente do Reich antes de Adolfo Hitler.

Heydrich - Protector da Checoslováquia. Terror dos judeus. De dois milhões, sobraram duzentos mil. Foi assassinado pela resistência em 1942.

Hjalmar Schacht - Cérebro económico do III Reich.

Hoffmann - Fotógrafo, de grande sensibilidade criativa, que ajuda na construção da imagem de Hitler.

Jenny Jugo - Artista do “nu” por quem Hitler alimenta só desejos e se baba de luxúria.

Jodl - General - Enforcado em 16 de Outubro de 1946.

Julius Streicher - Perseguidor implacável e consciente de Judeus. Foi enforcado em 16 de Outubro de 1946.

Karl Harrer - Jornalista que não morre de amores por Hitler.

Kaltenbrunner - General S.S. Braço direito de Himmler. - Enforcado em 16 de Outubro 1946. Nuremberga.

Karl - Amigo de Hitler na juventude.

Kempka - Motorista de Hitler que ajuda a incinerar os corpos de Hitler e Eva.

Krebs - Chefe do Estado Maior. - Suicida-se.

Kubizek - Amigo de Hitler na juventude. Tapeteiro em Linz.

Otto Strasser - Jornalista. Não se inibe de afirmar que Hitler é um depravado sifilítico e impotente.

Lossow - General que afirmou que Hitler era um homem que faltava à palavra dada.

Ludendorff - General que apoiou Hitler, pensando que ele seria beneficiado. Quando viu que tinha ido ao engano, afastou-se do futuro ditador.

Max Amann - Editor do Mein Kampf (A Minha Luta).

Max von Gruber - Professor da Universidade de Munique que declarou que o rosto e a cabeça de Hitler revelavam um mestiço, um bastardo.

Mengele - Médico em Auschwitz.

Morell - Médico de Hitler que o enchia de estupefacientes e de afrodisiacos. Sabemos que os resultados foram péssimos, os primeiros distorceram-lhe a realidade e meteu-se em guerras completamente fora de sentido. Os segundos aumentavam-lhe o desejo, mas os resultados também foram catastróficos. O Dr MorelI morreu num campo de concentração americano.

Otto Rahn - Especialista em estudos esotéricos.

Paul Lévi - Judeu socialista, chefe da ala direita do partido.

Papen - Ex-chanceler.

Pauline - Criada de quarto na Berghof.

Raeder - Almirante.- Condenado a prisão perpétua e indultado em 1955 por razões de saúde. Nuremberga.

Renée Muller - Actriz com quem o ditador fingia que tinha relações. Os apetites extravagantes de Hit]er levaram-na a quebrar as regras de fidelidade para com o todo poderoso Fuhrer.

Ribbentrop - Ministro dos Negócios Estrangeiros - Enforcado em 16 de Outubro de 1946. Nuremberga.

Roehm - Homossexual, comandante das Secções de Assalto (S.A.)

Rommel - Denominado a “raposa do deserto” devido à sua alta capacidade militar. Suicidou-se por ordem de Hitler.

Rosemberg - Arquitecto e membro da sociedade Thule onde os segredos do oculto eram estudados em pormenor. O seu envolvimento com Hitler valeu-lhe ser enforcado em 16 de Outubro de 1946. Nuremberga.

Rudi Schneider - Médium fabuloso, reconhecido pelos maiores cientistas da época. Rudi foi diversas vezes ao Instituto Metapsíquico de Paris onde a sua mediunidade foi comprovada pelo Doutor Osty e por vários psicólogos, médicos e físicos que assistiram à deslocação dos mais variados objectos, depois de entrar em transe e ser possuído pela irmã, desencarnada, Olga Lintner.

Rudolf Hess - Condenado a prisão perpétua. Nuremberga.

Rudolf Schmundt - Ajudante de Campo de Hitler

Schschnigg - Último Chanceler Austriaco

Schleicher - Ex-chanceler.

Schmidt - Oficial S.A.

Schneidhuber - Oficial S.A.

Stauffenberg - Oficial que preparou um atentado contra Hitler. Foi fuzilado.

Stempfle - Ajudou Hitler a escrever o Meia Kampf.

Stephanie - Amiga de Hitler na juventude que ele queria mas...não podia. Só falhanços.

Stresemann - Prémio Nobel da Paz.

Teodoro Neumann - Comerciante judeu que teve a infeliz ideia de comprar a pintura do jovem Adolfo por tuta e meia. Se ele soubesse que, por estas e por outras, seis milhões e meio de judeus iam pagar com a vida a sua forretice, por certo teria dado outro valor pelas pinceladas do “génio” do mal, que estava a crescer, devido a tanta injustiça.

Unity Mitford - Inglesa, desiludida de amor, mas deslumbrada pelo palavreado demagógico do Ditador.

Willy Schneider - Médium de rara sensibilidade, muito amigo de Hitler. Era irmão de leite do Ditador.

Aqui tem em síntese, por ordem alfabética, e com a respectiva etiqueta, os comparsas desta história. Por ela pode verificar que o ser humano não tem nada de humano. Não passa de um animalesco, um pouco mais evoluído.

 

 

 

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