Nos príncipios do século XX e até 1960, os galegos (espanhóis da Galiza) ganharam fortunas com esta água, que nada mais lhes custava do que o seu esforço, vendiam-na pelas casas que ainda não possuiam água canalizada. Hoje, alguns deles e muitos dos seus descendentes, são prósperos homens de negócios, muito respeitados pela sua seriedade e capacidade de trabalho.

Entre o Chafariz D'El Rei e o Chafariz de Dentro situavam-se estas fontes quentes de que falámos. Hoje, essa água entra directamente no rio Tejo. As casas, nesta zona, assentam em poços profundos e, não raras vezes, a água explode em borbotões e inunda as ruas circunvizinhas.

Lisboa navega ao lado dos grandes transatlânticos com o prazer e a sabedoria da idade. Nunca corre a foguetes. A calma, o amor e a alegria à vida são características dos lisboetas.

Mais 150 metros à frente, no Campo das Cebolas, encontra a Casa dos Bicos, edificada em 1523 pelo filho bastardo de Afonso de Albuquerque, o fundador do Império Português do Oriente. O terramoto de 1755 destruiu-lhe os andares superiores. Foram recuperados em 1981 para a XVII Exposição Europeia de Arte.

Depois de ver este curioso exemplar seiscentista avance pela Rua da Alfândega, observe no pórtico Manuelino da Igreja da Conceição Velha a imagem de Nossa Senhora da Miseri-córdia, a rainha D. Leonor, (fundadora das misericórdias, mulher de D. João II), o rei D. Manuel, o Papa Leão X e verifica que este conjunto faz a transição entre o estilo gótico e o renascença de uma maneira tão natural que nos deixa maravilhados não só pela sua beleza como pela aparente simplicidade da concepção.

Chega depois à Praça do Comércio. Aqui encontra o célebre Café Martinho, célebre não só pela provecta idade (nasceu em 1782), mas principalmente porque ali bebia o café e a sua inseparável aguardente, Fernando Pessoa, 1888-1935, o poeta que assombrou os portugueses, os brasileiros e o mundo que o lê, devido à frescura e genialidade do pensamento, só reconhecido totalmente depois da sua morte em 1935. Mas esse é o destino do génio Português. Assim aconteceu a Camões, a Bocage, a D. João de Castro, a Duarte Pacheco Pereira e a muitos outros que morreram na mais desumana das misérias e que hoje são a glória de Portugal. Triste destino o daqueles que não vestem o espartilho do mundo.

Da Praça do Comércio tem autocarros para todo o lado, tome um para o seu hotel ou para a sua residência, descanse um pouco porque à noite pode escolher um dos muitos locais sugeridos em outro lugar.

BAIRRO ALTO PELO ELEVADOR DA GLÓRIA

O elevador da Glória (inaugurado em 1885) fica, como já lhe disse, ao lado do Palácio Foz, nos Restauradores. Entre nele e chegue, em menos de quatro minutos, ao Bairro Alto.

Aqui vai encontrar ainda algumas casas quinhentistas de empenas em bico e fachadas bastante estreitas.

Em Lisboa, por favor, não ande depressa, vai fazer muita confusão.

Comece pela direita, mesmo ao lado, tem o Miradouro de S. Pedro de Alcântara, vá até ao gradeamento. Olhe a cidade; "toque" no Castelo, na Mouraria, na Baixa, está tudo ali. Deixe correr a vista e sonhe, e deslumbre-se. Esqueça os problemas da vida, reaprenda a viver. Vá por mim que, embora velho, continuo a amar e a reciclar conhecimentos.

Continue depois pela Rua de S. Pedro de Alcântara; vá até ao Jardim Botânico da Faculdade de Ciências, na Rua da Escola Politécnica, (300 metros adiante, sem sair do lado em que se encontra) o Jardim está integrado no Museu Nacional de História Natural e é um valiosíssimo reservatório de espécies exóticas: saliento as cicas, grupo fóssil do tempo dos dinossauros, os cactos, as plantas carnosas, os bonsai, o ginkgo. São mais de 10000 plantas que aqui estão reunidas desde 1858, nesta antiga cerca do Colégio Real dos Nobres.

Aproveite para dar uma espreitadela no Museu da Ciência. A física, a astronomia, a informática e as ciências exactas têm aqui um vastíssimo e documentadíssimo campo. Se o Planetário estiver aberto, não perca. R. da Escola Politécnica, 56 Tel. 213921808.

Por esta zona passam os autocarros 15,58,100 e os eléctricos 24 e 25. Mas Lisboa é tão maneirinha que os meios de transporte só são utilizados para as grandes subidas ou então pelos apressados ou aqueles cujos trajectos são muito longos e têm de os aproveitar para o trabalho.

Dê meia volta, regresse pelo outro lado da rua, passe pelo Jardim França Borges, também conhecido pelo Jardim do Príncipe Real, no subsolo, junto ao lago, encontra o Reservatório de Água da Patriarcal (1864); tem a forma octogonal com 31 pilares de 9,25 m de altura e uma capacidade de 880 m3.

Se descesse duas centenas de metros até ao Museu Geológico veria colecções de vertebrados terciários, fósseis de plantas e de répteis, peças arqueológicas do Paleolítico e rochas eruptivas e metamórficas.

R. Academia das Ciências, 19 Tel. 213463915.

Aqui perto fica o Convento dos Cardaes que é uma verdadeira delicia imaginária. Os santos resplandecem de beleza.

Tel. 21 342 75 25

R. do Século, 123

Mas continue o passeio pela rua D. Pedro V. Entre nos antiquários. Regresse até ao elevador da Glória. Não pare, continue para se embrenhar no Bairro Alto mas, antes de entrar nas ruas onde mora o fado, entre na Igreja de S. Roque (1555), Largo Trindade Coelho _ Tel. 213235380/1

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