Se subisse de elevador para olhar a cidade do miradouro e quisesse descer a pé para a Baixa, podia fazê-lo pela calçada de Santa Ana, visitar a interessantíssima Igreja de Nossa Senhora da Pena, com um admirável tecto abaulado, imagens de beleza invulgar e uma decoração de espanto, sem falar nos púlpitos de madeira.

Descendo a calçada de Santa Ana, um pouco mais adiante encontra a casa onde, diz a lenda, faleceu Camões; fica na esquina desta calçada e o Beco de S. Luís. Uns metros à frente, num rés-do-chão da Rua Martins Vaz, nasceu uma das grandes senhoras do fado; Amália Rodrigues. Depois continua a descer e, no final, passa pelo Palácio dos condes de Almada, também chamado da Restauração. Aproveita para observar o portal seiscentista, o brasão com as armas dos Almadas e Avranches, admira o pátio, vê os azulejos setecentistas e as chaminés quinhentistas. Agora, encontra-se a 200 metros do local onde tomou o elevador do Lavra. Está na Rua Portas de Santo Antão de que iremos falar 17 ou 18 linhas abaixo.

Como vê, Lisboa é uma criança. São 15 minutos de passeio.

É tão carinhosa e acolhedora que parece encolher-se, tornar-se menina para ser abraçada sem cansaço.

Imaginemos que não subiu.

Como estamos cá em baixo, junto ao elevador da Glória, passamos, agora sim, para o outro lado da avenida.

Entre no Largo da Anunciada, os tais 200 metros acima dos Correios, corte à direita. Está na Rua das Portas de Santo Antão; descendo vai encontrar o Átrio do Tronco que assinala a prisão de um dos maiores poetas mundiais (já falámos do local onde provavelmente faleceu): Camões (1524-1580). Luís Vaz de Camões era um génio e também tinha um "génio" inquieto, incompreendido pelas pessoas comuns, isso fê-lo estar várias vezes preso. Em 1552 foi parar à cadeia

Municipal do Tronco. Prendiam-lhe o corpo mas no seu espírito germinava o poema épico "Os Lusíadas" e sonetos de beleza incomparável. Portugal dominava os mares e fixava-se nas mais remotas paragens. Em 1572 dedica "Os Lusíadas" ao rei D. Sebastião:

"Vós, poderoso Rei, cujo alto império

O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,

Vê-o também no meio do hemisfério

E quando desce o deixa derradeiro...".

Portugal tinha-se fixado em todos os continentes muito antes das outras nações da Europa.

A seguir encontra o antigo cinema Odeon, o Ateneu Comercial de Lisboa fundado em 1880 para servir de escola aos empregados de comércio. Hoje, além de aí poder praticar vários desportos, tem uma esplêndida piscina aquecida e um simpático bar restaurante, Tel. 21 342 13 65, o teatro Politeama, o Coliseu dos Recreios, a Sociedade de Geografia verdadeiro monumento de cultura, cujo acervo documental, tanto no campo colonial como no etnográfico, diz respeito aos países onde Portugal se manteve por mais de quinhentos anos. É uma referência a nível mundial. O Museu, indispensável nas áreas de

etnologia e história, tem peças únicas: além da história viva dos povos de África e Ásia, e dos seus mágicos utensílios, encontram-se alguns dos padrões que marcavam a posse das terras descobertas. Na Biblioteca, além de livros raríssimos, tem a secção Cartográfica também única no mundo. Tel. 213425068.

No Coliseu dos Recreios os espectaculos sucedem-se duran-te todo o ano, Tel. 21 324 05 80; a Câmara de Comércio, a Igreja S. Luís dos franceses (1572) com as armas dos Bourbons e o escudo da Flor de Lis , a Casa do Alentejo com o seu pátio mourisco, as pinturas e os azulejos. Além de casas com elegância mas com muita idade e inúmeros restaurantes aos mais variados preços.

À noite, a rua enche-se de cor e de gente que procura as casas de espectáculo, um bom prato e às vezes ouvir um ou outro fadista de rua que canta a sua sorte e espera algumas moedas.

Se for até ao fim da rua, vai entrar na praça do Rossio de que falaremos a seguir, mas, mesmo em frente da Casa do Alentejo, palácio Alverca, fica a Rua Jardim do Regedor. Dá logo com ela. Passados alguns metros está na Praça D. João da Câmara. Ao seu lado esquerdo, e construído sobre o local onde esteve o iníquo Palácio da Inquisição, vai encontrar o Teatro D. Maria II (1846) de estilo neoclássico, com seis colunas jónicas. No cimo do tímpano vê a estátua de Gil Vicente (1470-1536), fundador do teatro português, ladeado por Thalia e Melpone, musas da tragédia e da comédia.

Ao lado direito tem a Estação do Rossio com o famoso túnel, a maior obra de engenharia do século XIX. Em poucos minutos estaria na encantada e monumental Sintra se embarcasse. Serve Campolide, Benfica, Damaia, Amadora, Queluz-Belas, Queluz-Massamá, Barcarena, Cacém, Rio de Mouro, Mercês, Algueirão _ Mem Martins, Portela de Sintra e, finalmente, Sintra. De um extremo ao outro, apenas 50 minutos confortáveis e agradáveis. A circulação efectua-se entre as 6:07 e as 23:07.

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