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NOTA PRÉVIA

 

Publicado em 1967, “De Extremo a Extremo”, continua o estudo sobre a contradição do homem. Pela boca de Tomás da Fonseca soube da libertação do filho e não resisti a dedicar-lhe o poema, que ele considerou perigoso. Para o escritor, para o poeta não existem perigos. Existe amor, solidariedade, compreensão pelas ideias de cada um.

Devido aos constantes pedidos do livro, e não tendo intenção de o voltar a publicar, coloco-o na Internet à disposição dos mais curiosos.

 

 

 

 

 

DE EXTREMO A EXTREMO

 

 

Tal como o céu varia as suas cores, assim como ele apresenta um aspecto carregado ou a face brilhante de um Sol esplendoroso, tam­bém o Homem tem os seus Invernos, as suas primaveras, os seus verões e os seus Outonos.

 

O pensamento do Homem varia com o ro­lar dos anos: é santo, é místico, é descrente, é revolucionário é reaccionário.

 

A personalidade é feita de milhões de in­gredientes. Não nos podemos admirar que hoje pense de uma maneira, amanhã de outra. Ele vive sob a Natureza, e todo aquele que não é influenciado por Ela tem de percorrer a vida sobre um colchão de bajulações, de reverên­cias e de mentiras.

 

 

 

 

 

INCOMPREENSÍVEL

 

 

Tudo está feito.

 

Nada há a descobrir.

 

A terra é imensa.

 

O  mar é imenso.

 

O  universo é infinito.

 

Atingem-se os outros planetas.

 

Mas, perante tanta grandeza,

 

O  homem vive rastejando

 

No meio do mato, sob o comando

 

Do acaso e de ignorância.

 

 

 

ESTE CORPO

 

 

Este corpo, pobre corpo!

 

Deram-mo trocado.

 

E, agora, a quem pedir contas?

 

A quem perguntar:

 

Por que não fui gerado

 

À medida do meu pensamento!?

 

 

 

A  H U M A N I D A D E

 

Pobre humanidade!

 

Como a lamento!

 

Que pensamentos vazios

 

Em cada cabeça!

 

Todo o louco lança sentenças

 

E eis as guerras, as destruições,

 

Os miseráveis e os histriões.

 

Pobre humanidade! Pobre humanidade!

 

 

 

I N C O N S C I E N T E S

 

 

Os escravos vão-se perdendo.

 

Ficavam dispendiosos,

 

O  rendimento não compensava

 

Ter com eles tanta maçada

 

E sofrer enxovalhos sem conto.

 

Deu-se-lhes carta de alforria.

 

E, eles vivem em euforia

 

A sua desgraça de inconscientes.

 

 

 

A HONRA

 

 

Os meus sonhos infantis

 

Tinham milhões de esperanças

 

Via-me sempre em abastanças

 

Com honras.

 

Hoje, os tempos mudaram;

 

A honra, lá vai ficando,

 

Mas desses sonhos ideais

 

Estragaram-mos os mortais,

 

Moribundos vão estando.

 

 

 

A IGNORÂNCIA

 

 

A ignorância, infeliz, pertinaz

 

Foi falando a seu belo prazer.

 

Mostrava a todos o seu fátuo saber

 

E como de ignorantes se rodeou

 

Em pouco tempo foi conquistando

 

Simpatias gerais, muitas afeições.

 

Assim, ao ser descoberta,

 

Ninguém teve coragem e foi capaz

 

De expulsar tão gentil conversadora.

 

 

 

A L M A

 

 

Estes reflexos espontâneos

 

São difíceis de explicar!

 

Por vezes, tento estar calado

 

E aí me ponho a falar.

 

Mesmo que não acreditasse

 

No imaterial invisível

 

É difícil, quase impossível,

 

Na alma não acreditar.

 

 

 

A RAZÃO

 

 

Quando olho os tempos passados,

 

Esses vulcões de erros e parvoíce,

 

Sinto-me vexado pelo que fui.

 

Rebolei-me, refocilei na imundície.

 

Criança com ares doutorais

 

Dava ordens imbecis aos demais

 

E era obedecido cegamente.

 

Os anos, rolando, passaram.

 

Apaguei da memória a vergonha,

 

Construí um novo mundo,

 

Segui a voz da razão.

 

 

 

OS LOBOS

 

 

Vesti-me de todas as roupas,

 

Usei todos os estratagemas para agradar.

 

Dei-vos benesses impossíveis

 

Aquilatei esperanças.

 

Tudo em vão, tudo perdido,

 

A vossa fome é tamanha

 

Que, quanto mais comeis, mais desejais!

 

 

 

O AMOR

 

 

Quem te poderá cantar sem nunca te ter sentido?

 

Tu és a mistura clara e pura

 

Entre a alma, o corpo e o pensamento.

 

Amor que nasceste da espontaneidade

 

Sem filtros, sem drogas, sem perfumes.

 

Aos poucos e poucos conquistaste a humanidade.

 

Hoje, quase não te conheço;

 

Tal qual como as aves, cansadas de voar,

 

Vais perdendo forças no teu doce murmurar

 

E sem saber, criaste um novo amor.

 

 

 

AO M. POPPE

 

 

Eu conheci, o Poppe, ainda criança.

 

Cresceu, requintou as maneiras,

 

Arranjou belos casacos, novas botoeiras.

 

Quando o tornei a encontrar,

 

O  Manuel, já não era o mesmo!

 

Abracei-o como a um irmão querido.

 

Então, o Poppe lançou o criançal vagido

 

E era ele mesmo. Só o fato mudara.

 

 

 

P E R S E V E R A N Ç A

 

 

Desesperado, desfeito nas mãos do tempo

 

Ouvia gargalhadas atrozes, reprimidas;

 

Via, em cada cara, penas fingidas,

 

Que rindo mostravam desalento.

 

Lutei, lutei com todas as forças;

 

Aliei-me aos puros, às gentes moças,

 

Para alcançar, lutando, a bem aventurança.

 

Riram-se de mim os mais descarados,

 

Julgando-me perdido.

 

Mas vencera, aliara-me à perseverança.

 

 

 

CONTAR E CONTAR

 

 

Quando pela noite chegam as estrelas,

 

Tenho conversas felizes, prolongadas;

 

Conto-lhes dissabores, coisas passadas

 

E, elas ouvem-me com inquietação.

 

Contínuo a contar, a contar pausadamente

 

E no seu olhar sinto a luz ardente

 

Que empalidece e vai chorar.

 

Então, conto-lhes histórias leves

 

E elas compreendem-me.

 

 

 

 

AO M. G.

 

 

Tu, idiota grosseiro

 

Que me ensinaste o teu modo de ser;

 

Essa bárbara visão do infinito,

 

Esse teu jeito impotente de vencer.

 

Para ti, pobre louco de ilusões,

 

Que pensas ganhar o mundo,

 

Enganando o mundo.

 

Para ti vai a minha tristeza.

 

 

 

AO M. S. G.

 

 

Podia fazer-te sofrer mil injúrias

 

Renegar-te do convívio habitual,

 

Mas para quê levar a mal

 

Esse teu gosto imbecil, irracional,

 

Se tu não compreendes o teu erro?!

 

Não guardo rancor contra o parvo,

 

Nem tão pouco ao menos avisado.

 

Perdoo-te e esqueço, como perdoei

 

A este mundo onde entrei

 

Sem pedidos e sem favores.

 

 

 

AS IDEIAS

 

 

As ideias fugiram-me, morreram,

 

Não tenho mais lume no olhar.

 

Foram-se embora, desapareceram.

 

Noivas do ideal e do pensamento

 

Que vos casais de momento a momento

 

Voltai à minha triste prisão.

 

 

 

IDEAL

 

 

Ofereci-te loucos poemas;

 

Rosas, muitas rosas vermelhas,

 

Onde, em cada pétala, iam suspiros

 

Em cada pensamento uma flor.

 

Tudo negaste, riste do ideal,

 

Do meu sonho

 

Onde existia uma c’roa de loiro.

 

Para ti, o ideal, não existe,

 

Vulgarmente, nele cuspiste,

 

Só desejavas oiro e oiro.

 

 

 

A AMBIÇÃO

 

 

A ambição perdeu-se

 

Por caminhos estreitos,

 

Quis atingir os cumes

 

Atingiu as cumeeiras.

 

Mas os homens são rudes

 

Nas suas ínvias maneiras;

 

E, o pobre, que era feliz,

 

Deixou de viver em paz.

 

 

 

CALÚNIA

 

 

Ouvi caluniar-me.

 

Não sei a quem, não sei onde.

 

Ouvi, passei, calei-me.

 

A calúnia calou-se

 

Pelo esquecimento.

 

 

 

CUIDAR

 

 

As inteligências são universais

 

E riem dos néscios ignorantes;

 

Vêm-se rodeados de animais

 

Que por acaso são pensantes.

 

Quem cuida sem cuidados

 

Alguma desilusão vai ter

 

Porque o ignorante é esperto

 

E quando ofende, faz doer.

 

 

 

A MENTIRA

 

 

Correu, a mentira, a cidade

 

Lesta como um pé-de-vento,

 

Mas, em breve, veio a verdade,

 

Que sem querer e sem maldade

 

Descobriu todas as patranhas.

 

O mentiroso, vexado,

 

Não resistiu coitado.

 

Se antes vivia dificilmente

 

Agora piorou, evita toda a gente.

 

 

 

COM AMOR

 

 

Olhei-vos a todos com amor,

 

E vi tantas inimizades,

 

Que senti grandes saudades

 

Dos inimigos declarados.

 

Peço-vos amor;

 

Por quê, tanta hesitação?

 

Tanto ódio?!

 

 

 

O CRENTE INACABADO

 

 

Cego e maldizente, o crente,

 

Esquece as boas normas aprendidas.

 

Vende o bom espírito pelo mau burel

 

Torna-se espelho claro de novo bordel,

 

Insulta o mundo, grosseiramente.

 

Arranca da cabeça os últimos pêlos,

 

Dá urros de loucura, grandes, como cerros

 

E, num momento, deita a perder o homem,

 

Que durante anos de inibições, refreara.

 

 

 

D E S E S P E R O

 

 

Perante a miséria que me rodeia

 

Sinto a dor arrastar-me ao infinito,

 

Leva-me um turbilhão na sua ideia

 

E tenho na mente, que sou maldito.

 

Mas perante a ignorância desenfreada

 

Que ri alarvemente do bem e do mal

 

Abre-se-me, na consciência, a vala

 

Do mistério do mundo, do infernal.

 

Já as crianças perderam a sua graça

 

E o amor deixou de ter o seu sabor

 

Ao beber da virginal taça

 

Nesse teu corpo de pudico amor.

 

 

 

P O B R E S

 

 

Dizem os pobres felizes,

 

Os que têm pão.

 

Invejam-lhes a alegria,

 

Os risos francos, brutais.

 

Os cantares dolentes, sensuais

 

Que a promiscuidade ensina.

 

Porém, nunca encontrei, nunca,

 

Quem trocasse palácio por espelunca.

 

 

 

O REI

 

 

Sou o rei do Universo.

 

Tenho Sol e estrelas a meus pés.

 

As árvores e os animais são meus.

 

Falo às pedras

 

E aos galos dos campanários.

 

Porém, quando os desejos

 

São largos, ambiciosos;

 

Olho o Universo, os rios, as pedras,

 

E com um sorriso ideal

 

Esqueço impossíveis, vivo feliz.

 

 

 

OS ELEITOS

 

 

Porque me olhais odiosamente?

 

Porque não me aceitais como sou?

 

Que mal fiz eu?

 

Sois vós, os profetas do Senhor?

 

Os novos apóstolos, os eleitos?

 

Então porque me olhais assim?

 

Eu só procuro, um pouco de amor.

 

 

 

O     LIBERTO

 

A

Tomás da Fonseca.

 

 

Esfarela-se o cristal,

 

Na mão boçal do tirano;

 

Rompem-se as noctívagas cadeias

 

E o Sol deslumbrado reaparece.

 

O  pai olha o filho, amostra do que fora antes.

 

Grita-lhe, o peito, blasfémias malditas

 

Tremem dos campanários as criptas

 

E o eco repete:

 

Meu filho! Meu filho! Que te fizeram!?

 

Mas o Sol, alucinado, não o ouve.

 

“Meu pai, meu pai sou livre… livre!

 

Abençoados e felizes aqueles que

 

Ressuscitam gritando: Liberdade, Liberdade!”

 

 

 

S O N H O S

 

 

Os sonhos do poeta são imortais.

 

Voam nas asas divinas, criadoras,

 

Têm o cunho das longas profecias;

 

Novas auroras a despontar nos dias,

 

Ideias geniais de paz, imorredouras.

 

Lança o grito a todos os recantos,

 

Não teme o déspota nem os santos

 

Porque o seu amor é universal.

 

A sua pátria, é todo o mundo,

 

E todos os homens são seus irmãos.

 

 

 

P O E S I A

 

 

Não sei que te encontro, poesia.

 

Foges dia a dia do caminho traçado.

 

E, quando te quero compreender, não posso.

 

Os poetas dizem que evoluíste.

 

Olham-me de revés

 

Num insulto de incompreensão

 

Que me esforço por não entender.

 

Poesia, só a ti peço graças

 

Que me contentem.

 

E, se não és a poesia que eu sinto,

 

A verdadeira, a da época actual,

 

Tu desculpa, mas dizendo-te assim,

 

A minha dor nunca cresceu,

 

Nunca foste só da multidão, sinto-te minha.

 

Se estou errado, tu desculpa, poesia!

 

 

 

O     MORALISTA

 

 

Meus desejos loucos!

 

Meus pensamentos loucos!

 

Minha loucura congénita.

 

Se dissesse o que penso

 

Seria o moralista universal.

 

Mas nada posso fazer!...

 

Os meus actos, não são iguais

 

Às palavras lindas que teria

 

Para conduzir o mundo.

 

 

 

O IDIOTA

 

 

Que feliz, ele parece, o pobre diabo;

 

Cara prazenteira, sempre sorridente

 

Mostra os dentes alarvemente

 

Em algo que não vê mas o diverte.

 

Loucos, idiotas, ou dementes,

 

Como sois felizes!

 

Passais pelo mundo sem criar raízes

 

E viveis como árvores ou pedras falantes.

 

 

 

AS ILUSÕES

 

 

Possuí propriedades sem conto.

 

Deus veio à terra para me falar.

 

As pessoas rasgavam-se em adulações.

 

Tudo olhava, a tudo sorria compassivamente.

 

Interiormente dizia-me: sou um bom.

 

Faço volver e revolver os corações,

 

E, nem assim, sinto tentações

 

De fazer mal.

 

E tão admirado estava comigo,

 

Que nem senti que o anjo do céu me levava.

 

Tinha morrido, só viviam as ilusões.

 

 

 

O     JULGADOR

 

 

Julguei-me o crítico mundial,

 

O  sábio conhecedor dos humanos.

 

 

Percorri léguas e léguas dando

 

Os meus conselhos as minhas opiniões.

 

Mas as multidões não melhoravam

 

Perante os meus ensinamentos.

 

Desgostoso, retirei-me pensando

 

Só em mim, o bom, o justo.

 

E vi que eu não era bom e justo.

 

O  meu egoísmo não me deixava ver

 

As minhas faltas do dia a dia.

 

Ah! Por isso, o mundo, não me ouvia.

 

 

 

O JUSTO

 

 

Não tentes o mundo com tuas riquezas,

 

Não os convenças das tuas posses,

 

Não abras arcas nem adoces

 

Com migalhas as suas fraquezas.

 

O  justo é o pecador reformado

 

Tentando salvar-se enquanto é tempo.

 

Mas, se o cofre e a bolsa deixas abandonado

 

O  justo é capaz de não resistir.

 

 

 

REI EFÉMERO

 

 

Adorado como um rei

 

Com honras de grande senhor,

 

O  oiro cria escravos

 

 

Contra todas as consciências.

 

Tenta santos e doutores.

 

Ë difícil resistir-lhe

 

Mesmo aos santos maiores.

 

E, quem nas garras lhe cai

 

Tarde ou cedo se arrepende

 

Porque só tarde compreende

 

Que não valia a pena.

 

 

 

O SABER

 

 

Oh saber, desinteressado e puro!

 

Já não és “tabu” do homem maduro

 

Mas sim, o encanto da juventude.

 

Conhecer, saber, procurar, pesquisar

 

Nos vastos céus ou no profundo mar

 

É o desejo do jovem, é a sua virtude.

 

 

 

V A I D A D E S

 

 

Os tesoiros mundanos,

 

As jóias, os rubis,

 

Os casacos de peles!

 

Não são mais que enganos

 

De fictício valor.

 

 

 

D E U S

 

 

De joelhos, ao teu céu implorei

 

Não sei o quê, já não sei.

 

Mas o teu sorriso sem igual, Deus,

 

Deixou-me louco por momentos,

 

Larguei aos ares os lamentos

 

E entrei no teu corpo, imaterial.

 

 

 

À GRAÇA

 

Os braceletes doirados que ofereci

 

Para mais ninguém seriam, só p’ra ti

 

Que me deste uma segunda vida.

 

Enlaçados nas tuas negras tranças

 

Pareceremos eternamente crianças

 

Que viemos ao mundo, de fugida.

 

 

 

ANDREIA

 

 

O  mundo é um lago florido

 

Onde tu entras plena de vida.

 

E o tempo, parando para te dar entrada,

 

Abriu a porta grande, até então fechada.

 

 

 

P E R F E I Ç Á O

 

 

Não são as palavras, são os exemplos

 

Muito melhor que os templos

 

Mesmo que seja lindo o dourado.

 

O  homem é a beleza infinita!

 

Mas tem de ser justo e honrado.

 

 

 

PARA QUÊ?

 

 

A morte espreita em cada esquina.

 

E todos são chamados:

 

Culpados, ou não culpados;

 

Reis, pedintes, santos.

 

Para quê invejas, ingratidões, enganos,

 

Se neste mundo só idealizamos um pouco

 

Dando-nos, o tempo, vinte ou sessenta anos?

 

 

 

MEDO INFELIZ

 

 

Tenho medo de morrer

 

Por na vida não ser

 

Algo mais que nada,

 

Um pouco menos que tudo.

 

Tenho medo, um medo infeliz

 

Da vida  morte

 

Que me traz acorrentado

 

Às descrenças, às desilusões!

 

 

 

N I V E L A M E N T O

 

 

Tinha propriedades sem conto

 

Riquezas nunca vistas.

 

Os amigos eram aos milhares

 

Diziam-me coisas lindas, erguiam-me altares.

 

Em festas e reuniões gastei loucuras.

 

Mas a doença apareceu e tudo levou.

 

Sim, mesmo os amigos!

 

Agora, só de caridade vou vivendo.

 

Mas o meu egoísmo, a minha vingança,

 

Será encontrá-los; a todos, ricos e pobres,

 

Iguais, nivelados pela morte.

 

 

 

O DUPLO

 

 

Por vezes o ódio, a zanga

 

Está em mim, tem-me, possui-me

 

Torna-me diferente do habitual:

 

Do cordato, do nobre racional

 

Que me prezo de ser.

 

Nessas alturas fico louco,

 

Irrito-me, blasfemo

 

E, pergunto-me, serei eu afinal?

 

 

 

AUTO – CONFIANÇA

 

 

Confiei em mim,

 

Não ouvi conselhos nem advertências.

 

Era o novo Deus, o salvador.

 

Julgava poder conduzir o mundo

 

Com a minha palavra.

 

Mas, oh, perfeição efémera e falaz!

 

Os homens riram-se de mim

 

Atiraram-me pedras sem rebuço

 

E, eu recuei envergonhado.

 

 

 

O MUNDO IDEAL

 

 

A felicidade baseia-se na justiça,

 

O amor é o fruto universal.

 

Colhei-o, docemente, de boca em boca,

 

E eis a terra, o mundo ideal.

 

 

 

NA MINHA SEPULTURA

 

 

Vós que me olhais nesta campa sem expressão,

 

Julgando-me infeliz e lamentando-me

 

Escondei as lágrimas e as tristezas.

 

Se tendes que chorar, chorai.

 

Mas conhecei que vivo

 

O  encanto da eterna felicidade.

 

 

 

 

 

E P I T Á F I 0

 

 

A

J. CABAÇO NEVES

 

 

Amigo sincero que a morte a todos roubou

 

Foi justo, foi recto, foi puro, foi bom.

 

E só por isso, o nada invejoso,

 

Tão cedo do mundo o levou.

 

 

 

APARÊNCIAS

 

 

Não somos não, aquilo que aparentamos.

 

A vida produziu, em nós, tantos danos

 

Que a morte ri sinistramente.

 

E nós, em gargalhadas brutais, alvares

 

Entramos na dança macabra, aos pares

 

Alimentamos com prazer, a goela hiante.

 

 

 

O SER PARADOXAL

 

 

Olha-nos o ser superior

 

Com soberano desdém.

 

Mira-nos, remira-nos e diz:

 

Hoje vais tu, e tu também.

 

Que egoísmo este!

 

Que sede de juventude insaciável!

 

E não contente, sempre descontente,

 

Continua a clamar mais e mais,

 

A fartar-se só de morte.

 

Quando pararás insatisfeito?

 

Quando escolherás só velhos e aberrações?

 

 

 

A VÓS

 

 

Nem placas, nem palavras

 

Vos devolverão a vida.

 

Nem todo o oiro da terra.

 

Nem os amigos mais poderosos

 

Vos tornarão a dar o sopro vital.

 

Mesmo assim lutais;

 

Esmagais este e aquele

 

Para atingirdes o poder terreno.

 

Tudo cai:

 

Os vossos sonhos partem convosco.

 

E de vós, ficou uma placa,

 

Mísera placa, para quem tanto lutou.

 

 

 

OS TEUS BRAÇOS

 

 

Teus braços deliciosos!

 

Tinham sabor aos vinhos capitosos

 

E eu bebia-te beijo a beijo.

 

As almas sufragavam-se mutuamente

 

Pecadilhos próprios de todo o crente.

 

Vivíamos de amor e de desejo.

 

 

 

E V O L U Ç Á O

 

 

A evolução mental processa-se tão rapidamente

 

Que, o que ontem principiou, hoje está acabado.

 

Por mais que me esforce e queira entender

 

A poesia que se diz nova e abstracta,

 

Fico na mesma, sem nada perceber,

 

E tomo, perante os iluminados, posição ingrata.

 

Talvez sim, talvez seja eu o mentecapto,

 

O  falto de imaginação, o poeta boçal

 

Que não compreende mais que matéria de facto

 

E acha, o abstracto puro, irracional.

 

Poetas! Homens sensíveis de gosto feliz.

 

Auto-psicólogos no mundo das paixões:

 

Perdoai-me se vos encontro errados

 

E fazei, se estais certos, as vossas orações.

 

 

 

 

LOUVOR FRATERNO

 

 

Ouvi os irmãos falar,

 

Louvavam-se mutuamente.

 

Pensei ser lisonja

 

O  que uns e outros diziam.

 

E a fama espalhou-se

 

Do amor universal.

 

 

 

AO

BUDGE

 

 

Este homem, pensador e bom,

 

Conheceu, talvez, o seu destino.

 

Viu Deus em todas as facetas,

 

Criou um Deus ele próprio

 

Comparou-os e tirou conclusões,

 

O  seu era o Deus das multidões

 

O  outro, esse veio-lhe no pensamento.

 

 

 

RECORDAÇÕES

 

 

Perdi-te não sei como, não sei quando.

 

Esqueci-te, bem me lembro, a teu mando.

 

As tuas ordens eram sagradas.

 

No meu viver de recordações

 

Encontro motivos sem soluções,

 

E penso tudo, quimeras imaginadas.

 

 

 

OS TEUS OLHOS

 

 

Os teus olhos perdem-me em lembranças.

Em desejos contidos, mal refeitos,

 

De procurar-te em mil leitos

 

Chorando por todo o lado sem esperança.

 

Deixa com minhas lágrimas orvalhar

 

Os teus olhos, esse místico altar

 

E depor neles, o último, casto beijo.

 

 

 

LOUCURA MOMENTÂNEA

 

 

Cobrir de loucos beijos o teu corpo

 

Vê-lo pedaço a pedaço no meu horto,

 

Seres minha em cada hora.

 

Aspirar-te o perfume em cada momento,

 

Esquecer a terra, este louco intento

 

E começar a viver, a amar, agora.

 

 

 

C R I O U L A

 

 

Que doçura!

 

Que olhos!

 

Que pele suave!

 

Que corpo!

 

Que braços dolentes

 

Me atraem tanto!

 

Que formas tens tu

 

Crioula linda?

 

Crioula da ilha distante,

Em procura de amor

 

No poeta, nesse vagabundo errante.

 

 

 

SENTIMENTOS

 

 

O  poema é uma loucura.

 

O  poeta é um louco

 

Que brinca com nervos soltos

 

E espalha, a brincar, sentimentos.

 

Nunca fui poeta a sério.

 

Desnudo-me de meus martírios.

 

Dou-vos tudo quanto sinto.

 

 

 

AMOR DIFÍCIL

 

 

Vivo amando os homens

 

Num esgar de loucura!

 

Lanço-lhes as minhas troças

 

Desfaço-lhes todas as bossas

 

De pedantismo e de amargura.

 

 

 

O     O I R O

 

 

Em voltas redondas

 

Rodopia o homem.

 

Atrai-o o cheiro

 

Do luzente metal.

 

Cava, esgravata, ajoelha-se

 

Sem ninguém ouvir

 

Sem nunca parar.

 

Um dia, a terra, desaba.

 

O  rico doirado ficou aleijado.

 

Não tem prazeres

 

Porque os não pode ter.

 

Envelhecido e triste

 

Relembra a mocidade:

 

Sonhara ser príncipe

 

Tomara-o a mendicidade

 

 

 

O   TEMPO NÃO EXISTE

 

 

O  tempo não existe, meu amor;

É um manto diáfano que nos cobre,

Uma torre de Babel sem mordobre,

As pétalas desfolhadas d’uma flor.

 

É a imagem da Virgem em louvor,

De Cristo humilhado e pobre

Chorando o mundo por este alfobre

Que ri com prazer e esquece a dor.

 

O  tempo não existe, minha querida,

Já teve, em tempo, a infância desvalida

Onde brotavam os amores-perfeitos.

 

Agora, vivamos a nossa eternidade,

Deixemos o mundo sem piedade,

E sejamos, em imaginação, os eleitos.

 

 

 

À

M. E.

 

 

Minha irmã de martírios descabidos

Onde o Sol a muito custo entrou

Vou eu dar-te caminhos floridos

E beijar-te a mão que tanto amou.

 

Quero dar-te pensamentos escondidos

Imagens que nunca ninguém violou

E, em tua procura, andaram perdidos

Até que hoje, a felicidade, os encontrou.

 

Fujamos céleres pelos caminhos

Tomemos as asas dos passarinhos

E verás como de luz eu te inundo!

 

Toma, minha irmã, as mágoas e saudades,

Os meus e os teus sonhos de veleidades

Que nós, não fomos criados para o mundo!

 

 

 

COMO É POSSÍVEL?

 

 

No covil dos meus pensamentos

 

Entram formas irreais, doiradas,

Onde espáduas carnudas, maceradas,

 

Me deixam, na recordação, lamentos.

Hoje, trinta e um anos passados

 

Olho abismado os fados

E as futuras gerações.

 

Como é possível tanta criancice,

Tantas guerras, tanta idiotice?!

 

E, para tudo, arrastam multidões.

   

 

 

O   DIREITO E A FORÇA

 

 

O  direito e a força vão lutando

 

Cada qual à sua maneira;

 

Um, invoca razões, o outro não precisa:

 

Objectiva-as mesmo sem razão.

 

O  direito argumenta, barafusta, exalta-se.

 

A força cala-se.

 

Em poucos segundos lança o caos, o ódio, a destruição.

 

Envergonhado pelo mundo a que pertenço

 

Ainda hoje me pergunto:

 

Para que servem a cabeça, e as palavras?

 

 

 

AO

SÁ PESSOA

 

 

Meu estimado amigo João Alfredo,

Ouve:   as desilusões não perdoam;

Doam elas, a mim ou a quem doam.

Aparecem pela tarde ou manhã cedo.

 

Sentado, pensativo, no rochedo

Onde as vozes humanas ecoam:

Fujo de frases inúteis que magoam

E mantenho-me calmo, mudo e quedo.

 

Para ti, os tempos correm felizes;

A experiência do mundo as cicatrizes

Não te apanharam desprevenido.

 

Goza sim, goza a vida com amor;

Colhe aqui e além uma e outra flor

Nunca te entristeça o tempo perdido.

 

 

 

CRISTO

 

 

Já não te sei falar ó Cristo,

 

Como na juventude o fazia;

 

Nesse tempo em que em mim trazia

 

O  espírito santificado de um bispo.

 

Agora,

 

Neste mundo, isolado sem alegria,

 

Vivendo a morte no dia à dia

 

Deixo-me arrastar.

 

Cristo das multidões desenfreadas

 

Vivendo o amor no fio das espadas

 

Mentindo e roubando a olhos vistos.

 

Cristo precisamos de ti!

 

 

 

ABUTRES

 

 

Parai, abutres vorazes.

 

Não tendes pai nem lei.

 

Atacais os caídos,

 

Os mais fracos, os ofendidos,

 

Como rapaces esfomeados.

 

Um morde aqui, outro ali,

 

E todos vão comendo

 

Enquanto o pobre,

 

Não sacia a vossa gula.

 

 

 

O HOMEM

 

 

O  Homem é um pensamento errante.

 

Nas sendas do mundo

 

Leva consigo a mão possante

 

De um Deus poderoso, arguto, gentil.

 

É santo, é rei e ao mundo faz frente.

 

Porém, na lei da morte, este santo-rei

 

Fica impotente.

 

 

 

 

A SOBERBA

 

 

Nunca a fortuna faça esquecer

 

Que a soberba é vaidade

 

E entre ela, e a imbecilidade,

 

Pouca distância vai.

 

As riquezas são caprichos

 

De um destino caprichoso

 

E, só os tolos, assim não compreendem.

 

 

 

 

BAIRROS DE LATA

 

As soluções provisórias são imperfeitas,

 

E o remédio é magro para quem sofre.

 

A lei ordena. Cumpra-se a lei

 

Depois de exame perfeito, pericial.

 

Os sentimentalistas são os autores

 

Da miséria, desses horrores

 

Que rodeiam as cidades.

 

 

 

O VÍCIO

 

 

Os vícios crescem como ervas daninhas.

 

Têm de se arrancar à força

 

Causticá-los, forçá-los a abandonar

 

Os ninhos frágeis onde se alojaram.

 

A autonomia, aqui, está fora de causa.

 

O  vicioso é um prisioneiro subjectivo

 

Que rasteja quando respira liberdade.

 

 

 

O ESTUDO

 

 

Só o estudo nos consola das tristezas.

 

Só ele é lenitivo às dores.

 

Percorremos as páginas da vida

 

Sem o tormento duma obrigação.

 

 

 

OS ERROS

 

 

Não podemos julgar que os nossos erros,

 

Essas faltas quotidianas, passageiras,

 

São o descalabro do mundo.

 

As nossas culpas estão marcadas

 

No mapa universal.

 

E ele é tão grande

 

Que os nossos problemas são átomos.

 

Porém, quando os resolvemos, desaparecem.

 

Os erros entram no esquecimento,

 

Depois do projecto de emenda ser aprovado.

 

 

 

A VERGONHA

 

 

A vergonha partiu das cidades,

 

Anda escondida pelas aldeias

 

Vai p’los caminhos em alcateias

 

De gente que ainda a teme.

 

As mulheres desnudam-se.

 

Os homens efeminizam-se.

 

E, ela, envergonhada, perdida,

 

Procura nos boçais guarida,

 

E de vergonha vai vivendo.

 

 

 

GUERRA E PAZ

 

 

A guerra modificou-se:

 

São os governantes, as cabeças pensantes

 

Que vão combater;

 

Levam espingardas, tudo o que quiserem.

 

Fazem a guerra num dia.

 

No outro, teremos a paz.

 

 

 

C O N S C I E N T E

 

 

Custa-me por vezes fazer

 

O  que, para muitos, é asneira.

 

Mas penso e repenso sobre a maneira

 

De modificar a ideia, o conteúdo.

 

Dou-lhe voltas e voltas tentando ajustar-me.

 

E, só quando não posso,

 

Quando a consciência me diz não:

 

Poderei lutar contra um milhão,

 

Mas sigo o meu pensamento.

 

 

 

AS TUAS PALAVRAS

 

As tuas palavras ferem.

 

São cortantes, são cruéis.

 

Porque não pensas, quando falas?

 

 

 

E S T O I C I S M O

 

AO

Artur Anselmo

 

 

Tu possuis a graça divina

 

No pensamento e na força potencial

 

Que faz girar um mundo à tua volta.

 

Vais conquistando, honestamente, lugares.

 

Mas Deus, querendo medir forças,

 

Atingiu-te com a espada flamejante.

 

Tu continuas (compreendo-te) dificilmente;

 

Carregas as duas cruzes

 

E sobes o calvário.

 

 

 

D I S T O R Ç Ã O

 

 

Para ti, uma pedra é um rato.

 

Para mim, pode ser uma candeia.

 

Para o outro, ela, é mesmo pedra.

 

Os nossos pontos de vista diferem.

 

As nossas almas têm visões diferentes.

 

Mas, se falarmos, se trocarmos ideias;

 

Talvez encontremos razão para as nossas razões.

 

 

 

 

AS QUATRO ESTAÇÕES

 

 

Inverno

 

Que cansado me sinto este ano!

Estou mais velho, sinto a morte.

 

Primavera

 

Bom amigo, é o tempo, são as variantes

Que nos fazem velhos de constante.

 

Verão

 

O  calor que sinto não é tão forte,

E temos o tempo mudado ou eu me engano

 

Outono

 

Eu, não sei porquê, sinto-me mistura

Dos vossos males e investidas;

E por mais que me demande compostura

Perco, neste jogo, todas as partidas.

 

Inverno

 

Amigo Outono, tu não podes compreender

O  que é passar a vida enregelado

Durante séculos a ver gerações

Famintas, aos poucos desaparecer.

 

Primavera

 

Tenhamos esperança no futuro

Que nos trará novas revelações;

E, tudo voltará ao princípio

Como quando sabíamos o que fazer.

 

Verão

 

Perde as esperanças, querida amiga.

Os bons tempos passados já não voltam

E só degradação no mundo sofreremos

Por mais esforços que queiramos empregar.

 

Outono

 

Quando vos oiço assim lamentar

Enche-se-me o tempo de tristeza.

Vejo que o desalento vos tomou

E que desacreditais na natureza

Que durante milénios nos criou.

 

Inverno

 

Não é descrença nem desalento

O  que nos faz assim falar:

São os factos, é o próprio vento

Que o presente nos faz desacreditar.

Nos outros tempos, tudo era certo,

Vínhamos todos na devida altura.

Agora que somos? Que esperamos?

Eu nunca sei quando hei-de entrar

Qual o dia exacto para aparecer.

Tudo mudou podes estar certo.

E o que me faz falar não é o sofrer

Mas a incerteza a que estamos condenados.

 

Primavera

 

Adivinho amigo o que sentes.

Comigo passa-se o mesmo

E o amanhã é o medo, é a escuridão.

 

Verão

 

Sim, o medo e a escuridão!

 

Outono

 

Que descrença vai no osso interior!

Que falta de vida vos está possuindo!

 

Inverno

 

Compreendo-te porque não entendes

E porque estás tão revoltado.

No meu tempo, cego, já pensei assim;

E hoje, de o pensar, sinto-me envergonhado.

 

Primavera

 

Vergonha amigo, nunca a tenhas

Por, em escalões, encontrares a verdade.

Vergonha seria lançares-te cegamente

Contra factos ainda improvados.

 

 

Verão

 

A primavera é sábia, tem razão.

Mesmo o bem deve ser estudado

Para lhe darmos a nossa aprovação.

Vergonha é aceitar o mal cegamente

Sem o estudar a fundo, convenientemente.

 

Outono

 

Que pena tenho em não vos entender!

 

Inverno

 

O dia está próximo e o entenderás.

 

Primavera

 

Tens razão amigo Inverno:

O dia está próximo e o Outono entenderá.

 

Verão

 

Mesmo os cegos têm o seu dia prometido.

 

Outono

 

Nessa hora, entoaremos canções de liberdade:

Seremos os mesmos que no início do mundo.

E então, verás amigo Verão, a felicidade,

Aparecer em renovo potencial,

Em cada um de nós e mesmo em ti.

E a luz, será realidade, diante da realidade.

 

Inverno

 

Sim, a luz será realidade, diante da realidade!

 

 

 

A MULHER

 

 

Que ente sobrenatural, em ti, criaram!

 

És feita de mil contradições:

 

Choras e ris a toda a hora.

 

É difícil saber o que vai em ti:

 

Mulher objecto, mulher sentimento

 

Consoante as circunstâncias,

 

Segundo a tua vontade.

 

 

 

DE EXTREMO A EXTREMO

 

 

De extremo a extremo

 

Vou beijando Minerva e Cristo.

 

Procuro conhecer a verdade

 

Nos seres complicados e nos outros.

 

Em todos, procuro a ciência e o amor.

 

E só por isto,

 

A vida tem finalidade.

 

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